sábado, 31 de outubro de 2009

Contos de fadas




Há o mundo real. O nosso mundo. O mundo das rotinas; das guerras; das golpadas; das intrigas; do faz de conta; dos dias felizes; dos tristes dias; disto e daquilo. Há, também, o mundo da fantasia e da fuga, ou seja, o mundo da imaginação e do sonho: mundo dos castelos com os príncipes e princesas eternamente felizes e belos; dos jardins floridos, dos amores infinitos. Enfim, contos de fadas para esquecer o mundo real. O nosso mundo.

Esta aguarela é um passeio pelo sonho do mundo irreal que todos gostaríamos de viver, todos os dias. Este trabalho, feito na série dos “Jardins Alados”, procura, com minúcia e quase pontilhismo formal, numa exuberância cromática, criar um ambiente muito próprio. História da Minha Pintura.

Hoje lembrei-me das palavras de Pascal Blaise:

“A imaginação tem todos os poderes: ela faz a justiça, e a felicidade, que são os maiores poderes do mundo.”

E vos deixo com a música de Tchaikovsky e o bailado “Quebra-nozes” que a todos encanta pela beleza, suavidade, elegância e fantasia.



sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Os olhos do pintor



Os olhos dizem tudo. Dizem quando estamos bem. Dizem quando tudo está mal. Eles reflectem as nossas emoções. Caracterizam-nos. Identificam-nos. São eles a nossa verdade. Não mentem. Põem-nos a descoberto. Basta saber olhar e eles dizem tudo. Tudo mesmo.

Muitos foram os artistas que deixaram os seus olhares expressos nos auto-retratos, basta ver as belas pinturas de Miró, Lucian Freud, Gilbert & George, Almada Negreiros e Andy Warhol. Actualmente, com as novas tecnologias, há processos de mostrar, divulgar e propagar a imagem e o cultivo do nome e da obra. Este blog procura também ter essa função. Histórias da Minha Pintura.

Hoje recordo as palavras de Blaise Pascal: “Os olhos são os intérpretes do coração.”

E vos deixo com uma canção, em homenagem à minha mãe: “Olhos Castanhos”e a voz de Francisco José.


quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Bancos de jardim



Os jovens, porque são jovens, procuram o espaço no jardim romântico para o aconchego dos primeiros amores que são sempre tão doces e memoráveis eternamente. E porque a vida é feita de episódios felizes e outros não, o banco de jardim é, por excelência, o melhor local do mundo para recordar, in loco, episódios vividos por todos nós.

Esta aguarela procura retratar o sentir de um jardim que, como todos os jardins, tem as suas histórias. Aqui, num trabalho feito para ilustrar a temática do amor, escolhi como referentes a natureza, a fonte, o gato e os jovens. Mais uma vez, procurei, criar, plasticamente, um ambiente de intimidade pública, com as cores e as formas que me são familiares. Histórias da Minha Pintura.


Recordo as palavras de hoje François La Rochefoucauld:
"O prazer do amor é apenas amar e sentirmo-nos mais felizes pela paixão que sentimos do que pela que inspiramos. "

E vos deixo com uma voz de Anna Netrebko cantando "Je veux vivre" da Ópera de Gonoud: "Romeu e Julieta"que, como se sabe, acabou em tragédia.



quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Jardim




Descobrimos o jardim. É o espaço da tranquilidade; do repouso; da paisagem floral; dos caminhos do namoro; da fuga ao rebuliço; dos petizes. E é aqui, também, que gostamos de saborear o devaneio do pensar; ora vamos por caminhos serenos e sensatos; ora imaginamos circuitos fantasmagóricos. E assim passamos o tempo dos registos breves e fátuos deste nosso deambular, nesta vida de canseiras.

Esta tela procura captar os modos de estar num jardim numa tarde de Verão que, como todas as tardes quentes, convidam ao repouso. Observador do meu mundo circundante procurei, aqui, conjugar as cores típicas do espaço e, mais uma vez, usar a perspectiva para sugerir a profundidade do espaço. Histórias da Minha Pintura.

Recordo as palavras de Jean La Bruyère:

“ A natureza é apenas para quem vive no campo.”

