terça-feira, 27 de junho de 2017

Tempo morto
















A arte é sempre a expressão do seu tempo, porque faz uso da tecnologia em que se afirma e do pensamento reinante da época vigente. Esporadicamente há episódios que, pela perturbação social do instante vivido, provocam inevitavelmente uma orientação diferente no sentir  e no significado do estar em sociedade. Depois, passado esse período, escasso ou mais prolongado, tudo volta à normalidade. Falo assim pela tragédia que está bem patente em todos e que brevemente só raramente será recordada. A verdade é que, enquanto continuava a fazer o mesmo de sempre na temática pictórica que agora me seduz, não me sentia enquadrado com o estado de espírito chocante de todos. Foram dias e ainda são de inquietude, porque a fatalidade mesmo longe é fatalidade, quer seja com gente que nos é próxima, ou com outros que apenas sabemos que o azar na roleta da existência bateu à porta, fazendo com que não nos esqueçamos da fragilidade da existência e da brevidade deste caminhar, que pode a qualquer instante ruir definitivamente.




Agora ainda não reúno as condições para pintar como tanto gosto de fazer, porque há um mar para me distrair e apoquentar, por isso prefiro fazer esboços que são, afinal, estudos prévios e formas continuadas de estar sempre, sempre e sempre a trabalhar. Talvez brevemente consiga circular de um lado para o outro e pintar, por agora não posso e  os desenhos, como recurso, aparecem todos os dias, não tendo, portanto, nenhum tempo morto, nesta minha existência em que a arte é a minha seiva. Felizmente.









E vos deixo com as palavras do escritor e cientista americano do século XVII  Benjamim Franklin que um dia disse:



“ Seja cortês com todos, sociável com muitos, íntimo de poucos, amigo de um e inimigo de nenhum.”

segunda-feira, 19 de junho de 2017

Razões












Estive no Porto a passear pela cidade e, reconheço, a razão maior foi visitar as galerias de arte que, numa só rua da Invicta - a Miguel Bombarda - criam uma atmosfera artística específica, sobretudo no dia das inaugurações simultâneas. Muito do que conheço por esse mundo fora teve sempre como objetivo primeiro conhecer obras de arte. Não é a praia, nem a natureza, nem outros eventos que me seduzem: é a pintura. Fui, confesso aqui, uma vez à Áustria só para ver a obra do Klimt, olhos nos olhos. Sou de uma civilização que adora a imagem e não me vejo a viver num outro contexto em que a arte tem regras afuniladas. Isso não.




E, porque gosto tanto das artes plásticas, da ópera,  assim como dos espectáculos de palco, tenho tido a sorte de viver, felizmente, sempre numa atmosfera  em que a criação artística é o apanágio do meu caminhar, embora todo ele seja na penumbra, todavia, quando menos espero as boas notícias chegam: ou é a possibilidade de mostrar obras em conceituadas galerias; ou é saber que há pessoas de tão longe ( do outro lado do oceano) que adquiriram peças minhas. Devagar, devagarinho vou sonhando e vivendo. Umas vezes barafustando com razão ou não, porque só não me zango (silenciosamente) com as telas, claro!







E vos deixo com as palavras do poeta italiano Arturo Graf que um dia disse:


“O saber e a razão falam; a ignorância e o erro gritam.”




segunda-feira, 5 de junho de 2017

Colecionar









Desenhos sobre cartolina, 2017
Retratos de família ( sempre a aumentar)






Comecei pelos selos, como era normal na minha adolescência, mas rapidamente o meu interesse esmoreceu, porque entendi que se exigia meios e processos que não dispunha para colecionar, embora reconhecendo o poder mágico das imagens e as histórias envolventes tão ao meu gosto contemplativo.


Hoje já não, talvez porque o espaço físico e a percepção do tempo ou do que dele me resta, faz com que eu apenas queira pintar, sem apêgo aos bens materiais, senão aos imprescindíveis, mas tenho, confesso, algumas coleções. Fui um dia ao extinto Museu do Brinquedo em Sintra e me apaixonei por todo aquele universo lúdico, depois... comecei a adquirir em madeira primeiro, depois em lata os brinquedos. E tenho a casa cheia de referências infantis que tanto aparecem na minha pintura.


 Houve um tempo em que adorava percorrer o país e nas feiras comprava artesanato. As cores ( sempre as cores) e as formas da olaria e dos barros de Barcelos me encantavam e acabei por adquirir tantas peças que se foram amontoando e amontoando.


O fascínio pela encenação, pelo teatro, pelos espectáculos de palco fizeram-me querer colecionar máscaras, sobretudo as africanas, talvez por causa das minhas origens natalícias.


Agora estou a colecionar retratos, feitos por mim, claro, no entanto, porque gosto de viver rodeado de obras de arte fui juntando trabalhos de outros artistas,  não tenho mais porque as paredes não crescem e o meu tempo é tão curto.






E vos deixo com as palavras do filósofo chinês Lao-Tsé que um dia disse:

“Nada é impossível a quem pratica a contemplação. Com ela, tornamo-nos senhores do mundo.”