domingo, 29 de abril de 2012

O Amor (III)







As distâncias são físicas, mas mais do que físicas são psicológicas. Estar perto ou estar longe é, quantas vezes, uma questão mental. Estar e não estar em termos da Física é uma impossibilidade, em Pensamento é uma verdade absoluta. Se alguém está é porque está algures, mas quando um homem se põe a pensar, está em todo o lado e, em lado nenhum… É este estar ou não estar permanente que põe qualquer um louco. Quando se quer esquecer alguma desgraça, ela está sempre presente. E quanto mais queremos esquecer, mais nos lembramos dela. Da desgraça. Da nossa.
Com o amor é tudo diferente. Enquanto ele existe tudo é fácil e radiante porque o coração fala mais alto. As montanhas movem-se e o amor vence. As distâncias, as agruras, as dificuldades maiores (porque as outras não existem) são de somenos importância, dado que o amor transpõe as barreiras durante o encanto da fantasia dos dias de paixão. Mas o amor tem as armadilhas do costume: tempo e desencanto.
O tempo faz a triagem e destrói as camuflagens que o amor abrasivo quer ocultar. A natureza humana é o que é: novas descobertas e múltiplos interesses geram conflitos no amor. O desencanto – esse - aparece, quer pela voragem dos desejos, quer pelo desencontro entre o difícil dos dias e as fantasiosas construções cinematográficas de hoje, que dominam os caprichos vivenciais, como se a vida fosse um romance principesco. E tudo acaba num fogo- fátuo. Até o amor.
E vos deixo com as palavras de André Suarés, in “Poeta Trágico.":

- "Amar bem é amar loucamente."





domingo, 22 de abril de 2012

O amor (II)



Há sempre tanto para dizer sobre o amor. Quer seja aos quinze anos de idade, aos vinte, aos trinta, aos oitenta e, até, no instante final. Por paradoxal que pareça, depois das necessidades básicas de sobrevivência, a mola real do desenvolvimento da Humanidade está e só pode estar no amor às pessoas e às causas. As guerras e as invejas são o outro lado dos que não sabem o que é amar. É esta a história dos homens com muitos deuses pelo caminho, muito fundamentalismo, muita aprendizagem do "eu" que, desemboca, eternamente, no desejo do amor. Amar alguém real ou imaginado, e construir castelos deslumbrantes, é o sonho de todos os que fogem da realidade em busca de quimeras sem fim. Depois, como fazemos muito, queremos mais e começa o desencanto com enganos e ficções. E de coloridos cenários passamos a cinzentas e tristes paisagens de vivências amorosas. Infelizmente é assim em muito lado. Ontem, hoje e amanhã.

Esta é mais uma pintura (ainda não concluída) em que o relacionamento humano é a temática dominante, neste meu percurso dos dias de hoje. “Instante”, tela de 100x81 cm procura caracterizar um espaço e um modo de estar e sentir num determinado momento, com luz e sombra, ou não fosse o amor… um raio de luz com muitas sombras.

E vos deixo com as palavras de Stendhal, in “Amor”:
“O amor é o milagre da civilização”.

domingo, 15 de abril de 2012

O amor



O que é central na vida das pessoas é o amor. Depois há as outras coisas que precisamos para nos sentirmos bem: saúde, dinheiro e segurança. O dinheiro é fundamental e, a falta dele, uma fatalidade; a saúde, uma necessidade absoluta; a segurança, um bem permanente. O que queremos, sobretudo, é ter e dar amor. Dar aos que amamos; dar aos que nos cercam e que tanto dependem e nos são queridos; dar e receber continuamente caprichos e fantasias. Gostamos também de preencher a imaginação acreditando naquilo que não somos. Não somos nada neste mundo e, julgamos, no entanto, que somos tudo; que valemos tudo; que temos direito a tudo, mas nada somos e nada valemos. E valemos menos quando o amor se vai, porque amar e ser amado é um desejo infinito e sempre presente. Sempre.
Esta pintura em tela de 73x92 cm “ Ana” é mais um retrato que, agora, faz parte deste meu modo de ilustrar um pouco de nós, nos momentos mais pausados e serenos, deste viver de tantas interrogações, inquietações e incógnitas, porque a pintura é um livro aberto sobre a natureza humana, nos melhores instantes e nos outros…
E vos deixo com as palavras de Victor Hugo in “Monte de Pedras”:
“Passamos metade da vida à espera daqueles que amamos e a outra metade a deixar os que amamos.”


domingo, 8 de abril de 2012

Hino à mulher



Gosto.
Gosto da intuição.
Gosto do timbre vocal.
Gosto do andar.
Gosto do riso.
Gosto do brilho dos olhos.
Gosto das lágrimas de felicidade.
Gosto da sensibilidade.
Gosto da sensualidade.
Gosto do desejo de desejar.
Gosto do perfume de mulher.
E por gostar tanto…me perco e me encontro.

E, depois deste Hino à mulher, vos deixo com a ária “Habanera” da ópera “Carmen” de Bizet, aqui, com a voz e a sensualidade deslumbrante de Anna Caterina Antonacci e a orquestra da Royal Opera House de Convent Garden sob a batuta de Antonio Pappano.







domingo, 1 de abril de 2012

Como se fosse o último



Agora, todos os dias, vivo como se fosse o último.
Não sabemos do instante seguinte das nossas vidas. Tudo pode ocorrer: alegrias ou desgraças; um terramoto; a morte de um ente querido; uma doença fatal, ou, como é raro acontecer, um feliz encontro com o destino.
E, porque a incerteza é a única certeza diária, vivo cada momento entre os desejos, os sonhos e imaginários fins felizes. É assim este meu viver entre brumas e cinzentos dias de silêncios ou monocórdicos diálogos sem sentido, porque nada somos, nada valemos, embora julguemos que o universo em nós habita, neste nosso corpo de matéria insignificante, na imensidão do espaço e da existência.
E, por isso, pinto, procurando encontrar significado e valor entre desencontros e buscas sem fim, que é a minha caminhada, de todos os dias, como se o dia de hoje fosse o último.
E vos deixo com a música de Chico Buarque e “ Construção”.