Há os que têm vergonha. Vergonha dos actos; do passado; de si; do corpo; vergonha de não saber; de não ser capaz; da exposição de si próprio; de tudo e de nada. Vergonha. Simplesmente vergonha. E há os outros: os que gostam de se expor a este mundo e ao outro. Expõem a si e aos seus. Expõem-se sabendo que não têm vergonha de mentir, de roubar, de criminalizar, disto e daquilo. E é assim que vivemos. Uns cientes de valores éticos. Outros querendo tudo, logo sem valores nenhuns. É a nossa gente. Com e sem vergonha.
Esta aguarela é um dos muitos retratos que me encantam (modéstia à parte) porque trazem em si o que há de mais belo e puro na postura de quem tem ainda princípios e valores. É a timidez que aqui tem a expressão mais ampla. Este retrato só foi feito depois de obter o papel ideal para aguarela e conseguir tirar partido da mistura das cores e das transparências, só possíveis nas pinceladas únicas da aguarela. Histórias da Minha Pintura.
Hoje trago as palavras de Vergílio Ferreira em "Conta-Corrente 5":
"Ser tímido é dar importância aos outros. Ser desinibido é dá-la a si próprio. Mas normalmente o tímido tem-na. O desinibido não."
E vos deixo com a música de quem fez da timidez um modo de estar na vida: Schumann, aqui, com a mestria, ao piano, de Argerich .
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