quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

2011






O ano está a acabar. Como sempre houve de tudo em todo o lado: guerra e paz; alegria e tristeza; esperança e desalento; verdade e mentira. É esta a História da Humanidade. Por cá o desânimo e a angústia são presença constante. Portugal é o que os portugueses querem. 2012 logo se verá. Saúde e bem-estar é o que todos desejam. E todos os anos uns partem, enquanto outros nascem, na roda da vida que é este andar em busca da felicidade que é, eternamente, ilusória. E de ilusão em ilusão construímos sonhos que procuramos edificar. Alguns tornam-se realidade mas, muitos outros apenas são meras divagações neste deambular. E viva 2012.

 O que fiz no ano de 2011, sobretudo, foi pintar, que é a minha grande paixão e o meu projeto de vida. Rodeado daquilo que gosto e procurando tirar o máximo partido do que me é oferecido, todos os dias, tento alcançar os prazeres maiores pintando o que me vai na alma. Vinte e cinco telas foi o que consegui fazer em 2011 entre acidentes e incidentes que a vida comporta. Para o ano, que agora vai começar, espero fazer outro tanto nesta caminhada que é dar sentido e valorizar a vida. A ver vamos.

E vos deixo com as palavras de Victor Hugo que escreveu:


“O homem é uma prisão em que a alma permanece livre.”

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Natal é quando um homem quiser


“…Natal é em Dezembro
Mas em Maio pode ser
Natal é em Setembro
É quando um homem quiser
Natal é quando nasce uma vida a amanhecer
Natal é sempre o fruto que há no ventre da Mulher…”


Fragmento de “Quando Um Homem Quiser” um poema de Ary dos Santos.

Estive a limpar, a envernizar e a catalogar algumas obras. Já não me lembrava de trabalhos feitos nos anos 90. O tempo passa e a memória das coisas também. Foi como se tivesse feito uma viagem ao passado olhando para aquelas pinturas. Cada uma delas resultou de um determinado contexto. Hoje vivo outra realidade e os interesses imediatos são, obviamente, bem diferentes. O que na época era importante pintar e, com isso, comunicar plasticamente uma ideia, não faz sentido hoje para mim. E tudo porque vejo o mundo de um outro modo. E hoje é Natal. E todos os anos é a mesma coisa nesta época: prendas, telefonemas, visitas, passeios, bolos, luzes, música, jantares em família e espírito de cordialidade comunitário. E, no entanto, tudo mudou nos meus interesses, objectivos e sonhos. Sou outro, sendo eu o mesmo. Até no Natal.

Esta imagem é o retrato dos desejos expressivos e que acabam por relatar quem é quem. A arte é o espelho da alma que mostra o que há de mais verdadeiro. Por isso pinto. História da Minha Pintura.

E vos deixo com as palavras de Florbela Espanca:

“A vida é sempre a mesma para todos: rede de ilusões e desenganos. O quadro é único, a moldura é que é diferente.”

domingo, 18 de dezembro de 2011

Prendas de Natal


Todos os anos o mesmo ritual: prendas de Natal. Todos (os que podem) pelas mais variadas razões, na quadra festiva, fazem questão de ofertar alguma coisa a este mundo e o outro. É um bom negócio para os que vendem, todavia, a simbologia tem um alcance único. Aqueles de quem gostamos, porque estão nos nossos corações, têm, certamente, uma prenda. Quando isso não acontece, é mesmo trágico sentimentalmente...

Objetos que fizeram as delícias de várias gerações são hoje peças de museu, de interesse apenas histórico e não um meio de deliciar, cativar e valorizar os saberes através do manuseamento e do desejo de descobrir e inventar fantasias. Com as novas tecnologias os gostos e os modos são agora diferentes. Agora há outros sistemas de captar e atrair os mais jovens e os graúdos donde, muitas das prendas de Natal são, atualmente, bem diferentes do que foram num passado recente. Se tudo muda, obviamente, também as prendas de Natal.

 
Esta pequena aguarela retrata a temática do brinquedo e o prazer que isso gerava. Um pintor é um cidadão do mundo que através das imagens conta o seu tempo e as suas recordações. História da Minha Pintura.

E vos deixo com as palavras de Victor Hugo que disse um dia:

“Os tempos primitivos são líricos, os tempos antigos são épicos, os tempos modernos são dramáticos.”

domingo, 11 de dezembro de 2011

Ontem, hoje e amanhã


O passado é um olhar selecionado sobre o que aconteceu; o presente é uma esperança; o futuro é a eterna incógnita do desconhecido. Três períodos que correspondem a diferente estados de alma. Os objetivos mudam de acordo com o que sucede. Grandes desejos podem descambar em infelizes desfechos; um mero episódio é capaz de conduzir a destinos impensáveis. Tudo é um roteiro de incertezas que rolam segundo um princípio comum: a natureza humana e a imprevisibilidade. É esta a nossa sina.

