terça-feira, 27 de dezembro de 2016

2016 em Revista













Um ano cheio de momentos. Três exposições que semeiam um percurso de entrega e paixão, com gente dentro. Os meus dias são quase sempre iguais: cedo erguer para pintar, exercício físico (corrida) por campos e vales e música por companhia. Há, obviamente, os amigos do costume e os encontros chamados culturais que envolvem a amizade e a entrega. O ano acabou com os que me alentam e para 2017 já estão programadas novas exposições de pintura, porque é preciso acreditar que vale a pena.




O passado passou, o futuro não sei o que será e o presente é agora. Houve um tempo em que olhava e sonhava com as mil maravilhas que esperavam por mim e do que eu poderia acrescentar. Hoje só quero viver o momento e, é na pintura que completo o ciclo do realizar as muitas fantasias e os encantos que sonhei. Quando pinto esgoto um tempo que é o mais saboroso, porque tudo é tão breve, e eu me deixo levar no encanto da criação, na musicalidade que me envolve e no desejo de deixar um testemunho, deste meu caminhar cheio de momentos.




Sejam felizes aqui e agora, porque não há um depois, mas só um presente.





E vos deixo com as palavras do compositor russo, que viveu no século XIX, Artur Rubinstein que um dia disse.


“Quem ama a vida é amado por ela.”

terça-feira, 20 de dezembro de 2016

Verdes são os campos

















Mais uma exposição de pintura a inaugurar já no próximo mês, agora no Equuspolis, um espaço expositivo na Golegã. Como é costume em mim, procuro que cada evento seja definidor do espaço e do meio, o que significa expor trabalhos quase todos eles nunca antes vistos, in loco. Entendo que devo, dentro do possível, mostrar sempre peças novas e com temas na linha condutora que me caracteriza, mas que sejam catalisadores e despertem interesses acrescidos.




Agora a paisagem é o tema dominante nesta exposição numa quase monocromia, onde os verdes predominam e se procura enaltecer, sobretudo, a beleza da natureza, numa acalmia paisagística, talvez em confronto com os muitos medos que hoje fazem parte do tecido social, onde a barbárie é uma constante, mas que eu, porque não mudo o mundo, me deixo ficar neste modo de ter como companhia a caixa dos pincéis, as muitas telas e todo um querer conceber  imaginários onde não há lugar para o negro dos dias, e apenas para a edificação da serenidade e do saber estar, sem invejas, nem ciúmes, porque a vida é breve e os campos verdejantes e belos quando um homem olha com olhos de ver.




Tanto trabalho, tanta ansiedade, tanta expectativa para mostrar a alguns que a arte tem ( em mim) um encanto enfeitiçado que me faz viver numa redoma, sem outros interesses que não sejam pintar e saborear a magia do fazer. O resto é o costume de sempre: tão pouco me interessa.




E vos deixo com as palavras de Pablo Picasso que um dia disse:

“Pintar é libertar-se, e isso é o essencial.”



segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Felizmente há Natal












Felizmente há Natal, aqui e agora. Depois não sei. Sei que as cores, as músicas e o espírito natalício desde criança me fascinam. Sei que as compras quase obrigatórias nas trocas de prendas fomentam o pior desta época, mas o que conta mesmo é a festa subjacente e o deixar para trás as más memórias. Não se pode viver com a tormenta constante, porque é preciso dizer basta e conquistar um brilho nos olhos.






O que importa, neste caminhar ( agora ) de despojamento, já não é seguir os preceitos e a fidelidade aos princípios religiosos e /ou culturais, o mais importante é a comunhão da festa, é o acreditar que ainda é possível ter um ideal com gente boa por dentro. Em cada ano que passa uns partem e poucos outros chegam, a estrada da vida fica mais curta e muito estreita para abarcar mais mundo e, é por isso mesmo, que sempre olhei para o Natal com olhos finitos, ou seja: a vida é breve e o que ontem nos movia, hoje está nas calendas, porque os sonhos quase sempre ficam pela imaginação. Quase sempre. Mas ainda há Natal e fico de peito cheio e agradado pelo bolo-rei. Para o ano há mais e espero sempre que as boas novas sejam portadoras de notícias sãs, o futuro é já ali e não traz - porque não pode contrariar as leis da natureza - o que queremos, mesmo que queiramos hoje tão pouco ou quase nada.


