domingo, 31 de janeiro de 2010

Espelho meu



A imagem - a nossa imagem - é o que somos: muito ou pouco. Hoje, como nunca, o que conta é a imagem. Um gesto, uma atitude menos pensada, uma palavra, um modo de estar, uma crítica podem ser, por si só, o bastante para construir ou deitar abaixo um percurso de vida. E, depois, neste fundamentalismo social tudo pode acontecer. Ninguém está livre das intrigas, das malícias e do bota-abaixo. É o nosso tempo. O tempo dos oportunistas e salvadores da pátria. E basta uma imagem para idolatrar ou não. Uma simples imagem.

Esta tela é um retrato onde as imagens reais ou virtuais se confundem. Aqui utilizei a representação de um espelho que reflecte uma imagem que comunica ou não. Coisas da vida e da arte. As pinceladas e o desenho repentino caracterizam esta faceta dos anos 90. Neste período o desejo de trabalhar era imenso, porque queria dizer tanto sem dizer nada. História da Minha Pintura.

Recordo hoje as palavras de Johann Goethe:

“Falar é uma necessidade, escutar é uma arte.”

sábado, 30 de janeiro de 2010

Sonhar de novo



Sonhamos muito. Sonhamos com desejos e com angústias. Sonhamos. Sonhamos todos os dias, mesmo pensando que não sonhamos. E ao sonhar construímos quimeras que o tempo dirá se foram fantasias, ou realidades antecipadas. Infelizmente quando se sonha muito e nada resulta é enorme a tristeza . Tudo parece perdido e o desencanto habita em nós. O tempo e a serenidade, talvez nos tragam de volta a alegria e o prazer das coisas, quando a esperança se foi. É a vida. Com os bons e os maus momentos.

Esta tela retrata um sono onde a panorâmica da grande cidade mergulha na envolvência do sonho. Servindo-me de um modelo pintei este retrato e, em simultâneo, como pano de fundo - Lisboa. Porque a pintura não é a realidade, de quando em vez, fujo (tal como nos sonhos) para representações espaciais sem a ordem natural das coisas. Aqui quis pintar em tons rosa o casario de uma cidade branca. Coisas da pintura…História da Minha Pintura.

E vos deixo com as palavras de Marcel Proust:

“Mais vale sonharmos a nossa vida do que vivê-la, embora vivê-la seja também sonhar.”

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Bancos de jardim



Há sempre um banco de jardim que espera por nós. E é neles que descansamos (quando descansamos) das caminhadas ou do desejo de contemplar, por momentos, quem passa ou a natureza circundante. E há tanto banco de jardim à nossa espera…

Esta pintura em tela retrata um banco de uma zona ribeirinha de Lisboa tão conhecida das suas gentes. Aqui numa pincelada com relativa proximidade formal procurei criar um jogo de cores e formas que fossem apelativas. Para fazer este trabalho bastou-me ter levado um caderno e no desenho que fiz, in loco, (como faço muitas vezes) apontei as cores próprias do meio. A pintura exigiu também rigor no desenho e um cuidado quase milimétrico nas pinceladas. História da Minha Pintura.

Recordo hoje as palavras de Lao-Tsé:

“Nada é impossível a quem pratica a contemplação. Com ela, tornamo-nos senhores do mundo.”

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

As grandes coisas



Todos queremos fazer grandes coisas. E fazemos grandes coisas quando pensamos e ajudamos os outros; quando deixamos um legado para os nossos e para as gerações vindouras; quando lutamos por ideais sem fomentar o ódio e o rancor; quando deixamos de olhar para o nosso umbigo e pensamos com olhos de ver; quando dizemos não à hipocrisia; quando olhamos o nosso semelhante como se fosse o nosso retrato. Isso, sim, são grandes coisas.

Esta aguarela é o retrato da figura maior da poesia portuguesa e do simbolismo da luta por uma nação com séculos e de muitas lutas (certas e erradas) que fazem a História deste povo. Este trabalho nasceu para responder a um pedido editorial. Tecnicamente o processo é simples: primeiro prepara-se o papel ( lavado com água) e depois o desenho com o lápis de cor amarela ( de preferência) para a construção das linhas e finalmente num prato branco misturo as tintas. História da Minha Pintura.

E vos deixo com o soneto “Cá nesta Babilónia” de Luís de Camões:

“ Cá nesta Babilónia, donde emana
Matéria quando mal o mundo cria;
Cá, onde o puro Amor não tem valia,
Que a Mãe, que manda mais, tudo profana;

Cá, onde o mal se afina, o bem se dana,
E pode mais que a honra a tirania;
Cá, onde a errada e cega Monarquia
Cuida que um nome vão a Deus engana;

Cá, neste labirinto, onde a Nobreza,
O valor e o Saber pedindo vão
Às portas da Cobiça e da Vileza;

Cá, neste escuro caos de confusão,
Cumprindo o curso estou da natureza.
Vê se me esquecerei de ti, Sião! "

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

As pequenas coisas




A vida é feita destas coisas. Das coisas que gostamos. E gostamos de pequenas coisas. Pequenas coisas que são grandes coisas. Coisas que nos deliciam e nos situam connosco e com o mundo: fotografias que trazemos na carteira dos que amamos; lembranças dos sítios que nos deixaram saudades; objectos que nos identificam; formas e cores que constituem a nossa estética; espaços de lazer onde mais gostamos de estar; o cafézinho da manhã; e tantas, tantas outras coisas que, sem elas, ficamos perdidos. Eternamente perdidos.