Esta pintura é um retrato de um espaço e de uma atitude num tempo que tem os seus comportamentos e valores. É hoje assim. Ontem foi diferente e amanhã também, no entanto, o tempo nunca muda a natureza humana, mesmo que as perspetivas sejam temporais. O que é sempre igual está nas emoções. Umas mais expressivas; outras mais surdas; outras ainda mais agrestes, todavia, há uma diferença entre o sensível e a indiferença. Quando estamos perante iguais cenários sensoriais somos todos iguais... ou quase, porque há, também, a loucura dos homens.

“Ontem, hoje e amanhã” é uma pintura em tela de 80X100 com de 2011. Cenário idílico com cores frias procuram ilustrar este meu olhar sobre a condição humana.

E vos deixo com as palavras de Maricá in “Máximas”

“O homem mais sensível é necessariamente o menos livre e independente.”

domingo, 4 de dezembro de 2011

Desconfiança










“Eu corro atrás da memória
De certas coisas passadas
Como de um conto de fadas,
De uma velha, velha história...

Tão longe do que hoje sou
Que nem sei se quem recorda
Foi aquele que as passou,
Ou se apenas as sonhou
E agora, súbito, acorda.”


"Dúvida", Poema de Francisco Bugalho, in "Canções de Entre Céu e Terra"


Hoje há um clima geral de desconfiança. De muitas dúvidas. De medo. O dia de amanhã é uma incerteza completa. Muitos acusam este e aquele num rosário de queixumes. A roda da vida continua. E o mundo muda, para desgosto de multidões. Sempre assim foi. Porque seria agora diferente?

Estas pinturas feitas nos anos 90 procuram ilustrar este nosso modo de sentir e questionar as muitas interrogações que fazem parte do percurso vivencial. Cores fortes e contrastantes, contornando as formas definidoras de espaços, buscam a ilustração das muitas dúvidas que é este andar por aqui em busca do Santo Graal.

E vos deixo com as palavras de Oscar Wilde que disse:


"As nossas tragédias são sempre de uma profunda banalidade para os outros."

domingo, 27 de novembro de 2011

Feiras






Todos os anos realizam-se nas principais capitais, um pouco por todo o mundo, Feiras de Arte. É o espaço, por excelência, onde algumas galerias promovem os seus artistas e procuram os negócios que a arte incorpora. É também uma excelente oportunidade de comparar, de colocar em confronto obras e conhecer um ou outro autor. É igualmente interessante ver que tantos, de níveis etários diferenciados, nos espaços das Feiras, se cruzam num hino à beleza e ao prazer da contemplação. Infelizmente não é o melhor modo de ver e fruir obras de arte. A imensidão e disparidade de peças e o excesso de pessoas perturbam uma análise mais cuidada e contemplativa, no entanto, o mercado é assim que funciona. E sem mercado não há arte que resista. Nem artistas…


Hoje é preciso estar nos sítios certos para se conhecer e dar a conhecer. Há locais míticos que, mercê da tradição e do poderio económico e cultural, são o palco primordial para o reconhecimento e projeção de uma obra, de um projeto, de um artista. O mercado português pela sua diminuta escala restringe a atividade e o circuito artístico é de somenos importância, donde se procuram outros horizontes quando se acalentam sonhos. Quando se sonha…

E vos deixo com as palavras de Johann Goethe:
“Só a arte permite a realização de tudo o que na realidade a vida recusa ao homem.”

domingo, 20 de novembro de 2011

Um minuto




Um minuto passa num instante, no entanto, momentos há em que escassos sessenta segundos parecem uma eternidade. Numa pequena fração de tempo tanto se pode fazer e, com esse gesto, mudar, ou não, um percurso, um desejo, uma vida. Quantos não esperaram por esse minuto em busca de um sonho, de um projeto, de uma iniciativa? Quantos?

Porque vivemos rodeados de tanto e em múltiplas tarefas e interesses, não temos a capacidade total de analisar o que nos cerca. Grandes obras de arquitetos, de engenheiros e de outros profissionais não nos merecem reparos, nem olhares fruidores, por mais bela que seja a obra de arte. É assim este nosso modo de sentir. E de viver. Não há tempo, nem sensibilidade, nem interesse, nem saber que chegue para o muito que nos rodeia. Por mais belo que ele seja.