  

E vos deixo com as palavras de Helen Adams Keller que um dia disse:

“A única pessoa realmente cega no natal é aquela que não tem o Natal no seu coração.”

terça-feira, 6 de dezembro de 2016

É para continuar










“Jardim dos Humores”

Pintura em construção

Díptico de 80 x 240 cm






Uma das regras para o bom funcionamento e credibilidade de qualquer projeto é o cumprimento dos princípios que presidem à sua existência. Este blog deveria ser isso mesmo: um exemplo de regularidade na publicação dos textos e da necessidade deles serem também objeto de interesse. O tempo passou e a realidade mostra que há uma periodicidade anormal e textos demasiado suaves na narrativa. As razões são muitas para este descalabro. Pontualmente, porque não sou senhor de mim, não consigo vencer as maleitas que aparecem e me deixam prostado, mas até agora não vergado (felizmente), e que me fazem adiar o que aqui escrevo. Também desisti de criticar o mundo. Sou apenas eu com este meu viver que procura estar cada vez mais longe de tudo o que seja conflito e tempestade momentânea, nos arrufos de circunstâncias que o tempo volatiza. Confesso, também, que escrever é, para mim, empolgante quando o conteúdo tem dramatismo e pecados mortais, mas definitivamente não quero ir por aí. Eu sou apenas alguém que adora pintar, ouvir música clássica, saborear o sol e estar com os amigos do costume e, obviamente, confraternizar nos momentos épicos. O resto é simplesmente o resto.
 




Quase a findar 2016 e ainda a querer acabar esta pintura que é uma visão de encanto, em contraponto aos medos que invadem o viver na incerteza do bem e do mal, da verdade e da mentira, da sorte e do azar.  








E, vos deixo ( com muita tosse e dores demais...) com as palavras do cineasta norte americano Steven Spielberg que um dia disse:




“Todos nós, em cada ano, somos uma pessoa diferente. Eu não creio que sejamos a mesma pessoa durante toda a nossa vida.”



quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Os caminhos da (minha) Pintura















“Thea”, 2016

Pintura sobre tela de 80 X 120 cm



São palavras gastas, as minhas, mas não me farto de dizer o mesmo de sempre: a pintura é uma parte de mim. Já em criança retratava  a família e as casas onde ia vivendo . Hoje faço o mesmo. Houve um tempo de grandes viagens que a minha pintura captou, mais  os amigos e a minha nova família. Os meus filhos, sobretudo, desde o berço. Agora a sensibilidade e os encantos femininos, intercalados com paisagens circundantes, fazem a temática do presente, numa procura constante pelo belo, porque nunca é demais realçar o que nos encanta.



Cada pessoa é única e tentar retratar essa singularidade é um enorme desafio que me angustia e me deixa sempre numa inquietude até ao desfecho final. Apesar de pintar com determinação e querer, numa constante rigidez laboral e persistência, o meu caminhar na pintura é, cada vez mais, um desejo maior, mesmo que as expectativas no domínio público sejam as mesmas. Vendo bem, todo o artista vive num limbo de criação e de dúvida quanto ao desfecho do seu trabalho, com o reconhecimento ou não, sabendo só que a única certeza é o caminhar.



Agora, porque o retrato é a constante dominante na minha temática pictórica, sei que quem faz parte da minha pintura vive também, durante a gestação da obra, uma inquietude, porque a magia da arte é transportar o outro para domínios que encerram em si um encanto, sobre os valores e os significado da existência.





E vos deixo com as palavras de Fernando Pessoa que morreu faz hoje oitenta e um anos:


“Tenho em mim todos os sonhos do mundo.”






terça-feira, 22 de novembro de 2016

O que nos move?









Quando o pano cai e o espetáculo de palco acaba, o artista fica só; quando o atleta corta a meta o momento mágico passou; quando o pintor dá por finalizada a obra, resta a incógnita da interpretação de outros; quando o fotógrafo para o tempo ao fixar uma imagem, cria um registo de uma realidade que já foi; quando o pai olha o filho e vê nele o futuro, está apenas a convencer-se do amor e da esperança; quando alguém se entrega pensando no amanhã de felicidade, apenas quer acreditar que vale a pena sonhar. Enfim. Tanta gente criando emoções e novos imaginários de fantasia na procura da razão maior pela existência que é, verdadeiramente, o que nos move, e dá significado à vida. O resto não interessa. Nada mesmo. 