Esta tela é um retrato de um espaço caseiro onde os objectos circundantes definem um modo de vida e de gosto. Aqui, como sempre, utilizei a perspectiva com dois pontos de fuga. Quando as telas são grandes trabalho no chão com fios (para construir as linhas das perspectivas), régua e esquadro na feitura do desenho. Depois, depois é pintar, no cavalete, numa luta pelas cores “certas” até encontrar os tons apropriados. Cada pintura é sempre um jogo de construções e destruições. História da Minha Pintura.

Recordo hoje as palavras de John Watson:

“ O que nós somos, é o que fazemos, e o que fazemos é o que o ambiente nos faz fazer.”

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

A inveja




Não há nada a fazer. Somos o que somos. As leis da vida e dos homens não se regem pela justiça, nem pela bondade, nem pela sabedoria. E porque assim é, vêm ao de cima os nossos males. Um deles é a inveja. Invejamos. Invejamos o sucesso dos outros. Invejamos tanto. E de tanto invejar até odiamos e inventamos histórias mil de escárnio e maldizer. É a inveja a triunfar. Não há nada a fazer.

Esta aguarela é o retrato social do conviver, onde existe o melhor e o pior no relacionamento humano. Este trabalho foi feito para ilustrar um livro (que não foi editado) e que tentava captar características de personagens tipificadas. Cores suaves numa abordagem a Lisboa fazem a história desta obra que me cativou porque retratei poetas da nossa praça. História da Minha Pintura.

Recordo hoje as palavras de Pierre Corneille:

“Nunca um invejoso perdoa ao mérito.”

E vos deixo com Mozart que criou muitas invejas entre os seus pares pela genialidade que nos maravilha sempre que escutamos a sua obra. Aqui “Le Nozze di Figaro” no final do 2º acto.


segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Balelas








Balelas. Podem dizer o que quiserem. Podem fazer isto e aquilo. Podem inventar tudo. Podem mover montanhas mas, há a verdade das coisas, independentemente das leis dos Homens. Leis que valem o que valem. E valem muito pouco quando condenam inocentes e libertam criminosos. E, quando assim é, o que conta são os factos. Factos são factos. O resto são balelas. Balelas.


Estes desenhos são a expressão do jogo que, como todos os jogos, se compõe de emoção e de desejo de conquista onde se luta, umas vezes, com a verdade e, outras, com a falsidade . Aqui traços rápidos procuram registar o movimento e as características das posturas dos intervenientes. Para captar a síntese do jogo procurei apenas a essência formal utilizando a tinta-da-china e o papel. História da Minha Pintura.


E vos deixo com o poema "Mentiras" de Florbela Espanca, in "A Mensageira das Violetas":

"Tu julgas que eu não sei que tu me mentes
Quando o teu doce olhar pousa no meu?
Pois julgas que eu não sei o que tu sentes?
Qual a imagem que alberga o peito meu?

Ai, se o sei, meu amor! Eu bem distingo
O bom sonho da Feroz realidade...
Não palpita d`amor, um coração
Que anda vogando em ondas de saudade!

Embora mintas bem, não te acredito;
Perpassa nos teus olhos desleais
O gelo do teu peito de granito...

Mas finjo enganada, meu encanto,
Que um engano feliz vale bem mais

Que um desengano que nos custa tanto!"

domingo, 24 de janeiro de 2010

Sonhar




“ O que sonhei e antes de vivido
Era perfeito e lúcido e divino,
Tudo quanto sonhei se foi perdido
Nas ondas caprichosas do destino.

Que os fados em mim mesmo depuseram
Razões de ser e de não ser, contrárias,
Nas emoções que, dentro de mim, cresceram
Tumultuosas, carinhosas, várias.

Naqueles seres que fui dentro de um ser,
Que viveram de mais para eu viver
A minha vida luminosa e calma.

Se desdobrarem gestos de menino
E rudes arremedos de assassino.
Foram almas de mais numa só alma. "


Francisco Bugalho, “Tudo quanto sonhei se foi perdido”, in “Dispersos e inéditos”.


Esta pintura é o retrato de um dormir. A serenidade, a elegância e a beleza fazem parte desta representação onde a liberdade dos caminhos do sonho nos leva sempre por aí, felizmente. Este trabalho é resultante de poses estudadas, de modelos escolhidos e de uma temática que me seduz. Selecciono as cores e o enquadramento para enfatizar conceitos estéticos e depois é o costume: paciência, gosto e vontade de criar formas com as regras dos materiais. História da Minha Pintura.


