segunda-feira, 31 de maio de 2010

Momentos únicos






Vivemos tanto. Uns mais que outros. Quer num caso, quer noutro há momentos únicos. Momentos que jamais esqueceremos. O tempo, sempre o tempo levará (da nossa memória) a maior parte das vivências e apenas restarão alguns momentos. Momentos únicos. Podem ser maravilhosos ou tenebrosos. Se forem memoráveis pelas razões maiores, valeu a pena tê-los vivido, embora, como acontece muito, o que é bom acaba depressa. Fica a recordação e o encanto que só os momentos únicos possuem. E estes ficam sempre no nosso coração. Sempre.

Estes desenhos retratam momentos únicos. Podem ter sido muitos. Em diferentes tempos e repetidos vezes sem conta, mas são momentos únicos. Momentos que não se repetem porque, quer queiramos, quer não, tudo tem o seu tempo e o seu contexto. Felizmente que sabemos inverter, por vezes, a ordem das coisas e encontramos vida quando pensamos que tudo morreu.

Estes desenhos são momentos de carinho realizados por observação directa e com ajuda de modelos. Linhas e mais linhas num cuidado rigor gráfico constituem este labirinto jogo de formas, luzes e sombras. História da Minha Pintura.

Hoje vos deixo com a música de Hoffenbach e “Barcarola”. Eu sei que a média de tempo a ler um blog é de dois minutos e que poucos ouvem a música que se coloca, apesar disso não resisto e ponho , de quando em vez, sons que fazem parte de mim, porque tão importante como pintar, conversar e conviver é ouvir sons que transmitem a serenidade e a tranquilidade que só a Grande Música alcança.


domingo, 30 de maio de 2010

O nosso pensamento












A Nossa Vontade e o Nosso Pensamento
Anjos ou deuses, sempre nós tivemos,
A visão perturbada de que acima
De nós e compelindo-nos
Agem outras presenças.

Como acima dos gados que há nos campos
O nosso esforço, que eles não compreendem,
Os coage e obriga
E eles não nos percebem,

Nossa vontade e o nosso pensamento
São as mãos pelas quais outros nos guiam
Para onde eles querem
E nós não desejamos.

Ricardo Reis, in "Odes"
Heterónimo de Fernando Pessoa


Estes desenhos são apontamentos feitos em diferentes momentos e em diversos locais. A cada um corresponde um pensamento e uma vontade. Tudo o que faço é transmitir ideias e estados de alma, perceptíveis ou não. Aqui, nesta amálgama de formas gráficas, o importante é conseguir a essência das muitas ideias que nos assaltam, e que nos fazem levar a actos, posturas e atitudes que compõem este nosso modo de viver, e que procurei, deste modo, retratar com o meu olhar e a minha pena. História da Minha Pintura.

E vos deixo hoje com a música de Handel e a voz de Cecilia Bartoli em “Um Pensiero Nemico Di Pace”.

sábado, 29 de maio de 2010

O corpo






A natureza humana tem as suas regras. Regras do tempo, pois claro. A nossa cultura tem orientações estéticas, que se regem por conceitos temporais , mas de outra ordem. Baixo, magro, gordo, alto, feio ou bonito são juízos de valor. Apenas isso. E só isso. O que é feio hoje pode ser bonito depois e vice-versa. Até o corpo.

Estes desenhos são meros registos gráficos de posições simplificadas do corpo, que tem o encanto eterno, neste jogo de desejos que é a vida. Para uns é belo enquanto que é horrível para muitos outros. Modos de ver a mesma realidade com considerações tão díspares, é a nossa forma de entender este mosaico humano.

Desenho através de qualquer meio riscador, num indiferenciado suporte, quase todos os dias. É assim que eu trabalho, como atestam estes apontamentos hoje publicados, aqui tendo como suporte o papel, o meio riscador foi o lápis de cor e o processo formal consistiu em riscar, riscar e ... as imagens foram aparecendo.História da Minha Pintura.

Recordo hoje as palavras de Noel Clarasó:
“O corpo, se for bem tratado, dura uma vida inteira.”

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Jogadores de cartas


Não se fala de outra coisa. É desporto e mais desporto. E o mundo, todos os dias, muda com notícias tristes. E nós olhamos para o lado, encantados com os pontapés na bola. Enfim...

