domingo, 15 de dezembro de 2013

Rir é o melhor remédio

 
 








“Ana”, 2013

Pintura sobre tela

 

 

“Tive o jeito de rir, quando menino,
Até beber as lágrimas choradas:
Com carantonhas, gestos, desatino,
Passou a nuvem e os pequenos nadas.

A rir de escuridões, de encruzilhadas,
Tornei-me afeito logo em pequenino;
Porque ri é que trago as mãos geladas,
E choro porque ri do meu destino.

Vivi de mais num mundo idealizado
Comigo só: E só de mim descreio
Entornava-me riso a luz em cheio

Quando o meu mundo foi principiado;
Rio agora que não sei donde me veio
Sempre o mal que me trouxe o bem sonhado.“

 



Afonso Duarte, in "Ossadas"
 
 
Gosto de estar com quem faça do riso momentos de diversão, quantas vezes, por dá cá aquela palha. Detesto, confesso, os que só conseguem ver o desencanto e a fatalidade dos dias. Reconheço, no entanto, que a minha escrita – aqui – é quase sempre mais pelo lado negro da vida, do que pela alegria do estar. E tudo isto porque me lembrei de uma pessoa por quem tenho o maior apreço e estima, mas que nunca vi rir: é sempre aquele ar triste; aquela apatia pela voragem do tempo; o desencontro com a felicidade possível. E há tanta gente assim: que não sabe rir; que tudo é tristeza; que nada está certo; que falta sempre alguma coisa. Nem eles sabem bem o quê, e o porquê de tanto mal-estar, de tanta descrença, de tanto engano com a sina da vida. Vidas...
 
 
 
 
E a vida é tão bela quando se sabe saborear os pequenos momentos com a companhia de uns e outros, na partilha do que se gosta, sabendo usufruir do que se pode ter e redimensionando o possível. Infelizmente é na fatalidade que se descobre que a felicidade é um bem, que deve ser vivida a cada instante, e que é tão desperdiçada. Rir é, pois, o melhor remédio, nem que seja para enganar o destino.
 
 
E vos deixo com as palavras de Erasmo:
 

“Rir de tudo é próprio de parvos, mas não rir de nada é de estúpido.”


Sem comentários:

Enviar um comentário