E vos deixo com a música de Gluck, e a voz de Juan Diego Flórez cantando “J`ai perdu mon Eurydice.


sábado, 23 de janeiro de 2010

Renascer



Renascer é voltar de novo e, no entanto, quando se regressa nada é como dantes. Alguma coisa mudou. E porque mudou, agora, os caminhos a percorrer têm outras etapas, com outras características, com outros objectivos. Tudo passa tão depressa que nem damos conta. Hoje uma coisa, amanhã outra e, pouco a pouco, vivemos num mundo diferente, de gente diferente, com ideias diferentes, porque renascer é inovar mesmo sem querer.

Esta tela marca o regresso à pintura. Foi longo o período de pausa. Por isto e por aquilo. Agora preciso de ter os mesmos desejos, a mesma força anímica e a mesma crença. Nestas coisas da arte é como no desporto – treinar, treinar, treinar para estar em forma. Aqui é preciso método, rigor e naturalmente alguma capacidade criativa. O futuro será o juiz e os fruidores os julgadores. Gosto de imaginar contextos paisagísticos e poses banais que, por serem banais, têm o encanto da verdade das coisas. História da Minha Pintura.

E vos deixo com um excerto do poema “A Espantosa Realidade das Cousas” de Alberto Caeiro ( heterónimo de Fernando Pessoa), in “Poemas Inconclusivos”:

“A espantosa realidade das cousas
É a minha descoberta de todos os dias.
Cada cousa é o que é,
E é difícil explicar a alguém quanto isso me alegra,
E quanto isso me basta…”

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Jazz




A música faz parte da nossa vida. É tão simples criar sons. Difícil é conjugar e harmonizar o que os diferentes instrumentos produzem. E porque é tão fácil os gostos musicais são o que são. Vale tudo. Barulho com fartura é o que basta nos dias de hoje. Tudo é “música”. Infelizmente (para o meu gosto).

Lá vai o tempo em que gostava de ouvir os sons do jazz. Era o bulício citadino tão presente; era a invenção do momento; era a harmonia da liberdade; era o espírito da mudança. Hoje é tudo tão diferente. Os meus gostos musicais são outros. Quando se descobre a beleza do canto operático tudo muda. E eu mudei. Felizmente. Esta tela (dos anos 80) é um mero exercício de procura. Os artistas fazem todos esboços pictóricos para preparar as grandes telas. Foi o caso. Aqui pinceladas soltas e cores saturadas fazem a história deste trabalho. História da Minha Pintura.

Françoise Sagan disse um dia, in “Um certo Sorriso”:

“- A música de jazz é uma inquietação acelerada.”

E vos deixo com o jazz e Louis Armstrong cantando What A Wonderful Word”.


quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

As companhias



Somos seres gregários, vivemos em comunhão e estamos sempre em sociedade. E assim criamos laços de companhia, de afecto, de camaradagem. E tudo acontece desde os primeiros momentos. Desde crianças que formamos os grupos de interesse. E com o tempo seleccionamos e optamos por estes ou por aqueles amigos. E também pelos inimigos, porque isto das amizades acarreta o outro lado, o lado das invejas, dos conflitos, dos interesses opostos, ou não fossemos nós eternos conflituosos. E assim andamos com as boas ou as más companhias…

Esta tela é um retrato de pessoas que podem ser as amizades do momento, da circunstância ou da vontade própria. A simplicidade das posturas e o espaço livre buscam em termos plásticos criar uma imagem que traduza o modo de estar e ser num mundo gregário. A escala, a relação anatómica e o espaço procuram formar um todo harmonizado com o contraste das cores. História da Minha Pintura.

E recordo hoje as palavras de Sébastien-Roch Chamfort:

Neste mundo, existem três espécies de amigos: aqueles que nos amam, aqueles que não se preocupam connosco, e os que nos odeiam.”

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Sociedade de consumo




A vida é feita das pequenas coisas. Os grandes gestos são para a História dos Homens. A vida, a vida das pessoas, é aquilo que se faz no dia-a-dia. Pequenos actos, repetição das rotinas, banalidades constantes. É assim a vida das pessoas: amor aos seus e desejos. O resto é para os manuais dos bons costumes e das boas práticas. O que gostamos é de ter prazer nas coisas. Nas pequenas coisas. Com os nossos. Com os amigos do costume. Nos sítios do costume. Com as coisas do costume. Com os vícios do costume. Consumismo, pouco ou muito é como vivemos. Na sociedade de consumo.

Esta tela é mais uma das minhas muitas procuras. Nem sempre os trabalhos correspondem aos desejos. As ideias acabam por ficar aquém do expectável, como julgo ser (este) o caso. Aqui há elementos formais em demasia para configurar um objectivo que é pintar com sentido estético e, ao mesmo tempo, transmitir uma ideia: sociedade de consumo. História da Minha Pintura.

E recordo hoje as palavras de Voltaire:

“Nem sempre podemos agradar, mas podemos falar sempre agradavelmente.”

E vos deixo ( esta sim, uma obra conseguida que merece atenção e fruição ) com a música de Carl Orff e "Carmina Burana" que nos fala da deusa da Fortuna, da relação do Homem com a Natureza, do vinho, do amor e da glorificação da vida.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Algures




Vivemos tanto. Tantas lembranças, tantas coisas boas e más fazem parte deste nosso caminhar. Por aqui e mais por ali. E de tanto caminhar perdemos a precisão dos sítios, dos actos, das vivências. E algures se viveu este ou aquele episódio, neste ou naquele sítio. Algures.