Este conjunto de pequenas telas é uma combinação de enquadramentos sobre um jogo de cartas. Cores e formas simples formam este trabalho que, surgiu para ilustrar um determinado contexto, vivido em tempos, e que busca essencialmente captar um ambiente. O jogo é fértil em emoções e desafios e por isso tanto encanto. Pelas melhores e pelas piores razões.

Gosto sobretudo de pintar em telas de grandes dimensões, no entanto, não resisto a comprar pequenas telas que me servem para estudos. Este conjunto foi feito a pensar num projecto de outra envergadura, mas o tempo passou e o interesse pela temática também. História da Minha Pintura.

Recordo hoje as palavras de Jean de La Fontaine:
“Quando desejamos pomo-nos à disposição de quem esperamos.”

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Festas populares



O Verão está à porta. O calor já começa a chegar e o desejo das festanças também. Um pouco por todo o lado, o bom povo procura a brisa do mar ou os comes-e bebes acompanhado pela música do costume. De banda em banda se assiste ao cortejo e à simbologia da festa. E assim com sonoridade, calor e muitos aromas se faz a história das vidas por aqui. Em 2010. Nas festas populares.

Esta pintura em tela é mais uma representação do encanto que a se assiste quando a banda passa. É um ritual sempre chamativo, sempre cativante, sempre desejado. A simplicidade é a fórmula mágica que faz perpetuar modos e posturas. O que é genuíno tem esse dom. E foi esse modo de contemplar a banda a passar que este meu trabalho procurou vincar.

Ambiente com alguma fantasia e cores quentes fazem esta obra, onde o jogo de luzes e sombras ocupam um lugar relevante.História da Minha Pintura.

Hoje lembrei-me das palavras de Victor Hugo, in “Contemplações”:

“O homem é uma prisão em que a alma permanece livre.”

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Só penso



Já não Vivo, Só Penso

Já não vivo, só penso. E o pensamento
é uma teia confusa, complicada,
uma renda subtil feita de nada:
de nuvens, de crepúsculos, de vento.

Tudo é silêncio. O arco-íris é cinzento,
e eu cada vez mais vaga, mais alheada.
Percorro o céu e a terra aqui sentada,
sem uma voz, um olhar, um movimento.

Terei morrido já sem o saber?
Seria bom mas não, não pode ser,
ainda me sinto presa por mil laços,

ainda sinto na pele o sol e a lua,
ouço a chuva cair na minha rua,
e a vida ainda me aperta nos seus braços.


Fernanda de Castro, in "E Eu, Saudosa, Saudosa"

Esta tela é um olhar pela cercania e pela postura dos momentos de meditação. Pensamos tanto e, no entanto, muito fica na incógnita dos desejos de cada um. É esse retrato do intimismo do espaço e do indivíduo que gosto de expor. Cada tempo tem as suas marcas e, esta pintura de 86, procura caracterizar o meio e modos de estar.

Para fazer este trabalho fui profundamente influenciado pela pintura americana dos anos setenta. A perspectiva, as cores e a pose definem esta obra feita num ápice.História da Minha Pintura.

E vos deixo com a música de Verdi, a voz de António Cortis e uma ária de "Rigoletto".

terça-feira, 25 de maio de 2010

Lugares mágicos



Há sítios com magia: encantam e deslumbram. Por muitas razões nos apaixonamos por lugares. Lugares que têm a beleza e a capacidade de nos emocionar. Pode ser só pela estética, ou pela História, ou pela conjugação de interesses. O importante mesmo é gostar de estar no sítio certo, porque o que conta é o prazer, e este, depende de cada um, de acordo com as circunstâncias, ou seja, a magia é feita dentro de nós, e não em lugar nenhum.

Esta tela é uma pintura que procura retratar um espaço que tem a magia das cores, das luzes, das sombras e da História (para mim). Porque gostei tanto de olhar com olhos de ver esta conjugação de elementos estéticos e narrativos, não resisti a criar esta paisagem, onde a mão do Homem se harmonizou com a Natureza. História da Minha Pintura.

Recordo hoje as palavras de Friedrich Nietzche, in “A Gaia Ciência”:

“As explicações místicas passam por profundas; a verdade é que nem sequer são superficiais.”

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Melhores dias



É sempre assim. Esperamos. Esperamos sempre. Esperamos por melhores dias. Dias que queremos diferentes de acordo com os nossos propósitos. O tempo passa, os dias também e tudo continua como dantes. Acontece muito. Quase sempre, quando queremos melhores dias...

