segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Ano Novo, Vida Nova



Mais um ano que acaba e outro que vai começar. De novo, cumprindo o ritual, novas expectativas e renovados desejos para os outros 365 dias. É sempre assim. Saúde, dinheiro e amor. Querem todos. Em todo o lado. Sem saúde nada interessa, nada faz sentido, nada é mais valioso; sem dinheiro é difícil viver com dignidade, embora não seja tudo, mas que faz muita falta, lá isso faz; sem amor nada faz sentido. Todos querem o mesmo: bem-estar. Para que reine a serenidade e a paz de espírito é preciso afastar fantasmas e viver, esperando que os deuses não se zanguem connosco. Muita inquietação, muitas dúvidas, muitas angústias ocupam os novos tempos, onde nem a economia nem a política correspondem ao desejado mas, todos temos de reconhecer que não vivemos num mundo perfeito e, que os Homens são o que são. Feliz Ano Novo.

Esta minha pintura retrata sobretudo o futuro. É dos jovens que se espera o progresso e os dias bons, já que os mais velhos não conseguiram cumprir o seu destino. As novas gerações transportam todas as responsabilidades, porque serão eles que, ou resolvem bem o que está mal, ou o caminho é num plano inclinado, ou seja: um futuro de mais injustiça e mais pobreza.

A pintura não conta histórias, aponta apenas indícios. Aqui, neste meu trabalho de 2010, procurei, com poses descontraídas, sugerir um momento de lazer, retratando dois jovens brincando ou remexendo em brinquedos fora de moda. História da Minha Pintura.

Recordo hoje as palavras de Machado Assis:

“A arte de viver consiste em tirar o maior bem do maior mal.”

E vos deixo com a música de Mozart e uma ária da ópera “Flauta Mágica.”
Feliz 2011

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

É Natal, É Natal



CHOVE. É DIA DE NATAL

"Chove. É dia de Natal.
Lá para o Norte é melhor:
Há a neve que faz mal,
E o frio que ainda é pior.

E toda a gente é contente
Porque é dia de o ficar.
Chove no Natal presente.
Antes isso que nevar.

Pois apesar de ser esse
O Natal da convenção,
Quando o corpo me arrefece
Tenho frio e Natal não.

Deixo sentir a quem quadra
E o Natal a quem o fez,
Pois se escrevo ainda outra quadra
Fico gelado dos pés."

In “Obra Poética”
Fernando Pessoa

O Natal de novo aí está para, no mundo católico, continuar a envolver-nos com a magia simbólica da quadra festiva. O espírito natalício ultrapassa os preconceitos religiosos e sintoniza-se na comunhão comunitária. É o tempo da reunião dos amigos e familiares, estejam eles próximos ou infinitamente distantes. Com oferendas ou sem elas o que conta mesmo é o sentimento latente do amor e da amizade. E precisamos todos, os que muito têm e os que sobrevivem, do calor humano tão singular nestes dias. O pior mesmo é o estar só na noite de Natal. E muitos estão. E muitos estão.

Este pequeno trabalho é uma aguarela que retrata um momento íntimo. Dormir é estar num limbo onde o corpo, que é o nosso, ultrapassa muitas fronteiras e vive episódios desejados ou tristemente recordados. Dormir é também, através desta minha obra, um modo de procurar transmitir a serenidade e a magia do encanto que o sonho nos dá. O que procuro sempre é captar o lado mais cordial, mais relaxante, mais humano que o Homem tem e que, infelizmente, muitos só no Natal encontram (quando encontram) a paz e o afecto. História da Minha Pintura.

E vos deixo com a voz da Maria Callas cantando Ave Maria de Verdi


segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Histórias da Pintura



“Em arte só vive o que continuamente dá prazer”

Stendhal

Estas aguarelas, que são retratos de diferentes modelos, procuram captar personalidades e modos de estar através de poses simples. Gestos banais ilustram momentos que, apesar de tão usuais, carregam consigo a magia da singularidade de cada um. De facto, o que me seduz quando pinto qualquer pessoa é o fascínio, não só do surgimento das formas identificadoras com o retratado mas, sobretudo, a captação do que distingue cada um de nós. É a magia da diferença sem fim que me atrai. Cada pessoa é única e, a arte, a meu ver, deve procurar descobrir o que nos aproxima e nos afasta, para o melhor dos mundos e, infelizmente, também para a desgraça. Pintar não é contar histórias. Pintar é transpor para um espaço formas e cores que apenas procuram construir cenários, onde a imaginação dos olhares geram, obviamente…histórias. História da Minha Pintura.

E vos deixo hoje com o musical “O Fantasma da Ópera”, uma obra de Gaston Leroux , inspirada no livro “Triby” de George de Maurier e que Andrew Lloyd Webber, Charles Hart e Richard Stilgoe maravilharam ao transporem para o teatro e cinema esta peça. Aqui, neste pequeno excerto, entre outros, a voz encantadora de Sarah Brightman.


segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Arte sem fim



As manifestações culturais estão em todo o lado: nos gestos, nos trajes, nas falas, nos desejos e até nos sonhos. A nossa imaginação é moldada nas vivências do dia-a-dia; desejamos o que julgamos possível imaginar e que esteja ao nosso alcance visionário; falamos de acordo com o nosso meio que é, afinal, produto de longos anos de convivência e de sociabilidade; trajamos em sintonia com as modas do nosso tempo, ou seja, em harmonia com a cultura contemporânea; gesticulamos, obviamente, com os trejeitos do tempo presente que, mais não é, comunicação de uns com os outros, através de posturas comuns, por todo o nosso planeta. E assim, sem darmos conta, nos manifestamos com atitudes culturais, que uns, mais afoitos que outros sabem tirar partido, criando obras ou situações que nos invadem e nos deliciam, de acordo com os nossos desejos e interesses. Coisas dos homens e dos tempos. Como sempre.

