segunda-feira, 6 de setembro de 2010

A minha companhia



Fraternidade

Não me dói nada meu particular.
Peno cilícios da comunidade.
Água dum rio doce, entrei no mar
E salguei-me no sal da imensidade.

Dei o sossego às ondas
Da multidão.
E agora tenho chagas
No coração
E uma angústia secreta.

Mas não podia, lírico poeta,
Ficar, de avena, a exercitar o ouvido,
Longe do mundo e longe do ruído.

Miguel Torga, in 'Cântico do Homem'



Somos seres gregários. Vivemos em sociedade, com muita gente ou isolados de tudo e de todos. No meio da multidão há também muita solidão. Na solidão há muita companhia. Depende de cada um. Depende só de nós. E só de nós.

A minha companhia é multifacetada – confesso -, no entanto, não passo sem música. Não é toda a música. Depende: do contexto; da companhia (pois claro), e mais não digo…

Nestes dias de muito calor andei por aí. Sempre, sempre acompanhado pela minha música, que é, afinal, das melhores companhias nos dias solarengos, nebulosos, cinzentos, frios ou trovejantes. Cada um escolhe o seu destino e, obviamente, as dependências. E dependente sou das grandes vozes e das sonoridades que deslumbram quem ouve com paixão os melhores sons que a humanidade criou. Falo de gostos. E só de gostos. Confissões, afinal.

E vos deixo com a a música de Verdi e Di Provenza ária da ópera “La Traviata cantada por Dietrich Fisher-Dieskau, uma das vozes que mais admiro.


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