domingo, 28 de fevereiro de 2010

Melanie





Querer é, quantas vezes, uma questão de vontade, de determinação e de desejo. Quando queremos, quando queremos mesmo, fazemos tudo. Tudo. Depois pensamos nas consequências. E no destino. E porque não?

Esta tela é a última pintura que fiz. É mais um retrato onde a pose procura transmitir tranquilidade e serenidade. Aqui, um olhar é um modo de prolongar a acção para lá dos limites da tela e criar interrogações sobre o cenário envolvente. O que quero nas minhas obras é que sejam ricas em considerações estéticas com leituras díspares. Para este trabalho recorri a um modelo: Melanie que, vestida com roupas do mundo islâmico, fez a diferença pelas cores fortes da indumentária. A luz e a riqueza cromática são a essência plástica desta tela que marca definitivamente o meu regresso à pintura. Todas as obras são assinadas e nelas coloco o título e a data da sua conclusão, como aqui . História da Minha Pintura.

Recordo hoje as palavras de Marcus Cícero:
“Não há nada que não se consiga com a força de vontade, a bondade e, principalmente, com o amor.”

sábado, 27 de fevereiro de 2010

A Natureza



Viajar por aí é descobrir a natureza e a obra dos homens através dos tempos. É fundamental conhecer as diferenças para, em consciência, dizer de sua justiça. Este mundo tão desigual é a prova provada, que os caminhos são tantos, que nem sempre podemos comparar o que não é comparável. Viajemos pois.

Esta tela de grande formato é uma parte de um biombo onde a natureza e a vida das pessoas se conta com a simplicidade da importância dos gestos, das atitudes e do meio circundante. Esta obra faz parte do período em que fiz trabalhos de grandes dimensões para responder a solicitações de fruidores. Estudos prévios, em muitas folhas de desenho, com as formas e as cores marcaram o início. Depois a luta pela procura das cores “certas” fazem o historial desta obra feita com pincéis especiais e tintas. História da Minha Pintura.

Recordo hoje as palavras de Jean Jacques Rousseau:
“A natureza nunca nos engana; somos sempre nós que nos enganamos.”

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Em busca da beleza




Em Busca da Beleza
Soam vãos, dolorido epicurista,
Os versos teus, que a minha dor despreza;
Já tive a alma sem descrença presa
Desse teu sonho, que perturba a vista…


Fernando Pessoa, in “Cancioneiro”


Este trabalho é uma aguarela que procura retratar um modo de estar, de um tempo que é uma passagem, como tudo na vida. Captar a postura e com ela a sensibilidade é o que me atrai nos retratos. A beleza das formas e dos rostos, que o tempo irá modificar, deixando sempre um rasto do passado, é o que me fascina quando faço retratos. Aqui e agora tenho apresentado gente jovem mas, brevemente, irei mostrar o outro da vida, onde a beleza dá lugar à fealdade. História da Minha Pintura.

Recordo hoje as palavras de Bernard Fontenelle:
“A beleza do espírito, causa admiração; a da alma, estima; e a do corpo, amor.”
E vos deixo com a música de Bellini, a ópera "Norma", a ária "Casta Diva" e a voz de Anna Netrebko.



quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Novos retratos



Os poetas dizem o que procuro traduzir em formas e cores. Hoje trago de novo o meu poeta de eleição.


Teus Olhos Entristecem

Teus olhos entristecem
Nem ouves o que digo.
Dormem, sonham esquecem...
Não me ouves, e prossigo.
Digo o que já, de triste, Te disse tanta vez...
Creio que nunca o ouviste De tão tua que és.
Olhas-me de repente
De um distante impreciso
Com um olhar ausente.
Começas um sorriso.
Continuo a falar.
Continuas ouvindo
O que estás a pensar,
Já quase não sorrindo.
Até que neste ocioso
Sumir da tarde fútil,
Se esfolha silencioso
O teu sorriso inútil.
Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"
E vos deixo com a música de Verdi e "La Traviata".


quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Olhares encantados



Quando se gosta, quando se gosta mesmo, não nos cansamos de olhar. De olhar para quem gostamos. Dos nossos. E quando são petizes o encanto é ainda maior. É a natureza humana no seu melhor. Felizmente que somos assim. Felizmente.