Estas obras recentes ainda não saíram do ateliê. Poucos foram os que viram, in loco, as peças. Num mundo de tanta produção artística a maior parte do que se faz acaba por ficar no segredo dos deuses. Agora, felizmente, a net veio permitir a divulgação a outros interessados galgando fronteiras e culturas. Hoje é tão simples e prático ver, conhecer e comunicar virtualmente. É um novo universo que se abre na publicitação do muito que se faz. Ganham todos: artistas e fruidores. Mas não há bela sem senão. Ver com os próprios olhos, estar lá, saborear os ambientes tem outro sabor e outro encanto que nenhuma tecnologia nos dá. Só o real. Felizmente.

E vos deixo com as palavras de Nicolas Boileau que disse:

“O tempo que tudo transforma, transforma também o nosso temperamento. Cada idade tem os seus prazeres, o seu espírito e os seus hábitos.”

domingo, 13 de novembro de 2011

Paraíso Perdido




“Quando tornar a vir a Primavera
Talvez já não me encontre no mundo.
Gostava agora de poder julgar que a Primavera é gente
Para poder supor que ela choraria,
Vendo que perdera o seu único amigo.
Mas a Primavera nem sequer é uma cousa:
É uma maneira de dizer.
Nem mesmo as flores tornam, ou as folhas verdes.
Há novas flores, novas folhas verdes.
Há outros dias suaves.
Nada torna, nada se repete, porque tudo é real.”


Poema “Quando tornar a vir a Primavera” de Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjuntos"
Heterónimo de Fernando Pessoa

Tanta gula; tanta avareza; tanta luxúria; tanta ira; tanta inveja; tanta preguiça; tanta vaidade e, tudo isto, sem sentido. É o nosso mundo onde uns nada possuem e outros, bem pelo contrário, tudo querem apesar do muito que já têm. Não há limites para o pior da natureza humana. E, porque somos o que somos, a selva é uma constante no quotidiano de todos nós. Haverá eternamente este hiato entre a verdade e a mentira; entre o bem e o mal; entre o justo e o pecador. Conscientes da fragilidade e dos valores que mudam de acordo com a circunstância, há este infinito desejo de idealizar paraísos perdidos, algures entre o possível e a fantasia. Algures.


“Paraíso Perdido” é uma pintura de 60x60 cm que procura retratar o regresso à natureza. A presença humana é parte integrante da paisagem, com a singularidade de olhar e ver o mundo, onde os desejos de cada um se dissolvem perante o espaço envolvente.

E vos deixo com as palavras de Henri Amiel que escreveu in “Diário Íntimo”:

“Uma paisagem qualquer é um estado de alma.”

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Outra vida



Todos falamos de tudo e opinamos em causa alheia. Não sou advogado. Não percebo nada de leis. Nem eu, nem os meus amigos do costume. Falamos, no entanto, de justiça ou da falta dela. Da nossa justiça. Dos nossos valores. Ou daquilo que julgamos corresponder aos ideais de liberdade e de normalidade numa sociedade regida por normas de salutar convivência. Depois há os casos que ninguém percebe, talvez só os doutores de leis ou o legislador compreendem os labirínticos juízos assertivos. E todos os dias vejo o homem do charuto que rouba à farta e não vai dentro; nem o outro, que matou em terras de Vera Cruz, está bem da vida sem dar contas. É a realidade dos dias de hoje. Aqui. Entre sonhos e tragédias.

Felizmente que tenho o meu mundo. Ele é a música; ele é a leitura; ele é a pintura; ele é os amigos certos. E com tudo isto fico bem enquanto saúde houver. E é neste contexto que nasceu “O Sonho de Lilith”. Esta pintura em tela de 81x100 cm é mais um olhar sobre os nossos espaços e posturas intimistas nos dias de hoje, longe das golpadas e perto dos sonhos, onde impera o deambular por caminhos fantasiosos, em que a multiplicidade de quereres é o fim último. E por isso pinto com os meus conceitos de justiça, de fraternidade e de paixão. História da Minha Pintura.

E vos deixo com as palavras deLuc de Clapiers Vauvenarques:

“Não podemos ser justos se não formos humanos.”

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Excesso








“Discutir gostos é tempo perdido; não é belo o que é belo, mas aquilo que agrada.”

