segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Noites Longas

 
 
 
 
 
 
 
 
 

 

“!00 Anos de Jazz”

Nana Sousa Dias

Artspace João Carvalho

 
 

Do melhor que a memória recorda, ficam sempre episódios que definem a personalidade e a determinação de cada um, quando um homem se põe a pensar. O tempo desfaz a verdade dos factos deixando apenas a penumbra deles e da verdade sentida no instante. Mas há sempre tanto na nostalgia que muito fica perdido nas calendas do sentir e do gostar. Por mim, com a mutação dos desejos, o leque do melhor se circunscreve a poucos círculos de interesse. Do que gosto, agora, é, sobretudo, da simplicidade do conviver, por oposição, naturalmente, à solidão e ao mau pensar.

 

 A música tem o condão de fazer a ponte entre dois mundos, onde de um lado está a mensagem, quantas vezes angustiante mas inevitavelmente bela, e, do outro, a criação de ritmos que mexem com necessidades corporais do sentir a musicalidade. E, porque tenho, ultimamente, pelas novas amizades, um relacionamento próximo com artistas do campo musical, muito é o meu viver com o maravilhoso mundo da arte dos sons

 

 

Recordo hoje as palavras de Robert Browning que disse:

 

  "Quem ouve música, sente a sua solidão / de repente povoada."

 
 
 
 

E vos deixo com música de jazz, aqui, depois de uma noite longa.
 
 
 
 
 



segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Tertúlia Pictórica

 
 
 
 








Quando as palavras se cansam de dizer o mesmo, as conversas deixam de fazer sentido e o fim do dialogar é a solução final, embora o terminar seja um lancinante modo de dizer adeus. Mas, entre o vazio do conversar e o querer comunicar, há uma distância oceânica, que o tempo faz justiça.

 

Hoje, por convite de um amigo de longa data, vou estar num breve encontro de pessoas que fazem do prazer pictórico uma entrega pelo devaneio e pela fantasia da criação. Entre os sonhos do gostar de fazer bem e o resultado, a distância é medida, quase sempre, pela dimensão estelar da incapacidade de atingir o pretendido, mas o pior é nada fazer para contrariar as montanhas herculanas e, por isso, tanto esforço é o melhor caminho para tentar vencer, mesmo quando não só as palavras se cansam, mas também o tempo se esgota e a crença esmorece. O melhor mesmo é nunca desistir, mesmo que tudo aparentemente seja negro, porque há, sempre, dias radiosos.

 

Pintar é, sobretudo, um estar: tudo se silencia; tudo fica imóvel; tudo deixa de ser real para se passar para outra dimensão, que é a razão principal para tanta entrega de tantos. E é o que vou dizer nesta tertúlia, onde o descrever do tempo a pintar, se traduz num passeio pelas memórias que são recordações do estar.

 

 

 

 

E vos deixo com as palavras de Simônides de Ceos, citado em Plutarco, in “Obras Morais, a glória dos atenienses”:

 

"A pintura é poesia silenciosa, a poesia é pintura que fala."





segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Enquanto o Natal não chega

 
 
 
 
 
 
 
Enquanto o Natal não chega os dias correm, mas agora já com o pensamento, de vez em quando, no significado da quadra natalícia e em tudo o que ela envolve. É a festa, sobretudo, com aqueles que nos são próximos e de quem gostamos e que queremos continuar no tempo e na memória, a comungar ideias e projetos, que me inspira e me dá alento. É um espírito diferente, onde o que conta é o olhar pelo lado bom, que une e faz esquecer o pior que há nos sete pecados mortais. Mas isso é outra história, com caminhos tristes que fazem parte da marcha dos dias e das vidas. E é bom saber viver momentos especiais. Como aqueles que só o Natal traz consigo.
 
 
 
 
Os meus dias são feitos quase sempre de solidão e de música escolhida a gosto, porque a pintura exige concentração e isolamento, com a luz e a ambiência própria, de quem faz da arte das cores uma opção gratificante do estar e do ser. É, no cruzamento entre os dois mundos compostos de fraternidade e de comunhão, com gente dentro e solidão que, pela exigência do trabalho, passo o tempo querendo construir um imaginário que seja apelativo. Eu tento, confesso. Mas o destino tem destas coisas: não se pode ter tudo. Mas procuro. Sempre. Dias felizes. Também.
 
 
 
E vos deixo com as palavras de Álvaro de Campos:
 
“Gostava de gostar de gostar.”


sábado, 1 de novembro de 2014

Hábito meu







Quando chegava ao ateliê a primeira coisa que fazia era ligar o rádio. Hoje é o computador...para ouvir música, sobretudo. O ruído tão constante na tradicional audição radiofónica deixou de existir com a internet, permitindo, simultaneamente, outras opções na escolha dos temas e na abordagem à música, mais consentânea com o gosto pessoal do momento. Novos tempos estes. Eu, um dependente da musicalidade clássica, deixei, quase definitivamente, de ouvir vozes que me eram tão familiares na estação preferida. Agora a música está por minha conta, sem conversas intermédias, nem panfletários ou politólogos descontentes, de esgotar a paciência. O progresso também tem destas coisas. Boas, claro.
 
 
E aqui, na blogosfera, neste usual meio de devorar as notícias e os acontecimentos nuns breves instantes, ninguém tem tempo, nem que sejam apenas 3 ou 4 minutos para ouvir uma música, por mais bela que ela seja. Mas porque me cansei das conversas do costume e das lamentações de sempre dos textos e dos apontamentos dos internautas dependentes, quantas vezes me deixo levar pelo som de uma voz ou de um instrumento de excelência, enquanto me perco nos caminhos da pintura.



 
 
E vos deixo com a música de  Chopin, porque é um retrato de um hábito meu.