Esta tela é um fragmento de um biombo, composto por vários painéis, e que aqui retrata um momento de brincadeira, tão comum nas crianças, sob o olhar atento de um adulto. A pintura é sempre um modo de falar da vida, dos sentimentos, do melhor e do pior. Falar é descrever com modos variados o que nos vai na alma. Eu pinto para dizer o que sinto. História da Minha Pintura.

Recordo hoje as palavras de Voltaire:
“A vida é uma criança que é preciso embalar até que adormeça.”

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Interior(es)



Há espaços e espaços. Há momentos e momentos. Tudo depende da disposição e do olhar para a realidade com olhos de ver ou de imaginar. Ver é também um acto de inventar. Inventar o que queremos ou julgamos existir. Quando olhamos para as coisas construímos teorias e só teorias. A verdade é o que a nossa consciência dita. E a verdade das coisas, dos espaços e dos momentos é tão só uma questão de ajuizar. E ajuizar é sempre um acto individual que, como sabemos todos, cada cabeça sua sentença. Coisas dos Homens. Pois claro.

Esta pequena tela é a representação de um espaço interior que deixa ver a natureza ali tão perto. Para uns, um sortilégio; para outros, não. Opiniões e só opiniões. Gostos e sensibilidades. É assim o mundo feito. Desta vez procurei conciliar dois espaços: interior e exterior e estabelecer uma relação onde a presença humana tão presente, está ausente, ou, estando ausente, está presente. As cores do costume e a pincelada rápida definem este trabalho de quem quer dizer tanto, em tão pouco tempo. História da Minha Pintura.

Recordo hoje as palavras de Victor Hugo, in “O Homem que Ri”:
“A carne é cinza, a alma é chama”.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Encantos e desencantos



A vivência é dominada pelas posturas e modos de estar de um tempo e de um contexto. Cada época define os seus modos e caracteriza a bem e a mal tudo o que se faz. O tempo, sempre o tempo, com outros olhares, dá uma nova visão das atitudes e dos valores. A relatividade de tudo que comanda a vida é a constante em que vivemos. O certo e o errado de agir é, em última instância, sempre um parecer e não uma certeza. O justo do passado pode ser hoje um impostor e vice-versa. A vida é, afinal, um jogo de muitas reviravoltas. Com encantos e desencantos.

Esta tela é o retrato de um modo de estar e de agir que resulta de comportamentos definidores de um lugar e de um tempo. A liberdade de viver, fazendo e desfazendo, é uma tarefa em constante transformação, como tudo que nos cerca. Tudo, mas mesmo tudo, é uma passagem sem a importância que alguns julgam ter, aqui e em todo o lado. Mais uma vez utilizei modelos para pintar este ambiente, onde o sorriso e a alegria do viver, passa ao lado das muitas normas, sem eira nem beira. História da Minha Pintura.

Recordo hoje um texto cristão extraído de “Jean de Fraine”:
-“Ao invés de manifestar o íntimo, os comportamentos podem também dissimulá-lo.”

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Passeio dos tristes



Hoje é domingo. Hoje é o dia do passeio dos tristes. Hoje é vê-los passar de carro com destino aos sítios do costume, olhando, vezes sem conta, as mesmas paisagens e as mesmas gentes ou, andando pelos centros comerciais, matando o tempo e saboreando os prazeres do consumismo. É assim os passeios de domingo.

Esta tela é um retrato dos que percorrem caminhos por aqui e por ali. É mais um olhar por Lisboa que encanta quem descobre o labiríntico percurso das colinas e dos miradouros. Para fazer esta pintura precisei de estar e saborear o local e sentir a atmosfera circundante. O uso da perspectiva e das tonalidades visam captar a essência do espaço e identificar as características arquitectónicas e também personalizar um modo de viver. História da Minha Pintura.

Recordo hoje as palavras de Henri Amiel, in “Diário Íntimo”:

-“ Uma paisagem qualquer é um estado de alma.”


