domingo, 29 de janeiro de 2017

Passeios de domingo












Das recordações que o tempo transporta, trago comigo os domingos, quer fossem eles de verão ou de inverno, com sol ou sem ele, eram sempre, como hoje, encantadores. Há uma magia que construí no fantasiar e que se simboliza pelo apego às coisas que gosto e me fazem ser aquilo que hoje mais me preenche.





Os passeios de domingo, nas várias fases da vida, carregam consigo tantos episódios que ficam sem histórias para contar e que, no entanto, são parte da riqueza que nos define. O vestir diferente, as idas obrigatórias a casa deste ou daquele familiar, as caminhadas perdidas e os olhares pelas montras das lojas convidativas ao consumo, as refeições plenas de doces e as mesas cheias de gente na cavaqueira do gostar de estar e, não poderia deixar de falar dele, do meu pai. As longas conversas e os passeios de domingo que ele adorava levar pela mão a minha irmã gémea. E hoje, como ontem, as mesmas cenas e o mesmo amor mas com outros intervenientes, porque tudo é um repetir na vertiginosa existência.




Hoje mostro dois desenhos que são parte daquilo que faço sempre na pintura: o retrato dos que me cercam.




Sejam felizes e aproveitem o domingo.




E vos deixo com as palavras do escritor e jornalista colombiano Gabriel García Márquez que um dia disse:




“A vida de uma pessoa não é o que lhe acontece, mas aquilo que recorda e a maneira como o recorda.” 

terça-feira, 24 de janeiro de 2017

Na eterna procura










Cada um tem os sonhos que tem. Uns chegam longe porque conseguem, em vida - é o interessa -, o sucesso, a realização, o reconhecimento e as benesses que a notoriedade transporta; outros, por muito que lutem e trabalhem, nunca conseguem alcançar nenhum dos objectivos. Quer os notáveis quer os esquecidos, tudo se transforma num apagamento. As vidas, de cada um, são uma memória curta, mesmo quando se pensa nas figuras maiores, porque mesmo estas depressa as novas gerações as colocam no lugar da volatilidade da existência. E a questão que se coloca é  pertinente: porque querem tanto o apogeu e a fama, quando ela é tão efémera?



 O melhor, digam o que disserem, é ter algum reconhecimento, porque há caminhos que exigem alguma reciprocidade na comunhão de objectivos. Sem uma palavra e apenas com o silêncio como resposta o caminhar é dificílimo para todos, até para os perdidos. Se se trabalha tanto , independentemente da qualidade desse mesmo trabalho artístico ( é só dele que falo), há um motivo, uma razão maior para tanta entrega apaixonada: o prazer da concepção.



Penso muito nos prazeres da vida e nas opções de consumir o tempo, na voragem dos dias, e confesso que só encontro nesta obsessiva missão artística o alcance maior. Não sei porque gosto tanto de me refugiar na solidão do espaço confinado do ateliê, mas é como se ele fosse o universo todo, com tudo dentro, mesmo que o vazio seja a sua matéria.



Agora e durante dois meses perto de si (todos os caminhos vão dar à Golegã), no Equuspolis a minha exposição de pintura “Verdes são os campos”.







E vos deixo com as palavras do escritor sul- africano, John Tolkien que um dia disse:


“Aquilo que nós mesmos escolhemos é muito pouco: a vida e as circunstâncias fazem quase tudo.”

terça-feira, 17 de janeiro de 2017

Mais uma exposição












 Agora, mais uma exposição de pintura de algumas das minhas obras. Num espaço relativamente pequeno mostro dez telas, umas pela primeira vez, e outras já conhecidas de anteriores eventos. Sou apologista de apresentar sempre novos trabalhos  e procuro que sejam apelativos para criar alguma expectativa, sobretudo, junto dos que me acompanham.



Pintar é um trabalho, no meu caso, quase sempre solitário, embora gostasse que não fosse assim. Longe vão os tempos em que os pintores tinham ( os que pintavam modelos) a presença física do retratado. Hoje com as novas tecnologias e por uma questão de custos e, até, porque quase ninguém quer estar horas sem se mexer para permitir que o artista vá pintando paulatinamente, a solidão do ateliê é uma constante. De tão constante que, porque o homem é um animal de hábitos, já não consigo fazer um traço com gente por perto, restando-me a solidão laboral...



