quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Jogo da vida



A vida é um jogo. Umas vezes ganhamos, outras não alcançamos o pretendido. Ganha-se e perde-se todos os dias. Ganhamos quando o emprego é certo e bem pago; a casa onde vivemos tem as condições ideais e está na sítio que idealizámos; as amizades são as que nos satisfazem e, entre muitas outras coisas, a saúde é de ferro. Perdemos quando nos sentimos moribundos sem eira nem beira; quando tudo corre mal; quando não conseguimos convencer ninguém; quando nem a saúde ajuda. E é assim com vitórias e derrotas que se vive na esperança de melhores dias. Viva 2010.

Esta pintura ( do auto-intitulado Período Açoreano ) caracterizada pela multiplicidade de elementos é o retrato do brindar e outras histórias do jogo da vida que se vive todos os dias. Para fazer esta pintura em tela juntei elementos com proporções descontextualizadas criando um ambiente de exuberância formal. Utilizei uma cor preponderante para o fundo para harmonizar a composição. História da Minha Pintura.

Recordo hoje as palavras de Multatuli, in “Ideias”:

“O desgosto e a alegria dependem mais do que somos do que daquilo que nos acontece.”

E porque é dia de festa vos deixo com a música de Strauss.


quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Pensamentos





Pensamos tanto. Pensamos no que nos aconteceu, no que nos acontece e no que nos poderá acontecer. Pensamos e inventamos desejos. Pensamos naquilo que gostaríamos que tivesse sido o passado e que, o nosso presente, fosse outra coisa e, o futuro, o melhor dos sonhos. E tudo porque pensamos muito e acreditamos nos sonhos que, por serem sonhos, não passam de meras miragens que os pensamentos múltiplos nos trazem. E assim andamos. De pensamento em pensamento. De sonho em sonho.

Estas pequenas telas são meros estudos prévios. Muitas vezes faço pinturas em pequeno formato que são estudos de cor, forma e enquadramento. As grandes telas são sempre precedidas de muitos desenhos e combinação de cores em pedaços de cartão ou como aconteceu aqui em telas de 20X25 cm. História da Minha Pintura.

Recordo hoje as palavras de Denis Diderot:

“Os meus pensamentos são a minha perdição.”

E vos deixo com a música de Paganini e “Caprice No.24 in A Minor.”


terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Balanço final



O mundo é o que é. Desigual em todo o lado. Uns vivem rodeados de bens, enquanto que outros lhes falta tudo. E porque as diferenças são tantas as lutas continuam. E assim será sempre porque nunca, mas mesmo nunca, iremos mudar. A natureza humana é capaz do melhor e do pior também. E, porque somos o que somos, em todo o lado, se vive com as alegrias e as tristezas, que nos acompanham nesta luta diária pelo desejo da felicidade que é,afinal, a utopia que transportamos até ao juízo final. É o nosso eterno fado.

Esta pintura, em tela, é um dos muitos retratos que procuram mostrar, a inquietação humana e as muitas dúvidas que nos assaltam, através da representação simples do espaço e da figura. Em termos estéticos procurei um enquadramento onde a figura humana fosse preponderante e a cor criasse uma atmosfera inquietante. Muita luta para obter os tons fazem a história desta tela. História da Minha Pintura.

Recordo hoje as palavras de Albert Einstein, inComo Vejo O Mundo”:

“Temos o destino que merecemos. O nosso destino está de acordo com os nossos méritos”.
E vos deixo com a música que é das coisas belas que me acompanha, todos os dias, fazendo-me esquecer o que quero esquecer. Hoje trago Edvard Grieg e Peer Gynt Suite 1 – 3".


segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Raízes



Circulamos pelo planeta em busca de melhor viver. Sempre assim foi e sempre assim será. E porque viajámos tanto fomos mudando. Mudámos de religião e de cultura. E as nossas raízes perderam-se nos tempos. Defendemos e condenamos hoje valores e interesses opostos ao passado que já desconhecemos em absoluto. E cada vez mais nos distanciamos das nossas origens que circulam entre o mundo islâmico e o judaico. Quer queiramos, quer não.

