quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Momentos de pausa




Precisamos. Precisamos tanto. Precisamos de ter momentos. Momentos de pausa. Momentos para descansar; para pôr as ideias em ordem; para questionar; para saborear; para perceber o que está certo e errado. Precisamos. Precisamos de momentos de pausa.

Esta pintura do ano 2000 (perdida no meu acervo) é o retrato dos momentos de pausa, que todos precisamos, de quando em vez. Aqui, procurei criar um ambiente onde o espaço e a luz fossem uma referência predominante, conjugada com o leque de cores que é a essência da pintura. Histórias da Minha Pintura.

E hoje trago as palavras de Sófocles, in “Ajax”:

“ A vida mais doce é não pensar em nada.”

E vos deixo com a música de Mahler, que se refugiava de tudo e de todos para criar, para usufruir do silêncio, da solidão e dos momentos de pausa, e aqui dirigido pelo maestro venezuelano Gustavo Dudamel.


terça-feira, 29 de setembro de 2009

Continuar




Cada dia é um dia. Umas vezes acontecem coisas novas, outras, é o continuar dos mesmos gestos, das mesmas práticas, das mesmas esperanças, e, infelizmente, também é, quantas vezes, o fim das quimeras. Continuar deve ser o lema dos que não desistem, nunca desistem, porque a vida é feita de convicções, de desejos, de vontades. Continuar a lutar é sempre o estandarte daqueles que se recusam a ser os vencidos da vida. E a vida só tem sabor enquanto se luta e se conquista o amor e a esperança de vencer. Continuemos pois.

Estes desenhos são modos de estar num contexto que cada um define como feliz ou infeliz, de acordo com as circunstâncias e o olhar o mundo. Mais uma vez, o gostar de ver nascer formas, quase que instantâneas, leva-me a criar esta figuração, que é, afinal, um pouco de mim. Histórias da minha pintura.

E hoje lembrei-me de Luís Vaz de Camões:

“Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades…”

E termino com Verdi e o Coro Anvil da ópera "O Trovador".



segunda-feira, 28 de setembro de 2009

O dia seguinte


Há sempre o dia seguinte. Quer queiramos ou não, quer gostemos ou não. Há o depois. E o depois significa a vitória ou a derrota dos desejos, dos sonhos, das ambições, do viver segundo ideais romanceados ou não. O dia seguinte é, afinal, o mergulhar na realidade e viver a gosto ou a contragosto, num novo cenário, tantas vezes sempre igual, e apenas diferente aos nossos olhos e aos nossos desejos.

Esta pintura sobre tela é um dos muitos momentos em que se pensa e questiona todo um viver antes e depois do dia seguinte. Com pinceladas soltas e num jogo de cores procurei colocar a luz como um elemento complementar na multiplicidade de elementos que constitui a pintura. Histórias da minha pintura.

Hoje, como tantas vezes faço, relembro um texto judaico extraído da “Máxima rabínica”:

“Todos os dias, a nossa vida recomeça de novo”.

E vos deixo com a música de Brahms, na sinfonia nº 4 (1º movimento, primeira parte) dirigido por Carlos Kleiber.



domingo, 27 de setembro de 2009

Direitos e Deveres




E por cá andamos nesta luta de Direitos e Deveres. É sempre uma enorme confusão. Para uns o que é a solução é, para outros, a origem do problema. Eternamente vamos vivendo com pareceres, dúvidas e certezas. É a nossa sina. E assim continuaremos. Com mais ou menos Direitos e certamente com mais Deveres.

Esta caricatura é um retrato do momento presente. Tantos falam e tão poucos acertam. Este desenho caricaturado é uma abordagem ao viver político. O desenho a pena é, como faço quase todos os dias, um mero exercício pelo prazer do criar formas através do desenho. Picasso também, de vez em quando, abordava a caricatura.

Relembro hoje as palavras de Alexandre Dumas (filho) que disse:

“ O dever é aquilo que exigimos dos outros.”


