João Alfaro
“Marta”,2014
Pintura sobre tela de
120x80cm
Na procura pela narrativa
pictórica, que seja apelativa e que consiga despertar encanto e interrogação, os meus
dias se esgotam. Adoro tentar captar a singularidade de cada um dos que se
cruzam no meu trabalho, como se fosse um investigador do sagrado, em busca do
elixir da beleza e da perenidade. Eu bem tento, mas os deuses não me fazem
companhia. O que eu sei, felizmente, é que tenho um sonho, um caminho, um
desígnio. Poderá ser só meu e partilhado por poucos outros, mas encontrei um
modo de significância, que é pouco e é tanto. E me vou bastando. Umas vezes
sorrindo mais, outras meditando dos meandros e seus vícios, na encruzilhada das
rotas, em que do nada nasce ou morre um destino.
Em 1995, enquanto descobria a
magia da capital britânica, encontrei numa feira - das muitas que Londres oferece
ao turista - uma gravura de uma pintura que me persegue desde então e que
desconheço a autoria. Era o retrato de uma mulher nua, de pele muito clara, rosa pálido,
numa cama com lençois brancos, sombreados em cinzas múltiplos. A harmonia cromática numa paleta parca de cores
mas, em simultâneo, rica de matizes e de tons era de uma beleza deslumbrante,
num jogo de sombras tépidas e de uma luz única. Desde então várias foram as
tentativas para captar a essência visual que tanto me fascinou, nesse verão. “Marta”
é, mais uma vez, o resultado desse deambular pelo passado.
E vos deixo com as palavras de Vinicius
de Morais:
"A vida é a arte do
encontro, embora haja tanto desencontro pela vida."
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