Esta aguarela é uma viagem ao aparente mundo islâmico que tem uma outra visão da vida e do mundo que nós, os ocidentais, não comungamos ( e ainda bem). Aqui utilizei a transparência das cores e a linha como definidora das formas. Trabalho sempre da mesma maneira: primeiro desenho, depois preencho os espaços com as cores. A aguarela permite sobrepor cores o que cria mais tonalidades e riqueza visual através das harmonias cromáticas. História da Minha Pintura.

Recordo hoje as palavras de Camilo Castelo Branco:
“A civilização é a razão da igualdade”.

E vos deixo com a música de um filme que retrata parcialmente o viver judaico e que me apaixonou na minha adolescência: “ Um violinista no telhado”.


domingo, 27 de dezembro de 2009

Conversas enfadonhas





Conversamos tanto. Conversamos sobre tudo e sobre nada. Conversamos do que julgamos saber e do nunca saberemos. Conversamos. Conversamos por cortesia; por afecto; por necessidade social; por vaidade; por ignorância; por convicção. Conversamos. E assim passamos o tempo em conversas enfadonhas, quantas vezes, ouvindo mil vezes, o costume. E o tempo passa entre conversas triviais e sem nexo, no entanto, pior, mas muito pior que as conversas enfadonhas, é a não conversa. Conversemos pois.

Estes desenhos são meros exercícios caricaturais das posturas sociais nas muitas conversas de coisa nenhuma que é, quantas vezes, o nosso viver. Aqui utilizei a tinta-da-china e num registo rápido construi cenários onde as muitas linhas, definidoras do meu traço, procuram identificar personagens-tipo. História da Minha Pintura.

Recordo hoje um excerto do poema “O Constante Diálogo” de Carlos Drummond de Andrade, in “Discurso da Primavera”:



“Há tantos diálogos
Diálogo com o ser amado
o semelhante
o diferente
o indiferente
o oposto
o adversário
o surdo-mudo
o possesso
o irracional o vegetal
o vegetal
o mineral
o inominado...”


E vos deixo com a música sublime de Rossini e a ópera “O Barbeiro de Sevilha” e “ Una voce poco fa” e a voz da soprano Diana Damrau.

sábado, 26 de dezembro de 2009

O futuro



O Natal já lá vai. No próximo ano o ritual vai continuar o mesmo: compras, expectativas, viagens, jantares familiares e desejos de bem-estar. E agora voltamos para as lutas do costume: trabalho e mais trabalho. E assim se faz este nosso viver com emoção ( de vez em quando) e fastio ( vezes sem conta). É assim mesmo, por mais discursos e ilusões que tenhamos. Há sempre o dia seguinte depois da bonança. É o futuro que aí vem.

Esta pintura em tela, de grande formato, é o retrato de adolescentes que serão o futuro. Neles depositamos todas as nossas esperanças, anseios e expectativas para que o dia seguinte se cumpra. Quinze dias, a tempo inteiro, demorou a fazer este trabalho. Primeiro o desenho e depois a procura das cores que, como se sabe, é sempre uma grande luta, porque a pintura é distribuição harmónica de cores numa superfície. História da Minha Pintura.
Recordo hoje as palavras de Mohandas Gandhi:

“O futuro dependerá daquilo que fazemos no presente.”

E para compreender o futuro é preciso tirar partido do passado e do melhor que ele nos deu. Hoje vos deixo com a música de Puccini e a voz de Angela Gheorghiu e “ O mio babbino caro”.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Dia de Natal





Chove. É Dia de Natal

Chove. É dia de Natal.
Lá para o norte é melhor:
Há a a neve que faz mal,
E o frio que ainda é pior.

E toda a gente é contente
Porque é dia de o ficar.
Chove no Natal Presente.
Antes isso que nevar.

Pois apesar de ser esse
O Natal da convenção
Quando o corpo me arrefece
Tenho o frio e Natal não.

Deixo sentir a quem a quadra
E o Natal a quem o fez,
Pois se escrevo ainda outra quadra
Fico gelado dos pés.