Este conjunto de aguarelas - obedecendo ao meu modo de trabalhar – procura, através de uma temática pré-definida, dar uma imagem de retratos de um tempo onde os gestos, os trajes, as falas (ou a ausência delas), os desejos e até os sonhos se vislumbram nas linhas e nas cores destas obras feitas em papel e com a pose de modelos. História da minha Pintura.

Recordo hoje as palavras de Paul Valery:

“O objectivo profundo do artista é dar mais do que aquilo que tem.”

E vos deixo com a música de Bellini, a voz de Angela Gheorghiu e a ária Casta Diva da ópera Norma, que muito me acompanha no meu ateliê enquanto trabalho na solidão.


segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Mercado de arte




A arte é, provavelmente, uma experiência inútil; como a «paixão inútil» em que cristaliza o homem. Mas inútil apenas como tragédia de que a humanidade beneficie; porque a arte é a menos trágica das ocupações, porque isso não envolve uma moral objectiva. Mas se todos os artistas da terra parassem durante umas horas, deixassem de produzir uma ideia, um quadro, uma nota de música, fazia-se um deserto extraordinário. Acreditem que os teares paravam, também, e as fábricas; as gares ficavam estranhamente vazias, as mulheres emudeciam. A arte é, no entanto, uma coisa explosiva. Houve, e há decerto em qualquer lugar da terra, pessoas que se dedicam à experiência inútil que é a arte, pessoas como Virgílio, por exemplo, e que sabem que o seu silêncio pode ser mortal. Se os poetas se calassem subitamente e só ficasse no ar o ruído dos motores, porque até o vento se calava no fundo dos vales, penso que até as guerras se iam extinguindo, sem derrota e sem vitória, com a mansidão das coisas estéreis. O laço da ficção, que gera a expectativa, é mais forte do que todas as realidades acumuláveis. Se ele se quebra, o equilíbrio entre os seres sofre grave prejuízo.

Agustina Bessa-Luís, in 'Dicionário Imperfeito'

A arte tem o seu mercado que varia com as épocas. De um início, apenas restrito a poucos, se passou para um mundo global, onde muitos podem ter acesso aos trabalhos, não feitos por encomenda, mas esperando potenciais compradores. Agora há outros meios de divulgação e de acesso aos produtos artísticos. Galerias e Feiras de Arte aproximam os interessados das obras de arte. Graças às novas tecnologias actualmente se promove e se mostra - virtualmente - peças que, por todo o mundo, os artistas fazem, como é este o caso, desta Feira, desta obra, deste trabalho e de mais este e este e este.

Este conjunto de aguarelas que fui fazendo, em períodos próximos mas com objectivos diferentes, acabam por mostrar a imensidão das obras produzidas e que têm como destino final o mercado da arte. História da Minha Pintura.

E vos deixo com a voz deliciosa do tenor peruano Juan Diego Flórez cantando Granada.


segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Todos iguais e todos diferentes



Somos todos iguais na anatomia e diferentes na sensibilidade. E porque somos tão distintos uns dos outros, eternamente nos guerreamos em busca da “nossa razão”, que é a melhor, mesmo podendo ser a pior. É assim hoje - aqui e agora - como ontem e desde sempre. Iguais na espécie humana sendo ora gordos e magros, ora altos e baixos, ora escuros e claros, ora tão desiguais nas parecenças e paradoxalmente tão semelhantes. Diferentes religiões e diferentes culturas separam-nos. Tão iguais enquanto seres humanos e tão diferentes nos comportamentos e necessidades. Todos iguais e todos diferentes. Eternamente diferentes. Eternamente iguais.

Esta pintura, de 2010, é um retrato que procura caracterizar um relacionamento que, ainda hoje, é foco de muitas leituras e de juízos críticos díspares. A análise de um tempo e de um modo de vida dependem das variáveis sociais, que nos conduzem pelos caminhos da serenidade e do pensamento evolutivo, no entanto, como acontece sempre, há as forças da estagnação e do pensamento retrógrado.

Esta tela, onde, em termos cromáticos dominam os tons cinzas, é constituída por elementos mínimos para centralizar a questão temática. A pincelada procura ser contida num jogo de luzes e sombras que buscam expressividade. História da Minha Pintura.

Recordo hoje as palavras de George OrweII:

“Todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais do que outros.”

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Dormitando



Momentos há que estamos entre dois mundos: o real e o imaginário. É preciso, obviamente, ter presente a verdade da vida e, também, caminhar pelo sonho que é absolutamente necessário, para ultrapassar a mediania dos usos, costumes e do viver rotineiro, acalentando outras experiências e outros desejos tão longínquos de nós. É, neste andar, pela verdade material e pela irrealidade que vamos edificando os muitos modos de estar e sentir, quer os dias sejam coloridos ou profundamente cinzentos. É sempre assim.

Esta tela, de 2010, pretende retratar aqueles momentos onde o cansaço convida ao esquecer da realidade e o dormir está tão perto, apesar do local não ser o mais indicado, nem a posição corporal a mais correcta. Quero, com esta temática, representar instantes íntimos, comungados num jogo de penumbras, onde a luz rarefeita cria contrastes, sugerindo atmosferas de solidão e silêncio. História da Minha Pintura.

Relembro hoje as palavras de Giacomo Leopardi, inZibaldone”:

“A imaginação é a primeira fonte da felicidade humana.”