Quando as inaugurações acontecem é o momento maior entre os que querem conhecer diretamente as obras, o artista e, obviamente, ver presencialmente a pintura. Há o lado mais encantador que é o ritual que já faz parte do meu caminhar artístico: o convívio pela noite dentro, onde a pintura dá lugar à conversação sobre este mundo e o outro. É a passagem do silêncio, da ausência de um tempo em que o trabalho exige rigor e dedicação, para o partilhar de outras emoções, com gente que essencialmente encontra nos prazeres artísticos um outro olhar.



Os meus amigos fazem já parte de uma casta onde nos encontramos nos cruzamentos de uns e outros. Nos dias de hoje cultivamos a paixão e a entrega nos imaginários passeios da vã glória. É um modo de estar em que se cultiva o gosto comum, num palco de muitos interesses e poucas oportunidades de relevo, mas o mais importante é gostar de pintar, porque o resto é mesmo o resto.





E vos deixo com as palavras do escritor austríaco Karl Kraus, que um dia escreveu:


“A carreira é um cavalo que chega à porta da eternidade sem cavaleiro.”


segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

Ano novo e vida nova






Agora, nestes primeiros dias do novo ano, é chegado o momento de embrulhar as telas, porque a exposição é já sexta-feira e amanhã é o dia da montagem. É preciso também publicitar o evento com os meios possíveis. Numa das minhas visitas à capital espanhola vi, em destaque, a forma como se anunciava, então, a exposição do Hopper: cartazes simples colocados estrategicamente nas principais artérias de Madrid. Mas isso foi o Museu do Prado a organizar e o artista é um ícone americano do princípio do século XX. Gostava que aqui também fosse assim...



“Verdes são os campos” é o nome da exposição de pintura que fiz para estar durante janeiro e fevereiro na Golegã, no Equuspolis, espaço que agora alberga obras de Martins Correia e que,  em simultâneo, expõe artistas temporários, na Galeria de Arte João Pedro Veiga. Chegou agora a minha vez, porque moro perto; porque me cansei de andar com as telas de um lado para o outro por terras distantes; porque gosto de desafios e este é um deles; porque o expectável se enquadra naquilo que é ser artista nos dias de hoje e porque preciso de aparecer.



“Verdes são os campos” é uma exposição em que o verde das telas se prolonga na paisagem circundante e é também um olhar pela beleza dos campos com gente dentro. Terra de Martins Correia que ilustrou sabiamente as características regionais com realce temático para o cavalo e para a mulher do campo, chegou agora a minha vez de mostrar um outro olhar sobre o campo e a beleza feminina.




E vos deixo com as palavras de Luís de Camões, in “Verdes são os Campos”:




“Verdes são os campos,
De cor de limão:
Assim são os olhos
Do meu coração....”

segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

2017














E cá estamos em 2017. Tudo passa num instante. O que ontem era um desejo, uma ambição, hoje pode ser outra coisa qualquer menos desejo ou ambição. A realidade é outra. Confusa como sempre, pela incerteza e pelo enigma da vida. Imaginamos que somos uns seres merecedores de uma atenção especial, mas tão pequeninos no universo sem fim . Por mim vejo tudo como uma constante mudança. Agora com uma forma e consistência, amanhã totalmente diferente. Sem vida, sem alma, apenas pó. Mas enquanto a mudança se faz é preciso aproveitar para deixar as marcas do pó algures, por enquanto. Eu pinto e faço-me rodear de gente, de pessoas que me alimentam de vida e de alento.





E agora é regressado o tempo da luta pelos ideias. Só. 2017 será bom se conseguir realizar projetos pictóricos que estão congeminados e que só quero revelar em pormenor quando tudo estiver acertado. Não gosto de me antecipar aos sonhos, porque nunca acontecem como imaginado. Vale mais ser contido e esperar se acontece ou não. O tempo dá-nos a experiência e os dissabores que nos moldam e nos amadurecem. Verdade seja dita que vivo nesta fase mais pelo prazer do momento do que pelas luzes da ribalta. Pouco me interessa os holofotes de circunstância. O prazer maior é estar bem comigo e viver no possível, porque não podemos ter tudo, mesmo que o tudo seja tão pouco.






Tenho ainda tanto para fazer, se o engenho e a arte me acompanharem, neste meu modo de ver o mundo, com a consciência dos perigos e do maravilhoso que é viver. A ver vamos.





E vos deixo com as palavras do escritor e jornalista colombiano, galardoardo com o Nobel da Literatura Gabriel Garcia Márquez, que um dia disse:



“ A vida não é mais do que uma contínua sucessão de oportunidades para sobreviver.”