segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Passear



Passear é sair. Sair para longe ou ficar no mesmo sítio. Se é para longe, muito se pode ver pela primeira vez. Se não é para lado nenhum, o pensamento foge para todo o lado, e o passeio torna-se longo e cansativo. Passear é ir por aí em busca do devaneio e do nada fazer. Passear é saborear o tempo enquanto se caminha, fruindo os sítios do costume ou, descobrindo novas paisagens, novos cheiros, novas gentes, novas culturas. Passear é sempre expectante mesmo no passeio dos tristes. Mesmo no passeio dos tristes.

Esta pintura é o resultado dos muitos passeios, uns reais e outros imaginados. Este meu trabalho foi feito após a visita aos Açores. A paisagem e o exotismo foram contagiantes para criar, após essa estadia, uma série de obras onde a amálgama de elementos preenchem os espaços pictóricos. O verde e o mar são dominantes quando se passeia pelas ilhas e a pintura (desse tempo) teve necessariamente de reflectir esse contexto. História da Minha Pintura.

Recordo hoje as palavras de Victor Hugo:

“ Viajar é nascer e morrer a todo o instante.”

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Férias










Meio mundo está saboreando os prazeres que só Agosto tem: calor, praia, viagens, folia. Infelizmente, também há o outro lado da vida negra e soturna: os fogos e as desgraças do costume. Rir, beber uns copos, passear e deixar para depois é o lema do momento. É assim, neste cantinho à beira-mar plantado… onde se quer pensar só nos encantos estivais, enquanto a tormenta vem chegando, mas agora há que saborear o lado bom das férias de Verão. Depois logo se verá. Pois claro!

Estas fotografias são olhares nocturnos, de espaços urbanos, onde procurei criar, com os materiais tradicionais, uma paisagem estética que fosse um modo de estar perante o mundo, saboreando os prazeres da contemplação, mesmo que seja apenas num instante, tal como nas férias de Verão.

A intervenção no espaço público deve ser sempre de um cuidado extremo, dado que a visualização de qualquer obra procura servir e merecer a fruição ampla de quem olha com olhos de ver. Cada época tem a sua marca, mas o espaço urbano é uma mescla de sucessivas intervenções de tempos diferentes e de preocupações díspares. Procurei que os estes meus projectos fossem um modo de enriquecer plasticamente os espaços com formas e cores traduzindo ideias simples. História da Minha Pintura.

E vos deixo com as palavras de Paul Valéry:

“Uma obra dura enquanto é capaz de parecer bem diferente daquilo que o seu autor a fez.”

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Olhar e ver











Portugal está de férias. Uns andam por cá na rotina do costume, e outros partiram fugindo do dia-a-dia. Quem fica olha as mesmas paisagens, os mesmos lugarejos e sempre com a mesma visão. Quem parte vê outras realidades observando ou não com olhos de ver. É sempre assim. A vida é um olhar, sentido ou não, pelo que nos cerca a cada instante. Conscientes ou distraídos vamos saboreando, a vários tons, a natureza ou a obra construída, que muda constantemente, neste viver de tantos olhares e de tantas sensibilidades. Aproveitemos pois estes tempos de calor para saborear tanto mar e tanta terra, vendo com olhos de ver.

Este meu trabalho numa linha diferente do meu percurso pictórico (um pouco à semelhança do que aconteceu com Almada Negreiros e a obra “Começar”) foi feito tendo por base o material, o espaço, e o tempo de execução. Procurei criar um painel - que é essencialmente visto a partir de carros em movimento -, que fosse dinâmico e relacionado com a atmosfera envolvente. Cores suaves e muito preenchido o espaço (para evitar partes em branco com receio da praga dos grafites) e tendo, por base, uma estrutura quase matemática ligada à musicalidade fazem parte da essência deste meu projecto de intervenção urbana. História da Minha Pintura.

Recordo hoje as palavras de Máximo Gorky:

“A única coisa que transcende a existência do ser humano é a sua obra”.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Às vezes tenho ideias felizes



Às Vezes Tenho Idéias Felizes

Às vezes tenho idéias felizes,
Idéias subitamente felizes, em idéias
E nas palavras em que naturalmente se despegam...

Depois de escrever, leio...
Por que escrevi isto?
Onde fui buscar isto?
De onde me veio isto? Isto é melhor do que eu...
Seremos nós neste mundo apenas canetas com tinta
Com que alguém escreve a valer o que nós aqui traçamos?...

Álvaro de Campos, in "Poemas"
Heterónimo de Fernando Pessoa


Cada um tem as suas ideias, o seu projecto de vida, o seu caminho. Convictos ou hesitantes, todos andamos procurando a solução ideal. Para o momento, ou sonhando com o futuro. Ninguém tem certezas sobre o que nos espera. Com os nossos pontos de vista vamos vivendo uns dias mais crentes, outros nem tanto; uns dias acreditando nisto e naquilo e, em muitos outros, duvidando e duvidando. Aprendemos muito quando mudamos o nosso olhar ou, quando descobrimos que, o que parece não é. Afinal, o nosso ponto de vista é apenas um modo de ver uma parcela da realidade, que é sempre mais complexa do que a simplicidade da crítica repentina ... que fazemos todos os dias.

Uma ideia feliz por si só não é suficiente para criar uma obra-prima. Estas apenas estão ao alcance dos maiores - dos dotados e sabedores da arte de bem-fazer, como neste caso, neste outro e ainda neste; depois há os outros, que tendo as mesmas ambições ficam longe, muito longe da arte dos prodígios, apenas pertença dos geniais.
Aqui mostro os primeiros traços com que início a pintura nos meus trabalhos. Até ao final do ano tentarei pintar estas telas nascidas dos muitos esboços dos meus cadernos de desenhos e que povoam o meu mundo e os meus interesses, tão distante das ideias felizes. História da Minha Pintura.

E vos deixo com a música de Rossini e a voz de Giulietta Simionato cantando “Una voce poço fa”.