Carlo Goldoni


Vivemos um tempo de exageros. De excessos: na produção, no consumo, nas atitudes. Nas artes também. Há obras a mais. Obras de qualidade muito duvidosa e, no entanto, com grande impacto social, mercê, talvez, da cultura do marketing que promove tudo, independentemente da qualidade do produto. E há gente para tudo. Para todos os gostos. Nunca como hoje tantos tiveram acesso ao saber, contudo, o mau gosto predomina em todo o lado. É o mundo Kitsch. O nosso mundo.

Estas imagens retratam trabalhos de 2003 já esquecidos nesta maré de obras e que surgiram tendo por base o brinquedo. Aqui procurei criar um espaço definidor de um tempo e de um modo. Para mim a pintura é a expressão de um momento vivido e sentido e, é isso que me faz continuar a trabalhar nesta imensidão de fenómenos artísticos com e sem orientação. História da Minha Pintura.

E termino com as palavras de Gillo Dorfles extraída do seu livro “Oscilações do Gosto”:


“…moda: é uma preferência efémera por qualquer coisa não apoiada em parâmetros tão sólidos como os que estão na base de um estilo, de uma diretriz epocal.”

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

8, 9 e 10





Dez dias para pintar uma tela é muito tempo...para alguns. Pintar é só lançar cores numa superfície; tocar um instrumento é apenas uns gestos roçando nas cordas, ou nas teclas; escrever é juntar palavras. Tudo é fácil quando não interessa a qualidade. Difícil é fazer bem ou tentar construir - segundo os critérios da estética contemporânea - uma obra que tenha os ingredientes suscetíveis do agrado de um grande grupo. E porque é mesmo complicado edificar algo que faça a diferença, o tempo da sua elaboração é sempre lato, exceto para os superdotados. A arte tem, contudo, uma norma basilar: exige muito trabalho e nada aparece senão após uma luta enorme e constante, porque não há inspiração sem um árduo e contínuo labor. Todos, mas mesmo todos - os grandes mestres - foram escravos da sua dedicação, numa entrega em que o importante foi o amor e a eterna paixão pelos valores mais sublimes da natureza humana. Felizmente há gente que gosta do que faz. A maioria não!

Estas fotografias mostram os três últimos dias da feitura desta pintura em tela: “Amor de Estudante”. Aqui se vê como é difícil pintar, porque é preciso sempre construir e destruir formas; acumular tonalidades; procurar as harmonias julgadas mais acertadas. É assim a pintura. É assim que eu trabalho. História da Minha Pintura.

E vos deixo as palavras de Lev Tolstoi que escreveu:

“Há pessoas que, ainda que pretendam ocultá-lo, perseguem um fim distinto das outras. A sua atitude perante a vida denuncia-os.”

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Marketing




Passado, Presente, Futuro


"Eu fui. Mas o que fui já não me lembra:
Mil camadas de pó disfarçam, véus,
Estes quarenta rostos desiguais.
Tão marcados de tempo e macaréus.

Eu sou. Mas o que sou tão pouco é:
Rã fugida do charco, que saltou,
E no salto que deu, quanto podia,
O ar dum outro mundo a rebentou.

Falta ver, se é que falta, o que serei:
Um rosto recomposto antes do fim,
Um canto de batráquio, mesmo rouco,
Uma vida que corra assim-assim."


José Saramago, in “Poemas Possíveis”


Vivemos tempos difíceis. De desencanto. De incerteza. De mágoa. O futuro é um mar de muitas dúvidas e nenhumas certezas. A mim resta-me continuar a fazer o que gosto: pintar. Com a verdade e só com a verdade neste mundo de marketing, onde o que conta é o estudo de mercado, a promoção e a publicidade para que haja vendas. Sucessos mediáticos e, no entanto, de conteúdo duvidoso. Tanto se tem feito por esse mundo fora de fraca qualidade, embora muito badalado nos quatro cantos. É assim o nosso tempo. Um tempo de enganos. De falsidades. Até na arte. Grandes retrospectivas, eventos enormes de um vazio (pagos com o dinheiro do contribuinte) numa rede de interesses ao serviço de alguns em nome de todos. É o presente. O futuro é já amanhã.

E vos deixo com as palavras de Anatole France:

“O futuro permanece escondido até dos homens que o fazem.”

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Um, dois, três








Um dia, mais outro e ainda outro e muitos outros serão precisos para realizar tarefas, sonhos, projetos. Uns tornam-se realidade com ou sem sucesso. Outros apenas foram ideias lançadas ao vento, ou iniciadas e nunca terminadas com as expectativas inicialmente criadas. Há, contudo, um acalentar e um ideal de edificar algo de novo, de diferente, de substantivo, de importante. Tudo em nome de uma vaidade pessoal, de um desígnio, de uma afirmação, de uma postura de vida, de uma necessidade de afirmação para dar significado à própria existência. É por isso que tantos, todos os dias começam qualquer coisa que acaba sempre do mesmo modo: bem ou mal.


