Fiquei deslumbrado com os Açores. De um lado o mar, do outro, mesmo ali, o campo e a serra. É a conjugação perfeita de dois mundos. O verde matizado da natureza e o azul limpo e translúcido do oceano. O clima é tão próprio e ameno nas tardes quentes e incendiárias do Verão. Ali, naquele cantinho que não parece Portugal, está uma parte do paraíso, e que, a maioria dos portugueses, conhecedores das praias do outro lado do planeta, nem sonham com tanta beleza e tanto encanto. Nem sabem o que perdem. São outros modos de ver e sentir o mundo.
Esta pintura só foi possível depois de estar nos Açores. As minhas viagens servem para isso mesmo: absorver o vivido e transpor para a tela o observado. Sou sempre um pintor, mesmo longe das telas, das tintas e dos pincéis. A exuberância da natureza e a abundância do que vi só poderia conduzir a um excesso de pormenores nas minhas pinturas. Esta é a explicação que encontro para justificar o porquê, de ter colocado tantos elementos pictóricos, após ter conhecido os Açores. Segredos…da minha pintura.
E termino recordando Vitorino Nemésio com o excerto do poema “ Que Bem Sabe o Amor Constante”:
“Até no carro te canto,
Fala a fala, seio a seio,
Espantado de um encanto
Que mais parece receio
De te perder à partida
Pra te ganhar á chegada
Pois tu és a minha vida
Na ida e volta arriscada…”
João, partilho as tuas impressões sobre os Açores. Para mim, se há um fim do mundo, é ali, naquelas ilhas, em qualquer ponto de vigília onde só se veja terra e mar, mar e terra.
ResponderEliminarDeixa-me partilhar, também, uma grande poeta açoreana:
"Tinhas a idade de esperar-me num convés
eu tinha a idade feroz da aparecida.
Foi vestida de ti até aos pés
que debutei na minha própria vida.
...
Mas no convés da alma que balança
no mar que vai do grito à ressonância
tu disfarçavas com cabelos brancos
a idade de esperar-me esta maneira
ductil minha de passageira.
É mais que amor. Por ti tenho dez anos."
Natália Correia
TRÍPTICO DO AMOR CONJUGAL
Açores, a cores.
ResponderEliminarTrazer nos olhos as flores e as cores dos Açores.
Bordar uma tela, bela, como quem beija
Ilha enfeitiçada, perdida e encontrada
no Atlântico, mar nosso,
De cachalotes
Cantos de baleias
Sereias
Nos jardins naturais
Idílicos recantos
Cabelos florais, em espaço aberto
Por poetas e marinheiros visitados,
Eternamente recordados.
Açores, a cores,
por vulcões celebrados
Dos confins etéreos, adornados
em comunhão, do divino criador
que em si,
plantou Jardins Elevados!
Do pintor nasceu um hino, nobres versos, tão habilmente tecidos em sumptuosos jardins do Atlântico, por sereias bem guardados.
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