sábado, 19 de dezembro de 2009

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“...Eu adoro todas as coisas
E o meu coração é um albergue aberto toda a noite.
Tenho pela vida um interesse ávido
Que busca compreendê-la sentindo-a muito.
Amo tudo, animo tudo, empresto humanidade a tudo,
Aos homens e às pedras, às almas e às máquinas,
Para aumentar com isso a minha personalidade.

Pertenço a tudo para pertencer cada vez mais a mim próprio
E a minha ambição era trazer o universo ao colo
Como uma criança a quem a ama beija
Eu amo todas as coisas, umas mais do que as outras,
Não nenhuma mais do que outra, mas sempre mais as que estou vendo
Do que as que vi ou verei.
Nada para mim é tão belo como o movimento e as sensações.
A vida é uma grande feira e tudo são barracas e saltimbancos.
Penso nisto, enterneço-me mas não sossego nunca...”

Álvaro de Campos, in “Poemas”
Heterónimo de Fernando Pessoa

Encontrei este desenho perdido nas muitas folhas dispersas do meu amontoado acervo. É um trabalho dos finais dos anos 70. Aqui, neste registo feito em três tempos, a tinta-da-china e um aparo grotesco exigiam rapidez de acção. História da Minha Pintura.

E vos deixo com a música de Mozart aqui com as vozes de Carreras e Sumi Jo em “La ci darem la mano”.

1 comentário:

  1. Difícil explicar porquê, mas isolei os dois últimos versos da parte anterior do poema de Álvaro de Campos e detive-me um pouco neles. Será que Pessoa alguma vez sossegou? Tal como todos nós não sossegamos, acho eu.

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