Hoje temos uma necessidade premente de conhecer fisicamente o outro. Basta, por vezes, uma simples fotografia. A imagem diz tanto e diz tão pouco. O outro, o desconhecido, tem um modo de estar, tem uma voz, tem um cheiro, tem uma corpulência, tem uma idade, tem isto e aquilo. Uma foto dá apenas a imagem que nos mostra só uma parte do retratado, no entanto, chega e sobeja (às vezes), para catalogar e destrinçar.
Os grandes obreiros nem sempre mereceram, no seu tempo, o reconhecimento não só social, mas também afectivo. Beethoven, Chopin e Tchaikovsky (para falar só de músicos) exprimiram os sentimentos no trabalho que produziram e que se reconhece de grande genialidade; eles, uns simples humanos, com as angústias e as tristezas dos seus anónimos semelhantes.
Os grandes, aqueles que se elevaram nos altares da fama pela obra, também têm os defeitos de todos nós: egoístas, mentirosos, interesseiros, gananciosos, invejosos, eu sei lá. Somos todos iguais. Uns mais criativos; outros mais sortudos; outros ainda procurando eternamente o caminho em busca do imaginário.
Esta aguarela retrata um cenário de imaginários destinos. Mais uma vez utilizei os meus brinquedos para entrarem na minha pintura. Os ateliês de Paula Rego e Rembrandt mostram os objectos que naturalmente se incorporaram nas pinturas e que, por estarem ali tão perto, acabaram por retratar imaginários destinos. Histórias da pintura…
E vos deixo com a poesia de Fernando Pessoa, in Cancioneiro:
Dizem que Finjo ou Minto
“Dizem que finjo ou minto
Tudo o que escrevo. Não.
Eu simplesmente sinto
Com a imaginação.
Não uso o coração…”
Imaginar,
ResponderEliminarpensar, olhar,
longe e perto
imaginar,
crescer para esse lugar
sem estar
pensar, voar, ficar
voltar,
retornar, parar
brincar, inovar
fabricar,
marionetas a dançar
contemplar
esticar,
imaginar
no tempo a recomeçar,
girar a girar
sem querer
pensar,
voltar ou ficar.
aidaB