Mais um episódio de vontade e de amor por um ideal, e da necessidade de continuar na senda do possível, me fez estar numa roda de artistas comungando um projeto – mais um – com o fito único de saborear os ideais da estética contemporânea, numa harmonia de crenças, porque me move o desejo de viver projetando conceitos e comportamentos estéticos, como se o mundo tivesse necessidade de mim. Coisa estranha. Sou assim: preciso de acreditar que faço algo que chega a alguém, num qualquer lugar, hoje ou amanhã, porque é isso que me move. 







E, vos deixo com as palavras do escritor alemão Thomas Mann, que um dia disse: 



“Também do ponto de vista pessoal a arte engrandece a vida. Propicia maior felicidade e mais rápido desgaste....”

terça-feira, 15 de novembro de 2016

Luz














Quando o dia nasce e a luz invade os meus espaços, preenchendo os recantos sombrios e dando cor ao que me cerca, sinto-me sempre um privilegiado pela contemplação e por mais um dia que vai começar. Há em mim um querer em realizar e viver na crista da onda, como se fosse o centro do universo, mesmo sabendo que nada sou, nem nada quero ser, apenas desejo tirar o máximo partido de tudo o que me envolve, como a luz ao nascer do dia.






Sou madrugador, porque preciso de aproveitar todos os momentos de sol quando o objetivo primeiro é pintar. Não gosto da luz artificial quando as tintas e os pincéis esperam por mim, embora, agora, com as lâmpadas Led tudo ficou diferente, para melhor, diga-se. O meu ateliê é sempre um mar de luz, de música e de muitas telas, pelos cantos todos. E é neste ambiente que gosto de trabalhar, desejando novas a todo o instante, ou não fosse a vida um esperar de luz. De muita luz.





Gosto de olhar o céu e de me deixar envolver pelo azul celeste, nas divagações dos pensamentos perdidos, embora as muitas cores das nuvens me fascinem também, sobretudo, depois de ter olhado com olhos de ver para uma tela de Turner e, de ter descoberto quanto é belo a tormenta na paleta de um grande mestre mas, definitivamente, é a luz e o céu limpo que me enchem a alma e me pedem para pintar.








E vos deixo com as palavras do mais universal poeta português - Fernando Pessoa - que um dia escreveu em 1932:




“Não quero ir onde não há a luz.....”


terça-feira, 8 de novembro de 2016

Regresso a casa









Como acontece, quase sempre, depois de uma exposição terminar, as obras voltam ao seu lugar de excelência: o ateliê do artista. É sempre assim com todos. Há um fazer, um produzir constante de obras que acabam num qualquer espaço esquecido e cheio de pó. De muito pó e de muito esquecimento. É nas artes plásticas, na literatura, na música, é, enfim, nas artes todas. Há muita concepção e tão pouca repartição, mas verdade seja dita: faz-se muito e muito também de qualidade mais que duvidosa. É natural que, pela imensidão da produção de tantas coisas díspares, não há hoje, nem nunca haverá, razões para a fruição massiva do trabalho artístico.



Há produções culturais que envolvem tantas figuras e tanto empenho, mas que não conseguem atrair públicos, apesar de tanta paixão e de um interesse genuíno na procura do belo e da excelência, razões supremas na arte, todavia há sempre uma magia envolvente que embriaga os mentores, para continuarem na senda da procura dos valores julgados necessários, para que faça sentido viver com uma atmosfera de interrogações, sobre os conceitos e as procuras do maravilhoso e do fantástico.



Eu só quero produzir, fazer, acordar todos os dias querendo conceber mais. O que me fascina agora é este embriagado desejo de estar sempre a trabalhar, numa envolvência de prazeres tão simples e tão grandiosos: música, pintura, literatura. Com gente boa por perto, obviamente.



Longe vão os tempos onde produzia e sabia que havia procura e mais procura sobre o que fazia. Agora apenas posso consumir o meu tempo pintando. E mais não quero. Agora em Lisboa decorre a Web Summit, um evento, tanto quanto sei, em que se conferencia sobre os melhores processos de divulgar e vender, sejam eles sonhos ou compadrios, para que os produtos não regressem a casa....