E vos deixo com a voz de Carlos do Carmo, a letra de Ary dos Santos, a música de Paulo de Carvalho: “Lisboa menina e moça”.


sábado, 20 de fevereiro de 2010

Pede o desejo



Pede o Desejo, Dama que Vos Veja

Pede o desejo, Dama que vos veja:
Não entende o que pede; está enganado.
É este amor tão fino e tão delgado.
Que quem o tem não sabe o que deseja.

Não há cousa, a qual natural seja,
Que não queira perpétuo o seu estado.
Não quer logo o desejo o desejado,
Só por que nunca falte onde sobeja.

Mas este puro afecto em mim se dana:
Que, com a grave pedra tem por arte
O centro desejar da natureza.

Assim meu pensamento, pela parte
Que vai tomar de mim, terrestre e humana,
Foi, Senhora pedir esta baixeza.

Luís Vaz de Camões


Esta tela procura ser a representação do desejo entre dois jovens que, de acordo com a nossa liberdade cultural, os nossos usos e costumes, saboreiam o prazer da vida e da descoberta dos afectos. Como sempre cada pintura é uma enorme luta entre as formas e as cores “certas”. Pintar é, em última análise, um jogo de distribuição de cores numa superfície. Para obter o resultado desejado é uma batalha pela vida toda, com muita angústia e muita satisfação, mesmo que falando sozinho. História da Minha Pintura.

E vos deixo hoje com a musica de Mozart, da ópera Don Giovanni e a partitura La ci darem la mano com as vozes de Placido Domingo e Kathleen Battle.


sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Modelo



Num qualquer dicionário da língua portuguesa podemos encontrar esta definição para a palavra modelo:
modelo, s.m. forma típica para reproduzir ou imitar; profissional que desfila ou posa perante um público ou fotógrafos, com objectivos de promoção de marcas, roupas, etc.”

Esta é a última obra que pintei. É uma tela que retrata mais um dos meus modelos. Aqui, como sempre, sou eu que defino as posturas e o enquadramento das personagens. Muitos foram os que já retratei em desenhos e pinturas, porque adoro fazer retratos. Adoro captar as particularidades únicas de cada um. Não é nada fácil a identificação, donde é preciso muito treino, muita observação e muita determinação. História da Minha Pintura.

Recordo hoje as palavras de Thomas Eliot:

“Todos os casos são únicos, e muito similares a outros.”

E vos deixo com a voz de Renee Fleming e a música de Strauss : “Four Last Songs”.


quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Recanto



Todos gostamos de ter o nosso recanto. Precisamos muito de estar no sítio certo com as comodidades que nos seduzem. E vendo bem, basta tão pouco para nos sentirmos confortáveis. São sempre coisas simples que nos enchem de prazer: é a música; é a luz; é a configuração do espaço; é as gentes; é o silêncio quando precisamos de estar sós, em suma, é tão pouco e é tanto. No nosso recanto.

Esta imagem é um recanto do meu ateliê que me seduz, porque nele encontro o espaço ideal para me sentir bem. E para estar bem tenho de trabalhar muito. Preciso de acreditar que tenho uma missão a cumprir e que esse desígnio é a chave da razão do existir. Aqui as tintas e as telas invadem o espaço e dominam-no, porque o que se pretende é que haja lugar ao prazer da criação. E a minha vida tem sido a luta por fazer mais e melhor. História da Minha Pintura.

Recordo hoje palavras de Textos Bíblicos, in “Evangelho de Marcos 9,22”:

“_ Tudo é possível para aquele que crê.”

E vos deixo com a música de Puccini, a voz de Ying Huang e da ópera “Madame Butterfly”: “Un bel di vedremo.


quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Decisões



A nossa vida é feita de contínuas decisões. Vamos por aqui e não por ali. Queremos isto e não aquilo. Optamos por esta solução e não por outra. E, porque assim é, há os conflitos do costume, as zangas e as amizades que todos temos. E é neste caldo que, para o melhor e para o pior, tomamos decisões tão inquietantes. Depois, os tempos dirão sempre se foi certo ou errado. Há tantos imponderáveis que ditam a decisão acertada. É sempre o futuro, afinal, que esclarece e não a nossa cabeça, porque como se sabe, cada cabeça, sua sentença.