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Atitudes e valores



Aqui é assim. Parecem tão naturais os nossos modos de ser e estar. Mas basta percorrer uma curta distância para ver, com olhos de ver, outra realidade tão longínqua do nosso comportamento social. Aqui e agora é mesmo assim: liberdade na acção de estar com os outros, com poses que são a expressão das conquistas que outros conseguiram. É o nosso viver hoje. É bom lembrar que nada é dado, bem pelo contrário, tudo é conquistado e, como acontece muito - com suor, lágrimas e inevitavelmente sangue jorrado. É bom não esquecer porque aqui é assim. É bom não esquecer.

Esta pintura, em tela, é o retrato de um relacionamento casual, que é normal no nosso convívio diário. Aqui é assim. E porque é assim, há que saber valorizar o que temos, e, não nos deixarmos levar pela conversa fiada que apenas traz ostracismo e penúria. Como ocidental defensor da nossa cultura e do nosso relacionamento com os outros, procuro, no meu trabalho, ilustrar o que vejo, como vejo e, o que desejo enaltecer. História da Minha Pintura.

Recordo hoje as palavras de François La Rochefoucauld, in “Máximas”:

“Há uma infinidade de comportamentos que parecem ridículos e cujas razões são muito sábias e muito sólidas.”

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Diálogos silenciosos



Fala-se muito sem nada dizer. Não falar é, quantas vezes, mais abrangente que longos discursos. Muito se diz no maior dos silêncios. Tudo é uma questão de oportunidade e sentido do valor das palavras ausentes. Momentos há que sentimos tanto o vazio, quer dos sons, quer das conversas inexistentes. Sentimos ainda mais quando o silêncio se prolonga no tempo e, este, se transforma em infinidade. É esta a marcha dos percursos de vida, que giram e giram, tendo por base os diálogos, ora muito vibrantes e sonoros, ora inexistentes e, por isso, eternamente silenciosos... mas comunicantes.

Esta pintura em tela, 100x100 cm, procura retratar os momentos onde paira o silêncio e a comunicação se faz tendo por base o olhar e a frieza das poses. Observar é, também, dialogar silenciosamente – e muitas vezes acontece – que o diálogo é a uma só voz, com o próprio, numa mistura de pensamentos contínuos e diálogos sem receptor.

Esta composição, quase simétrica, procura, com um jogo cromático e formal muito contido, a captação de uma imagem forte, que seja apelativa, neste universo onde a memorização do que se observa é difícil, face à imensidão do observado. História da Minha Pintura.

Recordo hoje as palavras de Sófocles, in Antígona”:

“Há algo de ameaçador num silêncio muito prolongado.”

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Outros tempos



Foi a abastança. Foi o esbanjar. Foi o orgulho. Foi a ilusão. Foi o engano. Foi a bonança. Agora é o tempo do medo e da incerteza. Ninguém está seguro de coisa nenhuma. Tudo pode acontecer. O que ontem era uma certeza, hoje é apenas um desejo. É este o nosso drama depois de tantas canseiras, de tantas lutas, de tantas esperanças. O rumo da vida é sempre um caminhar entre muitas vias de inúmeros obstáculos, que se vencem ou... que nos vencem. Se avançamos significa vencer, se, pelo contrário, formos vencidos é com nostalgia que recordamos outros tempos, outras vivências, outras esperanças. Nunca devemos desistir mesmo que a tormenta seja muita. Cabe acreditar que outros tempos virão, embora muito diferentes, mas, talvez, como no passado, com encanto e magia. Pensar o contrário é desistir, e, só devemos desistir, quando o dia do juízo final chegar. Só nesse dia. E só nesse dia.

Esta pintura de 2007 (agora retocada) é o retrato do presente para uns, ou o olhar de tempos passados para outros. Distantes nas vivências quer num caso, quer noutro, o encanto é o mesmo. Há momentos mágicos que ultrapassam os tempos, para gáudio de todos. E porque procuro retratar instantes tão sublimes no relacionamento humano, aqui, mais uma vez, com a ajuda de modelos, tentei captar a singularidade do afecto e da afirmação do desejo mais sublime, que é a cortesia nas poses e nas atitudes.


Esta tela, de grandes dimensões, procura com um minimalismo formal captar formas e cores numa atmosfera onde o jogo de sombra e luz cria o ambiente inerente à temática. História da Minha Pintura.

Recordo hoje as palavras de Jacques Bossuet:

“Aos jovens, tudo o que imaginam parece-lhes realidades.”

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Sonho e realidade



Sonhar é construir cenários idílicos ou, bem pelo contrário, tormentosas paisagens de maus presságios. Do outro lado da fantasia está a realidade. Realidade agora tão angustiante. Agora tão longe do maravilhoso e do fantástico. Agora apenas nos resta esperar que o mau não seja assim tão mau. Agora nem os sonhos parecem ter lugar. Agora é a realidade económica nua e crua que nos espera e desespera. Até quando? Quando voltarão os sonhos? Os sonhos bons?

Esta pintura em tela – ainda por acabar – é o exemplo, de quão difícil é pintar. Agora gosto de construir cenários com poucos elementos, em que a luz e a sombra completam o todo da composição. Aqui ainda tudo parece longe da plenitude estética. Por mais voltas que dê, nada parece dar certo: os tons não combinam; o espaço está muito vazio; os jogos de contrastes não funcionam. Em suma: quase nada está feito. É assim a vida de um pintor entre o sonho da obra-prima e a realidade tão longe do belo supremo. História da Minha Pintura.

