segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Gostar




Gosto de tantas coisas. Coisas que posso ter e outras que jamais alcançarei. Gosto hoje e talvez amanhã já não. Gosto eternamente ou apenas por instantes. O instante é insignificante e não conta para nada, ou quase nada; o eterno é mesmo desgraçadamente doentio, logo sofredor, ou não fossemos todos nós “seres errantes” à procura de Godot.

Estes desenhos fazem parte de um período de vida em que desenhava compulsivamente, numa ânsia pelo desejo de riscar, riscar e riscar, deixando registos de formas e cores sugerindo imagens de tanta gente conhecida ou não, numa procura pelo prazer da criação, que apenas surge quando a motivação é maior que os pensamentos do nada fazer. História da Minha Pintura.

Recordo hoje as palavras de Álvaro de Campos:
“Gostava de gostar de gostar”.

E vos deixo com a música de Ferrer Trindade e Artur Ribeiro, a letra de Maximiano de Sousa e a interpretação de Roberto Carlos e a canção “Nem Às Paredes Confesso”.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Como o tempo passa








Mais um dia. Mais uma semana. Mais um mês. Mais um ano. E, de novo, o Natal está quase a chegar quando ainda o ano vai saboreando os calores do Verão. Como o tempo passa. Ainda parece que foi ontem que 2010 se iniciou, e, já caminha para a recta final. O tempo e a vida andam de mãos dadas. Quando olhamos com olhos de ver, o tempo passou e a vida também. Sonhos e desejos acabam por ser concretizados uns e outros não. Gentes, factos e histórias perfilham lado a lado quando pensamos neste andar dos dias, das semanas, dos meses e dos anos. Como o tempo passa. Como o tempo passa!!!

Estas imagens são desenhos feitos de observação directa, em tempos idos, onde o registo era o de ilustrar um tempo e um modo. Outras épocas. Outros desejos. Outros modos de estar. Aqui se mostra - como o desenho nascido do traço repentino - procura apenas a aparência da realidade que é (como todos sabemos) apenas e só, uma imagem subjectiva da análise que cada um faz, num determinado contexto, numa determinada época, bem ou mal; o certo e o errado dependem também das variáveis da História e do pensamento que é sempre um andar por aí, numa caminhada para muitos lados. História da Minha Pintura.

E vos deixo com as palavras de Leonardo da Vinci:

“Onde há muito sentimento, há muita dor.”

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Somos assim



Somos assim. Uns gostam e outros detestam. Uns convivem, enquanto outros se fecham no seu casulo. Uns querem sempre mais, e, tantos outros, apenas desejam paz e sossego. Uns riem por tudo e por nada, e há quem não saiba como sorrir. É assim a natureza humana. Para uns ou está muito calor, ou está muito frio, enquanto outros procuram ou a neve ou as tardes quentes de Verão. Para alguns é um prazer o jogo do corte e costura da má-língua reinante. Para outros tudo não passa de interesses mesquinhos, porque o importante é viver longe da intriga saboreando os prazeres da natureza e da beleza humana. Somos assim com tantas qualidades e tantos defeitos. Ora felizes por dá cá aquela palha, ou eternamente angustiados e deprimidos sem sabermos bem porquê. Somos assim.

Esta pintura integrada na série “Açores” resultou da minha passagem pelas ilhas. A abundância de tanta cor e forma dada pela natureza fascina qualquer um, mesmo o menos insensível à beleza deste nosso mundo que dá o melhor e o pior. História da Minha Pintura.

Recordo hoje as palavras de Khalil Gibran:

“A beleza é a vida quando nos mostra a sua melhor cara”.

E vos deixo com a música de Alfredo Marceneiro e letra de Amália, aqui com a voz de Mariza:
“Estranha forma de vida”.


segunda-feira, 6 de setembro de 2010

A minha companhia



Fraternidade

Não me dói nada meu particular.
Peno cilícios da comunidade.
Água dum rio doce, entrei no mar
E salguei-me no sal da imensidade.

Dei o sossego às ondas
Da multidão.
E agora tenho chagas
No coração
E uma angústia secreta.

Mas não podia, lírico poeta,
Ficar, de avena, a exercitar o ouvido,
Longe do mundo e longe do ruído.

Miguel Torga, in 'Cântico do Homem'



Somos seres gregários. Vivemos em sociedade, com muita gente ou isolados de tudo e de todos. No meio da multidão há também muita solidão. Na solidão há muita companhia. Depende de cada um. Depende só de nós. E só de nós.

A minha companhia é multifacetada – confesso -, no entanto, não passo sem música. Não é toda a música. Depende: do contexto; da companhia (pois claro), e mais não digo…

Nestes dias de muito calor andei por aí. Sempre, sempre acompanhado pela minha música, que é, afinal, das melhores companhias nos dias solarengos, nebulosos, cinzentos, frios ou trovejantes. Cada um escolhe o seu destino e, obviamente, as dependências. E dependente sou das grandes vozes e das sonoridades que deslumbram quem ouve com paixão os melhores sons que a humanidade criou. Falo de gostos. E só de gostos. Confissões, afinal.

E vos deixo com a a música de Verdi e Di Provenza ária da ópera “La Traviata cantada por Dietrich Fisher-Dieskau, uma das vozes que mais admiro.


quarta-feira, 1 de setembro de 2010

O primeiro dia



Hoje é o primeiro dia, do resto da minha vida. Hoje é o início de outro ciclo de vida. Agora novos desafios, novos modos de estar e ver a realidade esperam por mim. Os sonhos e os desejos perseguem-nos continuamente. Para o melhor e, logicamente, para o pior. Cada dia é, afinal, sempre um desafio, quantas vezes alimentado por ideias romanceadas, ou afirmativas de uma postura de vida não conformada com o statu quo. Dar saltos e partir para o escuro é sempre um jogo arriscado. Uns, sem medos ou inconscientes galgam trilhos; outros, talvez vencidos da vida, permanecem chorando pelos caminhos desejados mas nunca percorridos. O dia seguinte é sempre a incógnita da nossa existência que vale o que vale, com muitos sonhos. Deixar de sonhar é percorrer a via da extinção dos desejos. Não sonhar é morrer. E eu não quero morrer.

Esta imagem é uma parte do sonho, aqui com a simbologia que os materiais transportam consigo, e com a iconografia que cada época caracteriza. Vivemos rodeados de objectos que nos identificam e que até nos moldam. Pouca coisa para uns é suficiente; para outros nem o infinito os satisfaz. Coisas dos Homens. Dos pequenos e dos grandes. De todos. História da Minha Pintura.

E vos deixo com as palavras de Ésquilo:

“Conhecerás o futuro quando ele chegar; antes disso, esquece-o.