Esta pintura em tela é um retrato tendo como fundo uma paisagem onde o lugarejo invade a serrania algures por aí. Como é usual, na minha pintura, procuro contextualizar ambientes e acções. Aqui o pretenso diálogo é predominante na temática pictórica. As poses e o lugar procuram clarificar a atmosfera entre as personagens. Cores, enquadramento e formas definem este trabalho que foi executado, como sempre, do mesmo modo: primeiro desenho; depois pinto sobrepondo as cores até encontrar os tons julgados correctos. História da Minha Pintura.

E vos deixo com o excerto do poema “Conversa Sentimental” de Paul Verlaine, in “Festas Galantes”:

“ No velho parque deserto e gelado
Duas formas passaram há bocado.

Com os olhos mortos e os lábios moles,
Mal se ouvem, a custo, as suas vozes.

No velho parque deserto e gelado
Dois espectros evocaram o passado.

-Recordas-te do nosso êxtase antigo?
- Porque razão acha que ainda consigo?

Bate ao ouvires meu nome o coração?
Vês ainda a minha alma em sonhos? – Não…”

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

A grande cidade



É na grande cidade que está tudo. Gente com fartura, rebuliço e coisas sem fim. É aqui, no meio da multidão, que se busca. Busca-se o sustento, a riqueza e o encontro dos desejos. É aqui que sentimos o espírito social e a solidão ou a comunhão dos afectos. Tudo acontece na grande cidade. Há de tudo para todos os gostos. O melhor e o pior. Como tudo na vida. Na grande cidade.

Esta tela, de grandes dimensões, é o retrato panorâmico de Lisboa que tem as cores, a arquitectura e a morfologia que tanto apaixona quem a visita. É o traçado urbanístico; é as gentes; é a História; é o rio, é tanta coisa; é Lisboa afinal. Procurei captar o que julgo corresponder ao olhar arquitectural da capital, sem gentes e no silêncio: a minha Lisboa. Para fazer este trabalho foi preciso utilizar fita métrica, régua, esquadro e fios para me indicarem a perspectiva. História da Minha Pintura.

E vos deixo com um extracto do poema “Lisboa” de Álvaro de Campos (heterónimo de Fernando Pessoa), in “Poemas”:


Lisboa

“Lisboa com suas casas
De várias cores,
Lisboa com suas casas
De várias cores,
Lisboa com suas casas
De várias cores…
À força de diferente, isto é monótono.
Como à força de sentir, isto é monótono…”

domingo, 17 de janeiro de 2010

Registos







Todos os dias registamos acontecimentos. Quase todos são meras repetições de actos banais e quotidianos, porém, de vez em quando, surge algo de diferente que quebra a monotonia do viver e dos dias. Ora são boas notícias, ora deixam-nos tristes e angustiados. E tudo porque a ordem das coisas se altera e, perto ou longe das situações, elas acabam por nos perturbar e nos envolver, ou não vivêssemos, cada vez mais, na aldeia global que a todos aproxima embora ninguém conheça ninguém. Infelizmente.

Estes desenhos foram feitos num ápice, e são meros registos nascidos da necessidade viciante de registar formas. Aqui optei pela figuração com a arbitrariedade das cores e do gesto expressivo. Como acontece muito ao comprar um bloco, não descanso enquanto não o termino, donde, muitos desenhos são apenas breves marcas de linhas que, pouco a pouco, vão formando um todo que pode ser o ponto de partida, para uma série porque, como na vida, procuro sempre, sempre e sempre.

E vos deixo com a poesia de Eugénio de Andrade e o excerto do poema “As Palavras Interditas”:


“…Porém eu procuro-te.
Antes que a morte se aproxime, procuro-te.
Nas ruas, nos barcos, na cama,
com amor, com ódio, ao sol, à chuva,
de noite, de dia, triste, alegre – procuro-te.”

sábado, 16 de janeiro de 2010

Regressos





Regressamos tantas vezes. Fisicamente ou em pensamentos. Regressamos em busca de soluções, de memórias, de desejos. Regressamos. E ao regressar encontramos ou não o que buscamos. Os espaços mudam, as pessoas também e os desejos acompanham toda a mudança, mas regressamos sempre. Intencionalmente ou por mera associação de ideias ou actos. Regressamos para o melhor ou para o pior. É sempre assim quando se regressa.

Esta pintura em tela, datada do início da década, faz parte do período de viagens e contemplações que originaram a série “A Grande Viagem”, que é um passeio por este e outros países em busca da paz e da harmonia estética. Captar o envolvimento e cores foram a minha preocupação. Régua e esquadro com a utilização da perspectiva com dois pontos de fuga fazem a história construtiva deste trabalho. Quanto à luta é sempre igual. Construir e destruir formas e procurar harmonias cromáticas, pintando aqui e ali e depois mudando tudo, até se julgar que é o fim, porque não se consegue fazer melhor, ou porque se gosta mesmo. História da Minha Pintura.

