domingo, 6 de junho de 2010

As minhas mãos






As Minhas Mãos
As minhas mãos magritas, afiladas,
Tão brancas como a água da nascente,
Lembram pálidas rosas entornadas
Dum regaço de Infanta do Oriente.

Mãos de ninfa, de fada, de vidente,
Pobrezinhas em sedas enroladas,
Virgens mortas em luz amortalhadas
Pelas próprias mãos de oiro do sol-poente.

Magras e brancas... Foram assim feitas...
Mãos de enjeitada porque tu me enjeitas...
Tão doces que elas são! Tão a meu gosto!

Pra que as quero eu - Deus! - Pra que as quero eu?!
Ó minhas mãos, aonde está o céu?
...Aonde estão as linhas do teu rosto?


Florbela Espanca, in "Charneca em Flor"

As mãos fazem tudo: obras-primas e crimes horríveis. Fazem o que a mente manda. Fazem o melhor e o menos recomendável dos seres humanos. Fazem o que define e caracterizam este percurso pelo tempo e pelo espaço. Fazem e não fazem. E encantam ou desgostam. Felizmente e infelizmente. E mais não digo...

Esta fotografia é um retrato das minhas mãos que procuro cuidar para os muitos trabalhos pictóricos que ainda quero fazer. Sou como os pianistas que evitam, a todo o custo, executar tarefas que os impeçam de cumprir a sua função. Hoje, mais do que nunca, procuro ter uma missão: pintar. Pintar para comunicar, ou seja, dizer aos outros através das cores e das formas o que considero certo e abonatório. Eu sou assim.

E vos deixo com “Rapsódia Húngara, nº 2” de Liszt que ficou célebre pelo seu génio pianístico e ...já agora, contam também que tinha umas mãos compridas que lhe permitiram tocar o que tocou e como tocou. Histórias da Música e não só...






Sem comentários:

Enviar um comentário