Fernando Pessoa, in “Cancioneiro”

E vos deixo neste dia com música de Natal

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Noite de Natal



Hoje é a noite de Natal. A noite da família. A noite onde todos querem não estar sós. É a noite onde precisamos de ter a acompanhia de um familiar, de um amigo, de alguém. É a noite das prendas, dos brindes, do jantar com os mais próximos e é, também, o tempo de recordar aqueles que partiram e que deixaram tantas saudades. É, afinal, viver com os que amamos e amaremos sempre, estejam onde estiverem.

Este trabalho que fiz em 94 serviu para ilustrar umas garrafas de vinho generoso no intercâmbio entre a arte e o vinho. E foi pensando no Natal que criei estas imagens. História da Minha Pintura.

Recordo hoje as palavras de Thomas Jefferson:

“Os momentos mais felizes da minha vida foram aqueles, poucos, que pude passar em minha casa, com a minha família.”

E vos deixo com a música de Schubert que encanta sempre e sempre. Aqui Pavarotti canta “Ave Maria”.



quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Compras de Natal



É quase Natal. É o tempo das compras. Das prendas de Natal. É o tempo de comprar uma prendinha. Uma prendinha por obrigação; por tradição; por amor. E de amor se vive esta quadra. É, talvez, o único momento no ano em que se pensa com amor. É a música natalícia; é o espírito da quadra; é a dimensão humana que chama por nós; é a tradição; é a cultura; é o melhor de nós que renasce e nos faz pensar bem. Pensar com amor. Pensar verdade. É o Natal afinal.

Esta pintura em tela, de grandes dimensões, é o retrato do nosso mundo. O mundo dos desejos e dos afectos. Aqui tentei criar a imagem tão apelativa do desejo da posse e do melhor que há em nós: o amor dos nossos. Com as cores do costume (azuis e cinzas) procurei criar um ambiente intimista que é, afinal, o que queremos e só queremos. Para fazer esta pintura utilizei a perspectiva com dois pontos de fuga e muitos tons de azul em confronto com as cores complementares (leia-se amarelos) numa sempre luta pela harmonia das formas e das cores. História da Minha Pintura.

Recordo hoje as palavras de Victor Hugo, in “Monte de Pedras”:

“Passamos metade da vida à espera daqueles que amamos e a outra metade a deixar os que amamos.”

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Pensamentos



Fazemos coisas : umas, que todos gostam e, outras, que criam zangas, disparates e guerras. Por vezes é por estupidez, por ganância, por afirmação, por precipitação, por isto e por aquilo. O que falta é, quantas vezes, educação. E é, todos os dias, nos gestos mais simples que se prova aquilo que somos: fazendo coisas certas e erradas. Pena é que já inconscientemente se caminhe onde a liberdade é, afinal, libertinagem. Coisas do nosso tempo onde tudo se confunde. O que falta é pensar. Pensar bem antes de agir. Pensar com educação.

Esta pintura em tela é um retrato do temporal que se adivinha e que nos leva a pensar nas consequências do tempo. Mais uma vez, procurei criar um cenário onde a representação da figura humana, num agreste ambiente, é um jogo onde as cores buscam criar uma densidade dramática. As próprias formas são excessivas para acentuar a instabilidade temática. História da Minha Pintura.

Recordo hoje as palavras de Blaise Pascal:

“A nossa dignidade consiste no pensamento. Procuremos pois pensar bem. Nisto consiste o princípio da moral.”

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

A internet



A internet tem destas coisas: todos comunicam com todos. E de tanto comunicar há quem não saiba o que são os limites. Hoje têm voz activa quem nada fez, quem nada sabe, quem nada produz, quem nada merece. E assim assistimos a uns quantos que inventam conjecturas, guerras e intrigas colocando na interrogação quem fez da sua linhagem um modo ético de viver. São os novos tempos da ignorância e do mal-dizer, de uns, em confronto com quem ainda acredita que os valores maiores são e serão sempre uma questão de princípio e de vida, também, de outros.

Esta pintura é um retrato do nosso tempo, tempo em que o computador passou a ser um objecto indispensável e, para muitos, graças à internet, a comunicação possível com outros. Com uma paleta muita parca em cores, onde dominam os cinzas ( tons que me seduzem), e num enquadramento espacial contido, procurei dar a volumetria que a temática exige. História da Minha Pintura.

