domingo, 24 de fevereiro de 2013

Um país triste

 
 
 
"Sono de Melanie", 2013
 
Pintura sobre tela
 
 
 
 

É o meu olhar. O que vejo é um país triste. As pessoas desapareceram. Não se vê vivalma. Apenas nos centros comerciais se vislumbra gente andando de um lado para o outro. Os centros históricos que fazem as delícias, de quem nos visita, estão sem alma, que é, como quem diz: sem ninguém. É uma tristeza. O país parece moribundo. As crianças quase são gente rara. A atividade económica que gera riqueza deu lugar ao faz de conta e tudo não passa de um embuste, onde só poucos acreditam. Até quando?
 
Esta pintura é um retrato de Melanie a modelo que, como tantos jovens, emigrou porque este país triste é igual para todos, mas mais igual para alguns.
 
E eu por aqui ando, neste caminho de prazeres estéticos, procurando produzir o que de melhor sei fazer, mesmo que ninguém note.
 
 
 
E vos deixo com as palavras de Gustave Flaubert:
 
“Cuidado com a tristeza. Ela é um vício.”


domingo, 17 de fevereiro de 2013

Mercados

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

 
 
Arco 2013
 Feira de Arte de Madrid
 
 

 
De novo em Madrid desta feita para ver a Arco, Feira de Arte da capital espanhola, que é, ainda, um acontecimento artístico relevante no campo das artes plásticas. Galerias, de diferentes países, mostram os seus artistas, com variadas propostas. Há um fio condutor que me parece limitativo da abrangência artística, donde muitas propostas são o mesmo do mesmo, apesar de incorporar clássicos como Picasso ou Léger, passando por Paula Rego e, a contemporânea, Joana Vasconcelos. Algumas das obras, pela continuidade, já não chocam e apenas denotam a fraqueza criativa, mas o painel é o que é, neste modo de olhar e ver, os meus pares.
 
 
 
 
Reconheço que ando por outros caminhos: o dos desencontrados. Hoje fala-se muito em mercados. Sempre existiram e são a razão da troca de bens e serviços. De tudo. De arte também. Mas eu não me dou com estes mecanismos de compra e venda, sobretudo de fingidas intervenções para captar popularidade. Sou eu que ando errado. Dizem muitos. Mas sei que por aí não vou.
 
 
 
E vos deixo com as palavras de Mario Vargas Llosa em entrevista à revista Sábado:
 
 
“Há grandes artistas e grandes trapaceiros e é dificílimo estabelecer a fronteira entre eles, e nisso são responsáveis, os marchands. Há uma frivolidade que sustentou palhaços que eram aventureiros e inautênticos e que alcançaram um enorme prestígio. Desapareceu a diferença entre valor e preço. Parece que o preço determina o valor…”


domingo, 10 de fevereiro de 2013

Continuar

 
 
 

 
 
 
“Passos Perdidos”, 2013
Pintura sobre tela
 
 
 
É preciso continuar sempre. Aqui ou ali. Fazendo isto ou aquilo. Acompanhado ou só. Depois é a procura do descobrir e do inventar. Com vontade e esperança ou, no pior dos casos, resignado pela sina. Amanhã é outro dia. E depois mais outro. E outro ainda. Umas vezes sorrindo ou nem tanto. É a roda da vida. De todos. Dos banqueiros também. E dos sem- abrigo certamente.
 
 
 
E vos deixo com as palavras de Coelho Neto:
 
“Só há um meio de viver no passado e no futuro – é guardar recordações e sonhos.”
 
 
 
 
 
 
 


domingo, 3 de fevereiro de 2013

Desistir

 
 





Não há fome que não dê em fartura. De repente, tantos descobriram como era fácil ter, na internet, um modo de expressar ideias e delírios. Foi a época dourada dos blogs. Depois, como é normal, o desencanto traçou o desfecho final: a determinação acabou e a maioria dos projetos pouco durou. Sem pachorra, nem imaginação, nem querer para sustentar uma continuada narrativa - que é o que se exige - a quem publica, aqui, a durabilidade dos blogs é efémera. 
 

 

Morremos sempre duas vezes: primeiro fisicamente, depois na memória dos outros. Por considerar que tenho tanto ainda para mostrar picturalmente (razão deste blog), ainda não desisti ao fim de quase quatro anos. Confesso que nunca fui de desistir. Quando tenho um projeto luto por ele e, só depois, me canso quando tudo se esgota.
Porque faço da pintura um modo de estar na vida; porque não vejo como viver sem pintar ou sonhar com a pintura; porque mostrar o meu trabalho é parte de mim, aqui estou. Reconheço que poucos consultam esta exposição semanal, mas eu sei que a arte (e em particular a pintura) é um restrito meio de apreciadores.
Há quem tenha sucesso, que é como quem diz: leitores imensos, ou “olheiros”, ou outra coisa qualquer na blogosfera. De facto, há blogs de imenso interesse. Leio muitos. Uns são feitos, até, com colaboradores. Mas eu, que sempre fui mais para o solitário, por cá ando neste desígnio de caminho enquanto forças houver, para depois o tempo me esquecer. E morrer de vez.

 

 

 

E vos deixo com as palavras de Clarice Lispector in “A Paixão”:

 

“ A desistência é uma revelação.”