Esta tela é um olhar pela paisagem que é bela para quem gosta de contemplar a natureza e o meio rural. E gostamos quando olhamos com olhos de ver segundo os nossos valores e princípios. Tudo se resume, afinal, a uma postura cultural que é definidora daquilo que chamamos felicidade ou do desencanto pelos melhores dias.

Esta pintura nasceu do gosto de estar, olhar e fruir o espaço, o tempo e a luminosidade de um lugar que tem tudo de pictórico: cor, sombra, luz, forma, textura e criatividade. História da Minha Pintura.

Recordo hoje as palavras de Hugo Hofmannsthal, in “O Livro dos Amigos”:

“Uma hora de contemplação é melhor que um ano de devoção.”

domingo, 23 de maio de 2010

Esquecimento



Esqueço-me das Horas Transviadas

Esqueço-me das horas transviadas
o Outono mora mágoas nos outeiros
E põe um roxo vago nos ribeiros...
Hóstia de assombro a alma, e toda estradas...

Aconteceu-me esta paisagem, fadas
De sepulcros a orgíaco... Trigueiros
Os céus da tua face, e os derradeiros
Tons do poente segredam nas arcadas...

No claustro seqüestrando a lucidez
Um espasmo apagado em ódio à ânsia
Põe dias de ilhas vistas do convés

No meu cansaço perdido entre os gelos
E a cor do outono é um funeral de apelos
Pela estrada da minha dissonância...

Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"


Esta tela branca é o palco que espera pelas tintas e pela imaginação do pintor. De vez em quando, o vazio invade tudo e nada deixa para a criação. De tempos a tempos, nada faço, porque não consigo pintar com convicção, nem com vontade, nem com determinação. E tenho mesmo de parar. Parar para pensar. Pensar para ganhar alento. É assim que eu trabalho. História da Minha Pintura.

Esclarecimento:
Acontece. Acontece a todos. E mais ainda aos distraídos. Esqueci-me da senha que tinha alterado. As novas tecnologias não perdoam ( as máquinas têm sempre razão). O blog sem senha não funcionava. Agora que está reposta a normalidade tudo vai ser (quase)como dantes. Irei continuar a publicar pequenos textos, pontualmente com músicas, e, sempre, a minha pintura. De diário este blog passará a semanal. O tempo- sempre o tempo -, não me permite esta rotina que, confesso, me tira tempo à pintura, razão principal, afinal, do nascimento deste blog que é :divulgar o meu trabalho.

E vos deixo com a música de Puccini, as vozes de Plácido Domingo e de Mirella Freni em “Madame Butterfly”.


terça-feira, 18 de maio de 2010

As minhas ilusões



As Minhas Ilusões
Hora sagrada dum entardecer
De Outono, à beira-mar, cor de safira,
Soa no ar uma invisível lira ...
O sol é um doente a enlanguescer ...

A vaga estende os braços a suster,
Numa dor de revolta cheia de ira,
A doirada cabeça que delira
Num último suspiro, a estremecer!

O sol morreu ... e veste luto o mar ...
E eu vejo a urna de oiro, a balouçar,
À flor das ondas, num lençol de espuma.

As minhas Ilusões, doce tesoiro,
Também as vi levar em urna de oiro,
No mar da Vida, assim ... uma por uma ...

Florbela Espanca, in "Livro de Mágoas"


Esta tela, dos anos oitenta, é uma síntese da transparência dos lugares e dos modos de vida, que acabam sempre por ser espaços abertos, onde cada um faz os juízos de valor que quer, de acordo com os seus interesses. E é no cantinho de cada um, que construimos os castelos de sonho, e as ilusões que o tempo aclara.

Esta minha pintura é resultante dos muitos desenhos prévios dos espaços surrealizantes que fazia na época, e do jogo das cores contrastantes. Mundos perfeitos com ambientes salutares e longínquos da instabilidade emocional ou social era a marca desse tempo. Depois era, na tela, a luta do costume: construção e destruição de formas e cores, até que, julgado certo o enquadramento e o cromatismo, finalizava com a assinatura e a datação do trabalho. História da Minha Pintura.

E vos deixo com a mestria musical de Glenn Gould tocando Bach.


segunda-feira, 17 de maio de 2010

O constante diálogo



O Constante Diálogo
Há tantos diálogos

Diálogo com o ser amado
o semelhante
o diferente
o indiferente
o oposto
o adversário
o surdo-mudo
o possesso
o irracional
o vegetal
o mineral
o inominado

Diálogo consigo mesmo
com a noite
os astros
os mortos
as ideias
o sonho
o passado
o mais que futuro

Escolhe teu diálogo
e
tua melhor palavra
ou
teu melhor silêncio.
Mesmo no silêncio e com o silêncio
dialogamos.