Estas imagens retratam dias diferentes de uma obra que começou e que talvez um dia seja terminada. Se, porventura, a pintura tiver os ingredientes estéticos adequados e consentâneos com o ideal contemporâneo será uma mais-valia; se, todavia, apenas for mais uma pintura das muitas que todos os dias se fazem sem referências entre os pares e afins, então, apenas resta a consolação dos prazeres da execução que pertencem ao criador. Felizmente, que assim é, pois no mundo da arte o que é verdadeiramente importante - para quem faz – é o prazer do momento da feitura e da contemplação, longe dos olhares dos entendidos e ... dos outros. História da Minha Pintura.


E vos deixo com as palavras extraídas de textos judaicos:

“Todos os dias a nossa vida recomeça de novo.”

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Projetos




Idealizar é um bem que ultrapassa a realidade e que nos faz viver outros mundos e outras vidas. É muito mau quando se perde a noção dos limites e da verdade. É péssimo quando a mentira passa a ser a própria existência. É catastrófico quando tudo se desmorona num mar de calamidade e de destruição. É excelente quando se abrem portas para construir e alcançar outros patamares de felicidade e bem-estar. A fronteira entre projetar bem ou mal depende de nós e só de nós. Sempre.

Esta imagem é representativa do meu modo de trabalhar. Tenho uma ideia pictórica e depressa passo para a tela desenhando. Depois surgem outros projectos e o interesse inicial em realizar a pintura previamente concebida fica na lista de espera. Umas vezes por pouco tempo. Outras não. Demoram anos. E, como acontece muitas vezes, apenas passou de um desejo que outros interesses mais relevantes definitivamente impediram que se tornasse realidade… e as telas, por pintar, continuam a aumentar. A aumentar. A aumentar História da Minha Pintura.

E vos deixo com as palavras de Roger Nimier que disse:

“Um homem sem projetos é o inimigo do género humano.”

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Acabar




Acabar é sempre sinónimo de um fim. De uma conclusão. De qualquer coisa que chegou ao seu termo. Acabar é finalizar um percurso, uma actividade, um acontecimento, um momento, um destino. E há dois lados a analisar: um é o princípio elementar de que o que começa tem de acabar. O outro é o significado desse termo. Para uns é um final feliz. Se é só para uns significa que há sempre alguém que não fica feliz com o fim de qualquer coisa. Acabar é, grosso modo, o desfecho final de tudo que forma a nossa vida. Com alegrias. E tragédias também.


Esta tela de 81x100cm predominantemente com cores frias, onde os azuis e verdes dominam a composição, tem na horizontalidade a expressão maior em termos formais.”Espelho de água” (nome deste trabalho pictórico) faz parte da série, onde a representação da natureza se mistura com a figura humana, numa procura simbiótica de harmonia e beleza. História da Minha Pintura.


E termino com as palavras de Maquiavel, in “Histórias Florentinas”:

“O que tem começo, tem fim.”

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Começar




Começar é, em muitos casos, uma incógnita sobre o que virá depois. Por muito que se calcule; por muitas conjecturas; por muitos exames prévios; por muitas previsões e estudos; por muito que se faça para imaginar o futuro – ele – é, eternamente, uma incerteza. Há sempre imponderáveis a surgir no percurso de uma obra, de uma vida, de um caminho por mais simples que ele seja. Felizmente que é assim, embora gostássemos de saber antecipadamente. A incógnita, a dúvida, a incerteza, o mistério acabam por ser, afinal, o fruto desejado, porque verdadeiramente o que nos atrai é o desconhecido e, por essa razão, iniciamos tantos projectos com a incerteza crendo, contudo, que chegaremos lá, só porque começamos..

É sempre assim que começo a pintar. Gosto de escolher uma cor para a base da pintura; dividir o espaço em quadrículas para que as proporções e a utilização da régua e do esquadro funcionem melhor; desenho com formas simples apenas para colocar os elementos na composição. Depois é que começa o nascimento das cores. E a incerteza também. História da Minha Pintura.

E vos deixo com as palavras de Jean Paul Sartre:
“Nasci para satisfazer a grande necessidade que eu tinha de mim mesmo.”