E vos deixo, neste dia dedicado aos nossos Direitos e Deveres com a música do compositor e organista Marcos Portugal (1762-1830)e o dueto da ópera “Le Donne Cambiate”.


sábado, 26 de setembro de 2009

Reflectir




Momentos há, que precisamos de reflectir. De pensar bem. De pôr as ideias em ordem. De serenar e deixar que o melhor de nós venha ao de cima. E ao reflectir começamos a questionar e a analisar vantagens e desvantagens do nosso pensar, que é o nosso futuro. E o nosso destino depende também de nós, até nos pequenos gestos, nas atitudes mais simples, nos actos menos reflectidos. Nós somos o futuro, que é, afinal, o modo de olhar, de estar e fazer o mundo. Como sempre.

Há frases e frases. Umas não resistem a coisa nenhuma. Outras, pelo contrário, viajam no tempo, como é a afirmação de Descartes:

“ Penso, logo existo.”

E vos deixo com uma das mais belas óperas que Amadeus Mozart criou - “ A flauta mágica”-, aqui com as vozes de Cecilia Bartoli e Bryn Terfel em Pa-pa-pa-pa. Esta figura metade pássaro, metade homem é, também, a representação dos que têm medo de tudo, e dos gulosos, tão nossos conhecidos...


sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Sonhar


Sonhamos todos. Umas vezes acordados, outras, a bem dormir. Quer num caso, quer no outro precisamos mesmo de sonhar. Sonhar sempre. Todos os dias. Sonhar com os desejos, impossíveis ou não. Sonhar. Nunca desistir de sonhar. Sonhar mesmo quando nos dizem que não. Sonhar acreditando nos impossíveis. Sonhar. Sonhar sempre. E lutar. Lutar pelos sonhos. Lutar sempre. Lutar sonhando. Sonhando lutando.

Esta pintura de grandes dimensões é um retrato numa tonalidade dominada pelos brancos cinza. Com pinceladas, soltas, procurei representar uma figura que sonha acordada, como acontece com todos nós.

Recordo as palavras de Victor Hugo, in “Marion Delorme”:

“As nossas quimeras são o que se parece mais connosco.”

E vos deixo com a música de Gounod e a ópera Romeu e Julieta, aqui com a voz de Anna Netrebko cantando “ Je veux vivre



quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Grandes desejos


Ambicionamos sempre mais e mais. E, o mais, significa para uns, uma casinha, um emprego, uma tigela de sopa, ou, um minuto de liberdade. Mais, para outros, é um barco, uma vivenda de luxo, um aglomerado de empresas. E assim vivemos. Queremos mais e por isso lutamos tanto. Ora pela sobrevivência, ora pelo desejo empreendedor, ora pela inveja, ora pela ganância. E todos sempre infelizes, porque, como sabemos, não podemos possuir a Lua.

Esta pintura em tela, de grande formato, é um retrato onde procurei definir sensibilidade, elegância, sensualidade e o despojar dos bens materiais. Aqui, a paleta parca em cores busca, sobretudo, num contexto minimalista, a volumetria espacial e a fidelidade da retratada.

Hoje recordo as palavras de Jean de La Fontaine que disse:
“Quando desejamos pomo-nos à disposição de quem esperamos.”

E, termino com a música de Leopold Mozart, aqui, com sons que nos remetem para a infância, tão longe das ambições dos Homens:

“ Sinfonia Brinquedo”.



quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Palavras Determinantes




Não sabemos qual o fim desta epopeia que é a vida. Cada dia é uma luta. Luta pelos desígnios que queremos. Queremos tanto. Queremos porque sabemos. Sabemos tanto. Sabemos que há caminhos que não desejamos e que não vamos por aí. Nunca iremos por aí. Nunca.

Esta colagem de várias aguarelas retrata instantes do nosso quotidiano. Pesquiso novos processos criativos e a colagem também faz parte dessa busca por outros caminhos, que me levam não sei para onde, sei, felizmente, por onde não quero ir. Histórias da minha pintura.