E vos deixo com um excerto da poesia de David Mourão-Ferreira, in “A Secreta Viagem”:

“No barco sem ninguém, anónimo e vazio,
ficámos nós os dois, parados, de mão dada…
Como podem só dois governar um navio?
Melhor é desistir e não fazermos nada!

Sem um gesto sequer, de súbito esculpidos,
tornamo-nos reais, e de madeira, à proa…
Que figuras de lenda! Olhos vagos, perdidos…
Por entre nossas mãos, o verde mar se escoa…”

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Imagens chocantes




Há imagens que nos chocam. É pelo contexto; é pela sensibilidade; é pela cultura; é pela religião; é pelo fundamentalismo; é pela desgraça. Há de tudo. Vivemos com a imagem e pela imagem. Nunca como hoje a imagem teve tanta importância. Ela constrói e destrói vidas. Ela conduz a actos de heroísmo e de desespero. Ela, a imagem, é, afinal, o nosso retrato presente ou ausente, um pouco por todo o lado, por todo o mundo e, em lado nenhum.

Esta tela, do chamado Período Açoreano que se caracteriza pela abundância de elementos formais, é o retrato dos contrastes e das muitas imagens que o mundo nos dá com as lutas e os desejos de uns e de outros. Esta pintura foi feita após realizar uma vasta série de colagens que, naturalmente, me conduziu a este emarenhado de formas e situações. Cores contrastantes completam este quadro de múltiplas leituras. História da Minha Pintura.

E vos deixo com a poesia de Casimiro de Brito e “Quem Falou em Crime?”, in “Telegramas”:

“Crime quem falou em crime?
somos todos irmãos todos a mesma
carne incendiada

Quando houver um crime
o primeiro
todos seremos criminosos

Agora porém somos vivos e amamos
do nascimento à morte

Crime se o há já nos corria nas veias
quando éramos obscuros como o ventre
que nos concebeu

Não há veias que transbordem
neste corpo flexível
que nos eterniza.”

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

A voragem



É mesmo assim. Tudo passa num instante. O herói de hoje é o esquecido de amanhã. É tudo uma voragem. Nada somos, nada valemos, ao contrário do que alguns pensam. Aclamados e reconhecidos depressa fazem parte da galeria dos esquecidos. Tanta agitação, tanta acção e basta tão pouco para que tudo caia no esquecimento. Tudo é breve. Até a vida. A nossa vida.


Esta aguarela é um retrato que, como todos os retratos, é uma visão parcial. A beleza do corpo, a postura, a juventude, o futuro está aqui nestas pinceladas. Procuro que a minha pintura seja mais que um mero olhar; quero que seja uma reflexão sobre a vida com as coisas boas e as menos agradáveis. As cores e as formas buscam captar o que os meus olhos vêem e a alma sente. Aqui a aguarela foi um desafio na arte do retrato. Primeiro o desenho do modelo com lápis fino amarelo (para não ser perceptível) e depois o jogo das cores, umas sobre as outras, para obter mais tonalidades. História da Minha Pintura.

E vos deixo com a poesia de Alberto Caeiro ( heterónimo de Fernando Pessoa), in “Fragmentos”:

Nunca Busquei Viver a Minha Vida

“Nunca busquei viver a minha vida
A minha vida viveu-se sem que eu quisesse ou não quisesse.
Só quis ver como se não tivesse alma
Só quis ver como se fosse eterno.”

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Tempos loucos



Vivemos tempos loucos. Uns querem umas coisas, outros, o oposto. Há quem goste de contrariar as normas vigentes. Há quem não goste de mudar nada. E, porque a vida é assim, vivemos com certezas e dúvidas mil. Assistimos a tanto com admiração e repulsa. Olhamos e vemos maravilhas e, ao mesmo tempo, sabemos que também há o outro lado. O lado que não devia (segundo o nosso critério) de ter as normas, as condutas, as leis, a cultura, e o fundamentalismo. Mas tem. E porque tem a nossa angústia é muita. E é muita porque vivemos tempos loucos. E quem são os loucos?

Esta aguarela é uma assimilação de outros pintores. De vez em quando vou buscar elementos formais a outras obras de grandes génios da Arte e misturo tudo. Foi o que fiz aqui, neste trabalho. Tudo me serve para pintar. Umas vezes tenho o modelo perto de mim, outras, bem longe e, outras ainda, copio dos mestres. Eu sou assim. História da Minha Pintura.

Recordo hoje as palavras de Marcel Prust, in “À Procura do Tempo Perdido”:

“Para tornar a realidade suportável, todos temos de cultivar em nós certas pequenas loucuras”.

