segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

A luta continua






“ O homem nasceu para lutar e a sua vida é uma eterna batalha.”
Thomas Carlyle.


A luta faz parte da vida. Aqui, e, em todo o lado. Pelos melhores propósitos e, pelo pior que há no âmago humano. O trabalho é uma luta pelo desejo da perfeição ou, simplesmente, uma imposição. Neste nosso tempo de tantas lutas e tantas incertezas, tudo pode mudar, transformando os valores e mudando as consciências. Criar é difícil mas... destruir é facílimo. O trabalho de uma vida, um nome, um percurso, tudo pode desmoronar num ápice, no entanto, a luta continua, porque há sempre quem acredite no melhor que há em nós.


Gosto de trabalhar por séries, por temas, por dimensões semelhantes e até cromáticas. Para 2011 pretendo fazer uma vintena de telas de 100x81 cm. Agora vou mostrando o meu modo de agir e o andamento das obras através da execução, das diferentes etapas, das muitas cores que surgem e desaparecem, e dos múltiplos jogos de construções e destruições que geram a pintura. Esta obra, ainda muito longe da sua conclusão, é o exemplo das muitas lutas que fazem parte da vida de um pintor. História da Minha Pintura.


E vos deixo com a mestria de Sarah Chang tocando Sarasate Aires.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Passo a passo






O povo decidiu, está decidido: a maioria não votou. Agora é o regresso à normalidade dos rotineiros dias. Uns estão felizes porque irão para a manjedoura dos bens públicos; outros andam tristes porque não chegaram lá; outros ainda cumpriram o seu dever cívico, dizendo de sua justiça. Resta-nos, como sempre, trabalhar para criar riqueza, ou seja: produzir bens que façam chegar o pão à mesa. Isso é que é importante. “As rainhas de Inglaterra” que esperem pelo próximo evento. Ponto final.

E, nesta caminhada entre a realidade e o sonho, porque sem sonho não há povo que resista aos novos tempos da mudança permanente, há que fazer pela vida. Uns constroem obras de interesse imediato e reconhecido - por todos - como necessário e útil, no entanto, outros ainda, como é o meu caso, limito-me a vaguear entre os prazeres da produção e a contemplação de algo que tem um interesse vago: a pintura.

Hoje mostro como eu trabalho, e, estas imagens retratam os primeiros momentos de uma tela que ainda está longe da sua finalização. O primeiro passo é a disposição quase milimétrica das formas, dentro de um espaço geométrico, bem delineado. Depois, as manchas de cor preenchem a tela na procura da imagem ambicionada que traduza o pensamento, segundo a sensibilidade cromática do artista. Gosto de pintar inicialmente a tela com uma cor dominante que vai, aos poucos, sendo ocupada pelas outras cores. E depois de muita luta, de muito tempo (agora demoro em média 15 dias em cada tela) o trabalho é dado por concluído, mas sempre sujeito a retoques esporádicos. É tão simples e é tão difícil. Ponto final. História da Minha Pintura.

E vos deixo com as palavras de George Eliot:

“Nunca é tarde demais para ser aquilo que sempre se desejou ser.”

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Leituras Trocadas



Aqui acontece isto ou aquilo, ali é importante outra coisa qualquer e, mais além, o que interessa mesmo é um outro assunto. É assim todos os dias, em todo o lado. Uns debruçam-se sobre uma questão, outros fazem, por opção, o contrário. E sempre porque cada cabeça… sua sentença. Enquanto uns se divertem, outros, mesmo ao lado, vivem terríveis dramas. Vidas paradisíacas e infernais convivem lado a lado e que resultam de episódios, quantas vezes, inesperados e que podem ocorrer a qualquer momento, tornando a nossa vida um mar de incertezas e, em simultâneo, de esperança no maravilhoso e no fantástico, mesmo quando tudo parece acontecer num mundo onde apenas, por enquanto, as nuvens são negras, muito negras ou, talvez não sejam negras mas cor-de-rosa, ou de uma outra qualquer cor. Afinal, o mundo tem muitas cores dependendo apenas do modo como se olha para elas e, se queremos ou não ver...
Mais uma pintura, mais um modo de expor uma ideia, um sentimento, um desejo. Este meu trabalho (ainda por concluir), que se arrasta no tempo, é o primeiro que faço em 2011. Cores e formas acabam por identificar um modo de expressão, que resulta de muitas horas de trabalho, em que a procura do belo é o propósito maior. E enquanto mostro um pouco do meu modo de ver o mundo (muito restrito a um pequeno núcleo), tanto acontece aqui e ali. E a pintura continua apenas mostrando um modo parcelar de estar e sentir, quantas vezes, bem longe dos dramas singulares ou planetários, ocorridos mesmo aqui ao lado. Ou talvez não como na Guernica de Picasso, ou nesta pintura de Amada Negreiros. História da Minha Pintura.