Carlos Drummond de Andrade, in 'Discurso da Primavera'

Comunicamos permanentemente, mesmo quando nada dizemos. Esta pintura é (ou procura ser) o retrato dos muitos diálogos, com ou sem substância; é (talvez) o espelho das vidas e dos comportamentos; é (ou não) a visão de posturas e de meios, é, em suma, o nosso constante diálogo de todos os dias.

Este meu trabalho, hoje propriedade da Câmara Municipal de Ponte de Sôr, é um díptico – forma que utilizei muito nos finais dos anos 80 -, procura descrever um contexto com as normas vigentes da temporalidade. Cores azuis e verdes dominam a composição que é, também, um jogo de sínteses formais e de surrealidades. História da Minha Pintura.


E vos deixo com a voz de Tomás Alcaide que encanta, qualquer um, quando queremos ouvir vozes de encantar.

domingo, 16 de maio de 2010

Todos os dias



Todos os Dias

Todos os dias
nascem pequeninas nuvens,
róseas umas,
aniladas outras,
nacaradas espumas...

Todos os dias
nascem rosas,
também róseas
ou cor de chá, de veludo...

Todos os dias
nascem violetas,
as eleitas
dos pobres corações...

Todos os dias
nascem risos, canções...

Todos os dias
os pássaros acordam
nos seus ninhos de lãs...

Todos os dias
nascem novos dias,
nascem novas manhãs...

Saúl Dias, in "Essência"



Esta tela é um olhar pela repetição dos gestos do quotidiano. Uma mesa, uma cadeira, um prato , um raio de luz que invade o espaço e, uma paisagem, que a porta entreaberta deixa ver. Tudo isto é um cenário tão igual e sempre, afinal, diferente. Como acontece todos os dias.

Esta pintura – da fase sintética-, é uma representação, onde o importante é a simplicidade formal e cromática num jogo puramente pictoral, cujo fim é a obtenção da imagem sugestiva e transmissora de valores estéticos. História da Minha Pintura.

E vos deixo, neste dia, igual a tantos outros, mas seguramente diferente, com uma das minhas paixões: Maria Callas e “O mio babbino caro”, uma obra de Puccini.

sábado, 15 de maio de 2010

Caminhos



Caminhos
Para quê, caminhos do mundo,
Me atraís? — Se eu sei bem já
Que voltarei donde parto,
Por qualquer lado que vá.

Pra quê? — Se a Terra é redonda;
E, sempre, tem de cumprir-se
A sina daquela onda
Que parece vai sumir-se,

Mas que volta, bem mais débil,
Ao meio do lago, onde
A mãe, gota d'água flébil,
Há muito tempo se esconde.

Pra quê? — Se a folha viçosa
Na Primavera, feliz,
Amanhã será, gostosa,
Alimento da raiz.

Pra quê, caminhos do mundo?
Pra quê, andanças sem Fim?
Se todo o sonho profundo
Deste Mundo e do Outro-Mundo,
Não 'stá neles, mas em mim.

Francisco Bugalho, in "Paisagem"


Esta tela é um jogo, de muitas cores, que procura retratar um meio que, pela singularidade arquitectónica, encanta qualquer um. É assim a vida que, nos reserva, ao virar da esquina, surpresas quando tudo parece sempre igual.

Para fazer esta pintura utilizei instrumentos de registo rigorosos e um jogo prévio de cores. Régua e esquadro para traçar as linhas paralelas e perpendiculares; muitos pincéis (quase todos finos) foram precisos para pintar este trabalho, onde a luz é um elemento importante, conjugado com as proporções e as escalas dos elementos formais. História da Minha Pintura.

E vos deixo com a música de Vianna da Motta e “Concerto para piano em lá maior ”

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Olhar




De Quem é o Olhar


“De quem é o olhar
Que espreita por meus olhos?
Quando penso que vejo,
Quem continua vendo
Enquanto estou pensando?
Por que caminhos seguem,
Não os meus tristes passos,
Mas a realidade
De eu ter passos comigo ?
...”

Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"

Esta pequena pintura, em tela, é um olhar pela multidão que preenche os espaços domingueiros, em busca da serenidade e do encanto do descanso, e do consolo pelo fruir da natureza. É sempre assim que este povo invade graciosamente o tempo e os lugares. Este retrato é um daqueles momentos em que o estar é uma conquista. Basta, afinal, tão pouco para saborear o saber estar e saber olhar. Olhar vendo a realidade e o outro imaginário que só a intimidade sabe. Estar gostando de estar.

Para fazer esta pequena tela apenas precisei de recorrer aos muitos desenhos que fui fazendo de muitos que se cruzaram no meu caminho. Cores simples e uma combinação de escalas, proporções e enquadramentos fazem o historial deste trabalho. História da Minha Pintura.

E vos deixo com a música de Luigi Boccherini: “Minuetto”


quinta-feira, 13 de maio de 2010

Jardins especiais



Passear pelos jardins é sempre um prazer, sobretudo, quando se quer fugir do bulício, do muito cimento e do alcatrão das paisagem de todos os dias. E há jardins que nos trazem recordações especiais...

Esta pintura é um dos muitos olhares, pela beleza que só a natureza é capaz de encantar. Aqui procurei criar a ilusão de um espaço profundo, onde os verdes predominam numa paisagem cheia de arvoredo e flores.

A perspectiva e os diferentes jogos tonais de verdes fazem a história desta pequena tela, que foi feita “às três pancadas”, ou seja: num impulso. É bom que se diga que trabalho muito por atitudes repentinas, bem de acordo com o meu modo de agir, em momentos especiais... História da Minha Pintura.

Recordo hoje as palavras de François La Rochefoucauld:

“Nada nos impede mais de ser naturais do que o desejo de o parecermos”.

E vos deixo com a música de Vivaldi e “A Primavera”.


quarta-feira, 12 de maio de 2010

Importante



Importante é saber gostar. Gostar sem duvidar. Gostar de estar e ser. Ser verdadeiro e sentir. Sentir a verdade e expressar essa verdade. Isso é que é importante. O resto é conversa. Conversa fiada.

Esta pequena tela, surgida por acaso, é o resultado do desejo de expressar um tempo e um modo de estar; de viajar, sobretudo; e de contemplar o mundo e as suas gentes. Outros tempos, e outros interesses. Afinal.

Como observador atento procuro sempre captar um olhar ( que julgo diferenciado). E assim surgiu este meu trabalho, que só aconteceu porque, um dia, vi Paris com outros olhos. Olhos atentos às cores e às formas impressionistas, da minha gente (leia-se pintores). História da Minha Pintura.

Recordo hoje as palavras de Stendhal, um escritor que me fascinou:

“O que é a beleza? Uma nova aptidão para nos dar prazer.”

E vos deixo com a música de Puccini, que me deixa sempre e sempre deslumbrado, e a voz de Mario Lanza, que ouvi em adolescente, ainda em terras africanas, e que tanto me marcou. Até hoje.

terça-feira, 11 de maio de 2010

(Des)crença



Acreditamos ou não. Para uns é uma questão de fé. Para os restantes é saber ou não saber. E assim vivemos, neste caldo de leituras e de considerações subjectivas, que nos conduzem pelos caminhos certos, ou ... para o precipício. Sempre assim foi. Dificilmente será diferente. As crenças e as descrenças. Pois claro!

Esta pintura, em tela, é mais um olhar pela multiplicidade de palcos, que é este nosso tempo, de cruzamento de ideias e de pessoas, por todo o lado. Levamos e trazemos : ideias boas e más. Coisas importantes e sem interesse nenhum. O lado mágico - do universo africano -, com as crenças é presença activa na arte que percorre o mundo, fazendo com que posturas, comportamentos e modos de estar, se confundam, com as tradições locais, um pouco por todo o lado: é na música, na dança, nos gestos, nos gostos, no cromatismo e em tantas outras coisas. E porque assim é esta minha pintura, é uma narrativa da importância ou não do valor do sobrenatural. Afinal, uma questão de fé. Crença ou ...descrença.

Este meu trabalho é um díptico no qual procurei combinar cores contrastantes e fortes num contexto surrealizante. História da Minha Pintura.

Recordo hoje as palavras de Voltaire:
“ O interesse que tenho em acreditar numa coisa não é prova da existência dessa coisa.”