Esta tela é a representação de um espaço onde há lugar para o pensar. Aqui as decisões podem ser ponderadas e, no entanto, por muito que se pense o desfecho é quantas vezes uma incógnita. Tal como a vida de cada um. Esta pintura em tons cinza procura conferir profundidade num ambiente onde a natureza ocupa o seu lugar timidamente. História da Minha Pintura.

E recordo hoje as palavras de Bertold Brecht, in “Um Homem é um Homem”:
"-De todas as coisas seguras, a mais segura é a dúvida.”

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Máscaras



É o último dia da festa carnavalesca. Todos os anos, os do costume fazem a festa e é simples: máscaras e posturas contrariando o dia-a-dia. Folclore quanto baste para esquecer a normalidade dos comportamentos. “Nada” parece mal nesta quadra. E a vida continua depois do fingimento que dura três dias. Aqui e ali, perto e muito longe é o prazer da fuga que caracteriza estes dias, onde se critica muito e se esquece tudo, porque é de brincadeira que se trata. Não vá o diabo tecê-las...


Esta pintura é mais um olhar pelo Carnaval, aqui com referências a objectos típicos da quadra. E como é norma outros elementos procuram criar leituras díspares. Esta pintura com cores fortes e complementares procuram gerar um ambiente intrigante e inquietante. Quanto ao processo de execução, esta tela com referências a Botero tem formas e cores propositadamente exageradas. História da Minha Pintura.


Recordo hoje as palavras de Vergílio Ferreira, in “Conta Corrente 5”:

“Que ideia a de que no Carnaval as pessoas se mascaram. No Carnaval desmascaram-se.”


E vos deixo com os Caretos.



segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Carnaval



É tempo da máscara. É tempo do fingimento. É tempo da folia. É sempre tempo quando um homem quiser. Agora é o tempo de ultrapassar a realidade e vestir outras roupagens, no jogo do faz de conta, tão usual no comportamento dos nossos dias. E é com estas posturas reais e virtuais que convivemos para o bem e para o mal, com gente boa e do piorio. É assim aqui e agora. Na nossa terra.

Esta tela procura retratar este tempo carnavalesco onde se escondem as mentiras e as máscaras que cada um transporta neste viver. Esta pintura, feita faz tempo, da série “boteriana”, é um olhar crítico onde as formas exageradas e as cores fortes buscam um ambiente de excessos. Rigor métrico na concepção da estrutura e misturas de cores complementares fazem parte desta obra. História da Minha Pintura.

E vos deixo com a música do Brasil e de Chico Buarque e o samba tão peculiar deste período carnavalesco, aqui com a voz de Nara Leão e “Quando o Carnaval Chegar”.


domingo, 14 de fevereiro de 2010

Dia dos namorados



Hoje é o dia dos namorados. É o interesse comercial que inventa dias especiais para vender este e aquele produto. Há que comprar qualquer coisa ou mudar a rotina da relação a dois para comemorar o evento. Uma prenda que vale pelo gesto é o que se espera dos que fazem parte do relacionamento. Depois há os outros. Os que não têm ninguém para partilhar os afectos. É assim no dia dos namorados.

Esta tela, de grandes dimensões, é uma dança num espaço idílico tão próprio dos bons momentos. Aqui se vive na acalmia da natureza com a dança como meio de encantar e de aconchegar os afectos. Para fazer esta pintura utilizei modelos e escolhi uma paisagem familiar. Com as cores e as formas do costume procurei traduzir o espaço. Mais uma vez, reforcei a profundidade com as tonalidades e o recurso à perspectiva. História da Minha Pintura.

E vos deixo com a música de Johan Strauss e “Danúbio Azul”.


sábado, 13 de fevereiro de 2010

O rei vai nu




Não vale tudo. Quando queremos o céu não podemos ter rabos de palha. Não podemos andar por aí fazendo e dizendo a belo prazer. Há que respeitar condutas e modos de estar comunitários. Se não queremos acatar, não podemos exigir aos outros o que não conseguimos fazer. Quando se está, onde se está, há que merecer o respeito dos outros. E para isso não vale tudo. E o rei vai nu.