Como sempre, nos momentos de desencanto, busco forças recorrendo aos que me inspiram. E vos deixo com a voz de João Villaret recitando a poesia de José Régio:

“…Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
- Sei que não vou por aí!”


terça-feira, 22 de setembro de 2009

Mudar



Como mudamos. Mudamos mesmo. Mudamos tanto. Hoje somos outros, sendo os mesmos. Mudamos as amizades, os sonhos, os desejos, os afectos. Mudamos quase tudo. Mudamos. E mudamos para melhor e até para pior. Mudamos com o saber acumulado da vida, o que é bom. E é mau quando não temos ambições (quantas delas absurdas) do passado. E andamos assim. Mudando e mudando ora com rumo ou sem ele. É a vida.

Esta imagem da aguarela e dos brinquedos retrata os sonhos, os desejos, os afectos e as mudanças. Um pintor é sempre um sonhador mesmo mudando, mudando sempre. Histórias da pintura. Da minha pintura…

Hoje recordo as palavras de Ovídio in “Metamorfose”:

“E amanhã não seremos o que fomos
nem o que somos.”

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Concerto de Aranjuez

Ideias






Precisamos de ter ideias. Ideias para vencer o marasmo. Ideias para vencer a tristeza do sempre igual. Ideias para quebrar as rotinas. Ideias que nos façam sentir criativos. Ideias que nos separem da resignação. Ideias que vençam a inércia. Ideias que nos mobilizem e tragam um novo acreditar. Simplesmente ideias. Ideias.

Este desenho é mais um caminhar em busca de novas ideias, neste tão intrincado mundo das novas tecnologias, geradoras de processos criativos singulares e contemporâneos.

Recordo as palavras de Alexandre Herculano:

“ O homem é mais propenso a contentar-se com as ideias dos outros, do que a reflectir e a raciocinar”.

domingo, 20 de setembro de 2009

É preciso





É preciso. É preciso acreditar. É preciso falar bem alto. É preciso convencer. É preciso vencer. É preciso lutar sempre. É preciso ter ideias. É preciso ter vontade. É preciso não desistir. É preciso saber. É preciso ter esperança. É preciso esperar. É preciso sempre. É preciso. É preciso.

Estes desenhos definidos apenas com breves traços a pena e salpicados de cores procuram definir um ambiente, onde é preciso sempre ter sonhos e vontades. É por isso que pinto, porque é preciso.

Nesta luta que é o nosso viver em busca dos sonhos, recordo hoje um texto judaico, extraído do “ Pensamento hassídico”:

“ Quem abandona a luta não poderá nunca saborear o gosto de uma vitória.”

E vos deixo com a voz de Maria Callas e a música sempre bela de Puccini da ópera dramática Madame Butterfly.



sábado, 19 de setembro de 2009

Os Medos



Temos medo. Muitos medos. Medo disto e daquilo. Medo de vencer. Medo de perder. Medo de tudo. E de tanto medo perdemos tudo. Perdemos a liberdade de pensar. A liberdade de fazer. A liberdade de construir. A liberdade de destruir. A liberdade de ser diferente. E perdemos. Só perdemos. Perdemos tudo, menos o medo. É chegada a hora de não ter medo e dizer não! Não ao medo! Medo não!

Esta pintura em tela é um olhar contemplativo onde o medo também ocupa o seu lugar nesta incerta viagem que é o nosso viver. Aqui procurei, como toda a pintura, dar a sugestão formal quer das casas, quer do cortinado, quer até da figura feminina. El Greco foi muito censurado, no seu tempo, por aflorar a construção das suas imagens. Hoje é um mago do saber pintar. Histórias da Pintura.

Hoje recordo as palavras de François La Rochefoucauld que disse:

“ Tememos tudo como mortais, mas desejamos tudo como se fossemos imortais.”

E vos deixo com a música de Chopin, também ele um homem de muitos medos, felizmente um dos maiores da música, aqui com Arraus ao piano tocando o Nocturno nº 20 do genial polaco.



sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Caminhar





Todos os dias há um novo caminho, nem que seja sempre o mesmo. Precisamos tanto de caminhar. Andar, andar por um caminho. Caminho que nos diga que estamos, porque estamos e onde estamos. E devemos fazer, todos os dias, um novo caminhar.

Esta pintura em tela recortada tem a forma de um ícone do nosso tempo e tendo por tema Lisboa. A luz tão peculiar e o encanto que se encontra ao olhar a cidade, com olhos de ver, foram os meus propósitos. Histórias da minha pintura…

E do “Talmude Babilónico” trago hoje um texto judaico:

“ Somos sempre levados para o caminho que desejamos percorrer.”