Quando ouvi, pela primeira vez, esta música, descobri que tinha encontrado um dos meus caminhos. Mozart é uma das minhas paixões. Das maiores. Aqui é a “Marcha Turca”, sonata para piano nº 11K. 331.


terça-feira, 12 de janeiro de 2010

O pudor




Acontecem coisas. Coisas que ninguém viu, in loco, e, no entanto, provocam tanta celeuma. Basta uma fotografia para chocar, um simples vídeo ou um comentário. Tudo serve para mover as consciências, mais ou menos…conscientes. E assim assistimos a quem queira tirar partido do escândalo em proveito próprio, ou por desgraça alheia. É a moral do tempo que gera estes actos censórios que só valem pelo presente. E cá andamos entretidos com este ou aquele episódio, de gente, que não merece a atenção que tem e, os outros, vão fazendo as patifarias do costume, só porque acontecem coisas.

Esta aguarela é um retrato do pudor, ou da falta dele, no contexto certo ou errado, de acordo com as consciências. O nu, desde sempre, ocupou um espaço na Arte Ocidental. Umas vezes mais evidente e, outras, por questões religiosas, muito dissimuladas. Coisas da moral e dos bons (maus) costumes. Neste meu trabalho, procurei, representar uma pose que é, hoje, tão banal na figuração artística. Cores quentes num contexto aberto buscam criar uma conflitualidade expositiva. História da Minha Pintura.

E vos deixo com o excerto do poema “A Mulher Nua” de Juan Ramón Jiménez:

“ Humana fonte bela,
repuxo de delícia entre as coisas,
terna, suave água redonda,
mulher nua: um dia,
deixarei de te ver,
e terás de ficar
sem estes assombrados olhos meus,
que completavam tua beleza plena,
com a insaciável plenitude do seu olhar?
…”

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Divagar





"Não vás para tão longe!
Vem sentar-te
Aqui na chaise-longue, ao pé de mim...
Tenho o desejo doido de contar-te
Estas saudades que não tinham fim.

Não vás para tão longe;
Quero ver
Se ainda sabes olhar-me como d'antes,
E se nas tuas mãos acariciantes,
Inda existe o perfume de que eu gosto.

Não vás para tão longe!
Tenho medo
Do silêncio pesado d'esta sala...
Como soluça o vento no arvoredo!
E a tua voz, amor, como se cala!

Não vás para tão longe!
Antigamente,
Era sempre demais o curto espaço
Que havia entre nós dois...
Agora, um embaraço,
Hesitas e depois,
Com um gesto de tédio e de cansaço,
Achas inconveniente
O meu abraço.

Não vás para tão longe!
Fica. Inda é tão cedo!
O vento continua a fustigar
Os ramos sofredores do arvoredo,
E eu ponho-me a pensar
E tenho medo!

Não vás para tão longe!
Na sombra impenetrada,
Como se agita e se debate o vento!...
Paira nas velhas ruínas do convento

Que além se avista,
A alma melancólica d'um monge
Que a vida arremessou àquela crista...

Céu apagado, negro, pessimista,
E tu sempre mais longe!...

Fernanda de Castro, in "Antemanhã"


E vos deixo com a música de Litz na rapsódia húngara nº2 em dó sustenido menor S244.


domingo, 10 de janeiro de 2010

Cor-de-rosa



Está na moda. É assim, faz tempo nas revistas cor-de-rosa. Todos são belos, saudáveis e felizes vivendo histórias de encantar. O desejo de também comungar as mesmas vivências, nem que seja através de uma revista, faz as delícias da plebe. Faz tempo, que assim é. Afinal, o que muitos querem é viver uma história sem fim, cor-de-rosa. Como nas revistas da moda, porque com papas e bolos se enganam os tolos.

Esta aguarela é um dos muitos retratos que caracterizam gestos banais e, no entanto, tão cheios de sensibilidade e sensualidade. Procurei captar o instante do movimento que, como se sabe, traduz muitas vezes o momento preciso. Aqui, é mais uma repetição de arranjar o penteado que, tanto encanta as adolescentes, enquanto pensam, quantas vezes, em cenários cor-de-rosa. Desenhei primeiro com lápis aguarela de cor amarela e depois com pincéis finos, aguarela e uma boa dose de paciência, prazer e desejo fizeram o resto. História da Minha Pintura.

Recordo hoje as palavras de Paul Valéry:

“ A melhor maneira de realizar os sonhos é acordar.”

E vos deixo com a bela e, encantadora Angela Gheorghiu cantando “ Un bel dì vedremo” da ópera dramática “Madame Butterfly” de Puccin que, narra o drama da procura, pela mãe, do filho perdido e dos amores desencontrados, num contexto oriental.


sábado, 9 de janeiro de 2010

Retrato (im)perfeito



Retratar alguém é descrever características que encontramos nos outros. Elas são tantas e porque são tantas, cada pessoa é vista de modo diferente por cada um de nós. Valorizamos ou não aspectos que consideramos relevantes. Esquecemos ou exaltamos, de acordo com os nossos interesses, e é isso que marca a imperfeição do retrato, porque o retrato é sempre o nosso olhar parcial da realidade, tantas vezes propositadamente imperfeito. Coisas dos homens.