Recordo hoje as palavras de Oscar Wilde:

“Há duas tragédias na vida: uma a de não satisfazermos os nossos desejos, a outra a de os satisfazermos.”

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Ilustrações










"Ouço vozes ao longe
murmurando
como que chamando por mim…

Olho e não vejo vivalma
Areal deserto, tarde calma
Apenas a lonjura do mar
Branco das gaivotas cortando o ar
Ninguém a quem falar

Só o murmúrio distante
das vozes ao longe
sussurrando
como que chamando por mim

E num arrepio
sussurrante
se de medo, se de frio
como que trazido pela brisa
sibilante
o murmúrio das vozes
indistintas
sempre
chamando por mim… "


José Cipriano Catarino in “ Entre Cós e Alpededriz


Quando sou solicitado a ilustrar poemas, contos ou romances tenho sempre de fazer uma viagem pela escrita e tentar “viver” na(s) estória(s). Aqui incorporei um imaginário da ruralidade e dos sentimentos que , a meu ver, é a base deste romance do meu amigo Cipriano Catarino.

Desenho muito e muito para obter um conjunto que possa corresponder ao expectável. Cada trabalho é sempre um ensaio, que resulta ou não, porque o caminho da criação está cheio de dúvidas, que é, afinal, a história da História da Arte... História da Minha Pintura.

Recordo hoje as palavras de Paul Valéry:
“O objectivo profundo do artista é dar mais do que aquilo que tem.”


E vos deixo com a poesia de Camões e a voz de José Afonso cantando “Verdes são os campos”


segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Gente boa



Apesar das notícias tristes de todos os dias; apesar das crises constantes; apesar do desânimo social; apesar do descrédito e das muitas dúvidas sobre os caminhos certos a percorrer; apesar do negativismo dos mandantes; apesar da dívida pública crescente; apesar das incertezas todas, ainda há quem lute e construa novos mundos, longe dos interesses mesquinhos e oportunistas dos que conduzem o barco. Ainda há gente boa que, longe da ribalta, vai tenazmente edificando obra. Sem alarido, sem vaidade, sem pedir nada a ninguém. Ainda há quem humildemente, apenas e só, com dedicação, sabedoria e postura cívica acrescente algo de novo, neste tão maltratado Portugal dos nossos dias. Ainda há gente boa. Ainda há.

Estes dois livros fazem parte de uma outra vertente do meu trabalho pictórico. A minha pintura é essencialmente figurativa e versa muitas temáticas, sendo, por isso, propícia na representação de imagens literárias. Aqui, estas obras do escritor Cipriano Catarino – vencedor do Prémio Irene Lisboa promovido pela edilidade de Arruda dos Vinhos, com o conto “Crime na Capital”- é o exemplo da afirmação da relação entre o texto escrito e a imagem. História da Minha Pintura.

Recordo hoje as palavras de Marie Agoult:


“Para ser um grande homem é preciso ter feito grandes coisas, mas não chega ter feito grandes coisas para ser um grande homem.”

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Gostar




Gosto de tantas coisas. Coisas que posso ter e outras que jamais alcançarei. Gosto hoje e talvez amanhã já não. Gosto eternamente ou apenas por instantes. O instante é insignificante e não conta para nada, ou quase nada; o eterno é mesmo desgraçadamente doentio, logo sofredor, ou não fossemos todos nós “seres errantes” à procura de Godot.

Estes desenhos fazem parte de um período de vida em que desenhava compulsivamente, numa ânsia pelo desejo de riscar, riscar e riscar, deixando registos de formas e cores sugerindo imagens de tanta gente conhecida ou não, numa procura pelo prazer da criação, que apenas surge quando a motivação é maior que os pensamentos do nada fazer. História da Minha Pintura.

Recordo hoje as palavras de Álvaro de Campos:
“Gostava de gostar de gostar”.

E vos deixo com a música de Ferrer Trindade e Artur Ribeiro, a letra de Maximiano de Sousa e a interpretação de Roberto Carlos e a canção “Nem Às Paredes Confesso”.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Como o tempo passa








Mais um dia. Mais uma semana. Mais um mês. Mais um ano. E, de novo, o Natal está quase a chegar quando ainda o ano vai saboreando os calores do Verão. Como o tempo passa. Ainda parece que foi ontem que 2010 se iniciou, e, já caminha para a recta final. O tempo e a vida andam de mãos dadas. Quando olhamos com olhos de ver, o tempo passou e a vida também. Sonhos e desejos acabam por ser concretizados uns e outros não. Gentes, factos e histórias perfilham lado a lado quando pensamos neste andar dos dias, das semanas, dos meses e dos anos. Como o tempo passa. Como o tempo passa!!!

Estas imagens são desenhos feitos de observação directa, em tempos idos, onde o registo era o de ilustrar um tempo e um modo. Outras épocas. Outros desejos. Outros modos de estar. Aqui se mostra - como o desenho nascido do traço repentino - procura apenas a aparência da realidade que é (como todos sabemos) apenas e só, uma imagem subjectiva da análise que cada um faz, num determinado contexto, numa determinada época, bem ou mal; o certo e o errado dependem também das variáveis da História e do pensamento que é sempre um andar por aí, numa caminhada para muitos lados. História da Minha Pintura.

E vos deixo com as palavras de Leonardo da Vinci:

“Onde há muito sentimento, há muita dor.”

