"Uniqua"
Pintura em execução: 1º dia.
Depois da pausa, é preciso
recomeçar. É mais do mesmo neste mundo, no entanto, as guerras não acabam, os conflitos
pessoais são comuns e as dúvidas eternas. Só me resta pintar, mesmo sabendo que
se repete o caminho, porque tudo é, afinal, um palco de desavenças, de lutas
intestinas e de interrogações sobre os valores e o objetivo supremo do existir.
Agora sem ilusões, nem expectativas sublimadas, os dias arrastam-se na procura
e sempre na procura, do outro lado, onde não estão presentes, aparentemente, os males de sempre. E, por isso pinto e pinto, sem que haja outro interesse
senão o saber gostar do gostar de pintar. E isso me basta no preenchimento do
tempo e do modo.
Tanto cantar e vozes sublimes;
tanta escrita e contos fantásticos; tanta cinematografia e tanto imaginar;
tanto de tanto e a arte repetindo as inquietações e dúvidas, com armas novas ou
com os meios parcos, onde cada um procura ser singular, mesmo repetindo no
tempo e no espaço as questões angustiantes de sempre. Um Picasso é único; a voz
da Callas inconfundível; o Pessoa um oceano de luz e muitíssimos outros nos
esmagam com a verdade e o pulsar. É neste quadro de imensidão que o meu
trabalho se desenvolve, querendo abarcar as grandes questões do eu, no silêncio
e no solitário caminhar, em que o recomeçar é uma constante e uma obrigação.
E, vos deixo com as palavras do
escritor francês Valéry Larbaud, nascido em 1881 e falecido em 1957, que um dia
disse:
“A arte é ainda a única forma suportável da vida; é o maior prazer, e o
que se esgota menos depressa.”
Sem comentários:
Enviar um comentário