E remato com o som da harpa que me fascina sempre, aqui com a mestria de Xavier de Maistre que toca" Moldau "de Smetana.



terça-feira, 27 de outubro de 2009

A nossa casinha




É o nosso espaço. É o nosso lar. É o nosso abrigo. É aqui entre paredes que vivemos, ora rodeados de mordomias, ora comendo o pão que o Diabo amassou. Quer num caso, quer noutro, é o nosso espaço que nos liberta ou oprime. E assim vivemos, felizes, com muito ou pouco e, infelizes, com tanto ou tão pouco, entre paredes da nossa casinha. É a vida. De todos. Pobres e ricos.

Esta pintura retrata uma casa num espaço paradisíaco onde o bem-estar nem sempre é sinónimo de felicidade. Mais uma vez, procurei, nesta pintura, como em todas as outras, criar uma imagem que fosse a expressão do sentir e do desejo. Em termos técnicos a sugestão da volumetria e do espaço é feita através da combinação da perspectiva e das tonalidades cromáticas.Histórias da Minha Pintura.

Recordo hoje um excerto do poema “A Nossa Casa” de Florbela Espanca, in “Charneca em Flor”:

“…Onde está ela, amor, a nossa casa,
O bem que neste mundo mais invejo?
O brando ninho aonde o nosso beijo
Será mais puro e doce que uma asa?...”


E vos deixo com a música de Massenet e a obra “Meditação de Thais” que nos dá a tranquilidade e o encanto que todos desejam ao regressar a casa, aqui com a mestria ao violino de Anne-Sophie Mutter.



segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Quarto




É o nosso último retiro de todos os dias. É o espaço onde encontramos o outro lado do viver: o dormir. É neste espaço de intimidade que repousamos e cultivamos desejos, encantos ou tormentas. E por aqui ficamos, uma boa parte da vida, entregues ao devaneio dos sonhos e dos prazeres ou da falta deles. E todos os dias o retiro espera por nós. Até ao juízo final.

Esta tela já de 97 é um deambular sobre o espaço que reservamos para os nossos sonhos profundos. Como sempre, gosto de experimentar novas buscas, e aqui, o desejo de retratar um espaço, através de uma geometria com dois pontos de fuga e um conjunto de poucas cores, é a característica dominante deste ambiente de pinceladas rápidas e contidas. Histórias da Minha Pintura.

Recordo as palavras, contundentes mas tão realistas, de Marlene Dietriche:

“Dormir a sós é muito solitário, crianças que o digam. Se possível, durma com alguém que você ama. Vocês recarregarão mutuamente as baterias, e sem custos.”

E vos deixo com a admirável voz de Andreas Schools cantando Bach em “Erbarme dich”.


domingo, 25 de outubro de 2009

Expor





Expor é mostrar aos outros para que pensem bem de nós, do nosso trabalho, das nossas capacidades. É verdade. É mesmo assim. E mostramos o que julgamos merecer ser mostrado. E ao mostrar outros juízos nos julgam . Uns consideramos correctos, outros, talvez mais realistas, são críticas que nos magoam, porque nos avaliam com outros olhos. Entre pareceres diferentes cabe continuar no caminho que construímos. Para o melhor ou para o pior.

Estes retratos feitos em 2003 são parte de um vasto leque de pinturas, em tela, de pessoas que, nesse tempo, fizeram parte do meu universo pessoal. Estes trabalhos foram feitos após um cuidado estudo da pose. Aqui, nesta série, a preocupação dominante foi tentar retratar o mais fiel as personagens e esbater o espaço. Histórias da Minha Pintura.

E recordo um excerto do poema “Sou Eu” de Álvaro de Campos (heterónimo de Fernando Pessoa), in “Poemas”:

Sou Eu
“Sou eu, eu mesmo, tal qual resultei de tudo,
Espécie de acessório ou sobressalente próprio,
Arredores irregulares da minha emoção sincera,
Sou eu aqui em mim, sou eu…”


E vos deixo com a música de Tchaikovsky e a interpretação ao violino de Anne-Sophie Mutter no Concerto de Violino, 3º movimento.



sábado, 24 de outubro de 2009

Sonhos





Acontece a todos: sonhamos. Sonhamos com realismo e com fantasia. Sonhamos ora conscientes, ora conscientemente inconscientes. E por cá andamos com mais sonhos e menos realizações. Umas vezes crentes, outras, pelo contrário, totalmente descrentes. E a vida continua, todos os dias, independentemente dos nossos sonhos. Sonhemos pois.