Recordo hoje um poema de Gonçalo Tavares, in “Investigações. Novalis”:


“Linguagem violenta: a única.
A outra é: Sedução ou Submissão.
Ou seja, o mesmo medo: recear estar só.
Quando se fala, fala-se. No alto da matéria e do espírito.”

domingo, 20 de dezembro de 2009

Antepassados



O frio chegou. E com ele novos modos de estar. Outros hábitos de conviver; de trabalhar; de andar por aí. É o Inverno que veio e voltará para o ano com as características do costume, vendo passar as sucessivas gerações. Ao contrário das pessoas que envelhecem com o tempo e morrem, as estações do ano voltam, e voltam, indiferentes a tudo e a todos. É a lei da natureza.


Este desenho dos anos 70 é um dos muitos que fui fazendo nas noites frias de Inverno enquanto ouvia as conversas dos meus antepassados e, das quais, recordo antiquíssimas memórias das vidas e das guerras. Com tinta-da-china e um aparo fazia estes registos rápidos, enquanto os meus tios-avós pacientemente me serviam de modelo. História da Minha Pintura.

Recordo hoje as palavras de François Chateaubriand:
“Dá-se importância aos antepassados quando já não temos nenhum.”

E dos antepassados da humanidade trago a música de Brahms e a Valsa opus 39 N. 15,que certamente ninguém fica indiferente ouvindo tanta beleza sonora.

sábado, 19 de dezembro de 2009

Acordar



“...Eu adoro todas as coisas
E o meu coração é um albergue aberto toda a noite.
Tenho pela vida um interesse ávido
Que busca compreendê-la sentindo-a muito.
Amo tudo, animo tudo, empresto humanidade a tudo,
Aos homens e às pedras, às almas e às máquinas,
Para aumentar com isso a minha personalidade.

Pertenço a tudo para pertencer cada vez mais a mim próprio
E a minha ambição era trazer o universo ao colo
Como uma criança a quem a ama beija
Eu amo todas as coisas, umas mais do que as outras,
Não nenhuma mais do que outra, mas sempre mais as que estou vendo
Do que as que vi ou verei.
Nada para mim é tão belo como o movimento e as sensações.
A vida é uma grande feira e tudo são barracas e saltimbancos.
Penso nisto, enterneço-me mas não sossego nunca...”

Álvaro de Campos, in “Poemas”
Heterónimo de Fernando Pessoa

Encontrei este desenho perdido nas muitas folhas dispersas do meu amontoado acervo. É um trabalho dos finais dos anos 70. Aqui, neste registo feito em três tempos, a tinta-da-china e um aparo grotesco exigiam rapidez de acção. História da Minha Pintura.

E vos deixo com a música de Mozart aqui com as vozes de Carreras e Sumi Jo em “La ci darem la mano”.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Excessos








Há as normas; as condutas; os valores; os interesses; e há, também, a vida de todos com todos. E porque nem sempre as normas devem ser normas, nem os valores devem ser valores, nem os interesses devem ser interesses, o mundo gira e gira com excessos e mais excessos. E é preciso, quantas vezes, esquecer tudo. Tudo significa excessos que valem o que valem. Umas vezes só fazem bem, outras nem tanto. E assim aprendemos que tudo é nada e nada é tudo, de acordo com as circunstâncias.

Estes meus desenhos resultam do desejo de criar obras em que o excesso é o objectivo estético. Num país rico de artesanato em que as cores e as formas pecam por excesso, naturalmente tinha de alinhar neste jogo de crítica social. História da Minha Pintura.


Recordo hoje as palavras de François La Rochefoucauld, in “Máximas”:
“Há uma infinidade de comportamentos que parecem ridículos e cujas razões ocultas são muito sábias e muito sólidas.”

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Seres alados



Voamos e percorremos os céus em busca do elixir. E de tanto voar pelo infinito perdemos a noção do real e, quantas vezes, nunca mais voltamos. Viajamos eternamente esquecendo o presente e vivendo do passado para o futuro. E porque nos perdemos andamos por aí ao Deus dará, inconscientes da consciência e conscientes da inconsciência. Para quê?

