domingo, 27 de maio de 2012

Identidade

Pintura sobre tela de 2012, “Pai e filho” 60x60 cm.

O rosto diz-nos tanto: ele é o olhar que não mente, ou mente descaradamente; ele é o sorriso ou a falta dele; ele é a beleza ou a fealdade expressa. Ele é tudo...aparentemente. E de aparências vive o mundo onde o bonito se julga mais justo e, o feio, certamente, pecaminoso. Tanto engano num rosto. Tanta certeza no vislumbre. E de tantos enganos decorrem os dias e as vidas também. O tempo passa nesta caminhada de muitos cruzamentos e de múltiplas dúvidas, que é olhar aqui este rosto, ali outro, e, mais outro, lá longe. Tantos, tantos. Uns correspondendo à nossa análise e, muitos mais, tão distantes do juízo assertivo. Depois ficam as memórias de tão poucos, dos muitos que conhecemos. Afinal, tudo é poeira e pouco importa, a não ser mesmo os poucos que nos olham nos olhos, com amizade, ternura e amor.
 
E vos deixo com as palavras de William Skakespeare que disse um dia:
“Deus deu-nos uma cara e vós fazeis outra.”

domingo, 20 de maio de 2012

Conversas silenciosas




 
Toda a gente tem tanto para dizer, mesmo que nada seja interessante. As conversas são quase sempre banais e sobre coisa nenhuma, neste meu modo desencantado de olhar o que me cerca. Os velhos falam da doença, do passado e da triste sina que os espera; a geração anterior conversa sobre o desemprego e a angústia dos dias; os jovens vivem pela descoberta e com os discursos das mensagens vazias dos telemóveis e, os pequenitos começam a saber o que é cada novo dia, neste desencontro com a aprendizagem. E o mundo gira. Uns nascem e outros partem. Aqui com paz, ali com guerra. Na nossa terra a fartura e a pobreza escondida coexistem. E é este labiríntico conjunto de tanto e de tão pouco que preenche o vocabulário assertivo e coerente de alguns, entre tanto dizer sem conteúdo de muitos. E lá vamos cantando e rindo, entre lágrimas e dores da alma, porque a vida é vivida um dia de cada vez e, ninguém pode dizer que desta água não beberei, mesmo que tenha dito o seu contrário, entre conversas coerentes ou meramente de circunstância. E mais não digo. E mais não quero. E mais não posso. Por enquanto.
Recordo hoje palavras extraídas de textos budistas in “Máximas”:
 “Não se é sábio por falar muito.”
E vos deixo com Di Provenza uma ária da ópera Traviata de Verdi, com a voz maravilhosa de Dietrich Fisher-Dieskau, cantor lírico (recentemente falecido), que aprecio imenso e que me acompanha, muitas vezes, enquanto pinto.



domingo, 13 de maio de 2012

Apesar de tanto


“Momento” pintura em tela de 100x60 cm de 2012


Tanta gente e tanto. Tanto de tanto. Um mundo rodeados de muito: ele é o consumo sem fim; ele é a abundância visual do belo e do horroroso; ele é ter e desejar ter; ele é isto; ele é aquilo, e no entanto, momentos há em que o universo se reduz à nossa insignificância, com angústias e alegrias só nossas, e nada mais interessa, apesar de tanto.

E vos deixo com as palavras de Boris Vian que disse um dia:
“ Se nos lembrarmos melhor dos bons momentos, para que servem os maus?”

domingo, 6 de maio de 2012

O amor (IV)



"Tão perto e tão longe", pintura sobre tela de 100x100cm, de 2012


As histórias de amor são muito belas. Grandiosas. Duradouras. E trágicas também. A vida é, contudo, como toda a gente sabe, composta de dualidade: o bem e o mal; a alegria e a tristeza; a felicidade e a desgraça. Não há bela sem senão. De um lado, as vidas encantadoras onde tudo de bom (aparentemente) acontece e, nas quais, as almas gémeas vivem na harmonia possível, com fins felizes. São as histórias de encantar. Do outro lado, aqueles que nunca terão nem beleza, nem dourados, nem esperança no amor. Enfim, uns felizes e outros nem tanto. E é bom não esquecer os inevitáveis episódios que mancham os paradisíacos destinos do amor, nesta maré de encontros e de fatalidades. O que poderia ser radiante acaba por ser nebuloso, quantas vezes. Como sabemos, a vida, de cada um, é, sempre, uma carta fechada em que a felicidade está tão perto ou tão longe, porque tudo depende de tanto e de tão pouco. A conjuntura social e os desfechos da errática incógnita dos dias, assim como os atos individuais que alicerçam os muros do amor ou da falta dele, fazem toda a diferença. Dito isto: nada mais belo há que uma história de amor. Vivida.
E vos deixo com as palavras de Alfred Musset que disse um dia:

“_ Nada é tão bom como o amor, nem tão verdadeiro como o sofrimento.”