E vos deixo com o canto gregoriano, que muito gosto pelo sincronismo vocal e, sobretudo, pela sonoridade.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Benfica



O país ( uma parte do país) ficou eufórico. Esquecendo o desemprego, as fatalidades sociais e outras doenças, ontem houve festa. E grande. As ruas encheram-se de gente que alegremente cantaram vitória. O povo precisa de esquecer a realidade e viver, por momentos, o fascínio da ilusão da felicidade. E tudo graças ao Benfica.

Este díptico, em tela, de 1995, é o retrato também de um jogo de bola, onde, num contexto campesino, com franjas citadinas, o prazer do desporto está patente. Cada época tem sistemas e modos de divertimento de massas. Agora, entre outros, dar pontapés na bola é dos mais emotivos. Coisas do tempo. Do nosso tempo para viver na emoção e com a emoção.

Para fazer este trabalho - hoje propriedade da Secretaria de Estado dos Desportos -, utilizei, como fazia na época, umas folhas soltas A4 onde desenhava as figuras e as situações que iria pintar. Só mais tarde resolvi comprar blocos de folhas, para que os desenhos que deram origem às pinturas, não se perdessem, como aconteceu neste caso. História da Minha Pintura.

Recordo hoje as palavras de Oscar Wilde:

“A emoção pela emoção é a finalidade da arte, a emoção pela acção é a finalidade da vida e dessa organização da vida a que chamamos a sociedade.”

domingo, 9 de maio de 2010

Histórias breves



Tudo passa num ápice: o tempo, a vida e os bons momentos.

Esta tela é o retrato do encanto dos bons momentos. O importante é saber encontrar nos sítios certos, as pessoas certas, para viver os prazeres das circunstâncias. Os sentimentos são sempre provas de intimismo muito pessoal, onde cada um tem a sua medida de afecto, e o seu modo de gostar ou não.


Num contexto parco em objectos reveladores da posição social, procurei, aqui, enaltecer posturas, independentemente da presença ou da falta de bens de consumo no espaço familiar. As cores e a temática falam por si, nesta pintura, que é também um relato de um tempo, de vidas e de momentos. História da Minha Pintura.

Recordo hoje as palavras de Boris Vian:

“Se nos lembrarmos melhor dos bons momentos, para que servemos maus?”

E vos deixo com a música de Smetana e“O Moldava” que me fascina.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Banho matinal



É uma necessidade; é um ritual; é um modo de estar. Todos os dias, o banho matinal faz as delícias de quem se habituou a saborear os prazeres da água escorrendo pelo corpo, logo ao nascer da manhã. E, porque esconde sempre a intimidade de cada um, ele é um momento de encanto; de magia e de imaginação. Depois há os outros que, por muitos banhos que tomem, nunca irão conseguir limpar o corpo - sobretudo a alma - , da sujidão que transportam eternamente. Eternamente.

Esta tela da série de 1995 é uma representação do banho, num contexto aberto e rural, propício ao mal-dizer dos pequenos aldeamentos, onde a vida de cada um é sempre o alvo da intriga e da inveja. A espacialidade é dúbia já que o interior se confunde com a paisagem externa, numa mescla de confusas realidades, que é, afinal, a vida de todos, nos dias que correm, mesmo para aqueles que se julgam imunes às mudanças.

Cores simples e um desenho com escalas definem este trabalho que foi feito no turbilhão pictórico dessa época.

Recordo hoje as palavras de Friedrich Nietzsche, in “Para Além do Bem e do Mal”:

“Em homens duros a intimidade é questão de pudor – e algo de precioso.”

Mercado de Arte



O mercado é troca, ou seja: receber e dar. É mesmo assim. Uns entregam dinheiro, e outros ... produtos. Funciona o sistema quando há gente que quer ter isto e aquilo. Até arte. Arte que é: o que faz falta ... quando nada mais é necessário. E por ser tão pouco necessário, já não vivemos sem arte. A arte está em todo o lado. Em tudo. Sem arte não vivemos. Um mundo sem música é inconcebível; sem combinação de cores é inimaginável; sem imagens produzidas é impossível. Precisamos da criação de ideias e produtos pelo prazer da fruição. Faz falta – arte -, pela razão simples de que está em todo o lado, mesmo quando não está em lado nenhum.

Esta tela, de 1995, é o retrato de uma galeria onde a pintura ( leia-se quadros) é ela própria pintada. A representação de um espaço e de um contexto tão desfasado da vida de muitos é, em alguns paraísos mercantilistas, uma euforia monetária. Uma tela de Picasso vendida por 106 milhões de euros é o espelho da importância mercantilista... do mercado da arte. Coisas de outros centros cosmopolistas, tão longe da realidade portuguesa, onde quase não existe quem compre pintura.

