As Minhas Ilusões
Hora sagrada dum entardecer
De Outono, à beira-mar, cor de safira,
Soa no ar uma invisível lira ...
O sol é um doente a enlanguescer ...
A vaga estende os braços a suster,
Numa dor de revolta cheia de ira,
A doirada cabeça que delira
Num último suspiro, a estremecer!
O sol morreu ... e veste luto o mar ...
E eu vejo a urna de oiro, a balouçar,
À flor das ondas, num lençol de espuma.
As minhas Ilusões, doce tesoiro,
Também as vi levar em urna de oiro,
No mar da Vida, assim ... uma por uma ...
Florbela Espanca, in "Livro de Mágoas"
Esta tela, dos anos oitenta, é uma síntese da transparência dos lugares e dos modos de vida, que acabam sempre por ser espaços abertos, onde cada um faz os juízos de valor que quer, de acordo com os seus interesses. E é no cantinho de cada um, que construimos os castelos de sonho, e as ilusões que o tempo aclara.
Esta minha pintura é resultante dos muitos desenhos prévios dos espaços surrealizantes que fazia na época, e do jogo das cores contrastantes. Mundos perfeitos com ambientes salutares e longínquos da instabilidade emocional ou social era a marca desse tempo. Depois era, na tela, a luta do costume: construção e destruição de formas e cores, até que, julgado certo o enquadramento e o cromatismo, finalizava com a assinatura e a datação do trabalho. História da Minha Pintura.
E vos deixo com a mestria musical de Glenn Gould tocando Bach.
é no teu texto q está o meu comentário:
ResponderEliminar.... que acabam sempre por ser espaços abertos, onde cada um faz os juízos de valor que quer, de acordo com os seus interesses. E é no cantinho de cada um, que construimos os castelos de sonho, e as ilusões que o tempo aclara.....
Ilusões são parte deste nosso viver, onde uns conseguem ou julgam conseguir e outros jamais encontrarão os desejos realizados.
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