E vos deixo com as palavras do escritor francês que viveu no século XIX e XX  Émile Zola que um dia escreveu, in “Os Meus Ódios”:




“ Uma obra de arte é um canto da criação visto através de um temperamento.”



segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Crepúsculo







Imagem retirada do Facebook





Ontem o dia estava lindo, com sol e temperatura amena convidativa ao passeio, à visita. Era domingo. Em criança lembro com alguma saudade este dia da semana. Hoje, no crepúsculo do caminhar, há um recordar de um tempo e de um modo. Fui ao Museu Ferroviário, aqui tão perto de mim. Fiquei encantado. Gostei de tudo: famílias, crianças, vida, alegria, vozes, olhares felizes e muito para ver no domínio do caminho de ferro.




O que me entristece, muitas vezes, é o vazio de pessoas e do que elas transportam. Ontem foi, durante algum tempo, diferente. Por questões de gestão e de trabalho, preciso de cada segundo no meu viver. Tudo é contado. Não tenho mais tempo. Esgota-se o bem mais precioso: a vida. E, porque necessito de ser parco na gestão do tempo, resta-me quase sempre tanta solidão, porque só nela consigo conceber este caminho pictórico, cheio de propósitos que alguns entendem e muitos outros não.


E mal começou está já a acabar a minha exposição de pintura que intitulei “Tatuagens”. Era, inicialmente, para ser comungada com uma tatuadora, mas outros andares deixaram-me só nesta exposição, que é, como tantas vezes repito, um hino à mulher e aos seus encantos. De um domingo cheio de gente no museu dos comboios, acabei o dia na galeria que acolhe as minhas obras por mais uns dias, num mar de muitos silêncios e olhares raros.



E dos julgamentos de valor há uns que são mais especiais que outros, ou fosse  tudo uma questão de interesse e de gosto. As pessoas que retrato, porque as retrato, gostam particularmente de ver como o outro ( que sou eu) as vê, sendo a visão obtida através de um processo de limitados recursos, que valem pela singularidade da unicidade da criação, da peça única, do objecto raro, da obra que alguns chamam prima e outros adjectivam pela negação. Eu, apesar dos muitos nãos, sou de continuar até ao crepúsculo.




E vos deixo com as palavras do dramaturgo, poeta e actor  francês do século XX, Antonin Artaud, que um dia disse:





“ Ninguém alguma vez escreveu ou pintou, esculpiu, modelou, construiu ou inventou senão para sair do inferno.”

terça-feira, 25 de outubro de 2016

Tatuagens para sempre











João Alfaro

"Tatuagens", 2016
Galeria Municipal do Entroncamento
de 22 de outubro a 3 de novembro






Confesso que não sou apreciador de modas. Compreendo da necessidade de mudar atitudes, hábitos e comportamentos, para que alguma coisa fique diferente, no passar dos dias. Agora é muito vulgar ver pessoas tatuadas. Os velhos porque são velhos não querem que o seu corpo fique diferente, depois de uma aparência física com as características usuais, no entanto, a geração mais nova – agora – tem um fascínio pela tatuagem. Eu não. Mas a minha exposição é sobre tatuagens no corpo feminino. Um pintor é um cidadão do mundo, um observador do meio, dos desejos, ambições e, por isso mesmo, não resisti e pintei corpos nus com tatuagens vulgarizadas nos dias de hoje.



A moda é efémera, mas um corte na pele e a impregnação de tintas é para sempre, por isso a tatuagem – fenómeno de moda – irá ser um conflito de gostos com o passar do tempo, naqueles que se deixaram tatuar na abundância. Desde sempre o corpo foi tatuado como identificação de um grupo, de uma tribo, de um conjunto com um propósito único. Agora, penso que muito inconscientemente, demasiados se deixam tatuar sem saberem bem o porquê e para quê.



Eu procurei, todavia, mostrar corpos tatuados na essência mínima para que os mesmos sejam ainda um vislumbre de encantos, e por isso, quase invisíveis as tatuagens nos corpos por mim pintados. Foi mais um tema no meu caminhar pictórico, onde a mulher é a referência, e como sempre em poses de grande sobriedade. 







