quarta-feira, 30 de agosto de 2017

Tudo se transforma








A palmeira do meu jardim, à semelhança do que aconteceu em todo o lado, atacada pelo escaravelho, acabou por morrer e, enquanto não apodrecer por completo nem cair, está agora transformada  numa peça, digamos de... arte!



Procuro aproveitar todos os materiais e transformá-los em esculturas quando faço obras em casa. Não sou escultor, confesso, mas adoro pegar em madeiras, pregos, tintas, restos de materiais de diferentes formas para construir peças volumétricas. O volume gerado pela incongruência de objetos que, à priori, foram concebidos para ter uma função e eu alterar por completo o seu propósito fascina-me. E, por isso mesmo, resolvi pegar numas tintas e utilizar a capacidade atraente das cores para alegrar o espaço, onde tanto gosto de partilhar com os amigos do costume. Atendendo às limitações da configuração do que resta da madeira e às próprias características dos materiais possíveis para colorir, aquela que em tempos foi uma palmeira frondosa e luxuriante é, agora, um manto de cores díspares, que irei pintando e pintando, a cada nova estação, mudando assim a sua aparência e, neste mundo onde tudo se transforma, tenho, para meu gáudio, uma escultura mutante no meu jardim...







E vos deixo com as palavras daquele que foi um dos mais conceituados químicos francês, que viveu no século XVIII e é considerado o pai da química moderna, Antoine Lavoisier:



“Na Natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”.





terça-feira, 22 de agosto de 2017

Tempo de pausa
















Há um tempo novo, ou não fosse o tempo sempre novo. É novo porque acontece agora, nestes instantes, nestes dias próximos. Só isso. E o que sucede é simples de explicar: férias ou a miragem delas. Criou-se um modo de estar em que quase é necessário parar, fazer outras coisas, quebrar as rotinas e nada melhor que o verão, para viajar ou fazer dos dias um modo de ser e estar diferente. Em todo o lado, ou as ruas estão cheias de novas gentes, ou quase vazias. Uns chegaram e outros partiram. E porque o tempo e o modo  são outros, eu não consigo pintar com a perturbação dos hábitos e dos novos horários. Há em mim uma necessidade de realizar novos trabalhos, mas a quebra dos comportamentos de todos os que me cercam, inviabilizam a necessidade do rigor absoluto no praticar do exercício laboral. Brevemente, espero regressar em força para fazer o que tanto me preenche. Entretanto, faço muitas outras coisas que também são necessárias e me envolvem e me deixam com uma enorme saudade.



Há em mim uma necessidade de aproveitar o tempo ao máximo no instante vivido. Planear acções para futuros longínquos não fazem parte dos meus planos. Há limitações para os nossos desejos que a inevitabilidade do tempo se encarrega de actuar. As doenças e os imprevistos sociais alteram os sonhos, por isso, agora, mais do que nunca, procuro tirar o máximo partido do momento, porque sei que muito do sonhado se tornou impossível, mesmo aquele que aparentemente era tão acessível, mas acontecem males que não dominamos e o que era óbvio e tão normal, passou a ser uma luta titanica. Enfim. Vidas. A minha, claro....



E vos deixo com as palavras de Steve Jobs que um dia disse:

" Se viveres cada dia como se fosse o último, algum dia estarás provavelmente certo."


segunda-feira, 14 de agosto de 2017

Arte da Solidão








Estamos no mês de agosto e, como é característico desta época, o calor aperta no mais repousante mês do ano, onde os portugueses se refugiam, muitos deles, nas praias, nas viagens e nos convívios familiares. Para trabalhar eu necessito de um rigor temporal, não condizente com as alterações que o clima traz consigo: preciso da solidão para me deixar levar no fantasioso mundo da criatividade. Sempre assim foi. Ainda no tempo de estudante nas Belas-Artes de Lisboa, mesmo com as salas cheias reinava o silêncio, apenas cortado com as observações do professor nas aulas. Nos dias de hoje, pessoas por perto e os imprevistos não me deixam executar nada. Não consigo. Sou assim. Crio hábitos, rotinas e, quando os horários mudam a tela branca continua branca,  os muitos projetos – anteriormente julgados fáceis de concretizar - esfumam-se na incapacidade de os iniciar. Dito de um outro modo e em suma: sou exigente para pintar...




Quero realizar tantas coisas e conviver também. Preciso das pessoas para dar sentido ao meu caminhar, cheio de momentos bons. O que me apraz, depois de tanto sonhar, é querer consumir os prazeres simples e encantadores que a vida tem e que muitas vezes nem queremos pensar neles. Tenho agora uma vida cheia e a arte da solidão é a minha companhia de todos os dias, quer trabalhe quer não, porque há em mim este gostar tanto de consumir a simplicidade do estar, com muita música clássica e desejos sem fim, longe, muito longe...até de mim.






E, vos deixo com as palavras do cronista e escritor Joel Neto que, um dia escreveu, in “A Vida no Campo”:



“Ainda é a rotina que buscamos, como um ideal. Não conheço melhor instrumento. Permite-nos ir chegando para o lado tudo o que é mecânico, ou burocrático, ou aborrecido – e, entretanto, viver. A rotina é o inimigo número um do tédio.”

quarta-feira, 9 de agosto de 2017

Regressar ao futuro é preciso











Comecei o dia a apanhar figos e maracujás. A brisa e o contacto direto com a natureza fazem-me bem. Gosto de estar na paisagem verdejante, embora o mar seja fascinante e me encante tudo nele: o cheiro marinho, o constante ondular, a atmosfera das praias, as cores e suas gentes tão disponíveis, para saborear a beleza única dada pela água com seus medos e histórias sem fim, sobretudo, quanto o calor chega e conduz tantos aos prazeres dos banhos, quer sejam eles de sol ou de mar. Mas é tão bom eu ter a possibilidade de, logo pela manhã, recordar um pouco da minha infância neste elo com a terra e o que ela dá, depois ... é saborear a doçura de figos e maracujás.





E o trabalho chama por mim, ultimamente numa irregularidade pouco comum. Preciso, para produzir, sempre de um enorme rigor na gestão do tempo. As horas fogem e tudo tem de ser bem gerido para que cada dia seja frutuoso e, essencialmente, o mais agradável possível porque tudo é tão breve. O futuro é já amanhã e é preciso regressar para continuar a alimentar o sonho de realizar obras que ficarão para os meus vindouros, se houver quem delas goste. Todos os dias, logo bem cedo começo a trabalhar, porque, confesso, sou um comprador compulsivo de materiais de pintura. Tenho tantos pincéis, tantas telas e tantos outros utensílios que, agora sei, jamais conseguirei usar, mesmo nesta azáfama laboral. Agora, estou numa ansiedade de retratar pessoas utilizando o desenho como meio de expressão, donde, a necessidade de ter à mão os meios julgados necessários, dito por outras palavras: comprei mais folhas, lápis e molduras. Vícios...para continuar a produzir novas obras que nem sei para onde me levarão, o que é fascinante, porque é preciso regressar ao futuro.








E vos deixo com as palavras do político, orador e escritor irlandês do século XVIII, Edmund Burke que um dia disse:




“ Nunca se pode planear o futuro pelo passado.”