João Alfaro
Pastel de óleo sobre cartolina, 2017
Quando se olha com outros olhos,
o que ontem era insignificante, hoje pode ter uma valorização nunca antes
imaginada. Passear por Lisboa ( como foi no domingo), num dia de sol, onde quase
todos pareciam querer usufruir do espaço e do tempo, foi maravilhoso. Pensando
bem, o edificado que tantos outros nos deixaram, faz as delícias quando olhamos
com olhos de ver, mesmo que haja sempre inquietações, dúvidas e incertezas do
amanhã. Foi graças a gente anónima que os dias podem ser
encantadores - olhando a arquitectura e a paisagem transformada -, ou trágicos, porque depende do imprevisto que é andar por este
território sinuoso.
O amanhã nunca ninguém o viu e,
no entanto, por causa da incerteza constante que reserva o dia seguinte e todos
os outros ( se os houver) provoca, em muitos, tristeza e ansiedade,
quase sempre injustificadas, mas necessárias para que o realismo esteja presente,
e não se deixe vencer pela fantasia dos castelos principescos das histórias da
carochinha. Cada um vive um sonho e uma angústia, porque só resta um caminho
para triunfar: lutar com crença. Os episódios do trilhar indicam paulatinamente
o certo e o errado na consciência cultural de uma pessoa. Amanhã é outro dia e
depois logo se vê...
A actividade humana
pressupõe uma necessidade social,
todavia, muito do que se faz hoje não tem utilidade nenhuma face à produção em
excesso em alguns domínios. Estraga-se tanto, até em alimentos, em medicamentos
e em bens essenciais ao viver, mesmo tantos morrendo de fome e sem assistência
médica, porém há que acreditar na necessidade de construir um mundo melhor. E
eu, na minha insignificância, pinto todos os dias porque acredito que a arte
ajuda a transformar o mundo para melhor , sendo apenas um construtor de imagens,
sobretudo dos que me cercam, neste universo restrito de dias felizes e outros
nem tanto. Basta partilhar uns breves momentos com quem gostamos tanto, para que o sol pareça resplandecente ou,
pelo contrário, o negrume preencha o espírito e a alma, pela ausência.
E vos deixo com as palavras do
romancista inglês do século XVIII, Horace Walpole, que um dia disse:
“ O mundo é uma comédia para aqueles que pensam, uma tragédia para
aqueles que sentem.”
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