segunda-feira, 15 de maio de 2017

Diários










Pedaços de mim espalhados pelos cantos desordenadamente, claro.






Havia os diários, uns cadernos onde se escrevia ( sobretudo os mais jovens ou os necessitados da escrita), os lamentos ou os sonhos pessoais, dentro do maior segredo, porque as confissões eram isso mesmo: relatos de desejos reprimidos e de puritanos prazeres... Outros tempos, sem dúvida. Agora já não há diários do íntimo, carregados de confissões, de descargas morais, de reprimendas pessoais fechadas no círculo do próprio escriba. Hoje tudo está bem diferente. No espaço público de maior exposição – TV ou Internet – muito é relatado na primeira pessoa. Longe vão os tempos dos segredos caseiros, porque se vive actualmente no desejo ardente da notoriedade, mesmo que fátua e desgraçadamente triste.


Sempre houve escárnio e mal dizer, próprio dos meios pequenos onde a inveja é rainha, todavia, impera nos dias de hoje, outros medos que ultrapassam a crítica do vizinho, do próximo ou dos maldizentes de tudo e de coisa alguma. Os perigos são muitos, com monstros a nascerem do vazio, mas a vida é feita de esperança e de crença num amanhã melhor, apesar de muitos indiferentes a tudo se deixarem visualizar pelos cantos da casa, pelos percursos festivos e por dá cá aquela palha. Acreditamos sempre na bondade e na felicidade. Depois, se as coisas correrem bem é maravilhoso, se os desfechos são catastróficos a culpa é do azar, obviamente.....(mas esse é outro filme, porque de filmes romanceados se faz a vidinha de muito boa gente).


Eu muito mostro de mim, mais uns quantos que comigo se cruzam me expõem por todo o lado. A net e a fotografia digital, instrumentos que são quase uma parte do nosso corpo, fazem o resto. Não se pode evitar a exposição pública num tempo onde a imagem é uma constante em todo o lado. Uma fobia. Enfim...


Eu apenas quero mostrar o meu trabalho pictórico e apenas isso, porque o resto faz parte do diário com os segredos pessoais, embora ciente que a pintura é um diário aberto.





E vos deixo com as palavras do poeta Fernando Pessoa, que um dia disse:

“Não confessar nunca o que intimamente se passa convosco, Quem confessa é um débil.”


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