Esta aguarela é um sonho, que como todos os sonhos, não se explica: sente-se. Para fazer este trabalho servi-me de um modelo que, mercê do seu sentido da pose, me inspirou para a série de desenhos e aguarelas sobre o sonho. Histórias da Minha Pintura.

Recordo hoje a poesia de Gastão Cruz, in “Órgão de Luzes”:
O Caos do Sonho

“Estou deitado no sonho não
Perturbes o caos que me constrói
Afasta a tua mão

das pálpebras molhadas
Debaixo delas passa
A água das imagens.”


E vos deixo com a música de Monteverdi em “Zefiro torna” e a voz de Jaroussky.



sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Intimidade




A nossa casa é o espaço próprio da intimidade; é o lugar das nossas coisas; é onde estão ( ou deveriam estar) os nossos; é onde cada peça tem a sua história; é onde queremos expor a liberdade do estar; é, talvez, onde somos mais autênticos. Talvez.

Esta pintura, em tela, de longa data, retrata um ambiente onde os objectos adquirem os significados inerentes e representam um estado vivencial. Este meu trabalho procura captar a luz e o ambiente da intimidade do lar. Um intricado labirinto de linhas sugere profundidade, as sombras buscam dar volumetria às formas e as cores saturadas têm por finalidade criar uma harmonia cromática. Histórias da Minha Pintura.

Hoje recordo o poema “Intimidade” de José Saramago, in “Os Poemas Possíveis”:

Intimidade

“ No coração da mina mais secreta,
No interior do fruto mais distante,
Na vibração da nota mais discreta,
No búzio mais convolto e ressonante,

Na camada mais densa da pintura,
Na veia que no corpo mais nos sonde,
Na palavra que diga mais brandura,
Na raiz que mais desce, mais esconde,

No silêncio mais fundo desta pausa,
Em que a vida se fez perenidade,
Procuro a tua mão, decifro a causa
De querer e não crer, final, intimidade.”


E vos deixo com a voz de Maria Callas cantando “Vissi d´ arte” da ópera Tosca de Giacomo Puccini.



quinta-feira, 22 de outubro de 2009

O nosso cantinho




O nosso cantinho é o lugar por excelência onde gostamos de estar. É no café do costume, na sala perante a televisão, junto ao rio enquanto se finge pescar, ou, no pior dos casos, em lado nenhum. Em casa fomos edificando os bens que nos servem de aconchego e com eles convivemos. E assim passamos o tempo. O pouco tempo que nos coube em sorte. No nosso cantinho.

Esta pintura, em tela, é um retrato dos muitos cantinhos que povoam as nossas casas caracterizadas pelos objectos culturalmente presentes, que nos servem de consolo. Num jogo descritivo, formas e luzes procuram criar uma atmosfera narrativa, em que a perspectiva, muito acentuada, procura dar maior ênfase ao espaço. Histórias da Minha Pintura.

Recordo, um excerto, do poema de Florbela Espanca, in “Charneca em Flor”:

A Nossa Casa

“A nossa casa, Amor, a nossa casa!
Onde está ela, Amor, que não a vejo?
Na minha doida fantasia em brasa
Constrói-a, num instante, o meu desejo!”



E vos deixo com a música de Isaac Albeniz e “Asturias”.


quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Rotinas




Rotinas. É o nosso viver. Todos os dias fazemos as mesmas coisas. E assim passamos o tempo. E a vida também. E tudo acaba com a repetição dos mesmos gestos, das mesmas práticas, das mesmas expectativas. E o sabor da descoberta, do prazer das coisas belas passa tudo num ápice, quando passa. E por cá continuamos de rotina em rotina. Hoje por aqui. Amanhã por acolá. De rotina em rotina. Até ao fim. É a nossa sina. Dos crentes e não crentes.

Esta pintura em tela é o retrato de uma rotina. De uma viagem talvez para os sítios do costume. Para a rotina dos dias cinzentos. Para fazer esta obra recorri a instrumentos de rigor e utilizei a perspectiva com um único ponto de fuga para acentuar a profundidade e em simultâneo procurei que as cores, também elas, numa relação tonal, sugerissem os vários planos. Histórias da Minha Pintura.