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Somos assim



Somos assim. Uns gostam e outros detestam. Uns convivem, enquanto outros se fecham no seu casulo. Uns querem sempre mais, e, tantos outros, apenas desejam paz e sossego. Uns riem por tudo e por nada, e há quem não saiba como sorrir. É assim a natureza humana. Para uns ou está muito calor, ou está muito frio, enquanto outros procuram ou a neve ou as tardes quentes de Verão. Para alguns é um prazer o jogo do corte e costura da má-língua reinante. Para outros tudo não passa de interesses mesquinhos, porque o importante é viver longe da intriga saboreando os prazeres da natureza e da beleza humana. Somos assim com tantas qualidades e tantos defeitos. Ora felizes por dá cá aquela palha, ou eternamente angustiados e deprimidos sem sabermos bem porquê. Somos assim.

Esta pintura integrada na série “Açores” resultou da minha passagem pelas ilhas. A abundância de tanta cor e forma dada pela natureza fascina qualquer um, mesmo o menos insensível à beleza deste nosso mundo que dá o melhor e o pior. História da Minha Pintura.

Recordo hoje as palavras de Khalil Gibran:

“A beleza é a vida quando nos mostra a sua melhor cara”.

E vos deixo com a música de Alfredo Marceneiro e letra de Amália, aqui com a voz de Mariza:
“Estranha forma de vida”.


segunda-feira, 6 de setembro de 2010

A minha companhia



Fraternidade

Não me dói nada meu particular.
Peno cilícios da comunidade.
Água dum rio doce, entrei no mar
E salguei-me no sal da imensidade.

Dei o sossego às ondas
Da multidão.
E agora tenho chagas
No coração
E uma angústia secreta.

Mas não podia, lírico poeta,
Ficar, de avena, a exercitar o ouvido,
Longe do mundo e longe do ruído.

Miguel Torga, in 'Cântico do Homem'



Somos seres gregários. Vivemos em sociedade, com muita gente ou isolados de tudo e de todos. No meio da multidão há também muita solidão. Na solidão há muita companhia. Depende de cada um. Depende só de nós. E só de nós.

A minha companhia é multifacetada – confesso -, no entanto, não passo sem música. Não é toda a música. Depende: do contexto; da companhia (pois claro), e mais não digo…

Nestes dias de muito calor andei por aí. Sempre, sempre acompanhado pela minha música, que é, afinal, das melhores companhias nos dias solarengos, nebulosos, cinzentos, frios ou trovejantes. Cada um escolhe o seu destino e, obviamente, as dependências. E dependente sou das grandes vozes e das sonoridades que deslumbram quem ouve com paixão os melhores sons que a humanidade criou. Falo de gostos. E só de gostos. Confissões, afinal.

E vos deixo com a a música de Verdi e Di Provenza ária da ópera “La Traviata cantada por Dietrich Fisher-Dieskau, uma das vozes que mais admiro.


quarta-feira, 1 de setembro de 2010

O primeiro dia



Hoje é o primeiro dia, do resto da minha vida. Hoje é o início de outro ciclo de vida. Agora novos desafios, novos modos de estar e ver a realidade esperam por mim. Os sonhos e os desejos perseguem-nos continuamente. Para o melhor e, logicamente, para o pior. Cada dia é, afinal, sempre um desafio, quantas vezes alimentado por ideias romanceadas, ou afirmativas de uma postura de vida não conformada com o statu quo. Dar saltos e partir para o escuro é sempre um jogo arriscado. Uns, sem medos ou inconscientes galgam trilhos; outros, talvez vencidos da vida, permanecem chorando pelos caminhos desejados mas nunca percorridos. O dia seguinte é sempre a incógnita da nossa existência que vale o que vale, com muitos sonhos. Deixar de sonhar é percorrer a via da extinção dos desejos. Não sonhar é morrer. E eu não quero morrer.

Esta imagem é uma parte do sonho, aqui com a simbologia que os materiais transportam consigo, e com a iconografia que cada época caracteriza. Vivemos rodeados de objectos que nos identificam e que até nos moldam. Pouca coisa para uns é suficiente; para outros nem o infinito os satisfaz. Coisas dos Homens. Dos pequenos e dos grandes. De todos. História da Minha Pintura.

E vos deixo com as palavras de Ésquilo:

“Conhecerás o futuro quando ele chegar; antes disso, esquece-o.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Passear



Passear é sair. Sair para longe ou ficar no mesmo sítio. Se é para longe, muito se pode ver pela primeira vez. Se não é para lado nenhum, o pensamento foge para todo o lado, e o passeio torna-se longo e cansativo. Passear é ir por aí em busca do devaneio e do nada fazer. Passear é saborear o tempo enquanto se caminha, fruindo os sítios do costume ou, descobrindo novas paisagens, novos cheiros, novas gentes, novas culturas. Passear é sempre expectante mesmo no passeio dos tristes. Mesmo no passeio dos tristes.

Esta pintura é o resultado dos muitos passeios, uns reais e outros imaginados. Este meu trabalho foi feito após a visita aos Açores. A paisagem e o exotismo foram contagiantes para criar, após essa estadia, uma série de obras onde a amálgama de elementos preenchem os espaços pictóricos. O verde e o mar são dominantes quando se passeia pelas ilhas e a pintura (desse tempo) teve necessariamente de reflectir esse contexto. História da Minha Pintura.

Recordo hoje as palavras de Victor Hugo:

“ Viajar é nascer e morrer a todo o instante.”

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Férias










Meio mundo está saboreando os prazeres que só Agosto tem: calor, praia, viagens, folia. Infelizmente, também há o outro lado da vida negra e soturna: os fogos e as desgraças do costume. Rir, beber uns copos, passear e deixar para depois é o lema do momento. É assim, neste cantinho à beira-mar plantado… onde se quer pensar só nos encantos estivais, enquanto a tormenta vem chegando, mas agora há que saborear o lado bom das férias de Verão. Depois logo se verá. Pois claro!

