domingo, 24 de junho de 2012

Pausa










2012, “Pausa” pintura sobre tela de 40x40 cm.

 Daqui para ali. De lá para um outro local. Estamos sempre em busca de qualquer coisa que está num outro lugar, real ou fictício. Procuramos eternamente o sítio certo, o cantinho ideal dos desejos, das necessidades e, até, de nós próprios. Depois chega o tempo de parar. Da pausa. E lá se vai tanto andar de um lado para o outro. E a correria termina de vez ou, apenas, por instantes. Por breves instantes, porque há sempre um incógnito desígnio, neste nosso modo de olhar e querer, isto e aquilo. Felizmente que é assim. Desgraçadamente é quando desistimos. E tantos, tantos se deixam vencer, logo à partida. Por isso, é preciso sempre uma pausa, quando o mundo, e, tudo o que ele comporta, ultrapassa a nossa capacidade de vislumbrar o certo e o errado, o belo e o feio, o maravilhoso e o fantástico. Parar para pensar é, quantas vezes, vencer etapas, galgar montes, vales e descobrir a luz. E é tão bom gostar de gostar.

E vos deixo com as palavras de Johann Goethe que disse um dia:

“Pensar é fácil. Agir é difícil. Agir conforme o que pensamos, isso ainda o é mais.”

domingo, 17 de junho de 2012

Menina estás à janela







2012, Pintura sobre tela de 50x50 cm



Estar à janela é mais do que um olhar. É, quantas vezes, pensar muito e desejar outro tanto. É querer alguma coisa, mesmo que seja só para ver as pessoas do costume; a mesma paisagem; o mesmo do mesmo, como a luz ou o céu estrelado sempre diferentes; o movimento ou a falta dele; a vida dos outros ou a ausência de gente; o barulho ou o silêncio profundo. Estar à janela é comungar, divagar por todo o lado, e por lado nenhum. É sonhar e desejar; é acreditar ou desistir; é estar só, ou, a conversar com este e aquele; é tanto e tão pouco; é recordar com profunda nostalgia e saudade; é estar bem com a vida, entre as tristezas de sempre, ou, é, apenas, um hábito. E há sempre uma janela à nossa espera.

Recordo hoje as palavras de Saint- Exupéry que disse um dia:

“Para ver claramente, basta mudar a direção do olhar”.

E vos deixo com a música, a letra e a voz de Vitorino e “Menina estás à janela”












domingo, 10 de junho de 2012

Amizade






2012, “Amizade” pintura sobre tela de 60x100 cm

Nasce num lado qualquer: nos bancos da escola, no emprego, no transporte público, no café. De um dia para o outro encontramos alguém que tem tanto para nos dar e a quem desejamos dedicar outro tanto. As razões são pelos mais nobres motivos ou, como acontece muito, pela inevitável necessidade da amizade, que o espaço e o tempo obrigam. E, de pequenos monocórdicos ditames iniciais, se desliza para confissões intimistas, nascendo, deste modo, o apego ao relacionamento que faz a diferença, e transforma o vazio numa necessidade de estar com outros, comungando tanto, ou coisa nenhuma. Os dias passam, a vida também mas, entre tantos episódios, continua o elo da cordialidade vivencial, que é a tradução literal da amizade, pois esta ultrapassa distâncias, tempo e diferenças de opinião. O que é sublime. E é tão bom não estar só, neste mundo de gente só.

E vos deixo com as palavras de Carlos Drummond de Andrade que disse um dia:

“A amizade é um meio de nos isolarmos da humanidade cultivando algumas pessoas.”

domingo, 3 de junho de 2012

Gente triste



2012, pintura sobre tela “Espera”, 70x50 cm.

O céu é lindo; a saúde aparentemente imensa; a fartura na mesa é uma constante; a família respira bem-estar. E a tristeza continua. É assim em tanto lado. Tanta gente deprimida. Uns porque não podem ter a Lua; outros porque julgam ser o que não são; outros ainda porque vivem num tempo que já passou e não volta mais, e, com ele os sonhos perdidos da felicidade eterna. E há, também, aqueles que nada pedindo, nada tendo, vivem um dia de cada vez, com a esperança de um amanhã pelo menos igual, embora miserável, e lá vão cantando e rindo com a alma despedaçada, como sempre. Tudo gente boa. Sem dúvida. E tristes. Muito tristes.


E vos deixo com as palavras de Simone de Beauvoir, in “A Força da Idade”:
“Em todas as lágrimas há uma esperança.”