sábado, 29 de março de 2014

Silêncio

 
 
 
 
 
João Alfaro
“Posturas Privadas”, 2012
Pintura sobre tela de 100X100cm
 
 
 
 
João Alfaro
“Tão perto e tão longe”, 2012
Pintura sobre tela de 100X100cm
 
 
 
Pinturas a expor no mês de maio, em Santarém, no Fórum Ator Mário Viegas.
 
 
 
 
 
 
Tenho em mim o desejo de dizer o que me vai na alma, no entanto, sei que, por muito que fale, ficará ainda mais por dizer, e, tudo, porque não sou capaz de ilustrar verbalmente o meu sentir. Faltam-me sempre as palavras; as frases certas; o raciocínio lógico. Tudo em mim é confusão enorme quando me faço ouvir. A sequência do encadeamento assertivo dá lugar a um mesclado de frases soltas, de um embaralhado de referências e caminhos, e, por isso, me basto. Quanto menos falo, mais me satisfaço e melhor me sinto. Prefiro o silêncio, mesmo sabendo que gostaria de gritar bem alto; todavia, nada digo, para não me repetir. De silêncios faço os meus dias. Por isso pinto tanto… no silêncio.
 
 
 
 
 
 
E vos deixo com as palavras de François La Rochefoucauld que disse:
 
 
"A ausência apaga as pequenas paixões e fortalece as grandes."

 
 


domingo, 23 de março de 2014

Fora de casa

 
 
 
    
 
João Alfaro
“Espelho de água”, 2011
Pintura sobre tela de 80X100cm






 
 
 

João Alfaro

“Um dia no campo”, 2011

Pintura sobre tela de 80 X100 cm


 

Pinturas a expor no mês de maio, em Santarém, no Fórum Ator Mário Viegas.

 
 

No labiríntico circular entre as quatro paredes e o exterior delas, se resume o mapa geográfico de cada um. Sempre com os mesmos percursos ou aleatoriamente percorrendo o mundo, cada um faz o seu caminho entre o estar numa caixa ou fora dela. Tudo é um conjunto imaginário de caixas onde vivemos, a que chamamos casas, apartamentos, vivendas, escritórios, oficinas e, tantos outros nomes. São tantas, tantas as caixas, umas maiores que outras, naturalmente. Algumas são enormes, porque nelas cabem muitos sonhos; outras, apenas servem para nos aprisionar e sufocar, não dando espaço nem para o pensamento esclarecido. E de caixas em caixas se faz a vida de cada um.

 

 

Momentos há que uma brisa, um olhar distante, um imaginar fugidio faz toda a diferença. Ir à rua, sair por momentos, saborear o exterior da caixa é um alívio, um escape, sobretudo, quando muito do tempo é circunscrito às quatro paredes. E hoje vou sair da caixa. Vou por aí, ao Deus dará.
 
 
 
 

 

 

Sejam felizes.

 

E vos deixo com as palavras de Blaise Pascal que disse um dia:

 

“O que é o homem na natureza? Um nada em relação ao infinito, um tudo em relação ao nada, um ponto a meio entre nada e tudo.”




sábado, 15 de março de 2014

Diálogos sem fim

 
 



João Alfaro



Pinturas em tela a expor no Centro Cultural Mário Viegas em Santarém no mês de Maio

 

 

Nas noites longas há muita conversa, riso com fartura, música, cantares desafinados e os sabores gastronómicos da ocasião são a norma, nos pontos de encontro. De tanto dizer, entre os convivas, o que importa sempre não é o conteúdo do que se descreve nas palavras perdidas, porque o que conta, em momentos especiais, é apenas a companhia e a razão do encontro. À volta da mesa se acham os predicados todos para os diálogos sem fim, que se esquecem com facilidade, muitas vezes, mas que deixam a ilustração do momento e o seu significado. Como é bom partilhar ocasiões simbólicas que valem tanto, tanto, que muito do dorido se esvai, enquanto dura a festa dos instantes.

