segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Fragmentos






 
 
 
 

Agora que os tempos são outros graças às novas tecnologias que mudaram comportamentos e atitudes, a realidade sentida passou a ser diferente. Ler um livro, saborear o cheiro das folhas, sentir a textura do papel e ter entre mãos um objeto, quantas vezes colecionável, é de um outro mundo: o passado. Podem muitos saudosistas lamentarem a queda vertiginosa da leitura tradicional, mas tudo muda. Também o processo de conhecer as palavras dos outros. Os poemas e os romances nos nossos dias têm um caminho diferente de chegar ao leitor. Melhor ou pior? Não sei. Sei que hoje leio quem nunca teria oportunidade de ser lido nos circuitos até então normais. E com a pintura acontece o mesmo.

 

Como pintor vivo igualmente de acordo com aquilo que tenho ao meu alcance. Fazia viagens longas e duradouras para ver a obra plástica de artistas que queria conhecer. Não me bastavam as informações dadas pelos livros, com as cores quantas vezes distorcidas, queria mais. Queria ver, in loco, as obras, e só assim me sentia pleno no observar, no contemplar. Mas hoje não. Vejo na internet este mundo e o outro. Vou a muita exposição virtual; faço passeios pelos museus que nunca irei conhecer no terreno; descubro gente fantástica que nem imaginava que existissem. Deixei-me levar pela comodidade da realidade atual dada pelas novas tecnologias, onde o tempo se mede em fragmentos.

 

Aproveito o que tenho para mostrar a muitos outros o que penso, faço e desejo ser. Nem sempre sou justo na avaliação; nem sempre digo o que devia dizer; nem sempre faço o possível. Mas aqui estou a desvendar algo de mim. Fragmentos do gostar.

 

Agora patente em Torres Novas mais uma exposição de pintura, onde o tema é o nu. Pretendo com esta temática, secular na cultura ocidental, mostrar a beleza feminina e o meu olhar. Aos que moram perto basta um saltinho e, num espaço acolhedor, belo, único, se pode observar toda a minúcia contida numa pincelada. Para os outros tenho procurado mostrar, tanto quanto possível, o que é “À descoberta do nu”. Até 16 de Março no Atrás das Artes.

 

 

 

E vos deixo com as palavras de Sófocles, poeta grego que viveu de 496 a 406 A. C. e que um dia disse:

 

“Não procures esconder nada; o tempo vê, escuta e revela tudo.”

 

 


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