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Quando vier a Primavera




Quando vier a Primavera

“Quando vier a Primavera
Se eu já estiver morto,
As flores florirão da mesma maneira
E as árvores não serão menos verdes que na Primavera passada.
A realidade não precisa de mim…”

Excerto do poema de Alberto Caeiro, in “Poemas Inconjuntos
Heterónimo de Fernando Pessoa


As cidades cresceram gerando betão e alcatrão em todo o lado e sufocando com tanto carro, gente e barulho a vida das pessoas. E surgiram como um oásis -no meio de tanta construção - os jardins, também eles um modo controlado de gerir a natureza. Nos dias de hoje tudo é planeado: plantas, árvores, formas e cores. E é pelo desejo de fugir de tanto bulício que se vai ao jardim. As crianças brincam, os adolescentes criam os espaços romanceados e, os outros, encontram o silêncio e o ar puro( possível) que procuram. É pois, nesta atmosfera mista de natural e artificial que, na ilusória vivência, se convive com a natureza nas cidades. Aos domingos. E só aos domingos…

Esta pintura “Jardim Encantado”, em tela, de 73x92 cm, é um retrato de um espaço inventado onde a natureza humana se mistura com a beleza das flores numa procura e numa comunhão de formas e cores. É assim este meu modo de olhar o mundo e procurar o encanto e a formosura fugindo ilusoriamente de tanto betão, tanta injustiça e tanto desencanto. História da Minha Pintura.

E vos deixo com as palavras de Jean Jacques Rousseau:

“A natureza nunca nos engana; somos nós sempre que nos enganamos.”

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Os dois horizontes




“Dois horizontes fecham nossa vida:
Um horizonte, - a saudade
Do que não há de voltar,
Outro horizonte, - a esperança
Dos tempos que hão de chegar;
No presente, - sempre escuro, -
Vive a alma ambiciosa
Na ilusão voluptuosa
Do passado e do futuro…”


De Machado de Assis, in “Crisálidas”


Arte é fingimento; é ilusão; é fuga; é invenção. História da Minha Pintura.


E vos deixo com as palavras de Paul Valéry in “Tal Qual”:

"espaço é um corpo imaginário, como o tempo é um movimento fictício."

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

O Teu Olhar



O Teu Olhar

"Passam no teu olhar nobres cortejos,
Frotas, pendões ao vento sobranceiros,
Lindos versos de antigos romanceiros,
Céus do Oriente, em brasa, como beijos

Mares onde não cabem teus desejos;
Passam no teu olhar mundos inteiros,
Todo um povo de heróis e marinheiros,
Lanças nuas em rútilos lampejos;

Passam lendas e sonhos e milagres!
Passa a Índia, a visão do Infante em Sagres,
Em centelhas de crença e de certeza!

E ao sentir-se tão grande, ao ver-te assim,
Amor, julgo trazer dentro de mim
Um pedaço da terra portuguesa!"

Florbela Espanca, in a “Mensageira das Violetas”

“Pedro e Inês”é uma pintura em tela de 73x92 cm que retrata a sedução entre dois jovens num jardim. São muitas as histórias que se podem contar sobre o relacionamento humano e as ondas de felicidade ou as tragédias que envolvem. Aqui parti da alusão histórica para construir uma imagem onde as formas e cores procuraram gerar um ambiente paradisíaco. A pintura é isso mesmo: sedução e fantasia. História da Minha Pintura.

E vos deixo com as palavras extraídas de textos judaicos:

“São os olhos que dizem o que o coração sente.”

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Um ano depois




O tempo foge. Foge sempre quando olhamos para o passado. Tudo parece andar demasiado depressa quando desejamos viver mais o presente e a vida. Nem para todos é assim. Para alguns, bem pelo contrário, os dias são eternamente longos. Até as horas. Até os minutos. Depende do que queremos no instante ou no percurso do caminhar em busca do significado da existência. Depende de cada um. O tempo é sempre o mesmo. As horas duram o que duram de igual modo. Nós não. Umas vezes tudo parece certo. Mas só raras vezes. E sempre assim será. Felizmente. Ou talvez não.

Estas telas são apenas algumas feitas no espaço de um ano. Foi muito trabalho. Foi pouco trabalho. Umas vezes correu bem. Outras, como acontece muito comigo, não podia ser pior. É o meu desencontro com a vida, com a história, e com tudo que transforma os meus dias umas vezes curtos, outros, bem longos. Eu queria tanto mostrar tanto , tanto. Mas não sou capaz. Sou vencido pela preguiça, pela incapacidade de criar mais e sempre tendo como desculpa: o tempo. O tempo, esse, tem o seu tempo. História da Minha Pintura.


