sábado, 27 de julho de 2013

Faltam-me as palavras

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
João Alfaro
 
Estudos prévios
 
Desenhos sobre papel Canson 21x29,7 cm, 2013
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Faltam-me as palavras.

Faltam-me sempre as palavras.

Faltam-me as palavras para dizer o que sinto; o que me invade; o que me entristece; o que me angustia; o que me faz falta.

Faltam-me as palavras. Hoje, como ontem e amanhã certamente. Sempre me faltarão. As palavras.

Resta-me o silêncio. Restam-me as cores para colorir em tons sombrios ou luzidios, contando o que quero contar e ilustrar o que quero mostrar.

 Por isso pinto.

 Nada mais digo.

Faltam-me as palavras.

 



domingo, 21 de julho de 2013

Mar Salgado

 
 
 
 
 
 

 
 
 
João Alfaro

Desenhos na praia, 2013
 
 
 
 
 
 
 

“Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!

Quantas noivas ficaram por casar

Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.

Quem quere passar além do Bojador

Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.”
 
Fernando Pessoa, “Mar Português”
 
 
 
O mar é o palco de feitos épicos, de tragédias que o tempo não esquece, de fonte alimentar, de via comunicante e, obviamente, do belo expresso. Foram tantos os artistas que rubricaram cenários empolgantes sobre as muitas histórias maravilhosas e fantásticas da envolvência marítima. É tão repousante saber olhar e retirar o encantamento da estética e dos sabores das águas que nos banham e nos elevam. Quanto é doce, quanto é belo o mar. Ele é a criançada; ele é o mundo inteiro na magia das ondas; ele é a natureza própria com as suas cores numa passagem de luzes que cada dia comporta. E, por gostar tanto, levo sempre comigo uma máquina fotográfica e uns blocos para desenhar o que os meus olhos observam, quando vou ver o mar.
 
E vos deixo com as palavras de Charles Baudelaire:
 
“Homem livre, tu sempre gostarás do mar.”


sábado, 13 de julho de 2013

Cheira a Mar

 
 
 
 
 
 
 
João Alfaro
"Praia", 2001
Pintura sobre tela 20x25 cm
 
 
 
 
 
 
 
 
 
João Alfaro
"Repouso", 2012
Pintura sobre tela de 60 x100 cm
 
 
 
 
 

Finalmente o sol. Foi um ano de chuva. Faltava o calor para nos colocar na órbita do tempo. E das delícias que a época estival comporta. Agora é demais. Tudo gira nos excessos neste retângulo peninsular: de tanta chuva para tórridas temperaturas e confusões  políticas. Depois da trapalhada dos que deveriam ter juízo com a coisa pública, este povo tão sereno e sensato, ainda atónito perante o desenlace da garotada politiqueira, quer é olhar o mar e saborear o que há de bom agora, antes da hecatombe que está para acontecer.

 

Entre a angústia e os prazeres únicos  da arte, e, preparando uma exposição para o início da temporada (outubro), me perco, procurando fazer mais, mesmo em plena crise, onde tantos se desencontram sem saber para onde olhar, porque parece que nada interessa senão rebentar com os ouvidos, nos estridentes concertos de ruidosos festivais de verão, e afogamentos alcoólicos. É o que está a dar...

 


Vou ver o mar. Preciso tanto. Como de pão para a boca. Há coisas que não se explicam. É tanta a beleza das ondas, o seu perfume, a magia das tonalidades cromáticas e as memórias que a praia traz. Sobretudo estas: da infância; da paternidade; da nostalgia; de tudo.

 

 

 

E vos deixo com as palavras de Epicuro:

 

“O prazer não é um mal em si; mas certos prazeres trazem mais dor do que felicidade.”



sábado, 6 de julho de 2013

Ser diferente

 
 
 
 

 
 
 
 
 
João Alfaro 
 
"Deusa da Luz", 2013
 
Pintura sobre tela de 80x80cm
 
 
 

 
O mundo de hoje, graças às novas tecnologias que permitem as comunicações instantâneas,  é pequenino. E cada vez mais. A informação chega a todo o lado influenciando e mudando as mentalidades secularizadas. Por associação e por arrasto se caminha no mesmo sentido, para que a diferença não seja um vislumbre. Mas também há aqueles que fazem da oposição um modo de estar na vida, remando contra a maré dominante e dizendo de sua justiça, em  contraste com a unicidade. Há sempre alguém que diz não. Que quer ser diferente. Que considera a multiplicidade de opções uma oportunidade de descoberta. Que luta mesmo sabendo que os tempos não estão de feição. Que tudo é uma passagem devorada pela temporalidade e, naturalmente, esquecida a breve trecho, porque tudo é fogo-fátuo.
 
 
A arte é um estado de modas. Aparece uma corrente dominante querendo traduzir o tempo presente e muitos rapidamente alinham pelo mesmo diapasão. É sempre assim. Hoje como no passado. Mas há os opositores. Os velhos do Restelo e ... os outros.  Aqueles que se mostram renitentes, e não querem seguir por caminhos sem futuro e apenas de olhares fugazes. Que venha o diabo e diga de sua justiça. O que eu sei é que por aí não vou. Pelas modas.
 
 
 
E vos deixo com as palavras de José Régio, in “Cantigo Negro”:
 
“...Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou,
Sei que não vou por aí.”