E vos deixo com a voz de Amália que, como se sabe, soube caminhar e fazer o seu caminho de verdade e dignidade.



quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Acreditar sempre





Não se trata de resignação. Não se trata de não ser capaz. Não se trata de desistir. Não se trata de fingir. Não se trata disto e daquilo, trata-se, sim, de acreditar. Felizmente que há sempre alguém que acredita. E quando se acredita tudo se torna mais fácil. Tudo parece possível. Até os sonhos se tornam realidade. É preciso acreditar. Acreditemos sempre. Não acreditar é morrer.

Esta imagem é um hino à música e à pintura que comigo convivem diariamente. Por muitas contrariedades nunca me resignarei. Pintor sempre porque acredito que vale a pena, mesmo continuando na sombra e na solidão. Esta aguarela é um passeio pelo prazer da descoberta das cores e das formas. Histórias da minha pintura.

Recordo hoje Jen de La Fontaine que escreveu:

“E cada um acredita, facilmente, no que teme e no que deseja.”

E vos deixo com a música de Gioachino Rossini, na abertura da ópera, “O Barbeiro de Sevilha” uma história de muitos acreditares.



quarta-feira, 16 de setembro de 2009

É sempre assim



É sempre assim. Felizmente que é sempre assim. Irreverência e progresso. E vamos caminhando e sempre criticando as outras gerações, e, também acreditando num mundo que nunca existiu. É sempre assim.

Esta pintura em tela recortada é, mais uma vez, a representação de um mundo ora belo, ora angustiante. Aqui as cores e as formas procuram realçar os propósitos da temática. Histórias da minha pintura.

Recordo as palavras do poeta e prémio Nobel da Literatura Radindranath Tagore:

“ Compreendemos mal o mundo e depois dizemos que ele nos decepciona.”


E termino com a música de Bellini na ópera I Puritani , hoje com a voz de Sumi Jo no papel de Elvira, que, como tantos, perdem a razão por razões passionais, num contexto de intriga e de luta entre os homens.




terça-feira, 15 de setembro de 2009

Nada sabemos



Nada sabemos. Como nada sabemos inventamos. Inventámos Deus, milagres e crenças. Inventámos. E continuaremos a inventar e a acreditar nas nossas invenções porque nada sabemos. E porque nada sabemos vivemos com os dogmas, as angústias e as vaidades do saber que não é saber. Eternamente nada sabemos. Eternamente.

Felizmente que sou pintor. Pinto com a liberdade do não saber e da insignificância e multiplicidade das leituras do meu trabalho. Hoje trago estes desenhos que têm a natureza por tema e que, como toda a arte, é apenas a aparência da realidade.


Fernando Pessoa disse no "O Livro do Desassossego":
- "Haja ou não deuses, deles somos servos".

A ideia de Deus deu origem às religiões que também trouxeram serenidade e arte. E vos deixo com Bach que, como se sabe, elevou através da música o nome de Deus.



segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Posturas



Cada um tem o seu modo de estar perante os outros e perante si próprio. E porque vivemos em sociedade convivemos ora passivos, ora contestando. E assim vamos deixando as nossas marcas com as quais alguns se identificam e muitos outros não. E é esse modo de caminhar e deixar rasto que nos define e caracteriza, elevando ou deixando-nos na lama, para todo o sempre.

Esta pintura “ O cavalo de Tróia” de 1999 em tela recortada é, mais uma vez, uma viagem pelo tempo e pelo espaço só possível na imaginação expressa da arte. Histórias da minha pintura…

Recordo hoje as palavras de Marquês Maricá que disse:

“ Muitas pessoas se prezam de firmes e constantes que não são mais que teimosas e impertinentes.”