E vos deixo com as palavras de Carlos Drummond de Andrade



Perder tempo em aprender coisas que não interessam, priva-nos de descobrir coisas interessantes.”


segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Eu sou do tamanho do que vejo



"Eu Sou do Tamanho do que Vejo
Da minha aldeia veio quanto da terra se pode ver no Universo...
Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não, do tamanho da minha altura...
Nas cidades a vida é mais pequena
Que aqui na minha casa no cimo deste outeiro.

Na cidade as grandes casas fecham a vista à chave,
Escondem o horizonte, empurram o nosso olhar para longe de todo o céu,
Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos nos podem dar,
E tornam-nos pobres porque a nossa única riqueza é ver."


Alberto Caeiro, in "O Guardador de Rebanhos - Poema VII"
Heterónimo de Fernando Pessoa


“Um dia no campo” é uma tela de 80x100 cm em que inicio, de novo, a representação da natureza onde as cores dominam a composição num eterno jogo de múltiplas formas e de cambiantes cromáticos. História da Minha Pintura.

E vos deixo com as palavras de Johann Goethe in “Natureza e Arte.”:


“A natureza e a arte parecem afastar-se, mas antes que o pensemos já elas se encontraram.”

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Mãe e filho




Quando Eu For Pequeno


“Quando eu for pequeno, mãe,
quero ouvir de novo a tua voz
na campânula de som dos meus dias
inquietos, apressados, fustigados pelo medo.
Subirás comigo as ruas íngremes
com a certeza dócil de que só o empedrado
e o cansaço da subida
me entregarão ao sossego do sono…”

De José Jorge Letria


Na História da Arte o tema da “Mãe e Filho” é eternamente recorrente. A “Pietá” de Miguel Ângelo; as “Madonas” renascentistas; Picasso e o período azul; Almada com inúmeros desenhos com mães e filhos e tantos outros, tantos outros. A arte é o reflexo da vida e sempre o elo umbilical constará como forma de analisar - através dos diferentes domínios artísticos - a maravilhosa relação entre seres que estão unidos pelos afectos e pelo sangue. Felizmente que é assim. E porque somos como somos os artistas retratam infinitamente este modo de estar, de conviver, de amar, e de dar sentido à vida. Uma mãe é uma mãe. Amor de mãe é único. E ter um filho é ter uma responsabilidade para os dias todos. Quantas histórias, quantos episódios, quantas dores, quantas alegrias neste relacionamento? E porque é tão abrangente procurei, também eu, retratar uma mãe e um filho comungando um momento igual a tantos outros mas que é sempre muito vivido e amado.

“ O pequeno-almoço” tela de 73x92 cm é uma cena doméstica onde o uso da perspectiva e os diferentes cromatismos acentuam a profundidade e dominam esta composição, cheia de linhas de muitas orientações, na busca da ilusão do espaço. História da Minha Pintura.

E vos deixo com as palavras de Sófocles in "Fedra":

Os filhos são para as mães as âncoras da sua vida.”

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Fragmentos







A análise de tudo é fragmentada. Qualquer simples episódio é analisado através da síntese do facto em si. Tudo, mas mesmo tudo, é apenas uma parcela da realidade. Por mais criterioso que seja o julgamento fica muito por dizer e por considerar. É mesmo assim. Apenas interessa o que é fundamental ou tido por necessário. E a verdade, tantas vezes, é bem diferente do juízo final e da consideração social. É este o nosso mundo. No passado e no presente.

Estas imagens fazem parte de uma pintura que fiz em tempos idos. Cada um destes elementos falam por si e dizem muito, no entanto, porque são apenas parcelas dizem pouco da globalidade, desta tela de 81x100 cm que narra uma atmosfera oriental e um momento vivencial tão comum em muitos meios citadinos. A arte e a vida devem ser vistas no seu conjunto e não apenas em esporádicos episódios como é comum, aqui e em muito lado, nos dias de hoje. Infelizmente. História da Minha Pintura.

E vos deixo com as palavras do padre António Vieira:

“Para falar ao vento bastam palavras, para falar ao coração são necessárias obras.”

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Perdidos e achados




Perder e encontrar é sempre bom. Há uma sensação quase de alívio e de bem-estar. Também há quem encontre sem ter perdido nada. Encontrar o que não lhe pertence tem outro sabor: desinteresse, gula ou pena. Do que não gostamos pouco queremos saber; ter mais é um mal dos gananciosos, sobretudo se apenas se pretende ter, e, ter mais, mesmo que seja indevidamente; quando entramos no calvário dos outros sentimos dó e acompanhamos a dor da perda. Há de tudo, para todos os gostos, neste mundo de perdidos e achados. Tudo mesmo.


