domingo, 23 de agosto de 2009

Açores




Fiquei deslumbrado com os Açores. De um lado o mar, do outro, mesmo ali, o campo e a serra. É a conjugação perfeita de dois mundos. O verde matizado da natureza e o azul limpo e translúcido do oceano. O clima é tão próprio e ameno nas tardes quentes e incendiárias do Verão. Ali, naquele cantinho que não parece Portugal, está uma parte do paraíso, e que, a maioria dos portugueses, conhecedores das praias do outro lado do planeta, nem sonham com tanta beleza e tanto encanto. Nem sabem o que perdem. São outros modos de ver e sentir o mundo.

Esta pintura só foi possível depois de estar nos Açores. As minhas viagens servem para isso mesmo: absorver o vivido e transpor para a tela o observado. Sou sempre um pintor, mesmo longe das telas, das tintas e dos pincéis. A exuberância da natureza e a abundância do que vi só poderia conduzir a um excesso de pormenores nas minhas pinturas. Esta é a explicação que encontro para justificar o porquê, de ter colocado tantos elementos pictóricos, após ter conhecido os Açores. Segredos…da minha pintura.

E termino recordando Vitorino Nemésio com o excerto do poema “ Que Bem Sabe o Amor Constante”:

“Até no carro te canto,
Fala a fala, seio a seio,
Espantado de um encanto
Que mais parece receio

De te perder à partida
Pra te ganhar á chegada
Pois tu és a minha vida
Na ida e volta arriscada…”

3 comentários:

  1. João, partilho as tuas impressões sobre os Açores. Para mim, se há um fim do mundo, é ali, naquelas ilhas, em qualquer ponto de vigília onde só se veja terra e mar, mar e terra.

    Deixa-me partilhar, também, uma grande poeta açoreana:

    "Tinhas a idade de esperar-me num convés
    eu tinha a idade feroz da aparecida.
    Foi vestida de ti até aos pés
    que debutei na minha própria vida.

    ...
    Mas no convés da alma que balança
    no mar que vai do grito à ressonância
    tu disfarçavas com cabelos brancos

    a idade de esperar-me esta maneira
    ductil minha de passageira.
    É mais que amor. Por ti tenho dez anos."

    Natália Correia
    TRÍPTICO DO AMOR CONJUGAL

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  2. Açores, a cores.
    Trazer nos olhos as flores e as cores dos Açores.
    Bordar uma tela, bela, como quem beija
    Ilha enfeitiçada, perdida e encontrada
    no Atlântico, mar nosso,
    De cachalotes
    Cantos de baleias
    Sereias
    Nos jardins naturais
    Idílicos recantos
    Cabelos florais, em espaço aberto
    Por poetas e marinheiros visitados,
    Eternamente recordados.
    Açores, a cores,
    por vulcões celebrados
    Dos confins etéreos, adornados
    em comunhão, do divino criador
    que em si,
    plantou Jardins Elevados!

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  3. Do pintor nasceu um hino, nobres versos, tão habilmente tecidos em sumptuosos jardins do Atlântico, por sereias bem guardados.

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