sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Imagens chocantes




Há imagens que nos chocam. É pelo contexto; é pela sensibilidade; é pela cultura; é pela religião; é pelo fundamentalismo; é pela desgraça. Há de tudo. Vivemos com a imagem e pela imagem. Nunca como hoje a imagem teve tanta importância. Ela constrói e destrói vidas. Ela conduz a actos de heroísmo e de desespero. Ela, a imagem, é, afinal, o nosso retrato presente ou ausente, um pouco por todo o lado, por todo o mundo e, em lado nenhum.

Esta tela, do chamado Período Açoreano que se caracteriza pela abundância de elementos formais, é o retrato dos contrastes e das muitas imagens que o mundo nos dá com as lutas e os desejos de uns e de outros. Esta pintura foi feita após realizar uma vasta série de colagens que, naturalmente, me conduziu a este emarenhado de formas e situações. Cores contrastantes completam este quadro de múltiplas leituras. História da Minha Pintura.

E vos deixo com a poesia de Casimiro de Brito e “Quem Falou em Crime?”, in “Telegramas”:

“Crime quem falou em crime?
somos todos irmãos todos a mesma
carne incendiada

Quando houver um crime
o primeiro
todos seremos criminosos

Agora porém somos vivos e amamos
do nascimento à morte

Crime se o há já nos corria nas veias
quando éramos obscuros como o ventre
que nos concebeu

Não há veias que transbordem
neste corpo flexível
que nos eterniza.”

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