Esta tela retrata um menino que já cresceu e que mudou. Hoje, está tão diferente, já não corresponde ao olhar do pintor. A fixação da imagem é uma paragem no tempo que, como se sabe, nunca pára, como tantas vezes gostaríamos que acontecesse. Procuro captar o que há de mais singular e definidor na personalidade de quem retrato. Aqui o sorriso era uma característica fulcral. O resto é a história do costume. Dois dias para fazer a pintura com as cores e as formas que me definem pictoricamente. História da Minha Pintura.

Recordo hoje as palavras de William Shakespeare:

“Os homens deviam ser o que parecem ou, pelo menos, não parecerem o que não são.”

E vos deixo com a música de Saint-Saens e a mestria ao violino de Vengerov.


sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

A alma gémea





Não sei se existe, nem sei definir o que é. Talvez seja um desejo e, como todos os desejos, a imaginação é que conta E porque é tão difícil ninguém sabe se encontra quando procura. Afinal, o que todos querem é a felicidade. E julgam que existe se encontrarem a alma gémea algures por aí. Sonham que com a cara-metade tudo seria diferente. O difícil seria sempre fácil, mas as histórias da carochinha já passaram de moda. E as fantasias também. Para muitos.

Estes dois retratos são, talvez, a expressão de duas personalidades que podem ser a alma gémea uma da outra. O tempo o dirá. Procuro sempre criar um posicionamento dos retratados que traga algo de novo no nosso olhar sobre o que nos rodeia. Gosto que as minhas figuras criem interrogações sobre o que observam para lá do campo visual da tela. Quanto ao processo construtivo gosto, actualmente, de captar pormenores que enriqueçam esteticamente a composição. História da Minha Pintura.

Recordo hoje George Meredith, in “ O Egoísta”:
“No amor não há desastre maior do que a morte da imaginação.”

E vos deixo com a música de Gaetano Donizetti e a ópera “O Elixir Do Amor” com as vozes de Anna Netrebko e Rolando Villazón.


quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Obra pública











Todos nós, mas mesmo todos, temos uma intervenção social. Ela é de reconhecido mérito ou não, no entanto, de pouca monta ou de grande alcance, todos participam e se relacionam directa ou remotamente. E, porque todos actuam bem ou mal, a sociedade é o reflexo desse milenar jogo entre o certo e o errado, o aceitável ou o condenável, que o tempo, sempre o tempo, clarificará e dirá de sua justiça. Sobre todos nós. Como sempre.

Estas fotos ilustram um painel em mosaico que fiz para um complexo desportivo. De acordo com as características e limitações do material, procurei representar um jogo de formas indicadoras de movimento que é, como se sabe, a expressão inerente à prática desportiva. As cores foram pensadas para se articularem com as tonalidades da restante arquitectura. A figuração identifica-se com as imagens que as novas tecnologias nos dão em certos contextos. História da Minha Pintura.

Hoje recordo as palavras de Henry Mencken, in “Preconceitos”:

“Nada pode sair do artista que não esteja no homem.”

E vos deixo com uma obra sublime de Handel ( um dos que teve uma intervenção social que o futuro reconheceu), que se tornou numa obra-prima, aqui com a voz de Cecilia Bartoli.


quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Disparates



Não sou nada. Nada sei. Sei contudo que há outros que nada sabem e falam como se tudo soubessem. São escutados e até admirados. Reconhecidos, vejam bem. E porque assim é, mais cedo ou mais tarde, vamos pagar a factura, porque é a tragédia que aí vem enquanto esperamos por milagres. O milagre do euromilhões.

Esta aguarela é de um feitiço que, como se sabe, vive do obscurantismo e da má-fé. Coisas dos homens. Agrada-me viajar por aí na construção de formas fora da realidade palpável. A natureza e a beleza dos gatos preenchem outros dos meus encantos. Depois pintar e saborear a luta das cores e dos tons é o que me apaixona sobremaneira na aguarela. Histórias da Minha Pintura.

Recordo hoje Johann Goethe:

“Nada mais assustador que a ignorância em acção.”


Mozart é o paraíso que encontrei aqui pelas minhas bandas. E vos deixo com a sonata “C K.545 2º andamento” do genial compositor austríaco, com Mitsuko Uchida ao piano.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Maldizer



Vale tudo. Vale mesmo tudo. Hoje temos a internet e por isso comunicamos como nunca. Felizmente. Agora é fácil fazer ouvir a nossa voz, mostrar os nossos projectos, as nossas ideias com sentido de responsabilidade e, no entanto, por paradoxo, é igualmente fácil deitar para o ar frases ocas, dislates, mentiras sem fim. É este o jogo do nosso tempo. É o eterno maldizer de uns, contra o querer, de outros, pela da verdade que julgam justa.

Esta aguarela é uma caricatura das muitas poses do estar com os outros. As formas exageradas e as cores também elas puramente aleatórias procuram criar uma composição que pela harmonia do todo seja apelativa. Cores variadas predominam numa mescla de tons que nasceram das muitas misturas e procuras que faço em muitos rascunhos. História da Minha Pintura.

Recordo hoje as palavras de Aristóteles:

“Que vantagem têm os mentirosos? A de não serem acreditados quando dizem a verdade.”