Hoje trago palavras de Anne Noailles:

“Nada é real, a não ser o sonho e o amor.”

E vos deixo com a música sempre encantadora de Liszt: “Liebestraume.”


terça-feira, 20 de outubro de 2009

Distâncias




É o andar por aí que nos leva a descobrir outros modos de ser, estar e olhar o mundo. E, ao descobrir outras realidades, ficamos diferentes e percebemos o que nos aproxima, e, afasta de uns e de outros. Umas vezes vamos na onda das modas. Outras queremos compreender e ficamos distantes. Distantes de tudo. De tudo mesmo. Somos assim.

Esta pintura, dos primórdios da minha carreira, caracteriza um gosto pela beleza industrial que teve em Léger um apaixonado pela nova paisagem criada com as fábricas e o mundo operário. Nesta tela, de grandes dimensões, procurei, com cores rosa, captar um fragmento de uma composição dos comboios ,que me encantou nos finais dos anos 70 e princípios de 80. Histórias da Minha Pintura.

Recordo hoje as palavras de Charles Chaplin:

“Quem está distante sempre nos causa maior impressão.”


Termino com a música (que tanto me sensibiliza) do compositor checo Smetana e “O Moldava”



segunda-feira, 19 de outubro de 2009

A cidade




Hoje uma casa, depois outra, e mais outra e, assim, foram nascendo os lugarejos que, paulatinamente, fizeram nascer as cidades. Elas têm tudo. Oferecem serviços, empregos e muita vida. E, deste modo, vivemos quase todos em burgos. Com muita companhia e poucos amigos. É a vida. Dos nossos dias. Das nossas cidades.

Gosto de me colocar à prova enquanto pintor. Trabalho por séries e uma delas consistiu em pintar espaços urbanos. Esta pintura em tela é um retrato de um pequeno espaço citadino onde, propositadamente, excluí pessoas. Aqui procurei destacar as tonalidades da nossa arquitectura e as suas características formais. Histórias da Minha Pintura.

Hoje lembrei-me das palavras de Lawrence Durrell:

“Uma cidade é um mundo se amarmos um dos seus habitantes.”

E vos deixo com a música de um compositor norte-americano Gerswin que soube transmitir,por sons, a vida das cidades em "Rhapsody in blue”.


domingo, 18 de outubro de 2009

Modas






A característica dominante do nosso tempo é a moda. Tempo de consumo e de cansaço. Tudo é fruído e gasto no instante. Tudo é tão volátil. Nada somos. Nada valemos. Infelizmente é assim mesmo. Tantas canseiras, tantas lutas, e, tudo passa. Tudo acaba. A moda de hoje é uma força dominante, no entanto, já amanhã, outra moda, outros desejos, outros intérpretes, outros caminhos levam-nos para novos rumos. E aqui estamos levados na onda do tempo e do esquecimento.

Estes desenhos procuram retratar a(s) moda(s) do estar e sentir que nos levam a ter posturas de acordo com as circunstâncias, o meio, e a aparência social que o mercado dita. Os meus desenhos são, quase todos, sem a presença do modelo e parcos em cores. O meu objectivo primordial é a descoberta das formas e a construção de cenários, para mais tarde pintar em tela. Histórias da Minha Pintura.

E Henry Miller, conhecido pelo seu modo boémio e excêntrico disse:

“Cada momento é de ouro se o soubermos reconhecer como tal.”

E vos deixo com a voz de um cantor fora de moda em “Love Me tender”: Elvis Presley.



sábado, 17 de outubro de 2009

Viagens



O aparecimento do comboio mudou a paisagem por onde passa, mudou a sociedade servida por ele, e mudou a vida das pessoas. Os artistas souberam tirar partido dele. No cinema, no teatro, na literatura, na música, nas artes plásticas todos têm dado o seu contributo, falando do cavalo de ferro que veio para ficar, e ajudar a criar um mundo novo.