Para fazer este trabalho utilizei vários pontos de fuga e cores fortes contrastantes, num desenho de formas simples. História da Minha Pintura.

Recordo hoje as palavras de Gustave Flaubert:

“A moral da arte reside na sua própria beleza.”

E vos deixo com a música de Verdi na ópera Rigoletto e com a voz inconfundível de Pavarotti


quinta-feira, 6 de maio de 2010

O relógio





Vivemos segundo a segundo. Tudo é feito tendo em conta cada instante de tempo. Sem darmos conta, escravos ficámos, deste nosso modo de cumprir horários. E será cada vez pior. Em nome do progresso, e das novas tecnologias, o comportamento humano é mais uma peça da engrenagem do funcionamento social. É o relógio que nos indica, o tempo certo, para fazer isto e aquilo. O relógio!!!

Esta tela, de 1995, é mais uma visão da necessidade de estar no espaço, com a dimensão do tempo. Em todo o lado, precisamos de saber -as horas a que temos direito -, para fazer (ou não fazer) o que gostamos. Cada invento nem sempre veio tornar a vida dos humanos melhor. Até piorou (algumas vezes) a liberdade de estar ou não estar; de fazer ou não fazer!!!

Esta tela de 1995 é - de acordo com a temática pictórica da época -, um olhar cheio de cor e de configurações vibrantes. Mais uma vez, pretendi que as formas fossem simples para fortalecer a mensagem, tendo sempre presente que uma pintura não é um romance, nem deve nunca transformar-se numa escrita. A pintura é, apenas, um jogo de formas e cores, que transmitem ideias de leituras díspares. História da Minha Pintura.

E vos deixo com as palavras de Carlos Drummond de Andrade:

“Perder tempo em aprender coisas que não interessam, priva-nos de descobrir coisas interessantes."

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Depois



Prever, como se sabe, é sempre, por antecipação, imaginar o futuro. Este ( o futuro) pertence ao mundo da futurologia e da astrologia, que , como acontece muito, é batutice e ignorância. Afinal, coisas da fé, ou do fundamentalismo. Mas é mesmo assim. Há os que vivem ( e bem) com as probabilidades. E disso fazem vida. E da boa. Mas eu não.

Esta tela, de 1995, é um olhar pelo espaço privado, com as diferenças entre os lugares reais e virtuais, de cada um. Todos nós temos o nosso espaço que é, como todos os lugares, muito ou nada importante, na escala social. Aqui, a referência ao contributo do trabalho, daqueles que tudo fazem e pouco recebem, é afinal a história da vida de muitos, dos que trabalham. A vida é sempre, como todos sabemos, composta pelo antes e o depois, com sucessos e fracassos, de acordo com a dimensão dos objectivos de cada um.

A representação espacial e a multiplicidade de elementos figurativos fazem parte deste meu trabalho pictórico, onde as cores saturadas predominam, num contexto em que as formas pecam pela simplicidade formal. História da Minha Pintura.

E recordo hoje as palavras de Edmund Burke:

“Nunca se pode planear o futuro pelo passado”.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Juventude


Juventude
Lembras-te, Carlos, quando, ao fim do dia,
Felizes, ambos, íamos nadar
E em nossa boca a espuma persistia
Em dar ao Sol o nome do Luar?

Tudo era fácil, melodioso e longo.
Aqui e além, um súbito ditongo
Ecoava em nós certa canção pagã.

Contudo o azul do mar não tinha fundo
E o mundo continuava a ser o mundo
Banhado pela aragem da manhã!...


Pedro Homem de Mello, in "O Rapaz da Camisola Verde".

Monopólio era um jogo de adolescentes. Hoje ainda existe na versão digital, este didáctico e apologista meio de promoção da sociedade dos muitos bens (para alguns), e talvez já não tenha o encanto de outros tempos. Tempos em que o significado do jogo era bem diferente da realidade monopolista da economia real. Eram outros modos de olhar sem sentido crítico a verdade das coisas. Fantasias da juventude, afinal. E, porque foi marcante este modo de passar o tempo, retratei um espaço juvenil, onde os objectos marcantes de um modo e de um tempo formavam uma visão dos interesses de uma época.
As cores são comuns às telas dessa temática intimista dos anos 80; e as formas são grotescas, como denunciam os trabalhos desse tempo. História da Minha Pintura.