E recordo hoje as palavras de Voltaire:
“O homem nasceu para a acção, tal como o fogo tende para cima e a pedra para baixo.”

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Confissão




“Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo…”



Excerto do poema ”Tabacaria” de Álvaro de Campos, heterónimo de Fernando Pessoa

Hoje não se fala de outra coisa. É nos jornais, é nas televisões, é em todo o lado. É a história de um crime, lá nas Américas. Hoje os mercados financeiros, mais uma vez, dizem que o meu país está doente, significando que os portugueses – quase todos - irão ficar mais pobres, no entanto, o que conta agora, na sensibilidade, talvez bem, seja a tragédia que envolveu dois portugueses, lá longe, muito longe. Conheci o Carlos Castro quando trabalhei com um conhecido galerista lisboeta. Outros tempos, outras gentes. É assim a vida de todos. Para uns é importante a fantasia e o faz-de-conta; para outros, o que conta mesmo é o que se põe na mesa. Opções de vida, pois claro.


Esta imagem retrata um recanto onde trabalho (muitas vezes) procurando encontrar o caminho certo, ou seja: juntar as formas e as cores que transmitam a mensagem que faz parte do meu vocabulário pictórico. Ainda longe da finalização - esta obra -, como muitas outras, ocupa quase todo o meu tempo. Todos os dias, desde muito cedo e até a luz natural acabar, luto num jogo de construções e destruições para conseguir obter a imagem perfeita que traga mais informação e mais crítica, longe da rotina das vidas privadas e da instabilidade dos mercados. O que quero mesmo é apenas e só dizer que a vida é bela, quando encontramos o que procuramos, sem fantasia, nem hipocrisia. E tudo se pode dizer, utilizando as armas inofensivas de um pintor. História da Minha Pintura.


E os meus dias vão passando, longe de tudo e de todos, ouvindo, enquanto pinto, as vozes que admiro, como esta que vos deixo enquanto trabalho nesta obra, ainda bem longe da sua conclusão, já que falta quase tudo, mas eu aqui estou, longe da ribalta e apenas atrás do sonho. E vos deixo com a voz de Maria Callas na ópera de Puccini: "La Boheme" e a ária “Mi Chiamano Mimi” .






segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Retrospectiva





“A história da minha vida é, de facto, a história dos meus quadros e de como os fiz. Porque, de uma forma ou de outra, tudo o que vi ou fiz aparece nos meus quadros.”


Norman Rockwell, in ed. Tashen

As pinturas que coloco hoje, onde surgem locais, amigos, familiares e espaços, retratam um percurso da minha vida. Cada tela é um olhar pelos interesses do momento e um modo de estar e sentir. Cada imagem é um enredo de muitas histórias, umas inventadas, outras desejadas e ainda outras vividas. Pinto para expor ideias que alcançam o seu objectivo quando encontram quem as entenda e, goste de as fruir, porque a pintura é apenas uma imagem onde o importante é a expressividade das cores e das formas.

Rockwell foi um pintor americano adorado pelos compatriotas e muito esquecido pelos seus pares e críticos do seu tempo, no entanto, porque soube, como poucos, retratar uma América onde também há quem saiba sorrir, quem goste de brincar, quem adore a ruralidade e quem tenha ideais nobres, hoje, outros olhos contemplam o seu extenso trabalho pictórico, que é apenas, e somente, a alma de um homem mostrada em cores e formas.

E vos deixo com um excerto do poema “Se, depois de eu morrer” de Alberto Caeiro heterónimo de Fernando Pessoa:


Se, depois de eu morrer, quiserem escrever a minha biografia,
Não há nada mais simples.
Tem só duas datas--- a da minha nascença e a da minha morte.
Entre uma e outra todos os dias são meus…”