Estas fotografias são olhares nocturnos, de espaços urbanos, onde procurei criar, com os materiais tradicionais, uma paisagem estética que fosse um modo de estar perante o mundo, saboreando os prazeres da contemplação, mesmo que seja apenas num instante, tal como nas férias de Verão.

A intervenção no espaço público deve ser sempre de um cuidado extremo, dado que a visualização de qualquer obra procura servir e merecer a fruição ampla de quem olha com olhos de ver. Cada época tem a sua marca, mas o espaço urbano é uma mescla de sucessivas intervenções de tempos diferentes e de preocupações díspares. Procurei que os estes meus projectos fossem um modo de enriquecer plasticamente os espaços com formas e cores traduzindo ideias simples. História da Minha Pintura.

E vos deixo com as palavras de Paul Valéry:

“Uma obra dura enquanto é capaz de parecer bem diferente daquilo que o seu autor a fez.”

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Olhar e ver











Portugal está de férias. Uns andam por cá na rotina do costume, e outros partiram fugindo do dia-a-dia. Quem fica olha as mesmas paisagens, os mesmos lugarejos e sempre com a mesma visão. Quem parte vê outras realidades observando ou não com olhos de ver. É sempre assim. A vida é um olhar, sentido ou não, pelo que nos cerca a cada instante. Conscientes ou distraídos vamos saboreando, a vários tons, a natureza ou a obra construída, que muda constantemente, neste viver de tantos olhares e de tantas sensibilidades. Aproveitemos pois estes tempos de calor para saborear tanto mar e tanta terra, vendo com olhos de ver.

Este meu trabalho numa linha diferente do meu percurso pictórico (um pouco à semelhança do que aconteceu com Almada Negreiros e a obra “Começar”) foi feito tendo por base o material, o espaço, e o tempo de execução. Procurei criar um painel - que é essencialmente visto a partir de carros em movimento -, que fosse dinâmico e relacionado com a atmosfera envolvente. Cores suaves e muito preenchido o espaço (para evitar partes em branco com receio da praga dos grafites) e tendo, por base, uma estrutura quase matemática ligada à musicalidade fazem parte da essência deste meu projecto de intervenção urbana. História da Minha Pintura.

Recordo hoje as palavras de Máximo Gorky:

“A única coisa que transcende a existência do ser humano é a sua obra”.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Às vezes tenho ideias felizes



Às Vezes Tenho Idéias Felizes

Às vezes tenho idéias felizes,
Idéias subitamente felizes, em idéias
E nas palavras em que naturalmente se despegam...

Depois de escrever, leio...
Por que escrevi isto?
Onde fui buscar isto?
De onde me veio isto? Isto é melhor do que eu...
Seremos nós neste mundo apenas canetas com tinta
Com que alguém escreve a valer o que nós aqui traçamos?...

Álvaro de Campos, in "Poemas"
Heterónimo de Fernando Pessoa


Cada um tem as suas ideias, o seu projecto de vida, o seu caminho. Convictos ou hesitantes, todos andamos procurando a solução ideal. Para o momento, ou sonhando com o futuro. Ninguém tem certezas sobre o que nos espera. Com os nossos pontos de vista vamos vivendo uns dias mais crentes, outros nem tanto; uns dias acreditando nisto e naquilo e, em muitos outros, duvidando e duvidando. Aprendemos muito quando mudamos o nosso olhar ou, quando descobrimos que, o que parece não é. Afinal, o nosso ponto de vista é apenas um modo de ver uma parcela da realidade, que é sempre mais complexa do que a simplicidade da crítica repentina ... que fazemos todos os dias.

Uma ideia feliz por si só não é suficiente para criar uma obra-prima. Estas apenas estão ao alcance dos maiores - dos dotados e sabedores da arte de bem-fazer, como neste caso, neste outro e ainda neste; depois há os outros, que tendo as mesmas ambições ficam longe, muito longe da arte dos prodígios, apenas pertença dos geniais.
Aqui mostro os primeiros traços com que início a pintura nos meus trabalhos. Até ao final do ano tentarei pintar estas telas nascidas dos muitos esboços dos meus cadernos de desenhos e que povoam o meu mundo e os meus interesses, tão distante das ideias felizes. História da Minha Pintura.

E vos deixo com a música de Rossini e a voz de Giulietta Simionato cantando “Una voce poço fa”.



segunda-feira, 26 de julho de 2010

Equívocos















Uma palavra, um gesto, uma expressão e até uma vírgula bastam para criar um mal-entendido; zangas sem fim; ódios para sempre; amores desfeitos; desencontros eternos, e, tudo, quantas vezes, por causa de um equívoco.

Estes desenhos feitos em contextos e em tempos diferentes nasceram do vício de riscar, riscar, riscar, ou seja: desenhar, desenhar, desenhar sempre e muito em todo o lado, a todo o instante, tendo por base momentos felizes ou angústias momentâneas. Indiferente aos caprichos de uns e outros; às análises superficiais ou mais atentas; às confusões e aos relacionamentos humanos que valem o que valem, faço o meu caminho com as armas que tenho. Aqui e agora limito-me a mostrar a minha obra pictórica que é apenas a expressão do meu mundo e da minha sensibilidade, com equívocos, obviamente. História da Minha Pintura.

Recordo hoje as palavras de Thomas Paine:

“O facto de continuarmos a pensar que uma determinada coisa não é errada dá-nos uma aparência superficial de estarmos certos.”

