João Alfaro
“Flora” (pormenor), 2016
Pintura sobre tela de 80 x 120 cm
“Não há fome que não dê em
fartura”. Acontece muito em tantas situações. Quando surgiram os blogs não
havia “cão, nem gato”, passe a expressão, que não tivesse um. Quase todos eles
eram diários escritos, agora não em folhas de um qualquer bloco de apontamentos,
mas sim integrados nos processos das novas tecnologias, numa escrita de acesso
a todos. Finalmente tinha surgido um meio simples, acessível, barato e
abrangente de chegar a muitos e, para isso, bastava apenas escrever e colocar
umas fotografias ou vídeos. Mas a continuidade cansa. Cansa e muito. Lentamente
os blogs se esvaziaram de conteúdo e de interesse. E foram acabando. Uns muito
politizados pela efervescência do momento, que passada a tempestade política se
transformaram num lamacento oásis de coisa nenhuma; outros, de cariz
confessional, de tanto repetirem lamúria da triste sina que persegue cada
um com a sua fantasia, terminaram por ser uma repetição das mesmas lamentações
e da inquietude do costume; finalmente, os resistentes se dividem em dois
grupos: os que muitos ainda conseguem ler e os que existindo, quase ninguém
sabe o que escrevem. Eu, porque sou teimoso – essa é a única razão – ainda aqui
ando com o meu blog.
Agora soube que há um avaliação
sobre os melhores blogs. Todos os dias leio um, porque já fazem parte do meu
diário literário. Paulatinamente fui
gostando cada vez mais de ler não nas folhas impressas num qualquer jornal ou
livro, mas no computador. Mudam-se os tempos....
Gosto de ler informação
diversificada e continuada, coisa rara nos blogs que exigem- para que seja
apelativo – informação diária e inovadora, coisa que não faço. O tempo sempre
me escasseia e porque não quero entrar por campos do intimismo, onde me sinto
mais consistente, agora, reconheço “sou pão sem sal”, tudo muito amorfo e
apenas factual no registo do que publico aleatoriamente, sem eira nem beira,
até na periodicidade, mas preciso escrever, nem que seja para não esquecer as
palavras e a existência. E Escrevo, escrevo sim, sobre a pintura. A minha.
E vos deixo com as palavras de
Saramago, in “La Provincia "(1997):
“ No fundo, todos temos
necessidade de dizer quem somos e o que é que somos e o que é que estamos a
fazer e a necessidade de deixar algo feito, porque esta vida não é eterna e
deixar coisas feitas pode ser uma forma de eternidade.”
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