E vos deixo com as cantigas de escárnio e maldizer, aqui com Miro Casabella e “Olha meu irmão”.


segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Castelo de fadas



As histórias da carochinha continuam eternamente. Primeiramente são relatadas às crianças e depois em adultos gostamos de acreditar nos sonhos, nos milagres, na fantasia. Revistas cor-de-rosa; histórias de sucesso (ocultando as patifarias); políticas do faz de conta; mentiras. Tudo, tudo serve para continuar na ilusão dos castelos de fadas, com as belas princesas vivendo para sempre em paradisíacos recantos, com os príncipes encantados. É este o nosso mundo. O mundo de hoje para quem quer continuar a esconder a cabeça na areia como a avestruz. Coisas dos homens. De alguns deles.

Esta aguarela é um viajar pelo sonho, pelo milagre, pela fantasia. Porque a arte é um campo sem limites gosto, sempre que desenho, de construir cenários fantasiosos que, conjugados com a arbitrariedade das cores, originam obras que são e serão sempre fugas da realidade. História da Minha Pintura.

Recordo hoje as palavras de Cesare Cantú, in Attenzione”:

“O oposto da mentira não é a verdade.”

E vos deixo hoje com a fantasia que Mozart nos contemplou na ópera “ A flauta mágica”.

domingo, 3 de janeiro de 2010

A aldeia global



Como o mundo é pequeno. Tudo se sabe. Qualquer um de nós é uma figura planetária de um instante para o outro. É a tecnologia que nos aproxima para o melhor e para o pior. Como sempre. E porque hoje estamos todos em rede a mais pequena e recôndita povoação está tão perto de tudo. A aldeia é hoje o mundo inteiro. Todos se conhecem, todos comunicam, todos partilham interesses e invejas. E já não há sítios isolados e perdidos. Nenhum mesmo. Agora vivemos todos, mas mesmo todos, na aldeia global que é, como quem diz, perto e longe de tudo.

Esta pintura em tela é o retrato de uma aldeia igual a tantas outras caracterizada pelo casario e natureza circundante. O silêncio e a solidão são hoje marca das nossas despidas povoações que vão morrendo e que, aqui, procurei, com as “minhas” cores e com as formas inerentes, descrever o que vejo da realidade pintando e desenhando um pouco dos sabores rurais da minha infância. História da Minha Pintura.

Recordo hoje as palavras de Peter Ustinov:

“Comunicação é a arte de ser entendido.”

E vos deixo com a música de Lopes Graça que tanto explorou a musicalidade folclórica percorrendo os campos e as aldeias deste país.

sábado, 2 de janeiro de 2010

Submissão



Submissão é acatar. Acatar é aceitar; é não dizer o que nos vai na alma; é não chamar os bois pelos nomes; é ter medo da verdade; é aceitar o fundamentalismo sem coragem para dizer Não; é perder. E não podemos perder a nossa dignidade, nem a nossa cultura,nem os nossos valores, porque de derrota em derrota , de submissão em submissão o nosso destino fica traçado. E não queremos voltar atrás no tempo, porque o tempo nunca volta para trás. Nunca.

Esta pintura em tela é um daqueles idílicos lugares que apenas existem na nossa imaginação. Felizmente que a arte permite deambular ao sabor do pensamento sem receios de submissão. Aqui procurei construir um cenário do maravilhoso numa perspectiva distorcida e tudo aconteceu após ter visualizado espelhos disformes. A arte e as experiências da vida são uma constante no meu trabalho. História da Minha Pintura.

Hoje recordo uma frase de Sófocles:
“Escravo do corpo, livre do espírito.”

E vos deixo com a música de Vivaldi e a voz de Jaroussky cantando “Sol da te” da ária “Orlando furioso”.


sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Ano Novo






O ano que hoje começa é mais um na esperança ou na resignação. Tenho memória e, porque tenho memória, não me esqueço do que não quero esquecer. Já vi tanto. Já ouvi tanto que não me esqueço. Não posso esquecer. Podem prometer mundos e fundos. Podem dizer e fazer isto e aquilo, mas porque tenho memória, já não acredito. Sei é que os dias continuam indiferentes ao pensar dos homens. Para o ano há mais festas, se festas houver. Agora é tempo de arregaçar as mangas e lutar de novo, para que a resignação dê lugar à esperança.



Este desenho é um dos muitos que em tempos idos fiz um pouco por todo o lado. Sentado enquanto viajava de comboio, ou enquanto esperava numa qualquer sala, ou no café para vencer o tempo das muitas esperas. O método era simples: uma só caneta e de um impulso fazia estas deformadas figuras. Era o gosto pelo artesanato de Barcelos que me inspirava nesta análise crítica da nossa postura. Cada traço nascia sem grandes preocupações sobre proporções ou parecenças. Afinal, o que busco na pintura é prazer e só prazer, apesar do sofrimento que é produzir o mais pequeno trabalho pictórico. História da Minha Pintura.


Recordo hoje as palavras de Jean La Fontaine:

“Pela forma como se trabalha se avalia o artista.”

E porque não resisto começo o ano com a música de Bellini e a voz de Callas em “Norma”.

Bom ano para todos. Se forças tiver, este blog continuará.