E vos deixo ( hoje deu-me para isto) com a música daqueles anos loucos e John Lennon e “Imagine”.


segunda-feira, 3 de maio de 2010

1995



Parece que foi ontem. Como o tempo passa! Nesse ano trabalhei como um desalmado. Hoje revejo o passado e questiono o presente, porque o futuro não existe. E porque assim penso, tudo mudou. O desejo de muito fazer deu lugar à reflexão e ao desencanto. Cada dia é um dia. Uns melhores que outros. Amanhã logo se verá. Nuvens negras, ou não, logo se verá.

1995 foi um ano louco. Todos os momentos eram de trabalho pictórico. Dias a fio a concretizar um projecto de vida: realizar uma grande exposição. E aconteceu a amostra. O resultado foi o esperado … para o nosso burgo. As memórias de uns e outros farão o relato de tanta dedicação e de tanto sonho. Fica a obra exposta, hoje propriedade de um conhecido coleccionador de arte, da praça lisboeta, de seu nome: António Prates.

As telas – dípticos e trípticos -de preferência -, foram todas feitas num tempo recorde. Muita entrega, muita luta e muita dedicação descrevem o sucedido. Pintar num “frenezim” ( como se o mundo fosse acabar nesse ano) era a minha postura. Sem recorrer a modelos inventava poses e situações. Depois, numa enorme paleta, colocada no chão, distribuía as cores e pintava umas por cima das outras, num contexto surrealizante. História da Minha Pintura.

Recordo hoje as palavras de Oscar Wilde:
“Há duas tragédias na vida: uma, a de não satisfazermos os nossos desejos; a outra, a de os satisfazermos.”

domingo, 2 de maio de 2010

Mãe



Palavras para a Minha Mãe

mãe, tenho pena. esperei sempre que entendesses
as palavras que nunca disse e os gestos que nunca fiz.
sei hoje que apenas esperei, mãe, e esperar não é suficiente.

pelas palavras que nunca disse, pelos gestos que me pediste
tanto e eu nunca fui capaz de fazer, quero pedir-te
desculpa, mãe, e sei que pedir desculpa não é suficiente.

às vezes, quero dizer-te tantas coisas que não consigo,
a fotografia em que estou ao teu colo é a fotografia
mais bonita que tenho, gosto de quando estás feliz.

lê isto: mãe, amo-te.

eu sei e tu sabes que poderei sempre fingir que não
escrevi estas palavras, sim, mãe, hei-de fingir que
não escrevi estas palavras, e tu hás-de fingir que não
as leste, somos assim, mãe, mas eu sei e tu sabes.

José Luís Peixoto, in "A Casa, a Escuridão"

Esta pintura é um retrato intimista que procura mostrar através dos objectos, da luz e das cores um estado de espírito e um modo de olhar o destino. O tempo passa e com ele as marcas de cada época. O prazer da representação dos espaços e a criação de temáticas de dúbias leituras fizeram o meu encanto nos anos 90, quando pintava estas telas, algumas delas de grandes formatos e num tempo recorde, tal o desejo de expressar sentimentos e ideias. Aqui uma homenagem às mães e ao lar. História da Minha Pintura.

E vos deixo com a letra e a música de José Afonso e “Minha Mãe”.


sábado, 1 de maio de 2010

Dias especiais










Os dias são sempre iguais uns aos outros. Duram as horas do costume e, ora estão com luz, ou sem ela. Depois chove ou faz vento, frio ou calor. O importante mesmo não é o ciclo da natureza que todos conhecemos. O que interessa - para cada um de nós -, é o significado dos dias. Somos nós que definimos os dias especiais. Especiais por razões pessoais ou sociais. O nascimento ou morte de alguém, um episódio feliz ou um azar podem fazer com que esses dias sejam para recordar. Há também as datas solenes que valem o que valem, nos contextos e na simbologia cultural de cada um. Como tudo na vida.

Estes desenhos são o fruto dos muitos momentos de puro divertimento estético. O que gosto mesmo é de riscar, riscar, riscar em todo o lado e, pouco a pouco, as linhas originam formas e temas para futuras obras em tela. É assim que eu trabalho. História da Minha Pintura.

E vos deixo hoje, dia 1 de Maio, com a mestria literária de Armindo Mendes de Carvalho, a voz de Mário Viegas, e “ Os Ais”.