Hoje, ao olhar para esta aguarela, lembrei-me de um belíssimo poema, lido em tempos idos, e que pela autenticidade do sentimento expresso, me parece corresponder ao que busco neste meu trabalho. Tudo o que possa dizer será perturbador e atentatório da mensagem tão eloquente e sentida do amor perdido. E vos deixo com as palavras do António José Queirós - “Soneto da Inquietação” -, e com a música de Claude Debussy -“Claire de Lune”-, tocado ao violino por David Oistrakh em Paris no ano de 1962 e com Frida Bauer ao piano.
Soneto da inquietação
Olho a ponte, olho o rio, mas não vejo
quem meus olhos procuram cegamente;
corre o tempo, fica a dor e o desejo
que o mundo se acabe de repente!
Passa um dia, outro dia, já não sei
por onde se perdeu meu pensamento;
caem sombras nos sonhos que sonhei
debruadas de mágoa e esquecimento.
Com a vida, por vezes, não me entendo,
nem com seus alados véus de ilusão.
E enquanto o meu mundo vai morrendo,
em saudosas vigílias de paixão,
recordando o passado vou vivendo
numa louca e amarga inquietação.
"Clair de Lune" do meu ano de aparecimento neste mundo.
ResponderEliminarO poema é muito belo mas demasiado trágico, fatalista. É quase o morrer de Amor das cantigas medievais ou até o amor de Camões sempre tão trágico e impossível. Na verdade o Amor é isso tudo quantas vezes, e quantas vezes deixa marcas perenes que depois se transformam nesses estados de alma. Apesar de estados de alma extremos gosto de pensar que há um momento para que a mudança se converta e que a "louca e amarga inquietação" provocados pela cegueira daquilo que foi, se rasguem num eclodir de vida nova.
Gosto de pensar que esse estado de alma é o tempo de quarentena que as emoções daninhas devem viver em cativeiro para darem lugar à felicidade.
Perfeita conjugação esta entre música, pintura e palavra. (eu fiquei arrebatada)