sábado, 18 de outubro de 2014

Marta

 
 
 

 
 
 
João Alfaro
“Marta”,2014
Pintura sobre tela de 120x80cm
 
 
Na procura pela narrativa pictórica, que seja apelativa e que consiga despertar encanto e interrogação, os meus dias se esgotam. Adoro tentar captar a singularidade de cada um dos que se cruzam no meu trabalho, como se fosse um investigador do sagrado, em busca do elixir da beleza e da perenidade. Eu bem tento, mas os deuses não me fazem companhia. O que eu sei, felizmente, é que tenho um sonho, um caminho, um desígnio. Poderá ser só meu e partilhado por poucos outros, mas encontrei um modo de significância, que é pouco e é tanto. E me vou bastando. Umas vezes sorrindo mais, outras meditando dos meandros e seus vícios, na encruzilhada das rotas, em que do nada nasce ou morre um destino.
 
Em 1995, enquanto descobria a magia da capital britânica, encontrei numa feira - das muitas que Londres oferece ao turista - uma gravura de uma pintura que me persegue desde então e que desconheço a autoria. Era o retrato de uma mulher nua, de pele muito clara, rosa pálido, numa cama com lençois brancos, sombreados em cinzas múltiplos. A harmonia cromática numa paleta parca de cores mas, em simultâneo, rica de matizes e de tons era de uma beleza deslumbrante, num jogo de sombras tépidas e de uma luz única. Desde então várias foram as tentativas para captar a essência visual que tanto me fascinou, nesse verão. “Marta” é, mais uma vez, o resultado desse deambular pelo passado.
 
 
 
 
 
E vos deixo com as palavras de Vinicius de Morais:
 
 
"A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida."
 


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