E vos deixo com as palavras de Jean Cocteau, autor e realizador francês do século XX, que um dia disse



“A moda morre nova. É isso que torna grave a sua leviandade”.

terça-feira, 18 de outubro de 2016

Tatuagens













Hoje é a moda disto ou daquilo. Muitos, porque é moda deixam-se ir na “onda”do gosto do momento. Mas há modas e modas. Umas das características do conceito de moda é a brevidade e o instante do evento, do fenómeno social, da identificação com o meio nos usos e costumes. Agora a grande moda identificativa da postura e do estar (sobretudo ) no contexto urbano é, junto de um público jovem e referenciado, o uso de tatuagens. É uma moda colada no corpo que o tempo - feitor de muitas mudanças e opinativos opostos numa mesma pessoa – não acaba num instante e continua colada à pele, mesmo que o sujeito seja outro com o correr do tempo e da aprendizagem da vida. Mas isso não importa, o que interessa é a comunhão com o presente, porque o futuro vem ou não.




Como observador e registador através da pintura do meio que me cerca, não poderia deixar de incorporar na minha temática pictórica a tatuagem nos corpos de quem me serve de modelo. Sábado, 22 de outubro, no Entroncamento, na Galeria Municipal, e durante onze dias vos mostro telas com gente dentro, mergulhados na simbologia identitária de uma caligrafia e de um desenho cromático da moda, que encanta uns e desgosta outros.







E vos deixo com as palavras de Ernesto Sábato, ensaísta e romancista argentino, que um dia disse:




“As modas são legítimas nas coisas menores, como o vestuário. No pensamento e na arte são abomináveis.”

terça-feira, 11 de outubro de 2016

Tempo contado





















O tempo foge-me. Não consigo estar com quem gosto e dar a atenção devida; não faço tanto do que gostaria de fazer, porque muito se escoa; não consigo edificar um projecto artístico como sonho desde sempre, mesmo com o tempo contado. Sou assim, sendo o quase tudo um pouco de nada. E fugi em busca de outras paisagens, numa viagem pelas memórias de um tempo, onde o Índico encantava com as marés juntamente com o por do sol, numa simbiose de  cores e infinitos desejos. Passados os dias com gente jovem que o  tempo levou, é, agora, preciso recomeçar mais uma vez, com a entrega de sempre e aquele prazer de edificar ideias e tornar palpável o idealizado. E foi pelo não fazer que o desejo de realizar aumentou. Preciso de fazer compassos de espera para avançar. A ver vamos.




E tenho, agora, já dois outros projectos em mãos e várias exposições para fazer, cada uma com um tema próprio. Preciso de uma agenda de eventos para me guiar no desejo de conceber. Depois é a luta do costume e o caminhar segundo um sentido único, em que o importante é ir desvendando imaginários que se tornam realidade pelo acreditar que vale a pena.








E vos deixo com as palavras do escritor, poeta, dramaturgo e ensaísta irlandês que viveu no século XIX, Oscar Wilde, que um dia disse:




“Há duas tragédias na vida: uma a de não satisfazermos os nossos desejos, a outra a de os satisfazermos.”

quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Retratos com gente dentro
















Retratos, 2016

Desenhos  a pastel de óleo e lápis de cor, sobre cartolina de 34 X 24 cm







O que me fascina no meu trabalho pictórico é a construção figurativa dos outros, segundo o meu olhar que depende do momento e da circunstância. Ao fazer um simples desenho, de poucas linhas, com o intuito de captar a definição formal e psicológica de alguém, estou a edificar uma obra que me ultrapassa e caracteriza a personalidade, não de quem eu sou, mas de um outro.




A singularidade de cada um é uma maravilha da criação e, conseguir criar um objecto que identifique esse alguém e que se conserve no tempo, como se houvesse uma paragem de vida e apenas aquele momento fosse único é, para mim, mágico. Registar numa atitude nobre um instante e conseguir que ele seja lido em contextos e por gerações tão disformes e heterogéneas, é, outra razão para gostar tanto do mundo da arte.




Cada pessoa tem um gostar de estar e de se mostrar. Captar esse sentido e enquadrar a imagem criada na pintura tornando-a apelativa é uma luta constante entre o que se consegue, o que os outros consideram e, realmente, o que fica de valor. A História da Humanidade é um desfiar de pessoas que o tempo apagou, mas que ficou um registo da presença, porque o edificado foi um colectivo caminho de todos: os poucos lembrados e os esquecidos de sempre. Quando retrato alguém quero homenagear essa pessoa, pela presença num tempo em que ela é parte da mudança que os tempos comportam.





