segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Ano Novo, Vida Nova



Mais um ano que acaba e outro que vai começar. De novo, cumprindo o ritual, novas expectativas e renovados desejos para os outros 365 dias. É sempre assim. Saúde, dinheiro e amor. Querem todos. Em todo o lado. Sem saúde nada interessa, nada faz sentido, nada é mais valioso; sem dinheiro é difícil viver com dignidade, embora não seja tudo, mas que faz muita falta, lá isso faz; sem amor nada faz sentido. Todos querem o mesmo: bem-estar. Para que reine a serenidade e a paz de espírito é preciso afastar fantasmas e viver, esperando que os deuses não se zanguem connosco. Muita inquietação, muitas dúvidas, muitas angústias ocupam os novos tempos, onde nem a economia nem a política correspondem ao desejado mas, todos temos de reconhecer que não vivemos num mundo perfeito e, que os Homens são o que são. Feliz Ano Novo.

Esta minha pintura retrata sobretudo o futuro. É dos jovens que se espera o progresso e os dias bons, já que os mais velhos não conseguiram cumprir o seu destino. As novas gerações transportam todas as responsabilidades, porque serão eles que, ou resolvem bem o que está mal, ou o caminho é num plano inclinado, ou seja: um futuro de mais injustiça e mais pobreza.

A pintura não conta histórias, aponta apenas indícios. Aqui, neste meu trabalho de 2010, procurei, com poses descontraídas, sugerir um momento de lazer, retratando dois jovens brincando ou remexendo em brinquedos fora de moda. História da Minha Pintura.

Recordo hoje as palavras de Machado Assis:

“A arte de viver consiste em tirar o maior bem do maior mal.”

E vos deixo com a música de Mozart e uma ária da ópera “Flauta Mágica.”
Feliz 2011

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

É Natal, É Natal



CHOVE. É DIA DE NATAL

"Chove. É dia de Natal.
Lá para o Norte é melhor:
Há a neve que faz mal,
E o frio que ainda é pior.

E toda a gente é contente
Porque é dia de o ficar.
Chove no Natal presente.
Antes isso que nevar.

Pois apesar de ser esse
O Natal da convenção,
Quando o corpo me arrefece
Tenho frio e Natal não.

Deixo sentir a quem quadra
E o Natal a quem o fez,
Pois se escrevo ainda outra quadra
Fico gelado dos pés."

In “Obra Poética”
Fernando Pessoa

O Natal de novo aí está para, no mundo católico, continuar a envolver-nos com a magia simbólica da quadra festiva. O espírito natalício ultrapassa os preconceitos religiosos e sintoniza-se na comunhão comunitária. É o tempo da reunião dos amigos e familiares, estejam eles próximos ou infinitamente distantes. Com oferendas ou sem elas o que conta mesmo é o sentimento latente do amor e da amizade. E precisamos todos, os que muito têm e os que sobrevivem, do calor humano tão singular nestes dias. O pior mesmo é o estar só na noite de Natal. E muitos estão. E muitos estão.

Este pequeno trabalho é uma aguarela que retrata um momento íntimo. Dormir é estar num limbo onde o corpo, que é o nosso, ultrapassa muitas fronteiras e vive episódios desejados ou tristemente recordados. Dormir é também, através desta minha obra, um modo de procurar transmitir a serenidade e a magia do encanto que o sonho nos dá. O que procuro sempre é captar o lado mais cordial, mais relaxante, mais humano que o Homem tem e que, infelizmente, muitos só no Natal encontram (quando encontram) a paz e o afecto. História da Minha Pintura.

E vos deixo com a voz da Maria Callas cantando Ave Maria de Verdi


segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Histórias da Pintura



“Em arte só vive o que continuamente dá prazer”

Stendhal

Estas aguarelas, que são retratos de diferentes modelos, procuram captar personalidades e modos de estar através de poses simples. Gestos banais ilustram momentos que, apesar de tão usuais, carregam consigo a magia da singularidade de cada um. De facto, o que me seduz quando pinto qualquer pessoa é o fascínio, não só do surgimento das formas identificadoras com o retratado mas, sobretudo, a captação do que distingue cada um de nós. É a magia da diferença sem fim que me atrai. Cada pessoa é única e, a arte, a meu ver, deve procurar descobrir o que nos aproxima e nos afasta, para o melhor dos mundos e, infelizmente, também para a desgraça. Pintar não é contar histórias. Pintar é transpor para um espaço formas e cores que apenas procuram construir cenários, onde a imaginação dos olhares geram, obviamente…histórias. História da Minha Pintura.

E vos deixo hoje com o musical “O Fantasma da Ópera”, uma obra de Gaston Leroux , inspirada no livro “Triby” de George de Maurier e que Andrew Lloyd Webber, Charles Hart e Richard Stilgoe maravilharam ao transporem para o teatro e cinema esta peça. Aqui, neste pequeno excerto, entre outros, a voz encantadora de Sarah Brightman.


segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Arte sem fim



As manifestações culturais estão em todo o lado: nos gestos, nos trajes, nas falas, nos desejos e até nos sonhos. A nossa imaginação é moldada nas vivências do dia-a-dia; desejamos o que julgamos possível imaginar e que esteja ao nosso alcance visionário; falamos de acordo com o nosso meio que é, afinal, produto de longos anos de convivência e de sociabilidade; trajamos em sintonia com as modas do nosso tempo, ou seja, em harmonia com a cultura contemporânea; gesticulamos, obviamente, com os trejeitos do tempo presente que, mais não é, comunicação de uns com os outros, através de posturas comuns, por todo o nosso planeta. E assim, sem darmos conta, nos manifestamos com atitudes culturais, que uns, mais afoitos que outros sabem tirar partido, criando obras ou situações que nos invadem e nos deliciam, de acordo com os nossos desejos e interesses. Coisas dos homens e dos tempos. Como sempre.

Este conjunto de aguarelas - obedecendo ao meu modo de trabalhar – procura, através de uma temática pré-definida, dar uma imagem de retratos de um tempo onde os gestos, os trajes, as falas (ou a ausência delas), os desejos e até os sonhos se vislumbram nas linhas e nas cores destas obras feitas em papel e com a pose de modelos. História da minha Pintura.

Recordo hoje as palavras de Paul Valery:

“O objectivo profundo do artista é dar mais do que aquilo que tem.”

E vos deixo com a música de Bellini, a voz de Angela Gheorghiu e a ária Casta Diva da ópera Norma, que muito me acompanha no meu ateliê enquanto trabalho na solidão.