terça-feira, 7 de julho de 2009

Cartas de amor






“Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.
Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.
As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas…”

1 comentário:

  1. Fernando Pessoa escrevia assim, a Ofhélia Queiroz, em 9 de Outubro de 1929, umas das suas "cartas ridículas":

    Terrível Bébé
    Gosto das suas cartas, que são meiguinhas, e também gosto de si, que é meiguinha também. E é bonbon, e é vespa, e é mel, que é das abelhas e não das vespas, e tudo está certo, e a Bébé deve escrever-me sempre, mesmo que eu não escreva, que é sempre, e eu estou triste, e sou maluco, e ninguém gosta de mim, e também porque é que a havia de gostar, e isso mesmo, e torna tudo ao princípio, e parece-me que ainda lhe telephono hoje, e gostava de lhe dar um beijo na bocca, com exactidão e gulodice e comer-lhe a bocca e comer os beijinhos que tivesse lá escondidos e encostar-me ao seu hombro e escorregar para a ternura dos pombinhos, e pedir-lhe desculpa, e a desculpa ser a fingir, e tornar muitas vezes, e ponto final até recomeçar, e porque é que a Ophelinha gosta de um meliante e de um cevado e (...) e eu gostava que a Bébé fôsse uma boneca minha, e eu fazia como uma crença, despia-a, e o papel acaba aqui mesmo, e isto parece ser impossível ser escripto por um ente humano, mas é escripto por mim
    Fernando

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