domingo, 9 de agosto de 2009

Auto-retrato




Retratar o próprio corpo e daí exprimir uma forma de ser e estar é o objectivo principal do auto-retrato. É muito interessante ver como tantos se representaram e se olharam ao espelho. As divergências, os contextos, os modos de ver, sentir e viver o mundo nos retratos de Leonardo, Van Gogh, Chagall, Mário Elóy, Mário Botas,Lucian Freud, Andy Wharol, Frida Kahlo são o exemplo claro da diversidade que habita em nós.

Este é o meu último auto-retrato. Ele foi feito em 92 e é uma pintura sobre madeira (material que gosto muito pela textura, pela durabilidade e até pela História), com uma configuração recortada, que se enquadrava na série de trabalhos que fiz nessa época, caracterizados pela forma irregular e tendo como sugestão formal o corpo humano. Histórias …da minha pintura

E vos deixo com as palavras de Álvares de Campos (heterónimo de Fernando Pessoa), in Da “Tabacaria”:

“Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso ser tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!”

3 comentários:

  1. Muito interessante, ver como te vês. É caso para parafrasear Frei Luís de Sousa: "Pintor, Pintor, quem és tu?"

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  2. Falar de mim ou falar dos outros não é de todo a mesma coisa.
    Quantas vezes falamos de nós em nome de outros;
    Quantas vezes nos vemos nos olhos de outros;
    Quantas vezes acreditamos que somos assim e não somos nada disso;
    Querer ser uma coisa, não saber o que se é;
    Imitar formas de ser ou estar para ser alguém igual sem ser original;
    Ser único e muitas vezes sem saber,
    porque não se consegue ver.
    Porque muitas vezes a imagem de si é o reflexo da imagem dos outros.
    Falar de si para si.
    O que te diz, o que te murmura?
    O que o espelho escondido em ti te reflecte?
    Reflecte, reflecte!
    O eco de mim mesmo, eco, eco…
    Quem sou?
    Há mais alguém como eu?
    Sou agora o que sou, o que fui e o que serei?
    Isso, eu não sei.
    Mas que muito importa,
    se eu sou mesmo Eu?

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  3. É realmente impressionante, sempre que me olho ao espelho tenho a sensação que vejo algo diferente, mesmo sabendo que sou a mesma figura.Assim se passa com a pintura,é podermos ver as coisas com outro imaginário. As tuas palavras fazem muito sentido

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