 

 

 

Nos diálogos privados a conversa adquire outro estatuto, quando o interesse é a proximidade dos afetos, porque cada palavra é carregada de intenção e, todos os pormenores posturais adquirem conotações, que definem o caminho ou o seu termo. Com muita gente ou na sombra tudo roda no mesmo sentido, pois é apenas a companhia de alguém que se deseja, no diálogo enriquecido com muito palavreado ou, apenas, a sugestão gestual.

 

 

Porque a pintura é um retrato de um sentir e a expressão do olhar envolvente, o que faço é registar os que me são próximos, como na temática destas duas telas, onde procuro sugerir os muitos diálogos do relacionamento social.

 

 

 

 

E termino recordando as palavras de Jean Jacques Rousseau que disse um dia:

 

"Os homens a quem se fala não são aqueles com quem se conversa."

sábado, 8 de março de 2014

Túnel do tempo

 
 
 
 

 
João Alfaro
“Encontro”, 2013
Pintura sobre tela, 50X50 cm
 
 
 


 
 
João Alfaro
“Menina estás à janela”, 2012
Pintura sobre tela, 50X50 cm
 
(Pinturas a expor no Centro Cultural Mário Viegas em Santarém)
 



Depois de tantos dias cinzentos, frio quanto baste e chuva em abundância, sabe bem deixar (em casa) a roupa invernosa e ir para a rua, em busca de leveza e luz. Muita luz diga-se. E é isso que agora faço, mesmo que o percurso seja o igual de todos os dias, com os encontros do costume e os queixumes dos mesmos nas conversas de conveniência. É a natureza no seu melhor a dizer quanto é bela a vida da observância das pequenas coisas, que constituem o maravilhoso e fantástico da magia solarenga dos dias.

 

No túnel do tempo, que é a travessia de cada um, sobra sempre o desejo de realizar algo de novo que seja apelativo e elevatório da dimensão do querer. Mas é preciso lutar e não desistir. Vejo, todavia, tantos quebrando e maldizendo, no entanto, no mar dos perdidos, encontro sempre alguém que acredita e acalenta novas esperanças e alento. E os dias se sucedem. Hoje é o dia da mulher. Que seja um dia de muitos sóis.

 

Para Maio uma exposição, dando significado à entrega e ao desejo da afirmação do existir.

 
 
 

E vos deixo com as palavras de William Shakespeare que disse um dia:

 

“É lícito aspirar ao que não se pode alcançar.”

domingo, 2 de março de 2014

Encontros felizes

 
 
 

 
 
 
Antero Guerra e Cristina Troufa
Artspace João Carvalho, Gouxaria (Alcanena), 2014
 
 
Conheci o Antero nos anos oitenta, depois, por razões profissionais, os nossos caminhos foram outros e, pela magia que as novas tecnologias permitem, com o clicar de um botão, voltámos a encontrar-nos, tantos anos depois. Em boa hora, diga-se.
 
A razão primeira foi a pintura. O motivo que nos fez voltar a conviver foi, de novo, o amor pela arte. E, é este gostar de conviver na procura do belo estético, como complemento da magia que a vida comporta, que acontecem mutações no estar e na esperança. De um quase celibato pintar, pelo acaso de um reencontro, vivo agora rodeado de artistas e novas gentes, num frenesim de acontecimentos que o tempo dirá de sua justeza. Confesso que adoro este conviver, mesmo sabendo que nem tudo que luz é ouro, mas é pela procura que se chega ao encontro. Com fantasia, também. E consciência, sobretudo.
 
A roda dos amigos é variada no tempo e nas circunstâncias. Os pontos de proximidade ou de afastamento fazem-se pelo desejo, pela necessidade, ou pela obrigação, de dar resposta a interesses comuns. Agora, o que quero mesmo, neste virar de páginas do desenrolar da vida, é conviver com os que sentem o desejo de edificar novas expressões culturais. E pouco mais.
 
 
 
 
E vos deixo com as palavras de Vinicius Moraes que escreveu:
 
 
"A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida."