segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Se eu soubesse

 
 
 
 
 
 
 João Alfaro
“Marta IV”, 2015
Desenho a grafite sobre papel canson 59x42 cm
 
 
 
Vivo numa obsessão pictórica. Fora do meu ateliê sinto-me perdido. Longe vão os tempos do querer isto ou aquilo, projetar para o futuro, conceber ideais de felicidade e gostar de gostar. Agora tudo parece diferente. Sou outro. Quanto mais trabalho mais quero fazer, mesmo sabendo o destino previsível das peças que vou criando e, em simultâneo, ando sempre impaciente com tudo e com todos. É este vazio que o trabalho artístico compensa com tanta entrega, mesmo que tudo se desmorone. Se eu soubesse como ultrapassar este confronto entre os valores, a moral e o bem-estar era diferente, se a memória não fosse o que é. É pois este rol de inquietude que é anestesiado com o desejo frenético de criar continuamente, para que haja uma razão plausível e significativa do viver segundo um ideal. Os dias passam, a vida também, e, com ela, as muitas histórias com gente dentro.
 
A vida é fascinante porque tem tanto de belo para usufruir. Basta, por vezes, tão pouco para preencher e alegrar, e, se eu soubesse como fazer para viver mergulhado no encantatório dos prazeres tudo seria bem diferente, paradoxalmente o que eu pinto hoje, e de  que gosto tanto, não existiria, porque a arte é a expressão da verdade sentida.
 
 
 
E vos deixo com as palavras do escritor, poeta, dramaturgo e ensaísta irlandês do século XIX Oscar Wilde que um dia disse:
 
 
“As nossas tragédias são sempre de uma profunda banalidade para os outros.”


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