E vos deixo com as palavras de Alphonse Karr, escritor e jornalista francês do século XIX que um dia disse:




“Cada homem possui três personalidades: a que exibe, a que tem e a que pensa que tem.”

terça-feira, 20 de setembro de 2016

Viver é bom













Estive em Lisboa e visitei dois espaços magníficos, repletos de muita pintura, escultura, desenhos, gravuras e uma panóplia de artefactos próprios de um artista plástico. Tanto trabalho ali, expressão de uma vida dedicada às artes. Um imenso espólio que talvez um dia seja objecto de estudo e de consideração. Talvez. Do que gostei mais foi da alegria  ali patente, no querer viver, e no desejo continuado de trabalhar mais e mais, mesmo que o tempo seja curto.




Foi um dia longo, belo e para recordar. Conheci o mestre Teixeira Lopes quando era aluno nas Belas Artes de Lisboa. Foi meu professor. Tantos anos depois o reencontro, agora eu, porque estou integrado no projecto do ArtSapce João Carvalho, com o intuito de organizar uma exposição do mestre. Os artistas têm os seus apoiantes e detractores. Uns gostam e adjectivam; outros adoram vilipendiar ou ignorar. A mim encheu-me a alma ver tanta dedicação, amor e crença num ideal de beleza e numa afirmação de existência. Os julgamentos de valor ficam para quem os quiser dar, porque o mais significativo é a batalha de uma vida toda ela dedicada a um ideal artístico, num país que tem tanto de bom e belo, como de inveja de uns para outros.





Os anos passam e deixo-me levar por uma entrega, sem procurar caminhos relevantes, apenas e só querendo aproveitar a réstia de tempo, que é uma preocupação permanente que me segue e me atormenta. Fico feliz quando o dia cai e considero útil o que fiz. E ver tanta obra de um só homem foi um regalo. E um incentivo, para continuar a fazer mais e mais.










E vos deixo com as palavras de Oscar Wilde, escritor, poeta dramaturgo e ensaísta do século XIX,  que um dia disse:






“Todos nós, sem excepção, passamos a vida à procura do segredo da vida. Pois bem: o segredo da vida reside na arte.”

terça-feira, 13 de setembro de 2016

Blogs









João Alfaro


“Flora” (pormenor), 2016 
Pintura sobre tela de 80 x 120 cm 






“Não há fome que não dê em fartura”. Acontece muito em tantas situações. Quando surgiram os blogs não havia “cão, nem gato”, passe a expressão, que não tivesse um. Quase todos eles eram diários escritos, agora não em folhas de um qualquer bloco de apontamentos, mas sim integrados nos processos das novas tecnologias, numa escrita de acesso a todos. Finalmente tinha surgido um meio simples, acessível, barato e abrangente de chegar a muitos e, para isso, bastava apenas escrever e colocar umas fotografias ou vídeos. Mas a continuidade cansa. Cansa e muito. Lentamente os blogs se esvaziaram de conteúdo e de interesse. E foram acabando. Uns muito politizados pela efervescência do momento, que passada a tempestade política se transformaram num lamacento oásis de coisa nenhuma; outros, de cariz confessional, de tanto repetirem lamúria da triste sina que persegue cada um com a sua fantasia, terminaram por ser uma repetição das mesmas lamentações e da inquietude do costume; finalmente, os resistentes se dividem em dois grupos: os que muitos ainda conseguem ler e os que existindo, quase ninguém sabe o que escrevem. Eu, porque sou teimoso – essa é a única razão – ainda aqui ando com o meu blog.







Agora soube que há um avaliação sobre os melhores blogs. Todos os dias leio um, porque já fazem parte do meu diário literário.  Paulatinamente fui gostando cada vez mais de ler não nas folhas impressas num qualquer jornal ou livro, mas no computador. Mudam-se os tempos.... 





Gosto de ler informação diversificada e continuada, coisa rara nos blogs que exigem- para que seja apelativo – informação diária e inovadora, coisa que não faço. O tempo sempre me escasseia e porque não quero entrar por campos do intimismo, onde me sinto mais consistente, agora, reconheço “sou pão sem sal”, tudo muito amorfo e apenas factual no registo do que publico aleatoriamente, sem eira nem beira, até na periodicidade, mas preciso escrever, nem que seja para não esquecer as palavras e a existência. E Escrevo, escrevo sim, sobre a pintura. A minha.







