domingo, 27 de novembro de 2011

Feiras






Todos os anos realizam-se nas principais capitais, um pouco por todo o mundo, Feiras de Arte. É o espaço, por excelência, onde algumas galerias promovem os seus artistas e procuram os negócios que a arte incorpora. É também uma excelente oportunidade de comparar, de colocar em confronto obras e conhecer um ou outro autor. É igualmente interessante ver que tantos, de níveis etários diferenciados, nos espaços das Feiras, se cruzam num hino à beleza e ao prazer da contemplação. Infelizmente não é o melhor modo de ver e fruir obras de arte. A imensidão e disparidade de peças e o excesso de pessoas perturbam uma análise mais cuidada e contemplativa, no entanto, o mercado é assim que funciona. E sem mercado não há arte que resista. Nem artistas…


Hoje é preciso estar nos sítios certos para se conhecer e dar a conhecer. Há locais míticos que, mercê da tradição e do poderio económico e cultural, são o palco primordial para o reconhecimento e projeção de uma obra, de um projeto, de um artista. O mercado português pela sua diminuta escala restringe a atividade e o circuito artístico é de somenos importância, donde se procuram outros horizontes quando se acalentam sonhos. Quando se sonha…

E vos deixo com as palavras de Johann Goethe:
“Só a arte permite a realização de tudo o que na realidade a vida recusa ao homem.”

domingo, 20 de novembro de 2011

Um minuto




Um minuto passa num instante, no entanto, momentos há em que escassos sessenta segundos parecem uma eternidade. Numa pequena fração de tempo tanto se pode fazer e, com esse gesto, mudar, ou não, um percurso, um desejo, uma vida. Quantos não esperaram por esse minuto em busca de um sonho, de um projeto, de uma iniciativa? Quantos?

Porque vivemos rodeados de tanto e em múltiplas tarefas e interesses, não temos a capacidade total de analisar o que nos cerca. Grandes obras de arquitetos, de engenheiros e de outros profissionais não nos merecem reparos, nem olhares fruidores, por mais bela que seja a obra de arte. É assim este nosso modo de sentir. E de viver. Não há tempo, nem sensibilidade, nem interesse, nem saber que chegue para o muito que nos rodeia. Por mais belo que ele seja.

Estas obras recentes ainda não saíram do ateliê. Poucos foram os que viram, in loco, as peças. Num mundo de tanta produção artística a maior parte do que se faz acaba por ficar no segredo dos deuses. Agora, felizmente, a net veio permitir a divulgação a outros interessados galgando fronteiras e culturas. Hoje é tão simples e prático ver, conhecer e comunicar virtualmente. É um novo universo que se abre na publicitação do muito que se faz. Ganham todos: artistas e fruidores. Mas não há bela sem senão. Ver com os próprios olhos, estar lá, saborear os ambientes tem outro sabor e outro encanto que nenhuma tecnologia nos dá. Só o real. Felizmente.

E vos deixo com as palavras de Nicolas Boileau que disse:

“O tempo que tudo transforma, transforma também o nosso temperamento. Cada idade tem os seus prazeres, o seu espírito e os seus hábitos.”

domingo, 13 de novembro de 2011

Paraíso Perdido




“Quando tornar a vir a Primavera
Talvez já não me encontre no mundo.
Gostava agora de poder julgar que a Primavera é gente
Para poder supor que ela choraria,
Vendo que perdera o seu único amigo.
Mas a Primavera nem sequer é uma cousa:
É uma maneira de dizer.
Nem mesmo as flores tornam, ou as folhas verdes.
Há novas flores, novas folhas verdes.
Há outros dias suaves.
Nada torna, nada se repete, porque tudo é real.”


Poema “Quando tornar a vir a Primavera” de Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjuntos"
Heterónimo de Fernando Pessoa

Tanta gula; tanta avareza; tanta luxúria; tanta ira; tanta inveja; tanta preguiça; tanta vaidade e, tudo isto, sem sentido. É o nosso mundo onde uns nada possuem e outros, bem pelo contrário, tudo querem apesar do muito que já têm. Não há limites para o pior da natureza humana. E, porque somos o que somos, a selva é uma constante no quotidiano de todos nós. Haverá eternamente este hiato entre a verdade e a mentira; entre o bem e o mal; entre o justo e o pecador. Conscientes da fragilidade e dos valores que mudam de acordo com a circunstância, há este infinito desejo de idealizar paraísos perdidos, algures entre o possível e a fantasia. Algures.


“Paraíso Perdido” é uma pintura de 60x60 cm que procura retratar o regresso à natureza. A presença humana é parte integrante da paisagem, com a singularidade de olhar e ver o mundo, onde os desejos de cada um se dissolvem perante o espaço envolvente.

E vos deixo com as palavras de Henri Amiel que escreveu in “Diário Íntimo”:

“Uma paisagem qualquer é um estado de alma.”

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Outra vida



Todos falamos de tudo e opinamos em causa alheia. Não sou advogado. Não percebo nada de leis. Nem eu, nem os meus amigos do costume. Falamos, no entanto, de justiça ou da falta dela. Da nossa justiça. Dos nossos valores. Ou daquilo que julgamos corresponder aos ideais de liberdade e de normalidade numa sociedade regida por normas de salutar convivência. Depois há os casos que ninguém percebe, talvez só os doutores de leis ou o legislador compreendem os labirínticos juízos assertivos. E todos os dias vejo o homem do charuto que rouba à farta e não vai dentro; nem o outro, que matou em terras de Vera Cruz, está bem da vida sem dar contas. É a realidade dos dias de hoje. Aqui. Entre sonhos e tragédias.

Felizmente que tenho o meu mundo. Ele é a música; ele é a leitura; ele é a pintura; ele é os amigos certos. E com tudo isto fico bem enquanto saúde houver. E é neste contexto que nasceu “O Sonho de Lilith”. Esta pintura em tela de 81x100 cm é mais um olhar sobre os nossos espaços e posturas intimistas nos dias de hoje, longe das golpadas e perto dos sonhos, onde impera o deambular por caminhos fantasiosos, em que a multiplicidade de quereres é o fim último. E por isso pinto com os meus conceitos de justiça, de fraternidade e de paixão. História da Minha Pintura.

E vos deixo com as palavras deLuc de Clapiers Vauvenarques:

“Não podemos ser justos se não formos humanos.”