Uma exposição de pintura é sempre
uma janela aberta, indiscreta, sem dúvida. Está lá tudo: não são precisas
palavras, nem sons, e nada fica oculto pela imaginação do querer descobrir, o
que o artista tem para dizer, através dos caminhos da arte.
Para memória futura fiz este vídeo
que é uma associação de obras com uma temática própria, definidora de um tempo e
de um modo de olhar e ver o mundo. Se a frieza e o distanciamento silenciosos parecem
caracterizar o meu viver, a pintura, acho eu, pelo contrário, traduz a verdade
sem as máscaras e os trejeitos sociais. E há tanto para contar sobre a beleza e
o encantamento, que nunca o tempo basta para o muito que outros querem
conviver, mas porque só se vive uma vez e o tempo tem as regras que tem, os
prazeres possíveis traduzem-se maioritariamente no apego às artes, que são o
meu refúgio e alimento, que é, afinal, a tradução da simplicidade do viver, com
a sensação que há um testemunho que ficará para vindouros, sem os vícios e
defeitos mil do presente, mas apenas com o registo do que fica, que é o amor pela arte e pelas
pessoas singelas, neste viver de janelas indiscretas.
E, porque se recorda, agora, os
oitenta anos do falecimento de Fernando Pessoa, vos deixo com um
poema, do “Livro do Desassossego”:
“Nunca amamos ninguém. Amamos, tão-somente, a ideia que fazemos de
alguém. É a um conceito nosso - em suma, é a nós mesmos - que amamos. Isso é
verdade em toda a escala do amor. No amor sexual buscamos um prazer nosso dado
por intermédio de um corpo estranho. No amor diferente do sexual, buscamos um
prazer nosso dado por intermédio de uma ideia nossa.”
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