O meu trabalho tem sido o de explorar todos os caminhos. É o prazer da descoberta que me conduz sem nunca saber para onde. Nesta série (trabalho sempre por séries) fiz da plasticidade formal dos comboios, a minha inspiração pictórica, em telas de grande formato executadas nos finais dos anos setenta. Artistas como Monet e Hopper são o exemplo do fascínio dos comboios nas artes plásticas. Histórias da Minha Pintura.

Hoje recordo as palavras de Alphonse de Lamartine:
“Não há homem completo que não tenha viajado muito, que não tenha mudado vinte vezes de vida e de maneira de pensar.”


E vos deixo com a poesia de Fernando Pessoa e a voz de José Afonso:
“ No comboio Descendente.”


sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Faz de conta



Vivemos num faz de conta. O importante é a aparência dos usos e costumes. Importante mesmo é manter tudo como dantes, embora o antes seja passado e não presente. É em todo o lado. Tudo e todos fazem de conta. E assim continuamos. Viva o faz de conta!!!

E a pintura que vos trago, para esta crónica, é uma tela, em grande formato, de um automóvel, por excelência, o mais apelativo e quantas vezes caracterizador do ter e não ter, neste mundo do desejo infinito pela posse de tudo e mais alguma coisa. Aqui, com uma pincelada, numa aproximação mais hiper-realista, procurei captar minúsculas parcelas deste objecto do desejo. Histórias da Minha Pintura.

E lembrei-me de Eugénio de Andrade e do poema “Faz de conta”:

“- Faz de conta que sou abelha.- Eu serei a flor mais bela
- Faz de conta que sou cardo.- Eu serei somente orvalho.
- Faz de conta que sou potro.- Eu serei sombra em Agosto.
- Faz de conta que sou choupo.- Eu serei pássaro louco, pássaro voando e voando sobre ti vezes sem conta.
- Faz de conta, faz de conta.”

Nada melhor na música do “faz de conta” que Mozart e Don Giovanni com a voz de Callas em “Non mi dir”.



quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Vinte anos



Para todos vinte anos significa muito. Para uns é mais um período de recordações do passado. Para outros é uma etapa da vida que agora começa com contornos novos. Para todos é, afinal, o tempo vivido que não se repete e que nos deixa com esperanças, ou, no pior dos casos, o fim dos sonhos, dos muitos sonhos que começaram, sobretudo, com os vinte anos. Vinte anos.

A imagem de hoje é uma homenagem aos vinte anos pelo trabalho, pela dedicação e também aos que têm a beleza e o encanto dos vinte anos. Este desenho, a lápis de cor, é um dos muitos registos que faço em busca do sossego e do prazer únicos do criar imagens novas, que só a arte me dá. Histórias da Minha Pintura.

Recordo hoje Ary dos Santos:
“Ai quanto caminho andado
Desde o primeiro poema:
Quanto furor amassado
Quanto pavor que envenena
Quanto amor desesperado
Quanta cilada pequena
Ai quanto caminho andado
Contudo valendo a pena…”

E vos deixo com os loucos anos vinte, a música desse tempo e a descoberta do saber viver, liberto das amarras e dos preconceitos sociais e religiosos.



quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Não



Não
Não podemos mudar o ciclo da vida.
Não podemos continuar a desejar o que já não faz parte da realidade tal como ela é.
Não podemos ambicionar este mundo e o outro, esquecendo tudo e todos.
Não podemos fechar os olhos e não ver o que se passa.
Não podemos.
Não, não; não podemos.

Esta pintura é o retrato das muitas fugas que podemos ter, lendo o que outros escreveram de contextos e cenários, que nos transportam para horizontes longínquos. Mais uma vez, num ambiente rural, a representação desta temática procura, num jogo inquietante de cores, sugerir um espaço bucólico e aparentemente aprazível, em que a geometria busca a ilusão do espaço. Histórias da Minha Pintura.

O escritor italiano Corrado Alvaro (1895-1956) disse, in “Il nostro tempo e la speranza”:

“O homem não se conhece o suficiente para medir aquilo de que precisa.”