E vos deixo com a maravilhosa voz de von Otter cantando Offenbach em "Barcarola".




domingo, 13 de setembro de 2009

Linhas da vida




Nascemos para viver, embora sabendo que vamos, todos, morrer um dia. Nascemos para descobrir e amar o viver. E assim deve ser. Devemos ter, por educação, o prazer da vida, e não como objectivo o sacrifício dela. Não há lei ou pensamento dos Homens que justifique, de livre vontade, o desejo de não viver e caminhar para lado nenhum, porque nascemos para viver e não para matar. Nascemos para amar e não para odiar. Nascemos para compreender e não para fingir compreender. Nascemos mesmo para viver. Viver com paixão. Viver.

Esta pintura recortada, em tela, feita no início da década, é mais um deambular pelo prazer de viver e na busca da singularidade pictórica.

Michel Montaigne disse um dia:

“ A nossa grande e gloriosa obra-prima é viver a propósito.”

E vos deixo com o “Hino À Alegria” uma das maiores e mais belas músicas criadas pelo saber e sensibilidade humana, só ao alcance dos grandes como Beethoven.




sábado, 12 de setembro de 2009

E tudo mudou






E tudo mudou. Nada mais é como dantes. O que existe hoje é um mundo novo. Veio para ficar, e com ele, novas posturas de vida, novos modos de estar e sentir. E não queremos ver a mudança. Olhamos para a realidade e construímos teorias e explicações de um mundo que não existe e que queremos e não queremos abdicar dele, mas tudo mudou. Para sempre.

A imagem de hoje tão tipificada nas tabernas do passado, onde estas figuras do artesanato popular tinham lugar cativo, já não fazem parte deste mundo novo, onde o telemóvel e a internet mudaram os comportamentos e as atitudes. E hoje, a arte contemporânea também ela vive embriagada com tantos caminhos novos. E tudo mudou. Para sempre.

O filósofo Ludwig Wittgenstein disse um dia, de acordo com o “Tratado Lógico-Filosófico”:

“ O mundo é tudo o que acontece.”



Eu que não sou católico vos deixo, hoje, com o Canto Gregoriano, que considero uma pérola da música.



sexta-feira, 11 de setembro de 2009

A selva



Vivemos na selva. Cada vez mais. E assim será, para sempre, porque andamos por aí levando as nossas culturas, os nossos sonhos e os nossos fundamentalismos. E pouco a pouco construímos a selva, as muitas selvas, cada vez maiores e aparentemente mais civilizadas, e, no entanto, tão próximas do abismo e do holocausto.

Esta aguarela é uma visão, que retrata o homem no tempo e no espaço, aqui graças à liberdade da criação que permite juntar dois mundos tão distantes e tão coexistentes.

E hoje recordo a entrevista de Maria Augusta Silva ao grande poeta António Gedeão que disse no livro "Poetas Visitados":

“ O homem de hoje faz tantas barbaridades como o das cavernas.”

E vos deixo com a poesia de António Gedeão na voz de Manuel Freire:

“ Pedra Filosofal.”



quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Convicções




É tudo uma enorme confusão. Gente que comunga posturas e modos de agir e ser, que outros condenam e desesperam. As posições sobre como viver sempre foram sujeitas a observações e julgadas bem ou mal. E aqui continuamos, com a certeza dos Homens, que se traduz em mais força e não na força das ideias.

Esta aguarela, como todo o meu trabalho, é uma forma de comunicar. Quando as imagens não são suficientes, os meus cadernos esperam pelos meus desabafos. Histórias de um pintor.

E neste deambular lembrei-me de Henri Bergson que disse:

“ A vida é um caminho de sombras e luzes. O importante é que se saiba vitalizar as sombras e aproveitar as luzes.”

E vos deixo hoje com “ A Cavalgada das Valquírias” de Wagner, também ele com ideias muito impróprias e, no entanto, com uma música genial. Paradoxos dos Homens.


quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Pensar Muito





Tudo passa num ápice. Ontem já foi, faz muito tempo. E o melhor das vidas acontece e depressa acaba. Acaba sempre tudo, o bom e o péssimo, nem que seja no último suspiro. E assim é quando se pensa muito. E precisamos tanto, tanto de pensar. E quando não pensamos, nada somos, e queremos ser sempre alguém, e por isso pensamos, pensamos muito.