Esta aguarela feita para se integrar no período natalício procura, dentro da iconografia cristã, relatar os episódios da fantasmagórica alegoria do voar em busca da felicidade eterna que, como todos conscientemente sabem, não passa de balelas fundamentalistas, que o progresso científico não consegue convencer pelas certezas da ciência. Enfim, coisas da natureza humana. Aqui, procurei retratar uma panorâmica da cidade do Porto e, em simultâneo, coloquei duas personagens num jogo de cores característico do cromatismo granítico da Invicta. História da Minha Pintura.


Recordo hoje as palavras do padre António Vieira:

"Queremos ir ao céu, mas não queremos ir por onde se vai para o Céu."


E vos deixo com a música de G. F. Handel e "Sarabande".




quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Os esquecidos



Conhecemos tanta gente. É na rua, é no café, é no transporte público, é na praia, é no emprego, é em todo o lado. E em todo lado esquecemos. Esquecemos quase todos. Esquecemos até aqueles que um dia foram tão próximos. Esquecemos os rostos, as vozes, os gestos. Esquecemos. Afinal, tudo não passa de episódios que o tempo, sempre o tempo, nos leva da memória.

Adoro fazer retratos. E adoro porque cada pessoa é única. Não há duas iguais. Cada um de nós tem qualquer coisa de diferente. E é o desejo de captar a singularidade que me seduz no retrato. Aqui, nesta pintura em tela formada por dois elementos, de grandes dimensões, procurei obter a essência da personalidade de cada um. Foi longo e demorado o trabalho para conseguir plasticamente obter o resultado desejado que se iniciou, como sempre, com o desenho e só depois com a luta das cores. História da Minha Pintura.

Recordo hoje as palavras de Thomas Fuller, in “Gnomologia”:


“Esquecemo-nos todos de muito mais do que nos lembramos."


E vos deixo com a música de Puccini e “Madame Butterfly” que, como se sabe, é uma história trágica em que o amor de mãe jamais esquece o filho perdido.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

A origem





Gostamos de saber. De saber como nascem as coisas e porque nascem as coisas. É a nossa eterna curiosidade. Saber para conhecer com fundamento. Saber por bisbilhotice. Saber por fascínio. E a arte exerce esse fascínio. Fascínio pela curiosidade; pelo desejo; pela originalidade; pela criação. E, porque assim é, continua a ser a arte um meio de nos cativar e transpor para novos horizontes, na busca eterna pelos prazeres e pela incógnita da natureza humana. Felizmente.

Os meus desenhos representam contextos e cenários imaginários onde a natureza humana vive com as grandezas e misérias. Como sempre, esteja onde estiver, desenho. Desenho nas toalhas das mesas dos restaurantes, nas superfícies cheias de pó, na areia da praia, em todo o lado. O que desenho é, muitas vezes, um breve exercício de procura. De procura por formas para a pintura. História da Minha Pintura.

Recordo hoje as palavras de Modjir Beylaghan.
“De que serve falar quando se tem tão pouco a viver?”.


E vos deixo com a música de Edvard Grieg e a voz de Marita Solberg.


segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Levitação




O progresso faz milagres. As invenções não param. E todos os dias surgem novas descobertas que nos transportam para outras vivências e modos de estar. E hoje já voamos como os pássaros. E iremos percorrer novos horizontes ultrapassando as barreiras físicas, as tais barreiras que a mente, desde sempre, percorre nos sonhos do inconsciente ou nos pensamentos mais intimistas. E assim levitamos por vontade própria indiferente às descobertas e à crítica social. Ainda bem.

Esta pintura em tela, de grande formato, é um retrato onde a levitação comanda a vida, indiferente ao meio e às limitações. Este trabalho procurou retratar o modelo e em simultâneo conjugar, através das cores, a horizontalidade formal e a representação do espaço mercê de tonalidades cinzas. História da Minha Pintura.

Recordo hoje as palavras do escultor do século XIX francês Auguste Rodin:
“Eu não invento nada, eu redescubro.”

E vos deixo com Mozart e “La Ci Darem La Mano” com as vozes encantadoras de Sheryl Crow e Pavarotti.


domingo, 13 de dezembro de 2009

Prazeres










Realidade e ficção misturam-se continuamente. Umas vezes viajamos com os pés bem assentes no chão. Outras, porém, saltamos de fantasia em fantasia, percorrendo este mundo e o outro, encontrando o modo certo de passar o tempo e esquecer as agruras. E entre estas duas realidades conquistamos as certezas da vida e os sonhos da fantasia. E ainda bem.