E vos deixo com a música de Gaetano Donizetti em “Lucia di Lammermoor” e “Il dolce suono” com Joan Sutherland em 1959. Esta ópera, como as demais, é um intrigado enredo de tragédias que, como na vida e na arte, nos envolvem.


terça-feira, 13 de outubro de 2009

Porto




A Cidade Invicta seduz quem a vê e contacta com as suas gentes; é a atmosfera tão intimista; é a herança cultural; é o passado tão presente; é o granito que preenche a arquitectura; é o rio; é a pronúncia; é o bairrismo; é o S. João tão carismático; é o ser português que se sente a cada esquina; é a beleza e o colorido dos contrastes; é tanto, tanto, tanto.

Esta tela é um olhar sobre uma varanda, tão usual na paisagem do casario portuense. Aqui procurei mostrar as cores térreas que caracterizam muitas das casas peculiares do Porto. Para fazer esta pintura utilizei instrumentos rigorosos, como sejam a régua, o esquadro e o compasso, aliado a uma pincelada muito cuidada e morosa. Histórias da Minha Pintura.

E hoje trago um excerto do poema “ Quando Eu Sonhava”do portuense Almeida Garrett:

Quando Eu Sonhava

“Quando eu sonhava, era assim
Que nos meus sonhos a via;
E era assim que me fugia,
Apenas eu despertava,
Essa imagem fugidia
Que nunca pude alcançar…”


E vos deixo com uma homenagem à violoncelista portuense Guilhermina Suggia (1885-1950).


segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Lisboa





Lisboa encanta quem a visita; é a luz; é o rio; é o casario; é as gentes multiculturais; é o cheiro; é Alfama; é o Bairro Alto; é a Mouraria; é Belém; é este bairro e o outro; é a noite; é o fado; é a festa popular; é a sardinha; é a dimensão; é tudo afinal.

Estas duas pinturas, sobre tela, são um olhar sobre a capital que tantos ilustraram, basta pensar em Almada Negreiros, Maluda ou Elóy. Procurei, numa geometria rigorosa, captar as cores, a luz e a atmosfera de Lisboa. Histórias da Minha Pintura.

Recordo as palavras de Manuel Alegre, in “Babilónia.”

Excerto do poema Balada de Lisboa:

"Em cada esquina te vais
Em cada esquina te vejo
Esta é a cidade que tem
Teu nome escrito no cais
A cidade onde desenho
Teu rosto com sol e Tejo…”


E vos deixo com a voz e a música de Paulo de Carvalho e a letra de Ary dos Santos:

“Lisboa, menina e moça.”



domingo, 11 de outubro de 2009

É assim




É a vida dos povos. É a vida das pessoas. É a nossa vida. A vida de todos os dias. Umas vezes felizes, outras, nem tanto. É assim. Assim mesmo. Conscientes ou não, dos nossos deveres e dos nossos direitos, por cá andamos, ora edificando o nosso futuro, ora adiando, mais uma vez, novos caminhos.

Esta tela é um olhar sobre a cidade que, como todas as cidades, reflectem os nossos modos de estar e ser. Esta minha pintura surgiu do desejo de criar a concepção do espaço e da escala humana obedecendo a um rigoroso jogo métrico. Aqui, utilizando a régua e o esquadro fui edificando os elementos formais numa perspectiva centralizada. Histórias da Minha Pintura.

E recordo as palavras de Camilo Castelo Branco:

“A civilização é a razão da igualdade.”

E vos deixo com a música de George Gershwin e “Summertime”.


sábado, 10 de outubro de 2009

Cartas



Longe vão os tempos das cartas. Cartas escritas à mão e entregues pelo carteiro. Hoje nada disso acontece. Novas tecnologias deram origem a novos hábitos. E tudo mudou para sempre. Para sempre. E assim acabou a escrita à mão com a caligrafia personalizada e todo o ritual inerente. Outros tempos.

Esta tela de grandes dimensões é o retrato de uma leitura que exige, sempre, concentração para a compreensão da mensagem. Aqui, a personagem, distante de tudo e de todos, é representada numa combinação de cores rosa e com pinceladas largas e soltas, tão do meu agrado. Histórias da Minha Pintura.

Hoje trago as palavras de Abu ShaKur, in “Primeiros Poetas Persas”:

“ O fruto de cada palavra retorna a quem a pronunciou.”