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Direito à diferença



Somos todos iguais. Somos todos diferentes. Sendo iguais devemos ter direitos e obrigações semelhantes. Sendo diferentes somos naturalmente tratados de modos desiguais. Depois há as diferenças que contam mais que outras. Coisas dos tempos. De cada época. De cada contexto. E porque assim acontece, não nos podemos esquecer que a diferença é uma característica que nos singulariza e nos distingue de todos os outros, porque cada um de nós é único. Para o melhor e para o pior. Hoje e sempre.

Esta pintura é uma representação de um momento de carinho, de afecto, longe dos juízos críticos comportamentais do certo e errado, do igual ou do diferente. O relacionamento é um conjunto de normas que, como se sabe, mudam muito todos os dias. Aqui o que se procura mostrar é apenas mais um gesto, dos muitos que formam esta selva de convenções, muitas vezes tão cínicas e impróprias. Como pintor apenas gosto de registar o lado bom da natureza humana. Por enquanto. História da Minha Pintura.

E vos deixo com a voz de Edith Piaf e “L´Hymne à l´amour”.

terça-feira, 20 de julho de 2010

Os outros






Os outros: admiramos, ou invejamos; amamos ou rejeitamos; adoramos ou ignoramos; gostamos ou odiamos. É neste jogo de sensibilidades que analisamos os outros e fazemos o nosso caminho: próximo de uns, distante de outros. E os outros são uma parte de nós - do mesmo sangue, da mesma luta, do mesmo destino.

Este trabalho ainda está apenas no início. Primeiro o desenho com a divisão do espaço e a colocação dos diferentes elementos de acordo com a sua importância no contexto temático. É sempre assim que começo. Mas há um antes. Antes significa ler livros, ver obras de outros mestres (tenho muitos pintores que me seduzem pela singularidade, pela mestria, pela genialidade) e pensar muito sobre o que fazer para acrescentar algo de novo. E esse é o problema maior. É tão difícil criar formas que sejam apelativas num mundo já tão carregado de imagens tão iguais umas às outras. Mestres como Lucian Freud, Balthus , Hockney e também as novas tecnologias na arte são alvo do meu apreço. História da Minha Pintura.

Recordo hoje as palavras de Benjamim Franklin:
“Seja cortês com todos, sociável com muitos, íntimo de poucos, amigo de um e inimigo de nenhum.”

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Ponto final








Hoje é o primeiro dia do resto da minha vida. Acabaram estas crónicas diárias. Agora serão apenas semanais. Muito ficou por mostrar do meu trabalho pictórico. Trinta anos a fazer e a desfazer é muito tempo. Não mostrei outro tanto do que tem sido este caminhar em busca de novas imagens. Esculturas, serigrafias, desenhos e muita, muita pintura. Não tenho registo de peças que fiz e que perdi o contacto. Acontece muito, no mercado da arte, porque quem vende nem sempre gosta de dizer, onde andam e a quem pertencem as peças -outras histórias e outros interesses neste mundo de conquistas e derrotas. Até com a arte e na arte muito há a contar. Pois claro.

Agora é chegado o momento de apenas pintar sem pensar em mais nada. É o meu retiro anual. É assim todos os anos. É o meu refúgio de tudo e de todos. Irei estar quase que incomunicável. É chegado o tempo de "religiosamente" trabalhar não pensando, não querendo pensar em devaneios e distracções vãs. O trabalho, qualquer trabalho exige tempo e rigor. É o que me espera agora neste caminhar de tintas, telas e desejos criativos. História da Minha Pintura.

Recordo hoje as palavras de Georges Rouault:

“Para mim pintar é uma maneira de esquecer a vida. É um grito na noite, um riso estrangulado.”

quinta-feira, 15 de julho de 2010

A arte está em todo o lado



“…Dispor os móveis numa sala é fazer arte. Ou olhar uma paisagem, pôr uma flor na lapela, ou num vaso. Escolher uma gravata, uns sapatos. Provar um fato. Pentear-se. Fazer a barba ou apará-la quando comprida. Todas as coisas de cerimónia têm que ver com a arte…”

Vergílio Ferreira, in 'Conta-Corrente 3'


Neste passeio, pelos cantos da casa, as cores e as formas dos objectos jogam entre si num bailado estético em que a substância de cada um se dilui. O que se destaca é, em primeiro lugar, o impacto formal e depois, se vontade houver, a descodificação de cada peça. Um livro exige tempo e interesse pelo seu conteúdo; uma pintura aparentemente é de fácil leitura, embora esconda muitas interpretações que só são legíveis se se olhar com olhos de ver. É pois neste intercâmbio de olhares, contemplações e diálogos que vivo da arte e com a arte. História da Minha Pintura.

E recordo hoje as palavras de Federico Fellini:

“Um escritor, um pintor, que conseguiram fixar numa página ou num quadro um sentimento das coisas do mundo, uma visão que durará para sempre, comunicam-me uma emoção profunda.”

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Bruxaria



“A palavra Bruxaria, segundo o uso corrente da língua portuguesa, designa as faculdades sobrenaturais de uma pessoa, que geralmente se utiliza de ritos mágicos, com intenção maligna - a magia negra - ou com intenção benigna - a magia branca. É também utilizada como sinônimo de curandeirismo e prática oracular, bem como de feitiçaria.”

