domingo, 26 de fevereiro de 2012

Nós

 
 
Toda a gente se queixa. Mesmo aqueles que possuem tudo. É a nossa natureza. Nunca estamos contentes. E quando a tragédia acontece é que percebemos a dimensão da perda e dos valores. Então sim entendemos o que é realmente importante nas nossas vidas. E, no entanto, perdemos tempo com episódios sem significado. Infinitamente.
Este retrato, em tela, de 2012 “Olhares Trocados”, é mais um momento que procuro captar, e que ilustra (tanto quanto possível) este nosso modo de estar e sentir num determinado momento. Gosto particularmente de olhar os outros e tentar traduzir, na pintura, certas atitudes deste viver com as alegrias e as angústias do costume. O que me move enquanto pintor é a ambição de conseguir ilustrar como somos e, porque somos o que somos. O que me interessa é ver não só o presente do Homem, mas como ele é hoje e sempre. Pretendo situar-me em todo o lado e em todas épocas, porque as emoções - base do meu trabalho- não têm fronteiras , nem se fecham no tempo.
 E vos deixo com as palavras de Hugo Hofmannnsthal, in “Livro dos Amigos”:
“De meros vazios se constrói o recheio da existência humana.”

Amores Felizes




João Alfaro, "Amores Felizes" pintura em tela de 2012





Nino Rota, "Romeu e Julieta" 1968


domingo, 19 de fevereiro de 2012

Influências - (IV)


João Alfaro



Lucian Freud

 O pior que pode acontecer a uma pessoa é ficar só. É terrível. Uma voz, um toque, uma presença valem ouro quando a solidão é imensa. Retratar esse estado de alma é comum na arte. O desencanto; as maleitas; as desgraças; as misérias da vida fazem parte deste nosso modo de sofrimento e que tantos, em tantas épocas, ilustraram. A arte é a vida com a representação dos bons e dos maus momentos. E, por isso, gosto de pintar o que me faz sorrir e o que me deixa triste, porque tudo tem como finalidade compreender este caminho, que é o nosso, seja pelos trilhos certos, ou não...

Lucian Freud, que morreu recentemente, foi um dos que me influenciou, enquanto pintor. A temática do retrato com a expressividade da solidão que predomina na sua pintura e a qualidade dos trabalhos, muito elaborados, fizeram com que tivesse perante este grande artista um fascínio particular. A coerência e consistência pictórica numa época de tanta variedade e pretenso modernismo foram, para mim, uma fonte de inspiração e encanto.
E vos deixo com as palavras de Ortega y Gasset que escreveu in “A Desumanização da Arte”:

“O prazer estético deve ser um prazer inteligente.”


segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Usos e costumes




Não me interessa falar da “vidinha”. Não quero dizer nada sobre acontecimentos recentes que jorram diariamente nos jornais, televisões e blogs. Não pretendo questionar factos chocantes e atitudes menos honestas. Não. O que quero mesmo é colocar outros interesses, outras preocupações na minha órbita de juízos críticos. Aqui. O que me interessa é olhar esta caminhada de séculos civilizacionais e, como artista, retratar os valores que julgo maiores, como a ilustração das emoções, que, afinal, nos move, nesta singularidade de cada um, com os seus mistérios, desejos, encantos e ambições.

Esta pequena tela “O Abraço” de 50x50 cm, obra de 2012 é uma imagem criada tendo presente o nosso tempo onde, entre tantos considerandos sociais, os usos e costumes, deste início de século, formam um tecido comportamental em que se expressam sentimentos de acordo com posturas comuns, em tanto lado, independente dos estratos sociais. Aqui, porque os adolescentes transportam consigo a liberdade e a aspiração da felicidade, a postura (neste retrato) é a exemplificação de um tempo e de um modo de estar.

E vos deixo com as palavras de Sebastien – Roch Chamfort que escreveu um dia:

“Neste mundo existem três espécies de amigos: aqueles que nos amam, aqueles que não se preocupam connosco, e os que nos odeiam.”

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Influências - (III)




João Alfaro


Edward Hooper

Cada época tem os seus encantos e interesses que movem multidões por tudo aquilo que é a inovação e a descoberta. Para o melhor e para o pior. Há os que apenas se limitam a seguir a onda sem sentido crítico e apenas porque é moda. E há os outros. Aqueles que, contrariando a avalanche, seguem o seu percurso convictamente, longe do que se julga contemporâneo e, por isso mesmo, melhor.

Quando no início do século XX Picasso e Braque inventaram o cubismo surgiram, de um dia para o outro, 2 milhões de pintores cubistas… Contra a corrente, Edward Hooper ia fazendo o seu trabalho tão longe das marés modernistas. A sua América com a Grande Depressão e as suas angústias pessoais foram retratadas segundo o seu olhar genuíno e cristalino, bem diferente, portanto, das figurações do seu tempo, muitas sem a carga sofrida que a arte implica. É, pois, este homem, um dos que mais aprecio, porque a sua pintura é um livro aberto que irá sendo “lido” por muitas épocas, por muita gente, em muito lado.

Depois de muito procurar, por caminhos vários e até opostos, encontrei uma via. Foram anos e anos em busca de uma identidade pictórica que fosse a expressão correta daquilo que sou. E um dos que mais me influenciou pela temática e sobretudo pela expressão pungente da representação figurativa foi Hooper, entre muitos outros, neste caldo de assimilação que é a arte.

E vos deixo com as palavras de Carlos Drummond de Andrade que disse um dia:
“Necessitamos sempre de ambicionar alguma coisa que, alcançada, não nos torna sem ambição.”