Estes desenhos que são meros esboços, em busca das primeiras ideias, procuram dar origem a pinturas cujo tratamento cromático e formal têm, naturalmente, outro acabamento e outras preocupações estéticas. Muitos destes registos dos meus blocos foram feitos nos locais menos aconselháveis, mas o desejo de desenhar é superior ao contexto. História da Minha Pintura.

Recordo hoje as palavras de Virgílio, in Éclogas”:

“Cada um é arrastado pelo seu prazer.”

E dos prazeres da vida a música é dos maiores e vos deixo com Mendelssohn e a mestria ao violino de Vengerov.


sábado, 12 de dezembro de 2009

A imaginação
















E. porque adoro começar o dia ouvindo as belas vozes, trago hoje a música de Verdi e a “Traviata”, aqui com o esplendor de Anna Moffo e Di Stefano.

Recordo hoje as palavras de Blaise Pascal :

“A imaginação tem todos os poderes: ela faz a beleza, a justiça, e a felicidade, que são os maiores poderes do mundo.”

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

O princípio





Há sempre uma razão. Há sempre uma explicação. Há, afinal, o desejo de justificar o porquê das coisas, mesmo que essa análise seja um engano ou até uma mentira. O que queremos é uma palavra, uma teoria, um retrato, um historial para acreditar ou fingir acreditar que sabemos.

O princípio do meu trabalho pictórico começa com o desejo de expor uma ideia. E vou construindo primeiro mentalmente cenários e contextos. Depois as linhas do desenho vão erguendo formas e destas, após vários estudos, passo para a aguarela ou para a pintura. É assim que eu trabalho. História da Minha Pintura.

Recordo hoje as palavras de Séneca, in “Cartas a Lucílio”:

“As ideias belas e verdadeiras pertencem a todos.”

E vos deixo com a música de Saint-Saens nascida de muito trabalho e de ideias geniais.


quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

A primeira imagem




A primeira imagem vale o que vale e, às vezes, corresponde ao nosso acertado juízo crítico, outras vezes, como acontece tanto na vida, avaliamos mal e, no entanto, os instantes iniciais podem fazer toda a diferença. Concordamos ou repudiamos; aceitamos ou não; gostamos ou não; alinhamos ou não; pactuamos ou não. E é a diferença entre fazer parte ou não que nos leva pelos caminhos certos, ou errados que, o tempo, e sempre o tempo, assinala como correcto ou não. E tudo isto porque a primeira imagem nos marca e tomamos partido (quantas vezes) sem ver com olhos de ver.

Esta pintura é mais um dos muitos retratos que fiz e que me enchem de prazer ao criar as formas que identificam as personagens, quer pelas parecenças físicas, quer pelas posturas e sensibilidade que transparecem das formas, cores, sombras, texturas, claro-escuro, enquadramento e tema. Como é habitual, neste intrincado mundo onde a imagem domina, busco a tal imagem que faça a diferença. Como sempre procuro enquadramentos diferentes com as cores e as pinceladas do costume. História da Minha Pintura.

Recordo hoje as palavras de John Watson:

“O que nós fazemos é o que fazemos, e o que fazemos é o que o ambiente nos faz fazer”.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

O acervo










Juntamos isto e aquilo. E, pouco a pouco, as nossas casas ficam cheias. Cheias de trapos e de insignificâncias e, no entanto, valorizamos tanto as nossas coisas. Coisas que uns destinam ao lixo e outros às gerações futuras. Afinal é tudo uma opção de gosto. De gosto e de ganância. Ganância quando os interesses são muitos. Gosto quando a cultura fala mais alto. E assim o mundo roda entre a paixão pelo belo e a soberba por tudo e por nada.

Estas fotos são o meu acervo. São as minhas pinturas que nasceram da dedicação e da entrega. Foram muitas horas que na solidão fui pintando ouvindo música e pensando no destino dos homens e dos caminhos que a vida tece. História da Minha Pintura.

