domingo, 29 de janeiro de 2012

Um Olhar


"Passam no teu olhar nobres cortejos,
Frotas, pendões ao vento sobranceiros,
Lindos versos de antigos romanceiros,
Céus do Oriente, em brasa, como beijos,

Mares onde não cabem teus desejos;
Passam no teu olhar mundos inteiros,
Todo um povo de heróis e marinheiros,
Lanças nuas em rútilos lampejos;

Passam lendas e sonhos e milagres!
Passa a Índia, a visão do Infante em Sagres,
Em centelhas de crença e de certeza!

E ao sentir-se tão grande, ao ver-te assim,
Amor, julgo trazer dentro de mim
Um pedaço da terra portuguesa!"


"O Teu Olhar" de Florbela Espanca, in "A Mensageira das Violetas"
Esta pintura "Espelho Meu" em tela de 60x60 cm procura ilustrar um olhar sobre nós próprios numa busca pela identidade e pela aparência física. Quantas interrogações? Quantos discursos? Quantos olhares trocados tiveram como palco o espelho?
Porque o espelho carrega consigo uma simbologia que nos remete para imaginários múltiplos; porque o nosso olhar (perante o espelho) é um confronto com aquilo que somos enquanto matéria; porque a imagem refletida é apenas a aparência daquilo que representamos, pintar este tema é, sempre, uma viagem em que os valores plásticos se cruzam com as teorias do eu. Quem somos? Donde viemos? Para onde vamos?

Porque entendo que a pintura é, sobretudo, uma análise da vida, dos seus interesses e dos significados que comporta este viver social das muitas certezas e das infinitas dúvidas, tenho como objetivo, em cada trabalho que faço, interrogar-me e colocar, nos outros, labirínticos caminhos de descoberta e de procura. História da Minha Pintura.
E vos deixo com as palavras de François La Rochefoucauld, in “Máximas”, que disse um dia:
“Por vezes, somos tão diferentes de nós mesmos como dos outros.”

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Influências - (II)

João Alfaro


Vermeer

Viajar é um privilégio; uma benesse; um enriquecimento; uma descoberta constante. Ver outros povos, outras culturas, outros modos de sentir e de comungar é fundamental para compreender que mundo é este, em que estamos todos numa só jangada no universo. Sair do nosso burgo e ir por aí em busca do desconhecido é uma aventura e o resultado final é, sempre, mais saber acumulado. E nada mais importante que saber mais. Cada dia deve ser em busca de interesses e de encontros que promovam o desejo de viver com mais prazer. Viajar é um modo simples de adquirir, mesmo que a viagem se restrinja ao nosso cantinho, por mais pequeno que ele seja, porque acontecem coisas e, porque assim é, vale sempre a pena. Eu viajo ou pelo meu cantinho, ou por espaços maiores e mais distantes, ou como acontece muito, imaginando viagens sem fim. Ou não fosse o sonho… uma eterna viagem.

E, porque viajo, descobri muitos artistas de quem gosto imenso. Se tivesse de escolher somente cinco um deles seria certamente: Vermeer. A sua obra, que se eclipsou durante séculos, é hoje uma referência pela genialidade plástica e sensorial. Os seus trabalhos são de uma beleza que encanta e, por isso, muito do que faço tem como suporte a sua referência. Os ambientes, as cores, os temas, a pincelada, o requinte narrativo, tudo é belo. E mais belo é quando se tem a oportunidade de ver, in loco, como eu vi, obras deste holandês do século XVII.
E vos deixo com as palavras de Victor Hugo que escreveu um dia:
“Tudo quanto é belo manifesta o verdadeiro.”

domingo, 15 de janeiro de 2012

O Beijo


João Alfaro - O Beijo - Pintura em tela de 100x100cm, 2012



Tino Rossi - Besame Mucho, 1945

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Influências - (I)





Nasci em África. Adoro a Europa. Sou profundamente ocidental. Gosto da liberdade. Detesto o fundamentalismo. Falar, conviver, circular, ver, admirar, prazentear, galentear e amar são modos de estar e sentir, neste canto do mundo, que me faz adorar a vida como a vivo, sem receios nem constrangimentos, embora haja as injustiças do costume, que acompanharão a história da humanidade, eternamente. Aqui, e, em todo o lado. E, porque posso andar por aí, sou o que sou, hoje influenciado por uns, amanhã por outros. Sempre. Felizmente.

Porque a Europa me diz tanto com a sua cultura tão diversa e criativa, o meu trabalho é a soma das muitas influências de tanto ver, de tanto viajar, de tanto querer. Como pintor gosto de tantos que, com dedicação, em tempos tão diversos, deram ao mundo obras que encantam. Grandes mestres de todos os domínios artísticos e da ciência edificaram obras que influenciam as novas gerações, numa espiral de descoberta e magia. Porque assim é, aqui, na Europa, longe do obscurantismo, este velho continente ainda é o espaço da beleza e dos direitos humanos.

Quando pinto vou buscar tudo de tantos desta velha Europa. Esta minha pintura com a geometria que procura destacar a profundidade é resultante do meu olhar pelos grandes mestres, como Rafael, um dos maiores do Renascimento, que deram ao mundo maravilhosas obras-primas que, ainda hoje, são referentes nesta procura pela descoberta do maravilhoso e do fantástico que é a arte.

E vos deixo com as palavras de Alfred de Musset que disse um dia:

“Os grandes artistas não têm pátria.”

domingo, 1 de janeiro de 2012

2012




Começou 2012. Como sempre as interrogações e as dúvidas estão presentes. Os tempos são difíceis. A Europa não está em guerra (aparentemente), no entanto, outras preocupações ocupam toda a gente. O desemprego é galopante; as perspetivas de melhores dias, no Ocidente, parecem ter já acontecido. Que nos espera?

É neste desencontro entre a realidade e a ficção que procuro viver com a serenidade possível. Um dia de cada vez é o meu lema de vida. Vendo bem, é assim que coisas se passam: um dia de cada vez. Todos temos, nos nossos conceitos de vida, uma forma de estar e sentir. Tudo depende do contexto. Quem não tem saúde quer que ela volta de novo; quem vive num inferno deseja a paz; quem está preso quer a liberdade; quem é livre sonha com a felicidade plena. Todos querem mais porque não há limites para nada e, se, porventura, os bens materiais estão ao alcance, então, faltam os outros que são, obviamente, e, felizmente, mais difíceis, fazendo da condição humana um limbo de possibilidades ou da falta delas. Somos assim. Para o melhor. E para o pior…

Estas imagens retratam o meu universo hoje. Do que gosto mesmo é de viver rodeado da minha pintura, sabendo bem que sou um construtor de imagens, num mundo de imagens. E, porque é tão difícil fazer algo que faça a diferença e que estimule a curiosidade, para catapultar para outros patamares de interesses, vivo um dia de cada vez, nesta maré de sonhos que é uma forma de vida ou, não fosse a vida, um trajeto de certezas e enganos.

E vos deixo com as palavras de Voltaire que escreveu um dia:

“Deus concedeu-nos o dom de viver; compete-nos a nós viver bem.”