Esta tela é um olhar pelas formas diferentes de estar. Aqui fui buscar uma das imagens a uma pintura renascentista. De vez em quando gosto de “roubar” elementos de outros pintores e redescobrir. Eu não invento nada, apenas baralho tudo. História da Minha Pintura.


E vos deixo com uma peça de Hans Christian Anderson: “O Rei Vai Nu”.


sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Novos hábitos



Novos hábitos de vida fazem parte do nosso viver quotidiano. Agora temos outras consciências. Cuidamos disto e não daquilo. Cultivamos este caminho e não o outro. Optamos por ter esta atitude e não aquela. Aqui e agora. Como sempre. Razão tinha o poeta:
"-Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”.

Esta tela é um olhar pelo culto do corpo para bem do físico e da mente. Num cenário apelativo, onde tudo parece estar no sítio certo, procurei “ sugerir” as virtudes da prática desportiva. Perspectiva, escala, proporções, texturas, claro-escuro fazem parte deste trabalho. História da Minha Pintura.

E vos deixo com as palavras de Luc de Clapiers Vauvenargues:
“Torna-se indispensável manter o vigor do corpo, para conservar o do espírito.”

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Espaços caseiros



É o nosso modo de estar. Construímos casas para habitar. Umas correspondem aos nossos sonhos. Outras serão sempre um sonho. E nelas estabelecemos condutas que nos preenchem ou nos esmagam. É o relacionamento que faz a diferença com muito ou pouco. Uns dias com mais sol e outros com invernias duradoiras (faz parte). É assim nos espaços caseiros.

Esta tela é uma representação de um espaço onde o relacionamento se faz com as condutas do costume, de acordo com a cultura e a religião. Cores, luz, perspectiva e enquadramento dominam este trabalho feito após observar os efeitos luminosos no espaço representado. História da Minha Pintura.

E vos deixo com as palavras de Gaston Bachelard, in “O Novo Espírito Científico”:

“Não se encontra o espaço, é sempre necessário construí-lo.”

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

A cabeça



É mesmo assim. Podem pensar que são fortes. Podem actuar a seu belo prazer. Podem ter o mundo aos pés. Podem ser venerados. Podem ser os maiores, no entanto, todos os gigantes têm pés de barro… e, depois, é a cabeça que a multidão pede. A cabeça, meus senhores. A cabeça.

Esta tela é um retrato de uma cabeça. Aqui escolhi um ângulo diferente para empolgar a representação anatómica. A pose altiva e o enquadramento formam um outro olhar sobre a condição humana. O meu processo de trabalho é sempre desenhar primeiro nos meus blocos, depois na tela e, só depois, passo para a fase das tintas e dos pincéis. História da Minha Pintura.

E vos deixo com as palavras de Marcel Jouhandeau:

“O verdadeiro brasão de cada um é a sua cara.”

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Calmaria



Tenho saudades da calmaria. Tanta inquietação. Tanta angústia percorre este tão instável modo de estar em sociedade. Aqui e agora. É a incerteza que paira no horizonte com tantas nuvens negras. Tantas interrogações nos perseguem. Acabaram as certezas. Vivemos na dúvida permanente. Nada está garantido. Tantos sonhos. Tanta esperança. E a realidade é o que é: a incerteza para sempre.

Esta tela é o retrato de um mundo de calmaria onde os sonhos ainda têm lugar. A pintura é isso mesmo: andar por aí construindo imaginários contextos que se glorificam ou condenam. Com as cores da natureza e as poses peculiares fiz este trabalho. História da Minha Pintura.

E vos deixo com as palavras de Henri Amiel, in “Diário Íntimo”:

“Uma paisagem qualquer é um estado de alma.”

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Confronto



Os usos e costumes definem um espaço e uma época que, nos dias de hoje, muda muito rapidamente. A coexistência de interesses, díspares e opostos, gera os conflitos que fazem parte da eterna mudança, deste nosso viver em sociedade, porque já diz o velho ditado: “Cada cabeça sua sentença.” O verdadeiro problema é quando as cabeças que mandam… mandam mal. Como acontece um pouco por todo o lado. Aqui. Aqui mesmo, na nossa terra.

