terça-feira, 13 de setembro de 2016

Blogs









João Alfaro


“Flora” (pormenor), 2016 
Pintura sobre tela de 80 x 120 cm 






“Não há fome que não dê em fartura”. Acontece muito em tantas situações. Quando surgiram os blogs não havia “cão, nem gato”, passe a expressão, que não tivesse um. Quase todos eles eram diários escritos, agora não em folhas de um qualquer bloco de apontamentos, mas sim integrados nos processos das novas tecnologias, numa escrita de acesso a todos. Finalmente tinha surgido um meio simples, acessível, barato e abrangente de chegar a muitos e, para isso, bastava apenas escrever e colocar umas fotografias ou vídeos. Mas a continuidade cansa. Cansa e muito. Lentamente os blogs se esvaziaram de conteúdo e de interesse. E foram acabando. Uns muito politizados pela efervescência do momento, que passada a tempestade política se transformaram num lamacento oásis de coisa nenhuma; outros, de cariz confessional, de tanto repetirem lamúria da triste sina que persegue cada um com a sua fantasia, terminaram por ser uma repetição das mesmas lamentações e da inquietude do costume; finalmente, os resistentes se dividem em dois grupos: os que muitos ainda conseguem ler e os que existindo, quase ninguém sabe o que escrevem. Eu, porque sou teimoso – essa é a única razão – ainda aqui ando com o meu blog.







Agora soube que há um avaliação sobre os melhores blogs. Todos os dias leio um, porque já fazem parte do meu diário literário.  Paulatinamente fui gostando cada vez mais de ler não nas folhas impressas num qualquer jornal ou livro, mas no computador. Mudam-se os tempos.... 





Gosto de ler informação diversificada e continuada, coisa rara nos blogs que exigem- para que seja apelativo – informação diária e inovadora, coisa que não faço. O tempo sempre me escasseia e porque não quero entrar por campos do intimismo, onde me sinto mais consistente, agora, reconheço “sou pão sem sal”, tudo muito amorfo e apenas factual no registo do que publico aleatoriamente, sem eira nem beira, até na periodicidade, mas preciso escrever, nem que seja para não esquecer as palavras e a existência. E Escrevo, escrevo sim, sobre a pintura. A minha.







E vos deixo com as palavras de Saramago, in “La Provincia "(1997):




“ No fundo, todos temos necessidade de dizer quem somos e o que é que somos e o que é que estamos a fazer e a necessidade de deixar algo feito, porque esta vida não é eterna e deixar coisas feitas pode ser uma forma de eternidade.”                                                            

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