Recordo hoje as palavras de Anatole France:
“Por mais que busquemos, apenas nos encontramos a nós próprios”.

E vos deixo com Sarah Chang tocando Massenet e Thais”.


terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Palavras e outras histórias




Há Palavras Que Nos Beijam

“Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca.
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor, de esperança louca...”
Alexandre O´Neill, in “No Reino da Dinamarca”.

Estes desenhos, feitos com lápis de cor de diferentes tons, procuram enquadrar-se numa temática que me foi solicitada para ilustrar livros. Como observador atento do que me cerca registo os comportamentos e atitudes, dos que me são próximos, e que acabam por entrar na minha pintura. Estes desenhos são, como quase todos eles, meros esboços que me servem de apoio para a pintura mas numa escala maior. História da Minha Pintura.

E vos deixo com a voz de Franco Corelli e “O sole mio”.



segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Solidão



Solidão


A solidão é como uma chuva.
Ergue-se do mar ao encontro das noites;
de planícies distantes e remotas
sobe ao céu, que sempre a guarda.
E do céu tomba sobre a cidade.

Cai como chuva nas horas ambíguas,
quando todas as vielas se voltam para a manhã
e quando os corpos, que nada encontraram,
desiludidos e tristes se separam;
e quando aqueles que se odeiam
têm de dormir juntos na mesma cama:

então, a solidão vai com os rios...
Rainer Maria Rilke, in “O livro das Imagens”.

Este trabalho, pintura sobre tela (mais tarde transformado numa serigrafia), procura retratar os muitos momentos em que pensamos em tudo e em nada. As cores, as formas e a temática fazem parte de um período em que queria exprimir as emoções que só a arte me permite. História da Minha Pintura.
E vos deixo coma voz de Callas em “Una Voce Poco Fa”.




domingo, 6 de dezembro de 2009

Os bens



A importância e o significado dos bens é das questões maiores. Vive-se e morre-se pelos bens. Bens que nada dizem a muitos outros e, no entanto, tanta guerra, tanta intriga e tanto ódio por este ou aquele bem material. E a vida que é o bem maior é, quantas vezes, menorizada por dá cá aquela palha. É o nosso tempo. Tempo das tecnologias e das novas oportunidades...

Os pincéis são o mais importante na feitura de uma pintura. Bons pincéis não fazem obrigatoriamente obras de arte, mas ajudam. Se ajudam. Adoro, adoro comprar materiais para as minhas pinturas. Adoro. E por isso estou sempre a comprar tintas e pincéis, no entanto, o tempo passa e as pinturas não nascem. Nem com bons pincéis. História da Minha Pintura.

Hoje recordo Camilo Cela:

“A inspiração é trabalhar uma boa quantidade de horas.”

E vos deixo com a inspiração de Bramhs na sinfonia nº3 Pouco Alegre.


sábado, 5 de dezembro de 2009

A liberdade



A liberdade é o desejo de ser feliz. É só isso. E mais nada. E para se ser feliz é preciso olhar e ver. Ver com olhos de ver. E quando se vê a mentira, a miséria e o despotismo ninguém é feliz. Ninguém tem liberdade. E porque não há liberdade a luta continua. Por um mundo melhor. E por isso não nos calamos, nem nos resignamos. Jamais nos calaremos. Jamais nos resignaremos. Jamais.

Este pequeno desenho é a ilustração do desejo de voar e, com ele, conquistar a liberdade de circular pelos céus em busca do infinito e dos prazeres mundanos. Coisas da liberdade. Aqui, num desenho de pequenas dimensões feito a pena e com registos rápidos, procurei criar a ideia da volumetria.Traços muito pequeninos e pontos servem para sugerir volumes. História da Minha Pintura.

Hoje recordo as palavras de Léon Blum:
“O homem livre é aquele que é capaz de ir até ao fim do seu pensamento.”

E vos deixo com a música de Mozart que foi utilizada, de forma genial, no filme “África Minha”.



sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Rosas e rosas



Uma flor é uma flor. E uma flor pode ser muito mais. Pode ser uma mensagem. Uma mensagem que diga tudo. E tudo significa ultrapassar a realidade e inventar um outro mundo que apenas existe na nossa imaginação. E porque inventamos, conseguimos, com gestos simples, criar um outro olhar e viver de um outro modo. No nosso mundo. Um mundo onde uma flor é tudo menos uma flor. Felizmente.