E vos deixo com a voz de Jacques Brel cantando “Mathilde”.



sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Interiores




A casa onde habitamos é o nosso outro lado; é o ponto de encontro diário com os nossos; é o local mais acolhedor que nos espera ao fim do dia; é onde queremos dar e receber carinho e afectos; é o espaço onde fomos edificando os nossos desejos e ambições; é, enfim, o nosso mundo rodeado de paredes. Paredes com segredos. Os nossos segredos.

Esta tela é o retrato de um pequeno espaço, onde as formas exageradas e as cores fortes pela complementaridade, procuram ilustrar um ambiente para uns aprazível, para outros, de fugir a sete pés. Histórias da Minha Pintura.

Hoje trago as palavras de George Moore, in “The BrooK Kerish”:

“Um homem percorre o mundo inteiro em busca daquilo que precisa e volta a casa para encontrá-lo.”

E vos deixo com a voz de Roberto Carlos e a canção “Nem às paredes confesso”.


quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Outono




Os dias agora são cinzentos. A chuva chegou e o sol que nos alegra aparece de quando em vez. É o ciclo da natureza que se repete e se renova. E por cá andamos assistindo ao ir e vir das estações. Agora é o tempo dos dias tristes e das paisagens desertas, sem as alegrias que só o Verão nos dá. A vida, no entanto, transporta consigo outros contentamentos e outros prazeres. E ainda bem que assim é. Felizmente para todos nós. Felizmente.

Esta pintura retrata esta estação onde as cores cinza dominam a tela. Aqui numa paleta restrita e numa geometria rigorosa procurei, com pinceladas vincadas, sugerir o espaço e a atmosfera inerente. Histórias da Minha Pintura.

Hoje trago as palavras de Nicolas Boileau:

“O tempo que tudo transforma, transforma também o nosso temperamento. Cada idade tem os seus prazeres, o seu espírito e os seus hábitos.”

E vos deixo com a música de Vivaldi em “Outono, 1º movimento”.


quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Rotinas





É comum. A vida, a nossa vida, é uma rotina. Rotina que consiste em fazer e caminhar pelos sítios do costume. E de tanto repetir os mesmos gestos, as mesmas práticas, construímos a nossa rotina. Rotina que nos define. E somos assim. Somos o que a rotina, a nossa rotina, nos identifica. E dela ficamos presos. Para uns é o paraíso. Para outros é o inferno.

Esta tela é um olhar com múltiplas imagens onde, o real e o virtual, se confundem neste nosso modo estranho de vida. A paisagem é dominada pelas cores frias, muito do meu gosto. Histórias da Minha Pintura.

Hoje recordo as palavras de Anne Noailles:
“Nada é real, a não ser o sonho e o amor.”

E vos deixo, ainda, com a voz de Amália e “Estranha Forma de Vida”.


terça-feira, 6 de outubro de 2009

Mitos




Há os que partiram e nunca partiram. Há os que ficaram e nunca ficaram. Há os ausentes sempre presentes. Há os presentes sempre ausentes. Há tantos que estão tão longe e tão perto; tão perto e tão longe; tão presentes e tão presentes; tão felizes infelizes; tão recordados e tão esquecidos. É a vida. A dos mitos também.

Esta pintura de longa data, perdida no acervo, é uma miragem pelos mitos e outras histórias do nosso tempo. Aqui, dividi o espaço colocando elementos diferenciados, numa conjugação de cores, assente numa geometria rigorosa e num caos visual. Histórias da Minha Pintura.

Recordo hoje a poesia de Ary dos Santos e o excerto do poema “Retrato de Amigo”:


“Por ti falo. E ninguém sabe. Mas eu digo
Meu irmão minha amêndoa meu amigo
Meu tropel de ternura minha casa
Meu jardim de carência minha asa…”

E vos deixo com a poesia de José Carlos Ary dos Santos e a voz de Amália nesta data triste, onde, se recorda a morte e a obra da artista que encanta com a voz, a postura e a verdade do estar.



segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Não acreditamos


Sempre vivemos com interrogações e dúvidas. Sempre paira a incerteza e os receios no nosso viver. Sempre os medos nos dominam quanto ao desconhecido. Sempre tememos e temeremos sempre. E mais tememos em quem não acreditamos. E não acreditamos de quem não gostamos. Sempre assim foi. Sempre assim será. Para o melhor e para o pior.