E vos deixo com as palavras de Saramago, in “La Provincia "(1997):




“ No fundo, todos temos necessidade de dizer quem somos e o que é que somos e o que é que estamos a fazer e a necessidade de deixar algo feito, porque esta vida não é eterna e deixar coisas feitas pode ser uma forma de eternidade.”                                                            

quarta-feira, 7 de setembro de 2016

Caminhando.





Uma das telas recentemente concebida e a mostrar na próxima exposição.








Os dias correm e o que lá vai, lá vai. Agora é recomeçar de novo e pensar no próximo evento, porque um artista tem de, para manter a chama, apresentar novos trabalhos continuamente. Procuro, até para me obrigar a uma rotina de múltiplas tarefas, ter exposições programadas que me permitam, quase sempre, mostrar obras nunca expostas, num sistemático modo de despertar interesse, in loco, pelas características do processo criativo que, muitas vezes, só são perceptíveis, ao olhar, no contacto directo e muito próximo da pintura.





Houve um tempo em que aprendi muito, com a observação directa das obras dos grandes mestres, apesar de muitas das peças já as conhecer de imagens dos livros, mas era fundamental ver perto, quase tocando nelas, sentindo a aparente presente do artista criador e ter, também, uma noção plena das dimensões das obras. Hoje é um pouco diferente. A tecnologia melhorou e as fotografias das peças têm uma qualidade gráfica excelente revelando os mistérios da arte com os processos de produção, que estavam ocultos em fotos de baixa qualidade. A internet abriu novas fronteiras e criou campos de intervenção e debate que aproxima o artista dos interessados e, confesso, já não gosto de percorrer as galerias de Lisboa na busca de captar algo de novo. Estou diferente, era outro tempo, todavia, gosto de ter gente por perto quando me apresento publicamente e revelo como pinto o que pinto.





A pintura tem a importância que tem e serve para o que serve, mas há em mim um gostar tanto que a sublimação é constante, neste pensar e fazer da minha pintura uma opção de vida, com os benefícios e as maleitas de sempre. E caminho. Muito.






E vos deixo com as palavras de Émile-Auguste Chartier ensaísta e filósofo francês  que disse um dia:




“O erro próprio dos artistas é acreditarem que fariam melhor meditando do que experimentando. (...) É fazendo que se descobre aquilo que se quer fazer.”



segunda-feira, 29 de agosto de 2016

Agradecimento











João alfaro, 2016
Retratos de agradecimento
.




A exposição “No Feminino”, que teve por tema o nu feminino, é um olhar pela intimidade da mulher, em alguns contextos do lar, com o objetivo maior de retratar a serenidade e o encanto.


E chegou ao fim, após dois meses, esta mostra, que  só foi possível pela gentileza camarária, embora sabendo que compete aos organismos públicos servir o cidadão e não o seu oposto, mas nunca é demais saber agradecer.


Para mim foi muito gratificante ver um enorme cartaz anunciador do evento. A dimensão e o local onde se situava tinha todos os ingredientes para atrair visitantes. Foram os que foram e, a esses, em particular, o meu agradecimento. Tudo o que faço na pintura é apenas um devaneio e um gostar ardentemente de espalhar cores numa superfície, enquanto me deixo levar pela fantasia e pelos sonhos da importância de comunicar, pelo silêncio, o quanto é belo o lado artístico.


 Procurei que as minhas obras fossem, pela temática, um chamariz, dentro do enquadramento que as artes plásticas têm no contexto cultural. O balanço final é o possível no realismo do presente. Agora que se fechou mais uma exposição, outra, com novas telas, estão na calha para serem mostradas, porque é preciso caminhar e acreditar que vale a pena.


Pintar é ocupar um tempo na realização de uma obra que interessa a alguns poucos, como tudo na vida. Para mim é sempre uma entrega constante e um prazer imenso mergulhar nos mistérios da arte, mesmo que os espinhos sejam muitos e as nuvens negras também, mas há, algures, uma luz ao fundo do túnel.



E vos deixo com as palavras de Simone de Beauvoir, escritora francesa do século XX, que escreveu in,” Para uma Moral da Ambiguidade”:


“É o desejo que cria o desejável e o projecto que lhe põe fim.”