Esta aguarela é um dos momentos em que as flores deixam de ser flores, e, as rosas que são flores são tudo menos rosas. Aqui, procurei transmitir um ambiente dúbio. Por vezes, a interrogação é o meio certo para ter a certeza de que somos seres frágeis e breves. Como sempre desenhei primeiro, muitas vezes com lápis de aguarela de cor amarela (porque é menos perceptível) e, depois do desenho feito, parto para a pintura misturando as tintas numa infinidade de paletas e com inúmeros pincéis. Histórias da Minha Pintura.

Recordo as palavras de Maricá:

"O homem mais sensível é necessariamente o menos livre e independente."

E vos deixo com a voz de Gilberto Bécaud: "L´ important c ést la rose".


quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

A catarse




Todos os dias, mas mesmo todos os dias, eu preciso de arte. Arte significa ouvir "a minha" música, ou escrever umas palavras breves, ou vendo uma obra de arte, ou, no melhor dos casos, participar na realização de um projecto artístico. É uma necessidade tão grande quanto as outras que são comuns a todos. É a minha catarse. É a necessidade que eu tenho de dar significado à própria existência. Não imagino viver onde não se pode ouvir música, nem criar formas livremente, nem ler o que nos apetece. E quando pelos caminhos da vida o acesso à cultura e ao fruir da obra de arte não se faz, então não encontro alegria. Este sou eu.

Esta pintura é uma nítida influência do Almada Negreiros que numa belíssima tela abraça a mulher. Aqui é um pai que abraça o seu filho, num acto de ternura e de amor que, como todos sabemos, é das coisas boas da vida. Mais uma vez o exagero formal, com o intuito de realçar a própria mensagem, aqui num intrincado jogo de cores inquietantes. História da Minha Pintura.


Hoje recordo as palavras de Johann Goethe, in "Eufrosina":

"Só a arte permite a realização de tudo o que na realidade a vida recusa ao homem."

"
E vos deixo com a maravilha da música de Rimsky- Korsakoff em "Canão da Arábia".


quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Os velhos




Nada podemos fazer. É a lei da vida. A lei da natureza. Um dia nascemos e outro morremos. Tudo passa. Uns andam por cá anos a fio. Outros é por instantes. E, porque tudo acaba mais cedo ou mais tarde, vamos vivendo ora jovens, ora velhos. E os velhos são a última etapa deste percurso com mais ou menos significado; com mais ou menos ressonância; com mais ou menos impacto entre os pares. É a vida. A nossa vida.

Esta tela é o retrato dos que anos a fio viveram olhando o mundo e tirando ou não proveito dele. Esta pintura inserida na temática dos interiores, cheio de elementos, procura captar os ambientes peculiares com as cores, a luz e as formas da minha paleta. Esta série é caracterizada pelo desejo de “encher” o espaço com muitas formas e cores, e agora, tão distante dos meus desejos presentes. História da Minha Pintura.

Recordo hoje as palavras de La Rochefoucauld, in “Máximas”:

“Os velhos gostam de dar bons exemplos para se consolarem de já não estarem em estado de dar maus exemplos”.

E vos deixo com o tango que encantou gerações e gerações.


terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Palavras



Há dias. Há dias em que tudo, mas mesmo tudo, está no sítio errado. E quando assim acontece nada de bom surge. As palavras certas não aparecem. As frases são desconexas. O mundo está todo virado ao contrário. Há dias assim. Queremos dizer coisas. Coisas que julgamos importantes mas, tudo é um enorme vazio. As palavras nada dizem. Há dias assim.

Esta pintura retrata mais um cantinho, onde a intimidade mais profunda ocupa o seu lugar. Procurei pintar um ambiente em que a luz e as cores fossem a expressão dos sentimentos dos espaços íntimos. História da Minha Pintura.

Recordo hoje as palavras de François La Rochefoucauld, in “Máximas”:

“Por vezes, somos tão diferentes de nós mesmos como dos outros.”

E vos deixo com a música de António Pinho Vargas e “As Mãos”.