Esta aguarela e a máscara fazem parte das memórias orientais da minha infância, vivida em terras longínquas e cheias de mistérios e muitos medos. A aguarela é o meio que encontrei, por excelência, para retratar com facilidade e em pouco tempo (a pintura em tela é agora muito demorada) a amálgama dos sentimentos e experiências vividas que, agora, aqui quero expor. Histórias da Minha Pintura.

E hoje lembrei-me de Marcel Proust, in “A Fugitiva”:

“Não é apenas a arte que põe encanto e mistério nas coisas mais insignificantes; esse mesmo poder de relacioná-las intimamente connosco é reservado também à dor.”


Hoje trago a voz de Amália que, com a sua simplicidade e verdade, encheu o coração dos portugueses e conquistou a alma deste povo.


domingo, 4 de outubro de 2009

Desenhar









Desenhar é edificar imagens que comunicam, ou não, com a nossa sensibilidade. Estes desenhos têm por tema o campo. Aqui, como toda a arte, a aparência é o caminho da sugestão. A realidade é o que nós construímos dos saberes ou da falta deles. E por cá andamos imaginando cenários e arquitectando sonhos, desejos e angústias. Com ou sem desenhos.

Hoje recordo as palavras de Joseph Joubert:
“A imaginação é a visão da alma.”

E vos deixo com a “Norma”, música de Bellini.


sábado, 3 de outubro de 2009

Retratar








Retratar é o desejo de querer ser capaz, numa superfície plana ( papel, tela ou madeira), de dar a ilusão da volumetria e conseguir com o jogo das cores, texturas, luzes e sombras construir uma imagem identificável com alguém que é único.

O rosto é a expressão do que mais prezamos enquanto seres e cultivadores de conceitos de beleza. O rosto é a nobreza da nossa fisionomia, da cultura, dos preceitos religiosos e sociais. É nesse sentido que procuro, na minha pintura, edificar um ideal de beleza que seja a representação do eu enquanto pessoa identificável e ao mesmo tempo intimista.

Hoje recordei-me das palavras de Giovani Boccacio, in Genealogie Degli Dei Pagani”:

“Os ignorantes julgam a interioridade a partir da exterioridade.”

E vos deixo com a música de Mozart em “As Bodas de Fígaro”, aqui com a voz de Cecilia Bartoli.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Papas e bolos











Há encantos e encantos. E precisamos tanto de viver emoções fortes, nem que seja alienados por instantes. E, assim, extravasamos os recalcamentos e nos tornamos iguais e tão diferentes consoante a circunstância do momento. E com papas e bolos, de quando em vez, vivemos felizes. Felizmente e infelizmente.

Estes desenhos retratam jogadores que enfeitiçam multidões. Aqui, utilizei traços rápidos, procurando representar o movimento (uma constante do futebol), sem preocupações de pormenores, apenas com o objectivo de exprimir características do jogo em si e dar a noção da volumetria da figura humana.

Recordo hoje as palavras de Edward Forster que disse:

“As emoções são intermináveis. Quanto mais as exprimimos, mais maneiras temos de as exprimir.”

E vos deixo com música de câmara de Vitorino d`Almeida em sonata para violeta e piano op.94.


quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Normas




Há as normas; as chamadas boas condutas; os deveres; os modos de estar e viver com os outros. Há. Há isso tudo. E há também a selvajaria. Há aqueles que tudo fazem em nome dos seus interesses e unicamente pensando em si. O colectivo, todos os outros, nada conta, excepto para os servir. Servir os interesses e só os interesses do momento. E assim vivemos.

Esta tela é, em primeira instância, o estar pacatamente contribuindo para o bem comum, construindo saber e modos de estar. A perspectiva, os vários espaços e as referências formais procuram constituir um todo, numa busca pela pintura, enquanto forma de expressão e de sentir. Histórias da Minha Pintura.

E hoje trago palavras de John Rustin, in “ O Descanso de S. Marco”:

“ As grandes nações escrevem a sua autobiografia em três manuscritos: o livro dos seus feitos, o livro das suas palavras e o livro da sua arte.”

E vos deixo com a música de Beethoven, aqui dirigido por Bruno Walter, em Leonore número 3 segunda parte.