Esta tela é o retrato de duas gerações. Dois modos de estar no tempo presente. Duas atitudes perante a vida. Procurei, nesta pintura, representar através das posturas, do vestuário e das cores os modos de estar e sentir. As cores são quentes e a pincelada contida. História da Minha Pintura.

E vos deixo com as palavras de Johann Goethe, in “Máximas e Reflexões”:

“O comportamento é um espelho em que cada um vê a sua própria imagem.”

domingo, 7 de fevereiro de 2010

A derrocada



Hoje uma notícia, amanhã mais outra e, todos os dias, nada de bom acontece. As lamúrias e o desencanto crescem entre todos. Já poucos acreditam em tanta inocência, ou, em tanta falsidade. É a derrocada que aí vem, porque tudo o que é lançado ao vento, mais tarde ou mais cedo cai por terra. É uma questão de tempo. Como sempre.

Esta tela, feita em tempos idos, é um olhar pelo desencanto do estar com os outros, quando as conversas são trivialidades. O café (que ainda é o local acessível às muitas carteiras) é o nosso escape para falarmos de tudo e de nada, contra tudo e contra nada. Aqui procurei captar expressões e retratar com fidelidade o espaço. Enquadramento, escala e posicionamento dos elementos numa mescla de cores originaram esta pintura que é um pouco de mim. História da Minha Pintura.

E vos deixo com as palavras de Séneca:

“Antes queria ser derrotado do bem do que vencer no mal.”

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Más notícias



Tudo de mau parece acontecer neste nosso mundo. Todos os dias é isto e mais aquilo. E só de desgraças nos alimentamos. Não se fala nas coisas boas. É só drama e comédia irónica no quotidiano. A angústia é o nosso estado de alma permanente. Não nos deixam respirar com alegria. Tantos medos, tantas dúvidas, tanta selvajaria constituem o dia-a-dia. E amanhã, aí estão, para não variar: as notícias. E as notícias são sempre as más notícias. Valha-nos Deus.


Esta pintura retrata um brinquedo que hoje é um objecto de colecção, longe das crianças já que estas estão mais interessadas nas novas tecnologias, impostas pelos imperativos da mudança dos usos e costumes. Esta pequena tela é mais um olhar a outros tempos, onde as más notícias passavam ao lado, e as crianças brincavam com objectos de madeira, de lata e conviviam uns com os outros na rua e não fechados em casa sozinhos. Para fazer este trabalho coloquei o objecto perante mim, e com observação directa e contínua, fui desenhando e depois fui pintando procurando traduzir com fidelidade as cores próprias. História da Minha Pintura.

E vos deixo com as palavras de um texto hindu, in “ Hitopadexa”:


“Vazia é a casa sem uma criança.”

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

O último sonho



Acabou. Acabou de vez o último sonho. Acabou. Nada é como dantes. Tudo mudou. Agora resta a resignação. Há mais mundo para além do sonho. E os sonhos são tão variados. Uns querem viajar e conhecer gentes e paisagens exóticas. Outros gostariam de viver noutros aposentos. E ainda outros vivem na ilusão da sorte e dos muitos desejos que a ambição alcança. Eu gostaria de ter tempo para os meus devaneios. Tempo é o que não tenho. Nunca tive. Nunca terei. E lá se foi o último sonho.

Esta tela é mais um dos bancos de jardim que pintei, exactamente, porque também é neles - nos bancos de jardim -, que o pensamento nos leva aos muitos sonhos. Ao trabalhar por séries esta pequena tela é um dos estudos prévios (que acabaram definitivos) para outras pinturas de grandes dimensões. Régua, esquadro, perspectiva e pinceladas vagarosas fazem parte deste historial de actuar perante a tela. História da Minha Pintura.

Recordo hoje as palavras de Anais Nin, in “Diário”:
“A nossa vida em grande parte compõe-se de sonhos. É preciso ligá-los à acção.”