Esta pintura, em madeira, é um modo de expressar o muito pensar, de que tanto precisamos. Aqui, como aconteceu nesta série de trabalhos, (pinto por séries) há uma dupla imagem. Como qualquer pintura é composta por uma figuração inserida num espaço, cuja forma é também ela uma outra imagem. Histórias da minha pintura.

Pascal disse um dia:

“ Pensar faz a grandeza do homem.”


E vos deixo com a música e a voz de Carlos Mendes cantando “Amélia dos olhos doces”.


terça-feira, 8 de setembro de 2009

Ideias que movem o mundo




Há ideias que mudaram e continuam a mudar o nosso mundo. Para o melhor, e, infelizmente, também para o pior. Ideias que movem multidões apesar da injustiça que transportam consigo e que vitimam. Ideias tão abjectas que fizeram História e outras ainda que História farão pela monstruosidade que provocarão. Nós somos assim. Aprendemos e desaprendemos com as boas e as más ideias. Ideias que movem o mundo, ora criando bem-estar, ora gerando ódios sem fim. É o nosso fado. Eternamente.

Esta pintura em madeira recortada conta dois mundos; de um lado, a infância com tudo de bom, e, do outro, o caminho da guerra que, como todas as guerras, é sinónimo de dor, destruição e morte. Cabe ao artista dizer de sua justiça, como é o caso, utilizando tintas e pincéis.


Robert Mallet escreveu um dia:


“As boas ideias não têm idade, apenas têm futuro.”


E vos deixo com Verdi em “ A força do Destino”.



segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Datas marcantes




Recordamos e até comemoramos datas. Recordamos histórias e episódios nossos e do meio. Recordamos factos felizes e até alguns que muitas dores nos deram, ao ver partir, para sempre, os nossos. Comemoramos em festa com alegria e vaidade uma data íntima. Oferendas e muitos votos de felicidade são os desejos que se repetem no ritual de cada momento natalício. E assim vamos vivendo e recordando até ao fim dos nossos dias.


Esta pintura em madeira recortada, já com alguns anos, retrata um diálogo com ofertas. Cores complementares e um desenho forçadamente contido das formas do espaço reforçam a composição.


E hoje lembrei-me das palavras de Jules Renard in “Diário”:

“ É assim tão certo que nascemos para viver?”


E vos deixo com a voz de Amália:
"Estranha Forma de Vida"

domingo, 6 de setembro de 2009

Acreditar e desacreditar




Precisamos tanto de acreditar. Acreditamos na esperança, na fé, na ambição, no desejo, na vida. Acreditamos e vamos desacreditando. Acreditamos quando ainda temos objectivos que julgamos realizáveis. Desacreditamos quando a realidade dos Homens e da Vida é tão diferente dos sonhos do acreditar.

Este meu trabalho feito num período de muitas buscas, como é meu timbre, é em tela numa configuração recortada. Tal como na vida de todos os dias gosto de acreditar e de sonhar, e, por isso vou construindo o meu mundo pictórico.

De novo o Dr. José Afonso, não por questões panfletárias ou ideológicas, mas por considerar que fora do campo lírico (é do que gosto), na música portuguesa, é dos maiores entre os maiores. Um outro nome que me encanta sempre é o de Amália. Um outro cantar. Um outro modo de olhar o mundo. Dois génios da música portuguesa que me fascinam e perturbam. E vos deixo com a voz e a poesia do doutor de leis:

“ Vejam bem
Que não há
Só gaivotas
Em terra
Quando um homem
Se põe
A pensar…”



sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Conversas loucas



Vivemos a comunicar. Falamos de tudo. Umas vezes serenamente. Outras, bem pelo contrário, desconversando. E assim vamos vivendo com tanta conversa; umas para não mais esquecer; outras nem merecem o tempo perdido; outras ainda, porque são conversas loucas, devem-nos fazer pensar.

Esta pintura em tela retrata um ambiente bucólico e aparentemente sereno e sensato, longe das conversas loucas, que podem, porém, surgir onde menos se espera. Aqui o desejo foi representar a volumetria dos espaços e conjugar cores próximas da atmosfera inerente. Histórias da minha pintura.

