segunda-feira, 9 de julho de 2012

Hopper em Madrid






Madrid. O calor aperta e a luz é imensa. As pessoas correm de um lado para o outro com roupas suaves, luzidias, oscilantes e, até, algumas, com vestes sensuais, tão próprias da época estival, aproveitando, assim, os primeiros dias da nova estação que transporta consigo as alegrias do verão. Da multidão vejo surgir um homem vestido de negro acompanhando uma jovem coberta, também, de um longo e inapropriado (julgo eu) vestido igualmente negro, com um enorme lenço cobrindo a cabeça e apenas deixando perceber os olhos. Enfim. É o caldo cultural dos nossos dias. A liberdade é o direito à diferença, mesmo para os que querem impor a unicidade. E enquanto o Museu Thyssen abre as portas à retrospetiva da obra pictórica de Hopper (1882-1967) - razão principal da minha visita à capital espanhola -, vou olhando o que me cerca e pensando na maravilha que é alguém conseguir captar o interesse de tantos, apenas e só porque pintou o que lhe ia na alma, bem longe das modas do seu tempo e dos fundamentalismos que cada época comporta. Este pintor, americano, soube conciliar a mestria técnica com a conjugação temática baseada essencialmente nas emoções humanas, onde não há moda ou radicalismo que suplante aquilo que é a nossa essência. A sua pintura é influenciada pelo cinema mas, curiosamente, também, cineastas recorrentemente constroem cenários tendo como ponto de partida a pintura de Hopper. A sua obra é tão pungente que os anos passam, as modas também, e o interesse pelo seu trabalho cresce, apesar de muito divulgado, porque ver "in loco" as pinturas dá ao observador outra dimensão, que só é possível captar estando frente a frente, olhando diretamente, vendo a harmonia cromática perfeita, a pincelada solta e o admirável jogo da luz e da sombra, em que as personagens pictóricas se identificam com cada um de nós, independente das opções e dos conceitos de vida que perfilamos, ou não fosse a arte uma expressão da vida.

E vos deixo com as palavras de Simone de Beauvoir que disse um dia:
“É na arte que o homem se ultrapassa definitivamente.”

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