E vos deixo com a música de Tchaikovsky e a mestria do violinista Vengorov.


quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Sorte e azar



Temos sorte e azar. Umas vezes as coisas acontecem do nosso agrado e, noutras, nada é como gostaríamos. O que fazemos contribui ou não para o desfecho feliz ou trágico da nossa história. Há de tudo na roda da vida. Perdemos e ganhamos batalhas. Afinal é uma questão de oportunidade ou da falta dela. E os dias, nesta maré contínua de coisas boas e de desilusões profundas, sucedem-se uns atrás dos outros, indiferentes ao prazer e ao desgosto. É o azar ou a sorte a bater à porta.

Esta tela, de grandes dimensões, é uma pintura que retrata um espaço interior onde a sorte e o azar estão presentes nos jogos e nas atitudes do dia-a-dia. A utilização de vários elementos formais colocados em locais previamente seleccionados, induzem a várias leituras. Um quadro não é um romance mas encerra sempre um olhar sobre a vida. Cores complementares ajudam a criar a atmosfera intimista. Régua, esquadro e compasso foram aqui utilizados nesta mistura de linhas rectas e curvas com a perspectiva renascentista presente. As cores acabam sempre por ser resultantes de lutas, até que, umas vencem as outras e, por isso, a pintura é tão aliciante. História da Minha Pintura.

E vos deixo com as palavras de Thomas Jefferson:

“Acredito muito na sorte; verifico que quanto mais trabalho mais a sorte me sorri.”

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Aqui e agora







Já não podemos acreditar. Acabou. Nada é como dantes. Vale tudo. A verdade de hoje é a mentira de amanhã. Podem ter boas maneiras. Podem dizer isto e aquilo. Factos são factos. As palavras valem o que valem. Os compromissos não valem nada. É assim na nossa terra.

Não resisto porque está na minha massa do sangue. Se tiver por perto uma folha e um lápis risco e risco e volto a riscar. E é assim que surgem os meus desenhos. Enquanto uns fumam ou conversam, mesmo nas mesas do restaurante, eu desenho. E desenho num ápice sem grandes preocupações estéticas nem temáticas. O prazer do riscar e de ver nascer as formas suplanta tudo. E assim nasce a minha crítica social, onde a verdade e a mentira coexistem, muitas vezes, registada nas toalhas de papel, na areia da praia, nos vidros poeirentos, em suma, em todo o lado. História da Minha Pintura.

E vos deixo com palavras extraídas de textos bíblicos, in “Jeremias 9,2”:

“ É a mentira e não a verdade que prevalece na terra.”

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Virtualidades



Inventamos. Inventamos tudo: situações, contextos e espaços. Inventamos até lugares que não existem. Existem apenas na nossa imaginação. O que é lindo e encantador para uns é, para outros, o Inferno na Terra. Coisas dos Homens. E porque inventamos tudo, a verdade das coisas é a nossa verdade. E só a nossa verdade. Por mais que digamos que não.

Esta tela representa uma cidade imaginária. Quando se viaja de avião a perspectiva do que se observa é bem diferente da realidade. Esta é, afinal, também uma ilusão. E, porque assim é, criei esta cidade virtual. Cores quentes e liberdade formal fazem a história deste quadro nascido das minhas viagens por aqui e por ali. História da Minha Pintura.

E vos deixo com as palavras de Anne Noailles:

“Nada é real, a não ser o sonho e o amor.”

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Os meus bancos de jardim



Quando um homem se põe a pensar num banco de jardim, tudo passa pelo pensamento. Pensamos nas coisas boas e nas outras: nas injustiças. Este mundo está cheio de gente do piorio que aparece com voz autoritária reclamando. Aqui, na nossa terra. E porque assim é, vale tudo, mesmo tudo. Gente que, deveria ser o exemplo, é o rosto da vergonha. Hoje estabelecem um acordo e amanhã já não conta. Nada vale. É assim na nossa terra. Para mal dos nossos pecados.

Esta tela é mais um banco de jardim que, como todos os bancos, servem para o descanso do corpo e da mente. Desta feita o enquadramento é diferente daquilo que faço mas, como se sabe, gosto de ir por aí, na descoberta de novos caminhos estéticos. Perspectiva na concepção do desenho e uma mescla de cores na feitura das tonalidades fazem a história desta pequena obra que nasceu como estudo prévio. História da Minha Pintura.

Recordo hoje as palavras de Henri Lacordaire:

“Pensar é mover-se no infinito.”