In Wikipédia


Este é (na minha casa) um dos cantinhos onde, naturalmente, aparece o meu trabalho, aqui misturado com a simbólica bruxa checa. Não sou crente de coisa nenhuma. Acredito na ciência e, quando esta ainda não consegue explicar, é tudo uma questão de tempo. É mais saber que explica os mistérios da vida. As dúvidas, as incógnitas, os intrincados fenómenos não passam de ignorância; de incapacidade para descobrir cientificamente a verdade das coisas. De todas as coisas. O resto é puro oportunismo. O tempo, sempre o tempo - que é um acumular de mais saber -, traz a explicação científica do feitiço, da magia, ou do rito mágico. Traz Sempre. Sempre.

Estas duas pinturas foram feitas após uma viagem que fiz a Itália e que me fascinou. Recordo as cores ocres, os castanhos, a arquitectura e os espaços que, aqui, nestas pinturas acabaram por aparecer, pela influência que tudo me provoca, quando olho com olhos de ver e de pintor. História da Minha Pintura.


Recordo hoje Leonardo da Vinci:

“Quem pensa pouco, erra muito.”

terça-feira, 13 de julho de 2010

Amores de estudante



Canção do Amor-Perfeito
Eu vi o raio de sol
beijar o outono.
Eu vi na mão dos adeuses
o anel de ouro.
Não quero dizer o dia.
Não posso dizer o dono.

Eu vi bandeiras abertas
sobre o mar largo
e ouvi cantar as sereias.
Longe, num barco,
deixei meus olhos alegres,
trouxe meu sorriso amargo.

Bem no regaço da lua,
já não padeço.
Ai, seja como quiseres,
Amor-Perfeito,
gostaria que ficasses,
mas, se fores, não te esqueço.

Cecília Meireles, in 'Retrato Natural'



Esta imagem procura mostrar (como tenho feito ultimamente) o espaço privado e a inserção da pintura no contexto do lar. Este meu trabalho, de formato quadrangular, faz parte da série representando contextos juvenis. Aqui pode perceber-se a importância da escala e da relevância que as peças têm mercê das suas dimensões, porque independentemente da valia ou não, ninguém fica indiferente ao tamanho das peças, donde procuro criar obras que se destaquem, daí a minha preferência pelo grande formato. História da Minha Pintura.

E vos deixo com a Tuna Universitária do Porto e “Amores de Estudante”.


segunda-feira, 12 de julho de 2010

O teu riso



O teu riso

"Tira-me o pão, se quiseres,
tira-me o ar, mas não
me tires o teu riso..."


Pablo Neruda


Felizmente. Acabou o Mundial de Futebol. Não se falou de outra coisa, nesta quinzena. Hoje lembrei-me de Pablo Neruda. Faria anos se fosse vivo. Ficou a poesia que revejo, de vez em quando, porque vejo passar amores, desejos e paixões. Como todos.

Enquanto pinto faço muitas paragens procurando ver de longe e com serenidade o que as cores e as formas geram. Aqui sentado, observo e penso. Penso muito. Como todos os que olham esta passagem chamada vida. Vejo na junção das cores harmonia ou não; vejo nas formas combinações correctas ou deploráveis. Em suma: vejo e não vejo. Como toda a gente.

Esta imagem mostra mais um trabalho que, como todos os outros, é uma visão deste nosso tempo, onde habita tudo num conflito de interesses e de jogos virtuais. Cores fortes, sombras e luzes numa representação espacial de diferentes planos constituem esta amálgama pictórica. História da Minha Pintura.

E vos deixo com a voz maravilhosa de Plácido Domingo

domingo, 11 de julho de 2010

Trabalho



Poeminha sobre o Trabalho

Chego sempre à hora certa,
Contam comigo, não falho,
Pois adoro o meu emprego:
O que detesto é o trabalho.

Millôr Fernandes, inPif-Paf


É aqui que tudo acontece, ou quase tudo. Longe vão os tempos em que os artistas vinham para a rua pintar, como acontecia no século XIX e XX. Hoje, apenas para turista ver, nas principais praças das capitais da Europa (é o que eu conheço melhor), se observa a feitura, sobretudo, de desenhos caricaturais, de uns pretensos artistas, perdidos no sonho da arte pictórica. O trabalho é feito na solidão e no silêncio das quatro paredes, apenas quebrado pelo aparecimento dos modelos ou da música. É assim todos os dias. Deve ser assim todos os dias. Se assim não for não há obra por muita visualização mediática que se queira. História da Minha Pintura.

E vos deixo com a música que me fascina e me acompanha na solidão do trabalho. Hoje lembrei-me de Bethoven e Fur Elise”.

sábado, 10 de julho de 2010

Espaço privado



Hoje, de novo, levanto o véu e vou mostrando pedaços de espaços privados. Hoje como nunca a privacidade é tão mundana. Hoje, uns cientes ou não do valor e do significado da vida privada, tudo fazem para a proteger ou, pelo contrário, a devassam. É neste limbo que procuro ir falando de mim e do meu trabalho. Para alguns é um caminho, como outro qualquer, de divulgação e promoção; para outros, ainda, é um olhar com julgamentos censórios. Afinal, nada é como dantes. A net mudou o mundo e, se nas aldeias todos sabem de todos, agora também na cidade todos conhecem todos, ou não vivêssemos na era da informação global. Para o melhor e para o pior.

Esta imagem procura, sobretudo, mostrar pintura, relacioná-la com o espaço e dar uma imagem das dimensões das peças. O impacto das obras pictóricas não depende somente do tamanho mas, sem dúvida, que ganha uma visualização e um alcance que o pequeno formato não consegue ter. Procuro, dentro das muitas limitações que o trabalho implica, pintar preferencialmente telas de grande formato. História da Minha Pintura.

E recordo hoje as palavras de Georges Braque:

“Na arte só uma coisa importa: aquilo que não se pode explicar.”