E vos deixo com as palavras ditas por Jean Jacques Rousseau, in “ A Nova Heloísa”:

“ Os homens a quem se fala não são aqueles com quem se conversa”

Quantas?



A nossa maneira de ser e os nossos actos têm, por vezes, um alcance que ultrapassa o imaginável. O que acontece nas nossas vidas é, muitas vezes, imprevisível. O que começou por ser um mero episódio pode-se transformar no caso das nossas vidas. Quantas pessoas não ficaram definitivamente entregues a um ideal, a uma paixão, a um projecto de vida só porque, uma questão menor, se transformou na maior das causas, e das razões deste nosso viver? Quantas?

Esta pintura em madeira recortada, feita em tempos idos, é a procura de uma figuração que, na época, julguei diferenciadora. Tempos de um mundo cheio de pintores e pinturas sem fim.

E hoje lembrei-me de Nicolau Gogol : “ Sei que o meu nome será mais feliz do que eu”.

E vos deixo com a música de um dos mais belos e sublimes filmes que a América fez para o mundo: Casablanca e As Time Goes By.



quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Histórias


Nunca se repete a mesma história, o mesmo facto, a mesma tragédia ou o mesmo acontecimento feliz. Por muito igual que seja este ou aquele episódio as pessoas mudam. A experiência do vivido e a maturação do tempo modificam o nosso modo de estar e olhar o mundo. E quando mudamos, mudamos as nossas histórias e os nossos sonhos. Para o melhor ou para o pior.

A pintura é um modo de historiar um tempo e os modos de viver esse espaço. Hoje este meu trabalho sobre tela é um pedaço de mim, como todas as minhas pinturas, e nelas relato os sonhos ou a falta deles. Histórias…da minha pintura.

E hoje, como tantas vezes acontece, lembrei-me do meu pai quando, eu ainda um muito jovem adolescente, o via à noite ler o livro “O Doutor Jivagode Boris Pasternak e escutava maravilhado episódios dessa epopeia. É uma frase desse livro que aqui trago:

“ O que é a história? É o trabalhar para elucidar progressivamente o mistério da morte e vencê-la um dia.”

E vos deixo com a música de Maurice Jarre do filme baseado numa das obras-primas da literatura russa: "Dr. Jivago".



quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Quimeras





Gostamos. Gostamos tanto de acreditar em quimeras. Quimeras onde as fantasias de sonhos encantadores nos transportam para um mundo onde tudo é belo, e as rosas não têm espinhos. Esse mundo fantasmagórico é fruto do desejo de sonhar acordado, longe de tudo e até da realidade. Pobres dos que sonham com as quimeras. E são tantos. Tantos mesmo. Infelizmente ou felizmente.

Esta aguarela é o retrato de um mundo de rosas sem espinhos onde as quimeras se transformam em realidade, só possível, aqui, na imaginação de um pintor.

E vos deixo com as palavras de Robert Musil: “ O que não sabe o que quer, deve saber pelo menos, o que querem os outros.”

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Milagres





Não há milagres. Nunca houve, nem haverá. O que há é a incapacidade de explicar os fenómenos. Quando o Homem alcança o saber, descobre cientificamente o porquê das coisas. O que ontem era um mistério, hoje pode ser, com toda a certeza, uma verdade provada pela inteligência e o saber acumulado do pensamento humano. Quanto mais sabemos menos crenças e magias toleramos, mas como tudo na vida, também há aqueles que se recusam a ver a verdade, e a olhar o mundo com olhos de ver.


Longe vão os tempos das magias do circo que seduziam meio mundo e o outro. A arte é também um modo de sedução e de encanto. Encantam os mestres com as suas obras que atraem multidões, basta pensar na Mona Lisa de Leonardo de Vincy ou na Guernica de Picasso. Eu, o João Alfaro, apenas, posso mostrar o meu último trabalho pictórico, que já data de 2008.


E vos deixo com um autor que descobri na minha adolescência, ao ler as tristes histórias ( faz hoje 70 anos que começou a guerra ) dos soldados alemães na Segunda Guerra Mundial , Erich Maria Remarque que disse um dia:

“ No desespero e no perigo, as pessoas aprendem a acreditar no milagre. De outra forma não sobreviveriam.”