sábado, 24 de agosto de 2013

O futuro a Deus pertence






 
 
 
 
 
 
João Alfaro
"Medinas"
Estudo prévio, 2013
 
 
 
 



 
 
 
 
Porque a vida é frágil e breve.
Porque a alegria dos dias é apenas o fio da navalha.
Porque a vida tem tanto de belo quanto de atroz.
Porque do tudo se passa para o nada.
Porque a tragédia é perdição que nunca acaba.
Porque cada instante é uma eternidade de angústia e desespero quando o amor se vai.
Porque deixa de fazer sentido tanto do sonho e da esperança com a partida .
Porque tudo se transforma em tormenta quando alguém parte definitivamente.
Porque a tristeza preenche os raios de luz com a ausência .
Porque é preciso acreditar não acreditando.
Porque tudo se converte em vazio, só resta ser outro, sendo o mesmo.
 
 
 
E, porque  o futuro a Deus pertence, vos deixo com a música de Schubert e “Avé Maria” na voz inconfundível de  Maria Callas, numa homenagem a quem  partiu.
 
 
 
 
 
 
 

 
 
 
 
 


sábado, 17 de agosto de 2013

Ilusões ópticas

   
 
 
 
 
 
 
 
 
João Alfaro 
"Lucrécia", 2013
 Pintura sobre tela de 80x100 cm
 
 
 
 
 
 
 
Agora é o tempo dos prazeres mundanos. Tudo muda com o calor e com o espaço. O verão é assim. O significado das atitudes e dos comportamentos adquire outro estatuto. Toda a gente procura, ao sair para outras paragens, ter outra postura, estar de um outro modo, ser diferente até. Depois voltará tudo ao normal com as rotinas dos horários e a repetição do que não se gosta de fazer, que é preciso cumprir, no entanto. Enquanto este tempo de afastamento dura, à que  aproveitar, nem que seja para ilusoriamente acreditar, que ainda há tanto de bom para viver. E lá vamos cantando e rindo. Uns olhando as belezas da natureza; outros os expostos corpos belos; outros ainda aspirando a projetos galácticos. De pequenas vivências se faz a vida nos nossos dias. E, se hoje sei alguma coisa, é sobre o maravilhoso dos instantes e das suas fantasias. Amanhã não sei como será, porque o tempo não volta. Nem muitos dos belos sonhos. Apenas as ilusões ópticas.
 
 
 
 
 
E vos deixo com as palavras de François Rochefoucauld que disse um dia:
 
 
“Quando não encontramos o repouso em nós próprios, é inútil ir procurá-lo noutro lado.”


sábado, 10 de agosto de 2013

Espuma dos dias




 
 
 
 
 
 


João Alfaro
“ Duplo olhar”, 2013
Pintura sobre tela
 
 
 
 
Tudo é espuma. O que parece importante, agora, perde o seu significado no instante seguinte. É tudo um engano. O que verdadeiramente conta é o prazer: do momento; da vida. Basta pensar nos noticiários. Quase nada fica na memória, porque tudo é espuma. Ou quase tudo. O que fica é aquilo que nos envolve e nos apaixona. O resto não interessa para nada. É tudo fantasia. Palavras ocas. Gente que diz e faz balelas e mais nada. Insignificâncias é o que acontece diariamente. E o mundo roda. E tudo muda. E poucos olham mais longe, porque o que conta, o que nos atrai é o abismo da insignificância. Da espuma dos dias.
 
 
 
 
 
E vos deixo com as palavras de Aulo Pérsio, in “Sátiras”:
 
“Do nada, nada vem; e ao nada, nada pode reverter.”


sábado, 3 de agosto de 2013

Prazeres de verão









João Alfaro
"Prazeres de verão"
Pintura sobre tela, 2013
 
 
 
 
 
 
Agora é o tempo de muitos rumarem a outras paragens; a outros prazeres; a outras descobertas. Também há os que ficam. Os que não podem, não querem, não sabem ir por aí. Quer uns, quer outros o destino é o mesmo: viver um dia de cada vez. Não há que enganar. A vida decorre instante a instante: agora bem, depois logo se vê.
 
Quando o calor aperta a vontade das vivências é diferente. Em casa, na rua ou na praia, a postura e a alegria solar fazem a diferença. Dos fechados viveres se saboreia a vida ao ar livre, com passeatas  envergando as vestes apropriadas dos tórridos dias. Quanto é bom olhar, ver  e sentir que a vida é bela, mesmo que falte tanto.
 
Entre o possível e o imaginário os dias passam, como se tudo fosse breve e insignificante, porque, verdade seja dita, a valorização das atitudes e do bens é apenas uma questão cultural. Nascem e morrem ideias, projetos e realidades pela vontade dos desígnios do momento, e, como todos os momentos, o que ontem era certo, hoje talvez não seja assim. O que eu sei mesmo é que está calor. Quando as temperaturas sobem resta-me (por enquanto) umas amizades para confraternizar. E lá vou eu ao encontro dos amigos do costume, depois da fobia pictórica que é o âmago deste meu viver, entre a fantasia e a realidade.
 
Bom verão.
 
 
 
 E vos deixo com as palavras de Virgílio, in Éclogas:
 
“Cada um é arrastado pelo seu prazer.”