João Alfaro
“Selene”, 2015
Pintura sobre tela de
80 x 120 cm
Nas muitas voltas que o mundo dá
cada novo dia é um enigma, mesmo que quase tudo seja sempre expectável, ou não
fosse a rotina o usual dos dias. Com o acreditar que é preciso lutar para que o
amanhã se transforme positivamente, o trabalho é a fonte da realização e do
sonhar também. Estar ocupado, dar um sentido, uma determinação e uma
significância ao que andamos a fazer neste tempo e neste espaço, mergulhado nos
devaneios das especulações sobre a importância da vida e o que ela é neste
domínio e nos hipotéticos patamares de eternidade, faz parte do querer
simbolizar um pedaço de história, pelas melhores razões. Mas a memória se vai e
o que ela tem de verdade é apenas um olhar que tudo muda. Hoje a leitura é
diferente de tudo o que lá vai, e será outra coisa qualquer num outro tempo com
outras gentes. Nada de extraordinário, porque mudam-se os tempos e mudam-se as
vontades.
Eu só quero pintar, como se todo o resto
fosse tão distante e nada mais tivesse importância. É terrível pensar assim.
Mas só pintando julgo dizer tanto. Já não gosto de me apresentar publicamente e
discursar. Detesto. Confesso. Hoje ando a fugir de tanto que foi o meu passado. Apenas quero-me cingir ao meu mundo das artes plásticas,
como se a brevidade do andar neste caminho da vida fosse para acabar já amanhã.
“Selene” é apenas um nome que
simboliza a beleza feminina, tanto do meu agrado e tema recorrente agora no meu
trabalho, porque do muito que há neste mundo de disparidades, nada melhor que o
gostar. Entre as curvas e contracurvas que a procura transporta na ânsia do caminho idealizado, o melhor é amar.
E vos deixo com as palavras que
um dia Máximo Gorky disse:
“Procura amar enquanto vives. Não se encontrou nada de melhor.”
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