Perder ou encontrar qualquer coisa é tão normal. Sempre fui um desencontrado com tudo. Nunca sei onde deixo os mais banais objectos. Penso (erradamente) que só me devo preocupar com valores maiores. É um puro engano. Perde-se concentração e sentido de orientação. Eu sou assim. E, talvez, por isso gosto de pintar temáticas onde a incerteza está presente. A minha pintura é o melhor retrato deste modo de registar as fraquezas, em que “perdidos e achados” são a expressão maior deste meu modo de ver e sentir o que me cerca.


Esta tela marca mais uma etapa desta série pictórica que está a chegar ao fim. A representação feminina no espaço fechado irá dar lugar ao exterior onde a verdura campestre e o azul dos céus ocuparão um lugar de destaque fugindo, assim, deste hermético casulo que tem sido a característica dominante dos meus últimos trabalhos.

Esta tela (81X100cm) é um confronto de cores e luzes numa perspectiva psicológica do estar e do ser num contexto, aqui num retrato: “Mara.” História da Minha Pintura.


Recordo hoje as palavras de Clarice Lispector:


“Perder-se significa ir achando e nem saber o que fazer do que se for achando.”

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Retratos







Quando nos olhamos procuramos sempre ver o lado bom de nós próprios. Os outros, por amizade, cortesia, inveja, ou cinismo encontram uma outra dimensão daquilo que somos, ou parecemos ser. Ninguém reúne o consenso quer do positivismo, quer da maledicência. Há sempre alguém que encontra algo para contrariar e qualificar. Somos pois uma mistura de conceitos, de valores, de expressões. Para uns é valorizado o lado estético; para outros a dimensão humana, o carisma, a inteligência, isto e aquilo, ou, bem vistas as coisas todos temos, ou não, um pouco de tudo. Para o bem ou para a desgraça.

Na História da Arte muitos foram os auto-retratos deixados pelos artistas. As imagens aí estão: umas em pedra, outras em tela, outras em vídeo, outras em fotografia e outras, até, criadas pelo imaginário colectivo. É fácil reconhecer, em muitos casos, quem foram os autores das obras e, nem imaginamos como eram fisicamente os seus criadores. Quem conhece um pouco de pintura reconhece as obras de Matisse, de Bonnard ou de Modigliani, no entanto, pode desconhecer, em absoluto, a fisionomia de cada um deles. Hoje, graças sobretudo à fotografia e às suas características técnicas, uma imagem traduz com fidelidade a realidade, embora, ela, agora, mais que nunca, possa ser transfigurada. E curioso é que não associamos, muitas vezes, as obras à fisionomia e até ao sexo. A obra de arte é assim um produto que transporta consigo muitas interrogações entre o acto de fazer, os seus artistas e a sua natureza. História da Minha Pintura.


E vos deixo com as palavras de Florbela Espanca:


“ Um retrato é apenas a ideia aproximada de uma pessoa. A graça de um sorriso, o olhar, a expressão e tudo quanto para mim é a beleza, não pode verdadeiramente existir num retrato.”

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Ler e escrever







Nunca como hoje se leu e escreveu tanto. A internet a isso obriga, mesmo que muitos escrevam simplificando as expressões e criando um vocabulário pouco ortodoxo. Coisas do nosso tempo. Do tempo das novas tecnologias. Os livros, esses, ficam infelizmente na estante. Outros usos e costumes os de hoje. E não vale a pena lutar contra moinhos de vento. É uma perda imensa não conhecer os grandes clássicos que tantas obras-primas criaram na arte da palavra escrita. Mas tudo muda. Até a leitura. Até a escrita.


Estas duas telas ilustram momentos em que a escrita e a leitura são parte do nosso viver. Os suportes, processos e meios podem mudar e estarão sempre a mudar, no entanto, todas as gerações precisam de saber ler e escrever, mesmo que um dia a tecnologia substitua tudo pela tradução oral. E a arte narra um tempo e um estar, como penso que acontece aqui nestes trabalhos pictóricos. Cores e formas substituindo a escrita descrevem um outro modo de ler a realidade. A pintura é isso mesmo. Um outro olhar. Uma outra leitura. Uma outra escrita. História da Minha Pintura.

E vos deixo com as palavras de Jorge Luis Borges:

“ Chega-se a ser grande por aquilo que se lê e não por aquilo que se escreve.”